As vezes mandamos nosso sexto sentido calar a boca, e continuamos acreditando em nosso coração. Pedro fizera decidir acreditar no pedido de desculpas de David.
O que mais doera não foi de fato o cartaz que David colou as suas costas enquanto lhe abraçara, cujo continha a cara de Pedro colada a uma imagem de um peixe morto, o que doía era que chegara a confiar nele, ainda que por um pequeno período de tempo, e isso lhe fazia sentir um idiota.
Trancara-se em uma das cabines do banheiro; chegara a ignorar o odor nojento que emanava de uma das privadas entupidas. Só queria chorar, e esquecer o quanto fracassara em sua tentativa de ser aceito, sua tentativa de ser normal. Perdido em seus pensamentos ele nem sequer notou que o horário da próxima aula se aproximava, e somente se lembrou de ir para a aula de gramática quando o sinal havia tocado.
-Não pode entrar!-Disse uma senhora baixinha, de cabelo longos e nariz fino. Seu batom vermelho escarlate contrastava com sua pele branca, seus grandes olhos castanhos possuíam um tom de rigidez.-Volte no próximo horário.
-Não pode me liberar dessa vez? É meu primeiro dia no ensino médio.-O nerd interior de Pedro estava gritando de desespero, nunca perdera uma aula na vida e não gostaria de começar agora, estudando na melhor escola que estudaria em sua vida.
-É a primeiro dia no ensino médio de todos aqui, com excessão daqueles três repetentes ali.-Disse ela apontando para David e seus amigos, os quais fizeram um círculo entre si e começaram a conversar, as gargalhadas eram altas o suficiente para embrulhar o estômago de Pedro.-No entanto todos chegaram na hora, apesar de que minha aula fluiria melhor, caso algumas pessoas não houvesse aparecido.- disse a professora lançando mais um olhar para o trio de amigos, Pedro suspirou percebendo que a batalha estava perdida.-Até a próxima aula rapaz, com licença.-Falou para depois fechar a porta e voltar para sua aula.
Pedro caminhava pela escola procurando um lugar para se fixar, tratou de não ir muito longe, pois não gostaria de perder o próximo horário, contudo não encontrava nenhum lugar para se fixar, umas das desvantagens de se estudar em uma escola grande, havia tantos grupos e tantas pessoas, a ponto de que no fim os corredores e pátios nunca ficavam vazios, pois sempre havia aulas vagas durante o dia e pessoas matando aula, para Pedro mais pessoas significava mais possibilidades de ser rejeitado, ao menos na outra escola possuia o direito de se isolar, nessa nem isso.
Enfim achou um lugar para ficar, fora da escola no horto municipal o qual ficava localizado a frente da escola, a ideia lhe ocorrera ao perceber que não havia muitas pessoas se dirigindo para lá e que mesmo que tivesse uma quantidade considerável lá, ainda teria algum lugar para se esconder.
Para sua surpresa não teve problema em sair, e percebeu que diferente de sua outra escola os alunos podiam entrar e sair desta com facilidade em horário de aula.
Dentro do horto percebeu que o lugar era tão lotado quanto sua escola, contudo ninguém ali parecia o observar, na verdade cada grupo ou pessoa parecia-se com universos paralelos, os quais mesmos lado a lado não se davam conta da existência uns dos outros.
Havia pessoas estudando, queimando um beck, outros se beijando, ele acabara de presenciar um beijo tripo entre dois garotos e uma garota e observou o mesmo se tornar quádruplo ao ver uma outra garota se juntar ao grupo, a mesma se encontrava anteriormente na turma de estudos; ambos se separaram formando dois casais, meninos para um lado e meninas para o outro, Pedro achou graça na dinâmica fluida deles e desejou se unir a eles, mas não era tão ousado para isso.
