Pedro deu mais uma olhada no espelho e tratou de convencer a si mesmo que estava bonito, não era uma tarefa fácil visto que nunca se sentira dessa forma, contudo visto que iria ingressar em uma nova escola, uma das melhores do país a qual ele conseguira através de fazer uma pontuação perfeita em um difícil processo seletivo, se tornara aluno do Instituto George, prestes a conhecer pessoas desconhecidas, havia decidido que tentaria mudar aquela situação e todas as outras que lhe oprimiam.
Seguindo o conselho de sua mãe de se adequar optou por fazer um relaxamento em seus cachos e retirar boa parte de sua barba, o uniforme alinhado combinava com a suave fragrância do perfume da sua mãe; o qual ele despejou um pouco em si mesmo, colocou um pouco de seu pai também, com a ideia de agradar todos os públicos, treinou um pouco seu sorriso de apresentação, no entanto concluiu que seus dentes tortos poderiam dificultar sua aceitação, então decidiu que evitaria sorrir, seguiu seu caminho, enquanto fantasiava com altas expectativas sobre como seria sua vida na nova escola, o sol dava a sua pele já bronzeada um aspecto reluzente.
(...)
A lado ruim de ter um belo sonho é o momento em que você acorda, assim tem que encarar a realidade, a qual não é nada bela...O despertar para Pedro ocorreu assim que ele colocou o primeiro pé dentro da escola, todo lugar a sua volta soara assustador, os olhares que ele recebeu indicava estranhamento e desaprovação, o que fez com que ele engolisse seco, não se deu por vencido e tentou se enturmar com os três garotos que estavam parados em frente ao banheiro masculino.
-Olá pessoal.-Pedro deu o seu melhor sorriso.-Hoje é meu primeiro dia e eu não sei onde fica minha sala.
Os três encararam a Pedro com um ar de superioridade e o mesmo tremeu, em seguida o garoto que estava no meio soltou uma gargalhada e depois disse:
- De onde saiu essa merd*?-Os companheiros dele o acompanharam nas risadas.
-Dá pra esconder um celular nesse Bombril que você chama de cabelo.-Acrescentou o segundo.
-Vocês repararam esses dentes? Parece um tubarão, quando ele começou a falar fiquei com medo de que ele fosse nos dar uma mordida.-O terceiro lhe atingiu no que faltava, e antes que pudesse perceber as lágrimas já haviam começado a cair.
Os insultos continuaram por segundos. Ele não se moveu e nem teve coragem de responder, já o haviam quebrado por dentro, assim que conseguiu controlar suas lágrimas começou a procurar sua classe.
(...)
Se as coisas estavam ruins, elas acabaram tornando-se piores, Pedro desejou com todas as forças de seu peito que estivesse errado, chegou a piscar freneticamente com a esperança de que tudo não passasse de um pesadelo, contudo teve que prosseguir e aceitar a realidade de que aqueles três seriam seus colegas de turma. Para completar a desgraça o único lugar vago era justamente próximo aos três, um estava na cadeira a frente, outro sentado atrás dele, e o último a se encontrava a sua direita.
-Bom dia pessoal, meu nome é André e serei seu professor de matemática esse ano, não irei perder tempo com apresentações longas e falando sobre mim, ao invés disso quero ouvir sobre vocês.
A cada aluno que se apresentava o coração de Pedro acelerava com mais força no peito, queria que algo o impedisse de se apresentar visto que odiava falar em público, no entanto nada aconteceu, e mesmo que até o último minuto ele tenha pensado em fugir, acabou indo a frente como os outros.
-Bom dia, meu nome é...-Os olhares de todos pareciam lhe atingir como facadas, sua voz desaparecia na garganta.-Meu no-nome é...é.-A turma gargalhava.
-Peixe morto!-Gritou Paulo um dos garotos que havia lhe comparado a uma merd* anteriormente.
-De onde tirou isso?-Questionou Gérson, o qual comparara seus dentes aos de um tubarão, rindo em coro com toda turma em seguida.
