Pedro acordou animado, "acordar" era uma palavra forte para quem praticamente nem dormiu, tamanha era a ansiedade que ficara boa parte da noite imaginando como as coisas iam ser.
Chegou a fantasiar como seria o dia dos dois juntos, imaginou como puxar assunto e como iria surgir pouco a pouco intimidade entre eles, já havia sonhado tudo antes mesmo de acontecer; do primeiro olá até o primeiro beijo que dariam, depois de duas semanas de muita conversa e romance a moda antiga, pobre criança iludida!
Havia preparado um lanche para quando ela chegasse e agradecia a Deus por nenhum de seus pais estarem em casa, não gostaria de passar a vergonha de ter Júlia presenciasse uma discussão de ambos.
Seguindo seu cronograma fez faxina na casa e prendeu Edward, seu lindo porém ciumento cão, no cercadinho e depois rumou para o banheiro, onde tomou um banho e se arrumou, escolheu uma roupa confortável, bermuda tactel floral e uma camiseta preta, fez um rabo de cavalo em seu cabelo e colocou seu perfume, tentou ser mais básico para não assustá-la no início.
Após ter tudo pronto ele se pôs a esperar; até os primeiros trinta minutos ele não estava preocupado, aliás pessoas se atrasam e ainda mais quando era apenas pra fazer um trabalho na casa de um colega, depois de uma hora ele decidiu comer seu lanche sem ela, uma parte de sua fantasia romântica acabara de morrer, e ele começou a se perguntar qual seria a sensação de dividir uma refeição com ela, depois de três horas ele desistiu de esperar, chorando devorou ao lanche dela e toda comida que encontrou em seu caminho, em seguida se trancou no quarto e fez algo que até então nunca tinha feito, cortou-se.
E enquanto se automutilava sentiu-se melhor, pois conseguiria punir a pessoa a quem mais odiava, a si mesmo.
(...)
Pedro estava calmo, e tentou não demonstrar nenhuma emoção, Júlia ainda não chegara e Pedro ainda não havia pensado em como iria reagir ao vê-la, e nem teve tempo para formular uma expressão, pois antes que piscasse os olhos a mesma entrou na sala.
Fez o coração dele se despedaçar em mil pedaços, porém encantou-lhe aos olhos como sempre, ela estava tão linda naquela manhã que ele até pensou em desistir do que estava prester a fazer; contudo sabia que não era justo com ele mesmo e decidiu manter-se firme no seu plano.
A aula começara e os alunos passaram a apresentar seus trabalhos, Pedro sentiu o seu estômago se embrulhar, contudo a pequena bolinha de papel que lhe atingira na cabeça acabou o distraindo, já ia se levantar para jogá-la fora, contudo antes que o fizesse viu Júlia sibilando "ABRA", e entendeu que deveria existir uma mensagem ali.
"Passe minha parte do trabalho pelo whats 21997554525"
Pedro sentiu sua ira aumentar e seguiu para a lixeira, aonde rasgou os papéis em pequenos pedaços e os jogou no lixo, ela o olhava com uma expressão interrogativa no rosto. Em seguida foi a sua vez de apresentar ao trabalho.
-Próxima apresentação Pedro Costa, e Júlia Duarte.-Disse o professor com seu típico tom enfadonho.
-Somente Pedro professor.-Disse ele lançando um olhar frio para Júlia.
-Como assim? Você esta louco?-Perguntou ela atônita.
-O trabalho é em dupla.-Acrescentou o professor em tom impaciente.
-Sim, eu sei, contudo não acho justo incluí-la no meu trabalho, visto que ela não me ajudou em nenhum momento em montá-lo.
-Você é um idiota.-Disse Júlia enraivecida.
-Sem ofensas aos seu colega na minha aula mocinha.-Disse o professor em tom firme.-É verdade que não ajudou seu parceiro na construção do trabalho?
-É claro que não, ele só esta despeitado, pois esta apaixonado por mim.-Ela o olhou com desafio, aquela afirmação o balançou, mas não tanto quanto a que viria a seguir.- Eu não tenho culpa que ele não tenha espelho em casa, vive olhando pra mim e suspirando, até parece que eu me envolveria com um lixo feito ele.-Pedro não respondeu mais, não tinha força, apenas sentiu suas lágrimas caírem sem controle, e saiu correndo da sala em busca de algum lugar pra se esconder.
(...)
-Ei cara não fique assim, aquela garota é uma idiota que não sabe o que diz.-Disse Túlio o abraçando, ele tinha braços calorosos que lhe fizeram sentir bem, mesmo sem motivos.
-Ela disse a verdade, eu estou apaixonado por ela e nunca teria chance, pois sou feio.
Túlio lhe abraçara com ternura, e o guiara para um dos bancos que havia no horto, em seguida envolveu suas mãos em seus cabelos e passou a acariciá-los suavemente.
-Mesmo se você fosse feio, o que você não é, ninguém tem o direito de ofender alguém dessa maneira.
