Já vi muitas expressões quando dizia às pessoas de quem eu era filho. Pena, inveja, adoração ou simplesmente desinteresse, mas o que a mãe de Evelyne me lança agora é diferente de tudo o que eu já vi. Há certa... nostalgia? Ela parece emocionada também, pois seus olhos brilham. E em vez de perguntar o que eu imaginei que fosse fazer — que sou filho do “astro do rock” — ela me surpreende dizendo:— Você é filho de Aiko?E então, tudo nesse momento muda. Meus músculos se retesam, o ar do ambiente fica mais denso. Minha respiração quase para e meu coração começa a bater mais forte.— A senhora conheceu minha mãe?Ela abre um sorriso emocionado e pisca algumas vezes, parecendo querer afastar as lágrimas.— Sim — assente. — Estudei com ela no Joe Bixby.— Minha nossa — Evelyne diz, tão surpresa quanto eu. — É uma coincidência e tanto.— Trempton é uma cidade pequena, querida — diz a mais velha. — Quase todo mundo por aqui se conhece.Eu tenho tanta coisa para dizer. Tantas perguntas para f
EVELYNEHoje é o Grande Dia, como Ginger decidiu nomear a data do seu aniversário. Mesmo após os inúmeros protestos de Aaron, a festa à fantasia venceu. Confesso que foi um desafio para mim, não somente pelo fato de eu não estar tão acostumada a ir em festas, mas por eu precisar usar algo além das minhas roupas habituais. Já fui a eventos geek algumas vezes, então já tinha algumas ideias em mente, embora nunca tenha me fantasiado antes.Passo a mão sobre a curta saia do vestido azul e branco. Há um laço vermelho enorme na região do meu peito, as luvas e as meias vão até a metade dos braços e pernas e meus cabelos compridos estão presos em rabos de cavalo nas laterais. Nos pés, uma bota vermelha simples, sem salto, o que atribui um ponto à vestimenta que em mil anos eu não me imaginaria usando.— Você pode me ajudar com esse zíper? — pergunto a Eleanor, que está acabando de finalizar sua maquiagem de Noiva Cadáver. Ela tingiu os cabelos de azul especialmente para a ocasião. Confesso qu
— Não brinca — eu digo.Aaron sorri.— O que achou da minha fantasia?Observo encantada sua roupa colada e a capa vermelha, um arco de brinquedo nas costas. Ele está incrível. Tão tentadoramente lindo e isso é... fofo? Mesmo que a roupa do meu super-herói favorito não seja a coisa mais sexy do mundo, nele fica, e isso é o que importa.— Que diabos de fantasia é essa? — Eleanor zomba, claramente confusa.— É Capitão Flecha — eu digo, como se fosse a coisa mais incrível do mundo.— Quem? — Desistindo de entender, ela balança a mão. — Esqueça. Eu vou pegar bebida. Vocês são tão constrangedores.Ela nos abandona e eu ainda fico ali, babando em Aaron.— Você ganhou disparado na melhor fantasia da noite.Ele me puxa para um beijo.— Você também está incrível, mas estou certo de que não preciso dizer isso.Sorrio.— Por que não me contou? Eu teria vindo de Thabita.Sua gargalhada é gostosa.— E estragar a surpresa?— Pensando bem, você tem razão.Ele segura na minha mão.— Vem, vamos pegar u
— Por que diabos alguém sentiria inveja de Eric Ramsay? Ele tem o ego maior que o planeta Terra e tenho a sensação de que o carro dele tem mais importância pra ele que qualquer outra coisa. O seu irmão tem motivos para se preocupar com você, então eu tentaria escutá-lo pelo menos uma vez.Ela puxa seu braço com força, desvencilhando-se.— Eu pensei que você fosse minha amiga, mas você está aqui, outra vez, falando mal do meu namorado na minha frente. O mais engraçado é que você está sendo uma hipócrita, porque tenho certeza de que não acreditaria se fosse com o Aaron, então não tente reproduzir o discurso do meu irmão, porque não vou acreditar. Já estou cansada de todos me tratarem como se eu fosse uma criança!Ela está tão alterada que, em um gesto inconsciente, o seu braço acaba esbarrando no meu e meu copo de refrigerante entorna em toda minha roupa clara. Os olhos de Ginger se expandem em choque e arrependimento.— Oh, meu Deus... me desculpe. — Ela cambaleia em minha direção, ten
AARONA porta da reitoria já está entreaberta quando bato nela. Não é preciso um anúncio para que a Sra. Ramsay saiba que sou eu; afinal, ela já me esperava. Aguardo apenas pela confirmação padrão antes de adentrar a sala. O escritório é sóbrio e organizado. Há muitos detalhes dos quais eu não percebi na última vez em que estive aqui. Ao contrário do que os outros pensam, não sou exatamente um causador de problemas. Bem, não até a noite passada.Ainda com o olhar fixo em mim, Margot Ramsay aponta uma cadeira à sua frente.— Sente-se, por favor.Eu faço exatamente como o ordenado e mantenho o contato visual, no aguardo de seja lá o que ela tem para falar, embora já imagine. Não é muito difícil assumir isso, tendo em vista sua expressão. Basta segundos para que a máscara impassível desmorone e eu veja sua testa vincar.— Eu acho que você já sabe o motivo de eu ter te chamado aqui, certo?Cruzo as mãos sobre minha barriga.— Não faço ideia.Ela pressiona os lábios, a um fio de explodir.