-Não vê esses olhos esbugalhados e essa cara de morto? Peixe morto.-Paulo deu uma risada cruel e Pedro se controlou para não chorar.
-Você é brabo man.-Disse David dando leves tapinhas nas costas do amigo.
-Já chega!-Gritou o professor em um tom colérico.-Eu não vou admitir esse tipo de comportamento em minha sala de aula.
-O senhor saber quem é meu pai?-Perguntou Paulo em um tom debochado.
-Não sei e não me importo.-Respondeu o professor André em um tom desafiador, mesmo sabendo sua coragem poderia custar seu emprego.
-Tome cuidado professor.-Disse Paulo se calando depois.
-Pode simplesmente dizer seu nome?-Disse André para Pedro em um tom neutro.
-Eu me chamo Pedro.- Falou em um tom quase inaudível e sentou -se segurando as lágrimas.
Ele até tentou se concentrar na aula, no entanto levar contínuos tapas na nuca e com frequência ser acertado por bolinhas de papel era algo que lhe tirava a concentração.
Já estava quase no fim da aula quando seu foco migrou para outro lugar, uma bela garota atravessou a porta, tinha longos cabelos pretos, seus olhos azuis e seu batom roxo lhe dava um aspecto de atriz de cinema, Pedro não conseguiu tirar os olhos dela.
-Posso entrar professor?-Ela disse as palavras de forma mais natural possível.
-Você não pode entrar na aula a hora que quiser, temos regras aqui, precisa se dedicar, aprender e participar.-Ela o olhou como se fosse a coisa mais absurda que alguém poderia lhe dizer, Pedro esperou uma resposta debochada, porém a garota se conteve.
-O meu carro quebrou professor, e o meu chofer só chega às oito.
-Você podia ter vindo de Uber, ônibus...-Disse o professor para receber uma gargalhada como resposta.
-Tudo bem profê, já passamos do limite, vai me deixar entrar ou não?-Falou com um olhar de soslaio.
-Pode entrar Júlia.-Falou suspirando, ele se perguntara qual motivo de que ela ainda aparecia ali, mesmo tendo repetido de ano, não pareceu se importar, a mesma sentou-se e passou a tirar repetidas selfies, sua presença na aula não durou cinco minutos, pois logo o alarme tocara anunciando o fim da aula.
-Até a próxima aula professor, não esquece de colocar minha presença.-Disse para depois sair da sala, seguida por um grupo de garotas, algumas estavam na sala e outras que esperam do lado de fora, deixando Pedro extasiado, a ponto de só perceber que precisava sair para o intervalo quando era o único que restava na sala.
(...)
Pedro era uma pessoa positiva, e sempre tentava arranjar um lado bom em cada situação, um exemplo foi quando percebeu que não tinha amigos, consolou-se com a ideia de que não precisava oferecer seu lanche a ninguém, odiava dividir comida, além disso após todos as piores coisas que ele pensava que poderia acontecer, terem acontecido, ele concluiu que as coisas não poderiam ficar pior.
Pobre Pedro nunca o disseram que tudo sempre pode piorar, e ele teve que descobrir sozinho.
-Ei cara sinto muito por tudo que meus amigos lhe fizeram passar.- Disse David, um dos garotos o qual estava cometendo bullying com ele antes, a atitude o surpreendera tanto que ele esquecera de engolir sua comida e a manteve imóvel em sua boca, enquanto processava a informação.
-É tudo bem...-Disse de boca cheia, e desviando o seu olhar para o seu prato, por mais que a atitude soasse boa, a presença daquele garoto o incomodava e ele queria que o mesmo se afastasse logo.
-Eu não ligo para o que meus amigos dizem, eu acho você top, posso ser seu amigo?-O olhar dele tinha um entusiasmo que lhe arrepiara, tal como um predador se aproximando de sua presa.
-Seria legal.-Por mais que uma vozinha gritasse dentro dele "cilada" Pedro começara a acreditar, afinal as pessoas erram e pode melhorar não é mesmo?-Quer almoçar comigo?
