Petrus Sento-me na cadeira de ferro que tem um tom alaranjado e um policial põe as algemas, me prendendo a pequena mesa à minha frente. Aonde fui me meter? Droga, eu podia estar agora em meu escritório, fazendo o meu trabalho e ganhando o meu dinheiro suado. Como dizia a minha mãe; “de grão em grão a galinha enche o papo.” Sempre achei esse ditado devassado, mas agora ele faz todo sentido para mim. Do outro lado da cela, vindo por um corredor largo, vejo Simone Borbolini, minha prima e confesso que sinto raiva de vê-la aqui mais uma vez. Não entendo porque ela ainda não desistiu de mim. Sério, olha para mim agora. Não sou ninguém, perdi o meu nome, a minha credibilidade, a minha decência e quase prejudiquei o meu melhor amigo e tudo isso por causa do Adam Klive Parker. Aquele desgraçado me enganou direitinho e por mais que os advogados façam e tentem provar que eu também fui mais uma vítima desse desgraçado, eu ainda estou aqui. Perdi treze anos da minha vida e nesses longos anos as
PetrusAs portas metálicas se abrem e Simone sai na minha frente, mexendo em sua bolsa em busca das chaves. Aproveito para olhar o largo corredor que tem as paredes em tons claros e alguns detalhes com madeiras finas e envernizadas. Há também algumas lamparinas em formato de tulipas transparentes nos cantos das paredes e alguns vasos coloniais com algum tipo de planta verde e viçosa dentro deles. O piso de madeira escura e lustrosa completa o requinte do lugar. Escuto o barulho da chave na fechadura e logo a porta está aberta e Simone me dá passagem e meio sem graça eu entro no apartamento. O lugar é bem a cara dela, tem o jeitinho todo dela. Móveis modernos com tons claros, uma única parede pintada de rosa choque, que expõe um quadro imenso de nós quatro rindo sobre as gotículas d’água. A imagem me faz sorri. Me lembro bem desse dia. Eu, Oliver, Adonis e Simone fomos a um parque aquático, foi um dia marcante e bem divertido.— Eu amo esse quadro! — Ela diz me despertando. — Ele me le
Adonis Sabe quando o seu sonho levanta um voo muito, muito alto ao ponto de fazer todos ao seu redor vibrar com gritos eufóricos? Assim está o meu bistrô. Com certeza Andréa Escobar apostou muito alto e acertou em sua aposta. A decoração do lugar é chamativa e, ao mesmo tempo, atrativa. Algumas pessoas entram aqui por pura curiosidade, tiram algumas fotos e em seguida degustam o melhor que a cozinha russa, grega e francesa pode oferecer e assim ele passa os dias e as noites sempre movimentado. Chegamos ao ponto de ter que agendar as mesas, para evitarmos tumultos na frente da loja.— Presta atenção, Tina! — Escuto Kell reclamar alto no salão. Eu olho na direção das duas garotas e tento entender o que está acontecendo ali. Tina veio do interior para a cidade a algumas semanas. Ela decidiu voltar a estudar e por incrível que pareça decidiu fazer faculdade de gastronomia. Eu super apoiei e para isso, lhe ofereci um emprego aqui no bistrô. Assim ela pegaria experiência no assunto e teria
AdonisO ritmo dançante da danceteria contagia a nós quatro assim que entramos. Depois do entendimento entre Flávia e Oliver, eles sugeriram vir curtir a noite, já que as meninas passaram uma semana longe de nós dois. A minha ideia de curtição com a Agnes não era bem essa, mas confesso que estava precisando respirar outros ares e já faz muito tempo que não faço isso. Bistrô Kell no colegial cuidar da Carolina tem tomado muito do meu tempo. Tive a preocupação de ligar para uma babá para ficar com as duas meninas, mas a Agnes resolveu dá mais uma ocupação para Kell, ficar elas — digo Carolina e Natália, para podermos sair um pouco. Ela tem feito isso muito ultimamente. — Vocês querem beber algo? — Oliver pergunta para as meninas. Elas fazem sim, com a cabeça e depois de deixa-las bem acomodadas em uma mesa, seguimos direto para o balcão do bar para comprarmos as bebidas e algo para comer também. — Soube do Petrus? — Ele toca em um assunto que tenho mantido longe de mim durante esse
