Capítulo 2

As vezes mandamos nosso sexto sentido calar a boca, e continuamos acreditando em nosso coração. Pedro fizera decidir acreditar no pedido de desculpas de David.

   O que mais doera não foi de fato o cartaz que David colou as suas costas enquanto lhe abraçara, cujo continha a cara de Pedro colada a uma imagem de um peixe morto, o que doía era que chegara a confiar nele, ainda que por um pequeno período de tempo, e isso lhe fazia sentir um idiota.

    Trancara-se em uma das cabines do banheiro; chegara a ignorar o odor nojento que emanava de uma das privadas entupidas. Só queria chorar, e esquecer o quanto fracassara em sua tentativa de ser aceito, sua tentativa de ser normal. Perdido em seus pensamentos ele nem sequer notou que o horário da próxima aula se aproximava, e somente se lembrou de ir para a aula de gramática quando o sinal havia tocado.

-Não pode entrar!-Disse uma senhora baixinha, de cabelo longos e nariz fino. Seu batom vermelho escarlate contrastava com sua pele branca, seus grandes olhos castanhos possuíam um tom de rigidez.-Volte no próximo horário.

-Não pode me liberar dessa vez? É meu primeiro dia no ensino médio.-O nerd interior de Pedro estava gritando de desespero, nunca perdera uma aula na vida e não gostaria de começar agora, estudando na melhor escola que estudaria em sua vida.

-É a primeiro dia no ensino médio de todos aqui, com excessão daqueles três repetentes ali.-Disse ela apontando para David e seus amigos, os quais fizeram um círculo entre si e começaram a conversar, as gargalhadas eram altas o suficiente para embrulhar o estômago de Pedro.-No entanto todos chegaram na hora, apesar de que minha aula fluiria melhor, caso algumas pessoas não houvesse aparecido.- disse a professora lançando mais um olhar para o trio de amigos, Pedro suspirou percebendo que a batalha estava perdida.-Até a próxima aula rapaz, com licença.-Falou para depois fechar a porta e voltar para sua aula.

    Pedro caminhava pela escola procurando um lugar para se fixar, tratou de não ir muito longe, pois não gostaria de perder o próximo horário,  contudo não encontrava nenhum lugar para se fixar, umas das desvantagens de se estudar em uma escola grande, havia tantos grupos e tantas pessoas, a ponto de que no fim os corredores e pátios nunca ficavam vazios, pois sempre havia aulas vagas durante o dia e pessoas matando aula, para Pedro mais pessoas significava mais possibilidades de ser rejeitado, ao menos na outra escola possuia o direito de se isolar, nessa nem isso.    

     Enfim achou um lugar para ficar, fora da escola no horto municipal o qual ficava localizado a frente da escola, a ideia lhe ocorrera ao perceber que não havia muitas pessoas se dirigindo para lá e que mesmo que tivesse uma quantidade considerável lá, ainda teria algum lugar para se esconder.

   Para sua surpresa não teve problema em sair, e percebeu que diferente de sua outra escola os alunos podiam entrar e sair desta com facilidade em horário de aula.

    Dentro do horto percebeu que o lugar era tão lotado quanto sua escola,  contudo ninguém ali parecia o observar, na verdade cada grupo ou pessoa parecia-se com universos paralelos, os quais mesmos lado a lado não se davam conta da existência  uns dos outros.

    Havia pessoas estudando, queimando um beck, outros se beijando, ele acabara de presenciar um beijo tripo entre dois garotos e uma garota e observou o mesmo se tornar quádruplo ao ver uma outra garota se juntar ao grupo, a mesma se encontrava anteriormente na turma de estudos; ambos se separaram formando dois casais, meninos para um lado e meninas para o outro, Pedro achou graça na dinâmica fluida deles e desejou se unir a eles, mas não era tão ousado para isso.

     Por fim sentou-se em um canto e passou a ouvir música, ainda tinha quarenta minutos para reservar a si e aproveitar sua paz recém conquistada, por mais clichê que pudesse parecer ouvia Creep do radioheed, tinha como ser mais sadboy que isso? Ele concluiu que não, já havia fechado aos olhos quando sua paz recém conquistada se dispersou em mil pedaços, uma bola de futebol lhe atingira na cara e o fez xingar alto.

