Alguns anos depois...Kelly FerraçoSabe quando você abre os olhos e se encontra dentro do seu quarto e tudo parece estar diferente? Por exemplo, o sol parece mais radiante hoje e também parece ter mais nuvens no céu claro. O meu quarto já não é mais aquele quarto de menina, todo cor de rosa e cheio com bonecas. Ele agora expõe pôsteres dos meus cantores preferidos nas paredes e claro do meu ator preferido também. O que eu mais gosto fica bem de frente para a minha cama. É um pôster do Tom Ellis sentando com classe e elegância em um trono negro e alto, grande e tenebroso. O cara representa o próprio diabo, o pai das trevas, mas exala um poder de sexualidade que estremece as calcinhas das meninas — que o meu pai ou o meu tio Oliver não escutem os meus pensamentos — isso me faz lembrar da última vez que eu tive um namorico. O coitado do Léo não teve sossego na vida desde então. Os dois marmanjos fizeram um tipo de tortura psicológica com o garoto e em menos de uma semana, esse se afast
KellEnquanto caminho pelo imenso pátio do colégio, levando uma mochila pesada nas costas e cheia de materiais escolares e de botons que enfeitam o objeto, observo os alunos que costumam se reunir no pátio antes do início das aulas. Logo sou cercada pelas meninas mais travessas do colégio e diga-se de passagem, da minha turma também. Elas e somente elas, sabem do meu casinho de olhares com o Lipe. Não sabem o que é casinho de olhares, não é? É tipo, quando você não tem a coragem de chegar perto, entendeu? Tipo, nada de beijos e isso inclui selinhos também e nada de pegar na mão, contando aquela história de juramento do dedinho. Eu e o Lipe apenas nos olhamos. O que é ridículo, pois eu já tenho quinze anos e ainda sou praticamente uma bv. O quê? Tive um único namorico de beijos rápidos no cantinho da boca e isso não conta como beijo de verdade. Embora a tia Flávia sempre nos desse cobertura, o Léo não passava disso. Não sei dizer se era medo dos dois homenzarrões ou se por inexperiênci
Petrus Sento-me na cadeira de ferro que tem um tom alaranjado e um policial põe as algemas, me prendendo a pequena mesa à minha frente. Aonde fui me meter? Droga, eu podia estar agora em meu escritório, fazendo o meu trabalho e ganhando o meu dinheiro suado. Como dizia a minha mãe; “de grão em grão a galinha enche o papo.” Sempre achei esse ditado devassado, mas agora ele faz todo sentido para mim. Do outro lado da cela, vindo por um corredor largo, vejo Simone Borbolini, minha prima e confesso que sinto raiva de vê-la aqui mais uma vez. Não entendo porque ela ainda não desistiu de mim. Sério, olha para mim agora. Não sou ninguém, perdi o meu nome, a minha credibilidade, a minha decência e quase prejudiquei o meu melhor amigo e tudo isso por causa do Adam Klive Parker. Aquele desgraçado me enganou direitinho e por mais que os advogados façam e tentem provar que eu também fui mais uma vítima desse desgraçado, eu ainda estou aqui. Perdi treze anos da minha vida e nesses longos anos as
PetrusAs portas metálicas se abrem e Simone sai na minha frente, mexendo em sua bolsa em busca das chaves. Aproveito para olhar o largo corredor que tem as paredes em tons claros e alguns detalhes com madeiras finas e envernizadas. Há também algumas lamparinas em formato de tulipas transparentes nos cantos das paredes e alguns vasos coloniais com algum tipo de planta verde e viçosa dentro deles. O piso de madeira escura e lustrosa completa o requinte do lugar. Escuto o barulho da chave na fechadura e logo a porta está aberta e Simone me dá passagem e meio sem graça eu entro no apartamento. O lugar é bem a cara dela, tem o jeitinho todo dela. Móveis modernos com tons claros, uma única parede pintada de rosa choque, que expõe um quadro imenso de nós quatro rindo sobre as gotículas d’água. A imagem me faz sorri. Me lembro bem desse dia. Eu, Oliver, Adonis e Simone fomos a um parque aquático, foi um dia marcante e bem divertido.— Eu amo esse quadro! — Ela diz me despertando. — Ele me le