Kell Olho-me mais uma vez no espelho. O uniforme até que está legal, mas eu poderia estar usando um vestidinho. Droga, porque a nossa primeira conversa tem que ser no colégio? Jogo a mochila nas costas e saio do meu quarto, seguindo direto para a cozinha e logo o cheiro do pão fresquinho encanta o meu paladar. Largo a mochila em cima da cadeira ao lado e observo o meu pai fazendo algumas panquecas, a minha mãe falando ao telefone e a Carolina olhando algum tipo de revista de moda em cima do balcão.— Você está linda, Kell! — A danada diz assim que me vê e logo todas as atenções estão focadas em cima de mim. O meu pai me olha minuciosamente.— Está mesmo. — Minha mãe diz com um sorriso espontâneo.— Maquiagem? — Meu pai comenta trazendo um refratário para a mesa, mas sem tirar os seus olhos de cima de mim. Forço um sorriso nervoso para ele.— É, gostou? — pergunto mais natural possível.— Sim, mas você não é de se maquiar pela manhã — comenta atento e eu puxo uma respiração.— Pois, é
KellEscuto o sinal tocar e imediatamente o meu coração dispara feroz dentro do meu peito. Está na hora. Penso em pegar o meu espelho de mão e dá mais uma olhadinha no meu visual, todavia, eu não tenho tempo para isso. Mais alguns minutos e o meu tio ou o meu pai vem me buscar. Então sai apressada da sala, jogando minha mochila nas costas e caminhei com passos rápidos demais. Os saltos medianos fazem alguns sons de galopes no piso oco e quando chego nas portas largas que me levarão para o lado de fora, chego a suspirar de antecipação. Ele está lá, em pé bem na minha frente, na escadaria da escola. Lipe abre um sorriso lindo ao me ver, que me faz esquecer de respirar imediatamente. É, penso que estou apaixonada de verdade dessa vez. Não é apenas um namorico inocente, nem só um passatempo ou uma coisa de adolescente. Eu estou realmente apaixonada pelo Felipe. Solto mais um suspiro baixo e vou ao seu encontro. Ao me aproximar, o garoto me estende a sua mão e eu a seguro, sentindo um lev
Petrus O brilho forte da luz que vem do lado de fora me incomoda quando abro uma brecha de olho. Me viro na cama, jogando o travesseiro no rosto e tento dormir outra vez. A noite passada foi um fiasco. Eu sabia que não deveria ter ido, mas a Simone tinha que insistir, droga! O tempo todo Adonis me olhava como se eu fosse um lixo humano. Ele me fuzilava apenas com o olhar e eu sei que sou o único culpado por tudo o que aconteceu, mas porra! Não dá para me dar uma nova chance? Inquieto com os meus pensamentos, me viro mais uma vez na cama e esmurro o travesseiro, tentando amaciá-lo e tento desligar a minha mente. Quase não dormi a noite anterior. A minha mente estava cheia de coisas que eu preciso fazer e nem ao menos sei por onde começar. Viro-me mais uma vez e bufo jogando o lençol para o lado e desisto de dormir. Preciso de um banho frio, preciso situar minha cabeça e fazer algo proveitoso ou vou pirar. No caminho para o banheiro me livro da única peça que veste o meu corpo, uma cu
PetrusÀ tarde, depois de fazer a barba e de dar um jeito no meu cabelo, estou na rua. Em minha mão há um envelope pardo, cheio de currículos que pretendo entregar até o fim da tarde. Observo a terceira agência de recursos financeiros com receio. Esse é o único serviço que sei fazer. A minha vida inteira trabalhei com ações, dinheiro e investimentos. Mas, por causa da palavra ex presidiário carimbado praticamente em minha testa, eu só ouvi “não” em todas as empresas que eu já visitei. Confesso que estou desanimado. Puxo a respiração e entro em mais um prédio. A informação nos classificados diz que precisa de um agente de valores com experiência. Esse sou eu, certo? Eu realmente espero que sim.— Bom dia! Eu me chamo Petrus Borbolini e vim pelo anúncio — digo assim que me aproximo da recepção. Uma moça vestida com um uniforme elegante me sorri.— Você tem um currículo? — pergunta solicita. Faço um sim, com a cabeça e tiro o documento de dentro do envelope. A mulher o lê com atenção e