-Hum eu já acabei de almoçar, mas amanhã com certeza sim, me dá um abraço?-Disse abrindo os braços e chamando a atenção de todos no refeitório, Pedro não era muito fã de demonstrações públicas de afeto, mas não pareceu muito legal ignorar seu único amigo, por isso levantou-se para dar-lhe um breve abraço.
Contudo David o envolveu em um abraço forte e demorado, chegando a esfregar-lhe as costas, Pedro chegou até mesmo a se emocionar com o ato, e se surpreender ao concluir o quão carinhoso seu novo amigo poderia; mau sabia ele que acabara ganhar um verdadeiro abraço de cobra.
As vezes mandamos nosso sexto sentido calar a boca, e continuamos acreditando em nosso coração. Pedro fizera decidir acreditar no pedido de desculpas de David. O que mais doera não foi de fato o cartaz que David colou as suas costas enquanto lhe abraçara, cujo continha a cara de Pedro colada a uma imagem de um peixe morto, o que doía era que chegara a confiar nele, ainda que por um pequeno período de tempo, e isso lhe fazia sentir um idiota. Trancara-se em uma das cabines do banheiro; chegara a ignorar o odor nojento que emanava de uma das privadas entupidas. Só queria chorar, e esquecer o quanto fracassara em sua tentativa de ser aceito, sua tentativa de ser normal. Perdido em seus pensamentos ele nem sequer notou que o horário da próxima aula se aproximava, e somente se lembrou de ir para a aula de gramática quando o sinal havia tocado.-Não po
Pedro acordou animado, "acordar" era uma palavra forte para quem praticamente nem dormiu, tamanha era a ansiedade que ficara boa parte da noite imaginando como as coisas iam ser. Chegou a fantasiar como seria o dia dos dois juntos, imaginou como puxar assunto e como iria surgir pouco a pouco intimidade entre eles, já havia sonhado tudo antes mesmo de acontecer; do primeiro olá até o primeiro beijo que dariam, depois de duas semanas de muita conversa e romance a moda antiga, pobre criança iludida! Havia preparado um lanche para quando ela chegasse e agradecia a Deus por nenhum de seus pais estarem em casa, não gostaria de passar a vergonha de ter Júlia presenciasse uma discussão de ambos. Seguindo seu cronograma fez faxina na casa e prendeu Edward, seu lindo porém ciumento cão, no cercadinho e depois rumou para o banheiro, onde tomou um banho e se arrumou
- O que achou do filme?-Perguntou ele -Maravilhoso, chorei em algumas partes.-Falou ela. -Você chorou? -É proibido agora? kkkkk -Não, é que geralmente não é lágrimas que se espera ao assistir um filme do Quentin Tarantino kkkkkk. -Qualquer um que assistiu aquele filme e não chorou é oficialmente sem coração, a cena que ela espancada grávida não te comove? Ou ainda quando ela reencontra sua filha? -Tá eu posso admitir que lacrimejei em algumas partes kkkk -Admita que chorou boy. -Tá, talvez um pouquinho. -Viu só? Eu sabia, aquele filme é uma novela mexicana com dedo no c* e gritaria junto. -Concordo kkkk -Queria saber lutar de espadas igual a Lucy liu. -Eu queria saber lutar. -Porquê não tenta aprender? As artes marciais nunca saem de moda. -Se eu soubesse lutar provavelmente seria expulso da escola kkkkkk. -Estou com medo de você. -Eu confesso que te imaginar segurando uma espada, não é muito reconfortante também. -Vou fazer você andar na prancha kkkkkk -Sorte que eu
CAPÍTULO CINCOPorquê doía tanto? Era a pergunta que Túlio fazia a si mesmo, e não conseguia responder, na verdade já sabia a resposta o problema era que não gostava da resposta que recebeu. Já fazia tempo que notara quanto pensava em Pedro, a vontade de ficar próximo a ele e o abraçar, as vezes que se pegou imaginando como seria sentir os lábios dele nos seus, ser excluído por seu amigo era doloroso, no entanto era pior quando se estava apaixonado pelo mesmo. O alarme tocou avisando que estava na hora de ir para a escola, como sempre Tiago já havia acordado antes e o esperava pronto na sala, seu pai se encontrava falando ao telefone com alguma namorada, soava atencioso e romântico, contudo todos ali sabiam que aquilo não iria durar, Alessandro ainda estava preso no século passado, e assim que levasse aquela mu