-Foi mal cara.-Disse um garoto de pele avermelhada, e um cabelo preto cortado em franjinha na testa, ele sorriu solícito e os seus olhos se fecharam ao fazê-lo, Pedro não pode evitar um enorme desejo de beijá-lo.-Você se machucou?

-Não, eu estou bem, um pouco tonto, mas bem.-Disse Pedro rindo.

-Eai cara ta bem?-Disse um outro rosto idêntico ao anterior, porém esse possuía um ar mais sério, enquanto o irmão tinha um semblante que indicava leveza o qual chegava a ser fofo, esse possuía um semblante forte e que aparentava uma impulsividade. Diferente do primeiro esse usava o cabelo raspado e a sobrancelha com um risquinho em um dos lados.

-Estou sim, acho que nem tonto estou mais.-Disse Pedro girando a cabeça em seguido, o que fez com que eles rissem.-Vocês também estudam no Instituto George?-Disse Pedro ao observar o uniforme dos garotos.

-Sim, nós perdemos duas aulas hoje, mas tentaremos aparecer na próxima.

-Qual é a turma de vocês?-Disse Pedro tentando arranjar motivos para manter a conversa, não queria vê-los se afastar.

-Somos da 1B.-Falaram em conjunto.

-A minha também, última pergunta do interrogatório, como vocês se chamam.

-Eu sou o Tiago.-Disse o mais sério.

-Eu sou o Tulio.-Disse o mais fofo.

-Eu sou o Pedro, prazer.

-Prazer.-Disseram novamente em conjunto, ficaram se encarando com um olhar de quem procura o que falar, até que tiago rompeu o silêncio.-Ei, quer jogar bola com a gente?

-Eu quero, mas não sei jogar.-Lamentou Pedro.

-Nossa isso soa como o Jardim de infância, mas vai ser divertido ter um perna de pau.-Concluiu Tiago com risos.

    De fato Pedro foi um perfeito perna de pau, contudo isso não foi um impecilho para que se divertissem, enfim havia feito amigos, pela primeira vez na vida.

(...)

     A aula de biologia seguia de forma monótona, o professor o qual ele não se dera o trabalho de lembrar o nome explicava algo sobre a respiração, algo que ele já sabia, pois pesquisara por pura curiosidade.

     Tiago e Tulio sentaram ao seu lado dessa vez e isso o fez sentir-se mais protegido, contudo já previa que em breve os mesmos acabariam dormindo, visto que a aula estava entediante até mesmo pra ele que gostava de estudar, e o fato de que o professor deixava as luzes desligadas para fazer a apresentação de slides deixa o clima mais tentador para uma soneca.

     Faltando apenas cinco minutos para o fim da aula, uma reviravolta inesperada ocorreu:

-Trabalho em dupla valendo um terço da nota.-Disse o professor sem nenhum entusiasmo.-O tema é circulação, quero um resumo e uma apresentação.

-Pode ser dupla de três?-Disse Roberto um dos garotos do bando de David.

-Não, e pra evitar panelinha as duplas serão definidas por sorteio.-Disse ele colocando uma pequena sacola no centro de sua mesa.-Vou fazer uma chamada, e a medida que seu nomes forem ditos a pessoa pega o papelzinho com o nome do parceiro.

      E assim se seguiu por alguns minutos, pra não desperdiçar nosso precioso tempo, citando cada nome e seu parceiro, vamos focar nos nomes que nos interessam.

*Tulio fez par com Christian, e ele gostou muito da novidade, pois o achava muito gatinho, mesmo que nunca fosse demonstrar isso.

*Tiago fez dupla com David, o que fez com que Pedro lhe desejasse boa sorte, contudo ele não entendeu visto que ainda não sabia da história dos dois.

*E por último e mais importante Pedro formou dupla com Júlia, e isso fez com que nosso protagonista tivesse vontade de saltitar no meio da sala de aula, graças a Deus ele somente sorriu para ela e ganhou um revirar de olhos como resposta.

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