-Eu sei Tulio, eu sei.-Disse Pedro entre as lágrimas.
-Você precisa falar na direção, isso não pode ficar assim.-Disse ele incisivo.
-Eu não quero; só vai piorar as coisas.
-Eles precisam de limites!-Falou Túlio impaciente.
-Olha; eu preciso ficar só.-Falou Pedro se levantando e caminhando para longe de seu amigo, sem dar nem sequer a chance de que ele pudesse retrucar.
(...)
-Aquele nerd nojento, minha nota esta zerada.-Disse Júlia com a voz carregada de raiva.
-Não é pra tanto, você nem se importa com essa coisa de notas.-Disse Isabela, sua melhor amiga.-Aliás é só pedir pro seu pai fazer um cheque e seu boletim fica azul.
-Ele decidiu bancar o "pai exemplar" e me cobrar boas notas; disse que eu preciso de trabalho na vida.-Falou Júlia revirando os olhos.
-Nossa, que barra hein amiga.
-Sim, e o pior que se eu levar bomba ele irá me punir, disse que retiraria meu cartão de crédito.
-E o que você pretende fazer?-Perguntou Isabela enquanto retocava o seu batom vermelho, o banheiro feminino soava mais como um camarim do que qualquer coisa.
-Eu não tenho escolha, preciso estudar.
-Putz amiga.
-Mas isso não vai ficar assim.-Falou Júlia com um sorriso maléfico nos lábios.
-O que você pretende fazer?-Disse Isabela curiosa.
-Viva e verá.-Concluiu saindo da sala radiante em seguida.
(...)
Pedro caminhava para sua casa só, não chorava mais, contudo agradecia que seus pais só chegariam mais tarde, ele teria tempo pata descansar e desinchar os olhos.
A dor que assolava era dupla, claro que machucava ouvir críticas a sua aparência, contudo doía mais ouvir isso de uma pessoa de quem gostava, e sobretudo saber que nunca teria a chance de estar com ela, pois ela te achava repugnante.
Ele queria gritar; e fugir para um lugar distante quando sentiu que ela zombava de seus sentimentos, quando se viu exposto da pior maneira possível, estava tão absorto em seus pensamentos que nem viu que tinha companhia:
-cof cof.-Ele se virou imediatamente para ver quem fizera aquele som, e ao ver Júlia com um sorriso doce nos lábios ficou sem reação.-Posso acompanhar você? - Perguntou ela com uma naturalidade que lhe assustou; ele pensou em dizer não, nem tanto por raiva, mas sim por desconfiança, uma atitude daquelas era de se estranhar, contudo ao vê-la ali tão perto e tão bela só conseguiu assentir, ela por sua vez se pôs ao seu lado logo em seguida.
- O que achou do filme?-Perguntou ele -Maravilhoso, chorei em algumas partes.-Falou ela. -Você chorou? -É proibido agora? kkkkk -Não, é que geralmente não é lágrimas que se espera ao assistir um filme do Quentin Tarantino kkkkkk. -Qualquer um que assistiu aquele filme e não chorou é oficialmente sem coração, a cena que ela espancada grávida não te comove? Ou ainda quando ela reencontra sua filha? -Tá eu posso admitir que lacrimejei em algumas partes kkkk -Admita que chorou boy. -Tá, talvez um pouquinho. -Viu só? Eu sabia, aquele filme é uma novela mexicana com dedo no c* e gritaria junto. -Concordo kkkk -Queria saber lutar de espadas igual a Lucy liu. -Eu queria saber lutar. -Porquê não tenta aprender? As artes marciais nunca saem de moda. -Se eu soubesse lutar provavelmente seria expulso da escola kkkkkk. -Estou com medo de você. -Eu confesso que te imaginar segurando uma espada, não é muito reconfortante também. -Vou fazer você andar na prancha kkkkkk -Sorte que eu
CAPÍTULO CINCOPorquê doía tanto? Era a pergunta que Túlio fazia a si mesmo, e não conseguia responder, na verdade já sabia a resposta o problema era que não gostava da resposta que recebeu. Já fazia tempo que notara quanto pensava em Pedro, a vontade de ficar próximo a ele e o abraçar, as vezes que se pegou imaginando como seria sentir os lábios dele nos seus, ser excluído por seu amigo era doloroso, no entanto era pior quando se estava apaixonado pelo mesmo. O alarme tocou avisando que estava na hora de ir para a escola, como sempre Tiago já havia acordado antes e o esperava pronto na sala, seu pai se encontrava falando ao telefone com alguma namorada, soava atencioso e romântico, contudo todos ali sabiam que aquilo não iria durar, Alessandro ainda estava preso no século passado, e assim que levasse aquela mu
