AARONA porta da reitoria já está entreaberta quando bato nela. Não é preciso um anúncio para que a Sra. Ramsay saiba que sou eu; afinal, ela já me esperava. Aguardo apenas pela confirmação padrão antes de adentrar a sala. O escritório é sóbrio e organizado. Há muitos detalhes dos quais eu não percebi na última vez em que estive aqui. Ao contrário do que os outros pensam, não sou exatamente um causador de problemas. Bem, não até a noite passada.Ainda com o olhar fixo em mim, Margot Ramsay aponta uma cadeira à sua frente.— Sente-se, por favor.Eu faço exatamente como o ordenado e mantenho o contato visual, no aguardo de seja lá o que ela tem para falar, embora já imagine. Não é muito difícil assumir isso, tendo em vista sua expressão. Basta segundos para que a máscara impassível desmorone e eu veja sua testa vincar.— Eu acho que você já sabe o motivo de eu ter te chamado aqui, certo?Cruzo as mãos sobre minha barriga.— Não faço ideia.Ela pressiona os lábios, a um fio de explodir.
— O que quer dizer com “A criação que tive”?— Todo mundo sabe do histórico do seu pai. Não é preciso ser um gênio para descobrir. É complicado conviver com esse tipo de pessoa em casa, por isso tem minha empatia.— A senhora agora está insinuando que eu só bati no seu filho porque cresci em uma casa violenta, algo que concluiu porque meu pai é um viciado?Sua expressão de fúria se desarma. Agora eu vejo algo como constrangimento. Pelo menos ela reconhece que falou besteira.— Não foi o que eu quis dizer.— Não sei se acredito, senhora. Suas palavras foram bem claras — rebato. — O que é bem engraçado, porque meu pai nunca encostou um dedo em mim ou na minha irmã, portanto sua teoria de que sou violento por culpa da minha criação não faz sentido algum. Se quer mesmo saber, eu bati no seu filho porque queria bater, e não me arrependo.Ela abre a boca, chocada e brava, antes de balbuciar algo que eu entenda.— Isso é um absurdo, Aaron. Como tem coragem de dizer isso na minha cara?! — esb
EVELYNE— Ei... — Ginger me cumprimenta quando me aproximo de seu lugar na sala de aula.— Olá — retribuo, me sentando ao lado dela.O clima está meio estranho por aqui, e isso já era de se esperar. Não consegui falar com minha amiga direito desde seu aniversário, quando toda a confusão com Eric se sucedeu. Trocamos mensagens, mas eu não queria tocar em um assunto tão delicado quando não sabia se ela estava pronta para isso, portanto conversamos o básico. Para piorar, eu também não falei com Aaron nesse meio tempo. Soube que ele foi chamado na reitoria hoje cedo, mas ainda não consegui entrar em contato. Ele desapareceu e isso me preocupa.— Você está bem? — pergunto para Ginger, que me abre um sorriso fraco.— Minha cabeça está pesando uma tonelada — diz. — Nunca mais eu bebo em toda minha vida.Eu solto um suspiro.— É difícil para quem não está acostumado, mas não me refiro à bebida, exatamente. Pra falar a verdade, eu achei que você não viria depois do que aconteceu ontem à noite.