Por fim sentou-se em um canto e passou a ouvir música, ainda tinha quarenta minutos para reservar a si e aproveitar sua paz recém conquistada, por mais clichê que pudesse parecer ouvia Creep do radioheed, tinha como ser mais sadboy que isso? Ele concluiu que não, já havia fechado aos olhos quando sua paz recém conquistada se dispersou em mil pedaços, uma bola de futebol lhe atingira na cara e o fez xingar alto.
-Foi mal cara.-Disse um garoto de pele avermelhada, e um cabelo preto cortado em franjinha na testa, ele sorriu solícito e os seus olhos se fecharam ao fazê-lo, Pedro não pode evitar um enorme desejo de beijá-lo.-Você se machucou?
-Não, eu estou bem, um pouco tonto, mas bem.-Disse Pedro rindo.
-Eai cara ta bem?-Disse um outro rosto idêntico ao anterior, porém esse possuía um ar mais sério, enquanto o irmão tinha um semblante que indicava leveza o qual chegava a ser fofo, esse possuía um semblante forte e que aparentava uma impulsividade. Diferente do primeiro esse usava o cabelo raspado e a sobrancelha com um risquinho em um dos lados.
-Estou sim, acho que nem tonto estou mais.-Disse Pedro girando a cabeça em seguido, o que fez com que eles rissem.-Vocês também estudam no Instituto George?-Disse Pedro ao observar o uniforme dos garotos.
-Sim, nós perdemos duas aulas hoje, mas tentaremos aparecer na próxima.
-Qual é a turma de vocês?-Disse Pedro tentando arranjar motivos para manter a conversa, não queria vê-los se afastar.
-Somos da 1B.-Falaram em conjunto.
-A minha também, última pergunta do interrogatório, como vocês se chamam.
-Eu sou o Tiago.-Disse o mais sério.
-Eu sou o Tulio.-Disse o mais fofo.
-Eu sou o Pedro, prazer.
-Prazer.-Disseram novamente em conjunto, ficaram se encarando com um olhar de quem procura o que falar, até que tiago rompeu o silêncio.-Ei, quer jogar bola com a gente?
-Eu quero, mas não sei jogar.-Lamentou Pedro.
-Nossa isso soa como o Jardim de infância, mas vai ser divertido ter um perna de pau.-Concluiu Tiago com risos.
De fato Pedro foi um perfeito perna de pau, contudo isso não foi um impecilho para que se divertissem, enfim havia feito amigos, pela primeira vez na vida.
(...)
A aula de biologia seguia de forma monótona, o professor o qual ele não se dera o trabalho de lembrar o nome explicava algo sobre a respiração, algo que ele já sabia, pois pesquisara por pura curiosidade.
Tiago e Tulio sentaram ao seu lado dessa vez e isso o fez sentir-se mais protegido, contudo já previa que em breve os mesmos acabariam dormindo, visto que a aula estava entediante até mesmo pra ele que gostava de estudar, e o fato de que o professor deixava as luzes desligadas para fazer a apresentação de slides deixa o clima mais tentador para uma soneca.
Faltando apenas cinco minutos para o fim da aula, uma reviravolta inesperada ocorreu:
-Trabalho em dupla valendo um terço da nota.-Disse o professor sem nenhum entusiasmo.-O tema é circulação, quero um resumo e uma apresentação.
-Pode ser dupla de três?-Disse Roberto um dos garotos do bando de David.
-Não, e pra evitar panelinha as duplas serão definidas por sorteio.-Disse ele colocando uma pequena sacola no centro de sua mesa.-Vou fazer uma chamada, e a medida que seu nomes forem ditos a pessoa pega o papelzinho com o nome do parceiro.
E assim se seguiu por alguns minutos, pra não desperdiçar nosso precioso tempo, citando cada nome e seu parceiro, vamos focar nos nomes que nos interessam.
*Tulio fez par com Christian, e ele gostou muito da novidade, pois o achava muito gatinho, mesmo que nunca fosse demonstrar isso.