-Você só pode estar de brincadeira com minha cara.-Falou Túlio ao ouvir toda a história de Pedro, e perder a paciência, se jogou em sua cama e suspirou antes de continuar.-Você vai realmente se sujeitar a isso?-Pedro se sentiu envergonhado e pensou em não responder, no entanto o fez.-Não é tão ruim quanto parece.-Ele quis mais do que nunca ser a pessoa que sabia dar respostas certeiras, mas para sua infelicidade era mais do tipo que pensava na resposta perfeita dois dias depois da discussão ter acabado.-Isso é humilhante Pedro.-O tom dele fora mais dolorido que ríspido.-Eu gosta dela porr*.-Gritou abruptamente.-Eu não posso evitar o que eu sinto, e se essa for a única forma de estar perto da garota que eu gosto eu farei.-O tom dele foi firme, no entanto Túlio o olhava como o maior dos idiotas.- Estou chocado com sua falta de dignidade.-Disse co
Apesar de todas as críticas e competição, era bom estar com suas amigas, assim como quando tinha doze anos de idade vez ou outra faziam festa do pijama. Essa festa era na sua casa, com suas duas melhores amigas, Isabela, Patrícia e Ellen, por consequência d puro clichê eram as garotas mais populares da escola, Isabela sua amiga mais próxima e inseparável, era parecida com ela tanto em personalidade quanto fisicamente, Patrícia era a garota mais narcisista e livre que já conhecera, se destacava por seu estilo descolado e alternativo ao mesmo tempo, Ellen era uma garota elegante e séria, soava mais como garota difícil e inacessível, a qual era desejada, porém só ficava com quem a mesma escolhia, ninguém ousava se aproximava dela primeiro. Eram um contraste á beleza clássica e convencional que Júlia e Pr
-Você tem exatos sessenta segundos, para nos explicar porquê está de conversa com o maior nerd da escola.-Disse Patrícia enérgica.-É uma vingança.-Disse Júlia em sua defesa.-Como assim?-Disse Ellen perplexa, Patrícia seguia com seu olhar de desconfiança.-Bom todas sabem que eu me ferrei por causa daquele otário não é mesmo?-Todas assentiram.-Agora mesmo que eu gabarite a prova, o que provavelmente vou, terei de ouvir dos meus pais e ficarei de castigo.-Eu me lembro de você ter mencionado algo sobre.-Disse Isabella em concordância.-Então, eu vou usar o sentimentos daquele idiota, fazer ele se iludir e depois o chutar da pior forma possível.-Enquanto falava uma dor no peito lhe preencheu, e ela se deu conta do quão injusta havia sido por ter julgado Pedro por sua aparência, suas amigas gargalharam e fizeram gestos euf&o
Pedro não se lembrava da última vez que acordara sorrindo, após se esforçar um pouco lembrou-se, fora da vez que sonhou encontrar uma maleta cheia de dinheiro, tinha uns cinco anos de idade na época, se lembrou de ter caído no choro em seguida, pois havia percebido que tudo não passara de um sonho. Naquele dia em questão após acordar ele prosseguiu sorrindo, chegou a arrancar alguns comentários interrogativos de seus pais, contudo tudo o que fizera foi sorrir em resposta, estava feliz e era tudo o que importava, era diferente dessa vez, seu sonho começava assim que abria os olhos, e se levantava da cama, todos os dias alguns minutos antes de dormir ele separava uns minutos para relembrar como fora seu dia com Júlia, e relembrava cada beijo, cada toque, e eventualmente como fizeram amor, relutavam contra o sono e seguiam conversando at&e