— Além de tentar abusar de meninas bêbadas, você também agride mulheres? — eu solto de volta, obtendo dele um olhar de alerta.Eric cruza os braços.— Então é essa a história que estão contando sobre mim? — diz. — Interessante... mas me diga, Aaron, qual é a versão da sua irmã? Porque, até ontem, ela estava bastante empenhada em chupar o meu pau.Aaron se levanta lentamente, o olhar fixo em Eric. Ele se aproxima alguns passos, ficando cara a cara com o seu oponente. Eu fico tensa, sabendo que as coisas só vão piorar para ele se ele decidir bater no filho da reitora na frente de todo mundo, mas surpreendentemente, ele aparenta bastante calmo para alguém que demonstrava sede de sangue minutos atrás.— Está feliz? — Aaron pergunta. — Acho que essa é a única maneira de você se sentir superior, já que é um idiota narcisista sem o mínimo de inteligência.Eric bufa, tentando esconder a reação irritada sobre a crítica de Aaron.— Eu não estaria aqui se não fosse inteligente.— Você não estari
EVELYNEFaz aproximadamente vinte e quatro horas desde a última vez em que falei com Aaron, e só fiquei cada vez mais preocupada a cada segundo que se passava.Depois de levar Ginger para casa na manhã passada, fiquei a maior parte do tempo com ela, revezando com Eleanor, que não tem muito tato para lidar com esse tipo de situação, mas foi uma ótima amiga.Até mesmo Cassidy se conscientizou com o caso de Ginger e me ajudou a denunciar o maior número possível de posts e comentários a respeito das montagens vazadas. Não é fácil para uma menina de dezenove anos ser chamada de vagabunda e prostituta em redes sociais por um cara a quem quase confia a virgindade.Pela manhã, me arrumo para ir à faculdade. Estou usando uma jaqueta de Aaron, porque faz frio, e esqueci de trazer uma roupa de frio na noite passada. Compreensivamente, Ginger não vai.A sorte não parece estar a meu favor, porque assim que encontro Cassidy, percebo que ela está acompanhada das Ravens. Violet é a única que me cumpr
AARONComo no dia anterior, eu me sento na cadeira em frente à sua escrivaninha, na mesma posição, encarando a mulher que não estava calma antes, mas nem se compara à sua reação de agora.Ela tenta ajeitar alguns papeis sobre a mesa, as mãos trêmulas e respiração tensa.— Você está expulso.Arqueio uma sobrancelha.— Não entendi.Sua mandíbula endurece.— Não há o que entender, Aaron Ditt. Você está expulso — diz. — E esteja agradecido por eu não decidir chamar a polícia.Me recosto contra o encosto da cadeira e cruzo os braços sobre o peito.— Sra. Ramsay, eu espero que haja um motivo plausível para que esteja me dizendo todas essas coisas. Caso contrário, eu seria obrigado a pensar que está passando por sérios problemas emocionais.Ela ri sem humor, os olhos faiscando em minha direção.— Olha, seu moleque... eu estava tentando ser civilizada com você até então, mesmo depois do que fez na outra noite, mas você não está me dando muitas opções.Continuo impassível.— O que eu fiz na ou
EVELYNEEu sou uma mentirosa, e isso não é segredo algum. No entanto, dessa vez eu não me arrependo por mentir. Salvar o futuro de Aaron no Joe Bixby acabou se tornando minha prioridade quando adentrei aquela sala. Não seria justo ele ser punido por algo que sequer sabemos se fez, quando Eric agiu de maneira tão suja com Ginger e até então não recebeu uma punição adequada. Além do mais, eu acredito na inocência de Aaron. Ele teria me contado se estivesse planejando espancar Eric. O filho da reitora pode ter sido um merda e realmente irritado Aaron, mas não acredito que ele tenha feito isso.O corredor está vazio quando passamos pela porta da reitoria, um silêncio agonizante preenchendo o ambiente. Aaron não interrompe a caminhada em momento algum, indo em direção à saída.— Pra onde você vai? — pergunto enquanto o sigo.— Pra casa — responde. — Não suporto ficar mais um segundo nesse lugar de merda.Continuo minha caminhada atrás dele, parando apenas quando chegamos no estacionamento.
EVELYNECapítulo 29Se existisse um troféu para estupidez, eu receberia o primeiro lugar facilmente. Não sei o que diabos estou fazendo aqui. Para falar a verdade, eu sei, e é por ninguém menos que Ginger. Embora não esteja a fim de ver seu irmão babaca nem pintado de ouro no momento, ela é minha amiga e precisa de mim. Bato na porta da casa dos irmãos Ditt fracamente, como se isso fosse me impedir de me deparar com Aaron quando a porta finalmente se abrisse. No melhor dos casos, ele estará bem longe daqui, fazendo qualquer coisa misteriosa que sua cabeça de menino selvagem decida fazer, e é a essa esperança que me apego enquanto aguardo a porta ser aberta, uma fresta se expandindo aos poucos, até revelar a última pessoa que eu queria ver hoje.O ingrato, idiota e insensível, Aaron Ditt.Ele me olha como se quisesse dizer algo, mas não soubesse o que falar. É bom que ele realmente não saiba. Não estou a fim de ouvir mais de suas merdas.— Vim verificar Ginger — adianto em dizer. — Ond