— O que quer dizer com “A criação que tive”?— Todo mundo sabe do histórico do seu pai. Não é preciso ser um gênio para descobrir. É complicado conviver com esse tipo de pessoa em casa, por isso tem minha empatia.— A senhora agora está insinuando que eu só bati no seu filho porque cresci em uma casa violenta, algo que concluiu porque meu pai é um viciado?Sua expressão de fúria se desarma. Agora eu vejo algo como constrangimento. Pelo menos ela reconhece que falou besteira.— Não foi o que eu quis dizer.— Não sei se acredito, senhora. Suas palavras foram bem claras — rebato. — O que é bem engraçado, porque meu pai nunca encostou um dedo em mim ou na minha irmã, portanto sua teoria de que sou violento por culpa da minha criação não faz sentido algum. Se quer mesmo saber, eu bati no seu filho porque queria bater, e não me arrependo.Ela abre a boca, chocada e brava, antes de balbuciar algo que eu entenda.— Isso é um absurdo, Aaron. Como tem coragem de dizer isso na minha cara?! — esb
EVELYNE— Ei... — Ginger me cumprimenta quando me aproximo de seu lugar na sala de aula.— Olá — retribuo, me sentando ao lado dela.O clima está meio estranho por aqui, e isso já era de se esperar. Não consegui falar com minha amiga direito desde seu aniversário, quando toda a confusão com Eric se sucedeu. Trocamos mensagens, mas eu não queria tocar em um assunto tão delicado quando não sabia se ela estava pronta para isso, portanto conversamos o básico. Para piorar, eu também não falei com Aaron nesse meio tempo. Soube que ele foi chamado na reitoria hoje cedo, mas ainda não consegui entrar em contato. Ele desapareceu e isso me preocupa.— Você está bem? — pergunto para Ginger, que me abre um sorriso fraco.— Minha cabeça está pesando uma tonelada — diz. — Nunca mais eu bebo em toda minha vida.Eu solto um suspiro.— É difícil para quem não está acostumado, mas não me refiro à bebida, exatamente. Pra falar a verdade, eu achei que você não viria depois do que aconteceu ontem à noite.
— Além de tentar abusar de meninas bêbadas, você também agride mulheres? — eu solto de volta, obtendo dele um olhar de alerta.Eric cruza os braços.— Então é essa a história que estão contando sobre mim? — diz. — Interessante... mas me diga, Aaron, qual é a versão da sua irmã? Porque, até ontem, ela estava bastante empenhada em chupar o meu pau.Aaron se levanta lentamente, o olhar fixo em Eric. Ele se aproxima alguns passos, ficando cara a cara com o seu oponente. Eu fico tensa, sabendo que as coisas só vão piorar para ele se ele decidir bater no filho da reitora na frente de todo mundo, mas surpreendentemente, ele aparenta bastante calmo para alguém que demonstrava sede de sangue minutos atrás.— Está feliz? — Aaron pergunta. — Acho que essa é a única maneira de você se sentir superior, já que é um idiota narcisista sem o mínimo de inteligência.Eric bufa, tentando esconder a reação irritada sobre a crítica de Aaron.— Eu não estaria aqui se não fosse inteligente.— Você não estari