Adonis Sabe quando o seu sonho levanta um voo muito, muito alto ao ponto de fazer todos ao seu redor vibrar com gritos eufóricos? Assim está o meu bistrô. Com certeza Andréa Escobar apostou muito alto e acertou em sua aposta. A decoração do lugar é chamativa e, ao mesmo tempo, atrativa. Algumas pessoas entram aqui por pura curiosidade, tiram algumas fotos e em seguida degustam o melhor que a cozinha russa, grega e francesa pode oferecer e assim ele passa os dias e as noites sempre movimentado. Chegamos ao ponto de ter que agendar as mesas, para evitarmos tumultos na frente da loja.— Presta atenção, Tina! — Escuto Kell reclamar alto no salão. Eu olho na direção das duas garotas e tento entender o que está acontecendo ali. Tina veio do interior para a cidade a algumas semanas. Ela decidiu voltar a estudar e por incrível que pareça decidiu fazer faculdade de gastronomia. Eu super apoiei e para isso, lhe ofereci um emprego aqui no bistrô. Assim ela pegaria experiência no assunto e teria
AdonisO ritmo dançante da danceteria contagia a nós quatro assim que entramos. Depois do entendimento entre Flávia e Oliver, eles sugeriram vir curtir a noite, já que as meninas passaram uma semana longe de nós dois. A minha ideia de curtição com a Agnes não era bem essa, mas confesso que estava precisando respirar outros ares e já faz muito tempo que não faço isso. Bistrô Kell no colegial cuidar da Carolina tem tomado muito do meu tempo. Tive a preocupação de ligar para uma babá para ficar com as duas meninas, mas a Agnes resolveu dá mais uma ocupação para Kell, ficar elas — digo Carolina e Natália, para podermos sair um pouco. Ela tem feito isso muito ultimamente. — Vocês querem beber algo? — Oliver pergunta para as meninas. Elas fazem sim, com a cabeça e depois de deixa-las bem acomodadas em uma mesa, seguimos direto para o balcão do bar para comprarmos as bebidas e algo para comer também. — Soube do Petrus? — Ele toca em um assunto que tenho mantido longe de mim durante esse
Kell Olho-me mais uma vez no espelho. O uniforme até que está legal, mas eu poderia estar usando um vestidinho. Droga, porque a nossa primeira conversa tem que ser no colégio? Jogo a mochila nas costas e saio do meu quarto, seguindo direto para a cozinha e logo o cheiro do pão fresquinho encanta o meu paladar. Largo a mochila em cima da cadeira ao lado e observo o meu pai fazendo algumas panquecas, a minha mãe falando ao telefone e a Carolina olhando algum tipo de revista de moda em cima do balcão.— Você está linda, Kell! — A danada diz assim que me vê e logo todas as atenções estão focadas em cima de mim. O meu pai me olha minuciosamente.— Está mesmo. — Minha mãe diz com um sorriso espontâneo.— Maquiagem? — Meu pai comenta trazendo um refratário para a mesa, mas sem tirar os seus olhos de cima de mim. Forço um sorriso nervoso para ele.— É, gostou? — pergunto mais natural possível.— Sim, mas você não é de se maquiar pela manhã — comenta atento e eu puxo uma respiração.— Pois, é
KellEscuto o sinal tocar e imediatamente o meu coração dispara feroz dentro do meu peito. Está na hora. Penso em pegar o meu espelho de mão e dá mais uma olhadinha no meu visual, todavia, eu não tenho tempo para isso. Mais alguns minutos e o meu tio ou o meu pai vem me buscar. Então sai apressada da sala, jogando minha mochila nas costas e caminhei com passos rápidos demais. Os saltos medianos fazem alguns sons de galopes no piso oco e quando chego nas portas largas que me levarão para o lado de fora, chego a suspirar de antecipação. Ele está lá, em pé bem na minha frente, na escadaria da escola. Lipe abre um sorriso lindo ao me ver, que me faz esquecer de respirar imediatamente. É, penso que estou apaixonada de verdade dessa vez. Não é apenas um namorico inocente, nem só um passatempo ou uma coisa de adolescente. Eu estou realmente apaixonada pelo Felipe. Solto mais um suspiro baixo e vou ao seu encontro. Ao me aproximar, o garoto me estende a sua mão e eu a seguro, sentindo um lev