LizHá três anos, me casei, e até hoje, não conheci meu marido. Com certeza, era estranho uma jovem de vinte e um anos ser casada com um completo desconhecido, mas a vida nem sempre era justa. Quando meus pais morreram em um acidente aéreo, fiquei sozinha no mundo com dezesseis anos, e descobri que meu pai já havia deixado um testamento para assegurar que eu ficaria bem, caso acontecesse algo com eles. Então, assim que completei dezoito, me casei com meu tutor. Entretanto, nada me preparou para as condições absurdas que tinham descritas no testamento. Uma delas era que eu deveria permanecer casada com meu tutor até completar vinte e cinco anos. A outra era ser formada em Direito, para atuar como advogada e, enfim, herdar as empresas da minha família, já que todas eram do ramo da advocacia. Depois de tudo isso, eu poderia tomar o controle dos meus bens e da minha vida ao optar pelo divórcio, óbvio. Meu tutor faleceu logo após os meus pais, decorrente de um infarto, com apenas trinta
LizAssim que nos sentamos, a aula começou, mas não prestei atenção em nada do que ele falava. Apenas conseguia observar a sua beleza, em como sua boca era tentadora e pensar no fato de que aquilo tudo ali, na frente, perante a lei, me pertencia.E, pelo jeito que as minhas colegas de turma sussurravam e soltavam risos, não tinha sido somente eu que notei o quanto aquele homem era gostoso. Sua postura séria e seu meio sorriso discreto me diziam que ele sabia bem a reação que estava causando, mas não se deixou levar por isso, continuou sua aula que, ainda que eu não prestasse atenção, estava melhor do que as anteriores.Sentia-me tranquila, até que ele me encarou. Pelos olhos semicerrados na minha direção, me questionei se ele sabia quem eu quem era de verdade. Não, óbvio que não! Eu esperava mesmo que não! — Vamos, Liz. A aula já acabou. — Ana me balançou de leve. — Era mesmo! — Tentei manter o meu autocontrole. — Agora, limpa a baba e vamos para a próxima aula. — Ana riu. Saímos
Liz — Como? — Eu vi em um jornal que ele já tinha chegado aqui — tentei mentir. — Ah, sim! — Bruno pareceu acreditar. — Fala para ele só assinar os documentos. Quero viver minha vida, apenas isso. Diga o que for necessário! — disse com a voz firme. — Olha, Liz, eu vou tentar. Porém, não garanto nada. O senhor McNight tem um gênio muito forte. — Isso era porque ele nunca me viu brava. — Vou ver o que consigo, certo? — O olhar do advogado carregava uma certeza de que não daria certo a sua tentativa. — Eu te ligo. — Agradeço muito! Bruno se levantou e foi em direção à porta. Será que meu marido era um “demônio”? Todos que falam dele parecem temê-lo. Sandra voltou com o meu chá que, diga-se de passagem, era de boldo, ou seja, horrível, mas tive que tomar tudo, pois não queria contar para ela o que havia acontecido, de fato. ***Passei o sábado todo em casa, mas continuei pensando nele. Ainda bem que o Petter e a Sandra estavam comigo. Como de costume, estávamos nós três
LizFomos para o meio da pista e começamos a dançar. Eu mexia meu corpo conforme sentia as batidas da música. As minhas amigas encontravam-se bem loucas. Já que o meu marido podia ir a uma boate, eu também poderia. Ainda não o tinha visto, mas meus olhos o procuravam a cada oportunidade. Será que elas estavam falando a verdade ou só disseram aquilo para eu vir até aqui? Pelo menos, elas conseguiram me tirar de casa. Igor apareceu um tempo depois e começou a dançar comigo. A música invadiu o meu corpo todo, me fazendo rebolar no ritmo certo. Voltei a procurar por Henry outra vez. Olhei na parte de cima da boate e havia um homem de costas que me chamou a atenção. Ele estava usando uma camisa branca e uma calça jeans preta que marcava todo o seu corpo. Parecia ser muito lindo. Ele se virou e nossos olhos se encontraram, então perdi o fôlego. Henry me encarava com intensidade, mas seu cenho estava franzido, o que dava a ele um aspecto sisudo de quem não gostou nem um pouco de me ver