*Tiago fez dupla com David, o que fez com que Pedro lhe desejasse boa sorte, contudo ele não entendeu visto que ainda não sabia da história dos dois.
*E por último e mais importante Pedro formou dupla com Júlia, e isso fez com que nosso protagonista tivesse vontade de saltitar no meio da sala de aula, graças a Deus ele somente sorriu para ela e ganhou um revirar de olhos como resposta.
Pedro acordou animado, "acordar" era uma palavra forte para quem praticamente nem dormiu, tamanha era a ansiedade que ficara boa parte da noite imaginando como as coisas iam ser. Chegou a fantasiar como seria o dia dos dois juntos, imaginou como puxar assunto e como iria surgir pouco a pouco intimidade entre eles, já havia sonhado tudo antes mesmo de acontecer; do primeiro olá até o primeiro beijo que dariam, depois de duas semanas de muita conversa e romance a moda antiga, pobre criança iludida! Havia preparado um lanche para quando ela chegasse e agradecia a Deus por nenhum de seus pais estarem em casa, não gostaria de passar a vergonha de ter Júlia presenciasse uma discussão de ambos. Seguindo seu cronograma fez faxina na casa e prendeu Edward, seu lindo porém ciumento cão, no cercadinho e depois rumou para o banheiro, onde tomou um banho e se arrumou
- O que achou do filme?-Perguntou ele -Maravilhoso, chorei em algumas partes.-Falou ela. -Você chorou? -É proibido agora? kkkkk -Não, é que geralmente não é lágrimas que se espera ao assistir um filme do Quentin Tarantino kkkkkk. -Qualquer um que assistiu aquele filme e não chorou é oficialmente sem coração, a cena que ela espancada grávida não te comove? Ou ainda quando ela reencontra sua filha? -Tá eu posso admitir que lacrimejei em algumas partes kkkk -Admita que chorou boy. -Tá, talvez um pouquinho. -Viu só? Eu sabia, aquele filme é uma novela mexicana com dedo no c* e gritaria junto. -Concordo kkkk -Queria saber lutar de espadas igual a Lucy liu. -Eu queria saber lutar. -Porquê não tenta aprender? As artes marciais nunca saem de moda. -Se eu soubesse lutar provavelmente seria expulso da escola kkkkkk. -Estou com medo de você. -Eu confesso que te imaginar segurando uma espada, não é muito reconfortante também. -Vou fazer você andar na prancha kkkkkk -Sorte que eu
CAPÍTULO CINCOPorquê doía tanto? Era a pergunta que Túlio fazia a si mesmo, e não conseguia responder, na verdade já sabia a resposta o problema era que não gostava da resposta que recebeu. Já fazia tempo que notara quanto pensava em Pedro, a vontade de ficar próximo a ele e o abraçar, as vezes que se pegou imaginando como seria sentir os lábios dele nos seus, ser excluído por seu amigo era doloroso, no entanto era pior quando se estava apaixonado pelo mesmo. O alarme tocou avisando que estava na hora de ir para a escola, como sempre Tiago já havia acordado antes e o esperava pronto na sala, seu pai se encontrava falando ao telefone com alguma namorada, soava atencioso e romântico, contudo todos ali sabiam que aquilo não iria durar, Alessandro ainda estava preso no século passado, e assim que levasse aquela mu
-Você só pode estar de brincadeira com minha cara.-Falou Túlio ao ouvir toda a história de Pedro, e perder a paciência, se jogou em sua cama e suspirou antes de continuar.-Você vai realmente se sujeitar a isso?-Pedro se sentiu envergonhado e pensou em não responder, no entanto o fez.-Não é tão ruim quanto parece.-Ele quis mais do que nunca ser a pessoa que sabia dar respostas certeiras, mas para sua infelicidade era mais do tipo que pensava na resposta perfeita dois dias depois da discussão ter acabado.-Isso é humilhante Pedro.-O tom dele fora mais dolorido que ríspido.-Eu gosta dela porr*.-Gritou abruptamente.-Eu não posso evitar o que eu sinto, e se essa for a única forma de estar perto da garota que eu gosto eu farei.-O tom dele foi firme, no entanto Túlio o olhava como o maior dos idiotas.- Estou chocado com sua falta de dignidade.-Disse co