-Você só pode estar de brincadeira com minha cara.-Falou Túlio ao ouvir toda a história de Pedro, e perder a paciência, se jogou em sua cama e suspirou antes de continuar.-Você vai realmente se sujeitar a isso?-Pedro se sentiu envergonhado e pensou em não responder, no entanto o fez.-Não é tão ruim quanto parece.-Ele quis mais do que nunca ser a pessoa que sabia dar respostas certeiras, mas para sua infelicidade era mais do tipo que pensava na resposta perfeita dois dias depois da discussão ter acabado.-Isso é humilhante Pedro.-O tom dele fora mais dolorido que ríspido.-Eu gosta dela porr*.-Gritou abruptamente.-Eu não posso evitar o que eu sinto, e se essa for a única forma de estar perto da garota que eu gosto eu farei.-O tom dele foi firme, no entanto Túlio o olhava como o maior dos idiotas.- Estou chocado com sua falta de dignidade.-Disse co
Apesar de todas as críticas e competição, era bom estar com suas amigas, assim como quando tinha doze anos de idade vez ou outra faziam festa do pijama. Essa festa era na sua casa, com suas duas melhores amigas, Isabela, Patrícia e Ellen, por consequência d puro clichê eram as garotas mais populares da escola, Isabela sua amiga mais próxima e inseparável, era parecida com ela tanto em personalidade quanto fisicamente, Patrícia era a garota mais narcisista e livre que já conhecera, se destacava por seu estilo descolado e alternativo ao mesmo tempo, Ellen era uma garota elegante e séria, soava mais como garota difícil e inacessível, a qual era desejada, porém só ficava com quem a mesma escolhia, ninguém ousava se aproximava dela primeiro. Eram um contraste á beleza clássica e convencional que Júlia e Pr
-Você tem exatos sessenta segundos, para nos explicar porquê está de conversa com o maior nerd da escola.-Disse Patrícia enérgica.-É uma vingança.-Disse Júlia em sua defesa.-Como assim?-Disse Ellen perplexa, Patrícia seguia com seu olhar de desconfiança.-Bom todas sabem que eu me ferrei por causa daquele otário não é mesmo?-Todas assentiram.-Agora mesmo que eu gabarite a prova, o que provavelmente vou, terei de ouvir dos meus pais e ficarei de castigo.-Eu me lembro de você ter mencionado algo sobre.-Disse Isabella em concordância.-Então, eu vou usar o sentimentos daquele idiota, fazer ele se iludir e depois o chutar da pior forma possível.-Enquanto falava uma dor no peito lhe preencheu, e ela se deu conta do quão injusta havia sido por ter julgado Pedro por sua aparência, suas amigas gargalharam e fizeram gestos euf&o
Pedro não se lembrava da última vez que acordara sorrindo, após se esforçar um pouco lembrou-se, fora da vez que sonhou encontrar uma maleta cheia de dinheiro, tinha uns cinco anos de idade na época, se lembrou de ter caído no choro em seguida, pois havia percebido que tudo não passara de um sonho. Naquele dia em questão após acordar ele prosseguiu sorrindo, chegou a arrancar alguns comentários interrogativos de seus pais, contudo tudo o que fizera foi sorrir em resposta, estava feliz e era tudo o que importava, era diferente dessa vez, seu sonho começava assim que abria os olhos, e se levantava da cama, todos os dias alguns minutos antes de dormir ele separava uns minutos para relembrar como fora seu dia com Júlia, e relembrava cada beijo, cada toque, e eventualmente como fizeram amor, relutavam contra o sono e seguiam conversando at&e
Júlia driblou o sistema do hospital, um pouco de dinheiro sempre resolvia qualquer coisa, logo se moveu para o quarto de Pedro, o mesmo ainda dormia, e permaneceria assim por algumas horas. Ela pousara as mãos sob os cabelos dele, e lhe acariciou ternamente, lágrimas escaparam de seus olhos e o sentimento que invadiu seu peito, foi de ódio de si mesma. Ouvira de um dos médicos que não havia sofrido nada grave, mas que precisou fazer uma pequena cirurgia no nariz, visto que havia fraturado o mesmo com a queda, e por isso teve que ser sedado. Sabendo que a mãe de Pedro chegaria em breve, decidiu apressar-se e sair, balbuciou a palavra "perdão" antes de ir. No entanto assim que virara a maçaneta, se deparara com um rosto feminino extremamente parecido com o de seu amado, logo concluira que se tratava de sua mãe.-V
-Quem te deu o direito de mexer em minhas coisas?-Disse Túlio se lançando em direção ao irmão, após uma pequena luta corporal conseguira recuperar o seu diário.-É verdade o que está escrito aí?- Lágrimas passaram a escapar dos olhos de Tiago, um misto de dor e decepção encheram seu peito.-Você é uma bicha?-A última palavra saiu de forma ríspida, e atingiu a Túlio o fazendo chorar também.-Eu sou teu irmão, eu continuo sendo seu irmão.-Disse Tulio tentando se aproximar; contudo o mesmo se esquivou.-Eu não quero um irmão assim, ou você se cura ou se afasta de mim.-Agora enfim o mesmo havia conseguido limpar suas lágrimas.- Como você pode ser tão cruel?-Falou Tulio descrente.- Já imaginou se as pessoas me confundirem com você? Ou pior nos associarem um