Liz— Peça um táxi! — Perdi minha carteira. Uma parte de mim, queria dar a carona, mas a outra parte não. Poderia deixá-lo ali, claro, mas será que a minha consciência ficaria pesada? — Senhorita Navarro! — Ele estalou os dedos na minha frente e só então saí do meu transe. — Com uma condição. — Qual? — Não iremos conversar — afirmei com tom rude. — Nossa! Tudo bem. — Entre — ordenei. Ele deu a volta e entrou, sentando-se do meu lado. Respirei fundo, ajustei-me no banco e dei partida, saindo do estacionamento da boate a contragosto, com meu marido desconhecido, que agora não era tão desconhecido. — Lindo carro — declarou, me encarando.Revirei os olhos e o ignorei. — Ok! Já entendi. — Ergueu as mãos em forma de rendição. — Coloca no GPS o seu endereço — pedi, evitando o encarar. — Eu poderia ir te guiando. — Lancei-me um olhar mortal. — Faz pouco tempo que me mudei, não sei os nomes das ruas aqui. — O silêncio se fez presente por alguns segundos, antes que ele continuasse:
Henry** Três anos atrás ***Três anos atrásMeu passado era repleto de esqueletos escondidos em armários. Eu não matava ninguém, mas era a mão que mandava executar. Isso fazia de mim um criminoso do mesmo jeito. Tudo tinha que ser do meu jeito e quando eu queria, em especial com as mulheres. Comigo não existia a arte da conquista. Eu queria, eu tinha, simples assim. Se eram casadas, o dinheiro resolvia. Meus soldados compravam seus maridos, ou os ameaçavam. E era claro que isso sempre funcionou. Criei um afeto pelo o Cesare, que era consigliere do meu pai, após a morte da minha mãe, ele se tronou um pai para mim, me ensinou tudo o que precisava aprender para me defender e máscara meus sentimentos. Cesare era pai do Eric que era mais velho do que eu e fomos treinados juntos. Eric sempre amou essa vida na máfia e gostava de viajar. Sendo assim, meu pai o designou como meu tutor, como criamos uma amizade muito além, comecei a chama-lo de tio, o que não agradava muito, depois de muita
HenryTempos atuaisJá havia quase vinte quatro horas que estava em Nova Iorque, e tinha pedido para Guilherme contatar Bruno o advogado da minha esposa. Mal coloquei os pés em minha casa, após um dia cansativo na faculdade e delegacia e percebi que Bruno, estava me aguardando. — O que é tão importante que não podia esperar que eu descansasse? — Não fazia nem dez minutos que havia chegado. — Desculpa, senhor McNight. — Bruno ficou sem jeito. — Mas a senhora McNight quer o divórcio. — Como assim? Ela está maluca? — comecei a gritar. — Ainda faltam quatro anos para essa merda acabar! — Eu sei, senhor McNight, mas ela disse... — Eu não quero saber o que ela disse! — Não poderia dar o divórcio ainda.Tinha poucas pistas sobre o que havia acontecido com o Eric e não poderia colocar o meu legado, e muito menos a minha família, em risco. Havia passado três anos da sua morte e não tinha nenhuma pista concreta. Até matei um infiltrado, mas nada além disso. — Eu sei, mas ela quer s
HenryMeu celular despertou às 6h da manhã. Apenas coloquei a minha roupa de corrida e escovei os dentes, antes de pegar o meu celular com os fones e sair para correr. Aquilo fazia parte da minha rotina matinal. Voltei para casa e percebi que já era quase 7h30. Havia me empolgado. Coloquei o café para passar e fui tomar um banho, pois seria o dia que começaria a dar aula. Thiago, com certeza, me deveria uma por muito tempo. Meu banho foi rápido. Vesti uma calça jeans, camisa e tênis social. Penteei o cabelo para trás e passei meu perfume preferido: Invictos. Tomei meu café e fui direto para a garagem. Peguei o meu Porsche preto e dirigi para a faculdade central. Assim que saí do estacionamento, percebi os olhares de algumas alunas, e como já falei, não gosto de meninas, apenas de mulheres. Me apresentei a todos os funcionários da escola. A diretora me acompanhou até a sala, que estava vazia. Já eram 8h e faltavam dez minutos para a aula iniciar. Em um piscar de olhos, a sala en