Apesar de todas as críticas e competição, era bom estar com suas amigas, assim como quando tinha doze anos de idade vez ou outra faziam festa do pijama. Essa festa era na sua casa, com suas duas melhores amigas, Isabela, Patrícia e Ellen, por consequência d puro clichê eram as garotas mais populares da escola, Isabela sua amiga mais próxima e inseparável, era parecida com ela tanto em personalidade quanto fisicamente, Patrícia era a garota mais narcisista e livre que já conhecera, se destacava por seu estilo descolado e alternativo ao mesmo tempo, Ellen era uma garota elegante e séria, soava mais como garota difícil e inacessível, a qual era desejada, porém só ficava com quem a mesma escolhia, ninguém ousava se aproximava dela primeiro. Eram um contraste á beleza clássica e convencional que Júlia e Pr
-Você tem exatos sessenta segundos, para nos explicar porquê está de conversa com o maior nerd da escola.-Disse Patrícia enérgica.-É uma vingança.-Disse Júlia em sua defesa.-Como assim?-Disse Ellen perplexa, Patrícia seguia com seu olhar de desconfiança.-Bom todas sabem que eu me ferrei por causa daquele otário não é mesmo?-Todas assentiram.-Agora mesmo que eu gabarite a prova, o que provavelmente vou, terei de ouvir dos meus pais e ficarei de castigo.-Eu me lembro de você ter mencionado algo sobre.-Disse Isabella em concordância.-Então, eu vou usar o sentimentos daquele idiota, fazer ele se iludir e depois o chutar da pior forma possível.-Enquanto falava uma dor no peito lhe preencheu, e ela se deu conta do quão injusta havia sido por ter julgado Pedro por sua aparência, suas amigas gargalharam e fizeram gestos euf&o
Pedro não se lembrava da última vez que acordara sorrindo, após se esforçar um pouco lembrou-se, fora da vez que sonhou encontrar uma maleta cheia de dinheiro, tinha uns cinco anos de idade na época, se lembrou de ter caído no choro em seguida, pois havia percebido que tudo não passara de um sonho. Naquele dia em questão após acordar ele prosseguiu sorrindo, chegou a arrancar alguns comentários interrogativos de seus pais, contudo tudo o que fizera foi sorrir em resposta, estava feliz e era tudo o que importava, era diferente dessa vez, seu sonho começava assim que abria os olhos, e se levantava da cama, todos os dias alguns minutos antes de dormir ele separava uns minutos para relembrar como fora seu dia com Júlia, e relembrava cada beijo, cada toque, e eventualmente como fizeram amor, relutavam contra o sono e seguiam conversando at&e
Júlia driblou o sistema do hospital, um pouco de dinheiro sempre resolvia qualquer coisa, logo se moveu para o quarto de Pedro, o mesmo ainda dormia, e permaneceria assim por algumas horas. Ela pousara as mãos sob os cabelos dele, e lhe acariciou ternamente, lágrimas escaparam de seus olhos e o sentimento que invadiu seu peito, foi de ódio de si mesma. Ouvira de um dos médicos que não havia sofrido nada grave, mas que precisou fazer uma pequena cirurgia no nariz, visto que havia fraturado o mesmo com a queda, e por isso teve que ser sedado. Sabendo que a mãe de Pedro chegaria em breve, decidiu apressar-se e sair, balbuciou a palavra "perdão" antes de ir. No entanto assim que virara a maçaneta, se deparara com um rosto feminino extremamente parecido com o de seu amado, logo concluira que se tratava de sua mãe.-V