O Mercado de Hasflot se localizava em uma extensa rua da cidade de Hasflot. Os mercadores chegavam ao mercado bem cedo, por volta das cinco horas da manhã. Afinal, Hasflot era uma cidade portuária e seu mercado era ponto de encontro da região sudoeste de Nascar, portanto, montar uma barraquinha de vendas no mercado de Hasflot era algo inestimável para qualquer negociante.
O movimento era intenso. Bijuterias, artesanatos, produtos derivados do leite, tecidos, roupas, calçados, objetos pequenos, livros, algumas joias, pergaminhos, doces, novas invenções, exóticas engenhocas e outras coisas estranhas; produtos expostos nas barracas, mesas e bancadas ao longo da rua. Os visitantes e os consumidores trajavam as mais diversas roupas, demonstrando virem de lugares e classes diferentes. E era fato: o mercado de Hasflot atraía todo o tipo de gente. O porto da cidade de Hasflot também era um dos mais importantes portos em Nascar.
Assim como Hasflot era ponto de encontro dos negociantes, também era dos magos. O ponto de encontro dos magos era o local intermediário entre a Ordem dos Sábios e os demais mestres da magia. A Ordem mandava seus comunicados e decisões até o ponto de encontro e o embaixador, título honorário dado pelo clã ao encarregado do ponto de encontro, repassava aos demais magos. Todo mês os magos deveriam ir até o ponto de encontro para verem se havia correspondências pendentes. O local de encontro variava bastante dependendo das condições, pois a Ordem tinha de se manter secreta para Rarion e sua tropa, os Sax. Esta era a atual e maior precaução da Irmandade dos Sábios: manter-se oculta aos olhos do mago negro.
O clã dos magos é composto por três maiores magos, que preservam a sabedoria e as memórias das eras. O líder, entre estes três, é chamado de Arquimago e é o possuidor do Cajado de Silver, um cajado muito poderoso criado pela dragoa Silver.
Criada pelo mago Montarion e o Rei Elfo Ewenn há muito tempo para proteger os povos que vivem na Terra, a Ordem dos Sábios abrangia os maiores sábios de sua época. Reis, Senhores, Magos. O primeiro líder foi o próprio Ewenn, chamado de Grão-Sábio. Com o passar dos anos, as extensões dos membros foram diminuindo, assim como os sábios para ocupar os lugares, até que Fangion decretou que apenas três sábios estariam na ordem.
Geralmente os sábios que ocupavam os cargos do clã eram magos, já que nesta era, após a morte dos dragões, apenas eles tinham a sabedoria: os últimos na Terra a preservar a sabedoria e a magia. Assim a Ordem dos Sábios passou a ser, oficialmente, uma ordem de magos.
Entre tantas pessoas e produtos exóticos do Mercado de Hasflot, um homem de vestes claras, e com um pano laranja cobrindo-lhe a cabeça como um capuz, olhava todas as mesas expostas. Sua mão cheia de anéis tocava-lhe a barba lisa e castanha. Os olhos escuros circundavam todos os rostos, mas mantinha sua cabeça abaixada e passos discretos. Apenas estava dando uma passada para ver como o mercado andava e quais eram as novidades do comércio, até chegar em seu real destino.
Aparentemente, nada poderia fazê-lo parar ali, numa cidade que se pode considerar ter seu número de soldados Sax aumentando constantemente. Porém, um objeto despertou-lhe a atenção. Para o homem, parecia improvável encontrar um objeto como aquele ali, num mercado de Hasflot, entre tantos outros objetos “comuns”; levando em conta que, aos olhos do sujeito, a maioria dos objetos eram comuns.
— Quanto custa esta peça? — perguntou o homem de vestes claras ao vendedor de uma mesa de joias. Em sua mesa, sobre um pano vermelho aveludado, havia uma variedade de anéis, brincos e colares. O que despertava interesse no estranho eram as pedras lapidadas. Muitos cristais lapidados, outros trabalhados, e algumas pequenas pedras semipreciosas, como alguns topázios e esmeraldas.
O vendedor tinha uma rala barba negra, pele escura, cabelo raspado, roupas verdes. Olhou o estranho de cima para baixo dizendo:
— Um topázio destes custa 70 moedas de ouro. Um preço justo.
— Não me venha com este papo de comerciante. Conheço o real valor das coisas — disse o sujeito despreocupado.
— O meu preço é o meu preço.
— Então, todas as pedras preciosas estão nessa faixa de preço? — perguntou o homem.
— Sim. Exceto os cristais. Eles são mais variados — respondeu o vendedor, ainda tentando fazer algum negócio.
— Quanto está esta peça? — indagou, apontando para um cristal em formato de prisma triangular oblíquo. Seus olhos brilharam ao pegar a pedra em sua mão.
— 60 moedas de prata — disse o homem friamente.
— QUE ABSURDO! Uma pedrinha destas não vale mais que 35 moedas de prata! — mentiu o sujeito.
— Eu posso lhe vender por 50 moedas. Meu preço é meu preço — declarou finalmente.
O estranho pegou, entre suas vestes, uma bolsinha de couro e tirou cinco moedas de ouro.
— O equivalente a 50 moedas de prata, afinal, não as tenho — disse o sujeito.
O vendedor virou-se para guardar o dinheiro e, ao desvirar-se, disse:
— Gostaria de alguma caixa ou embrulho? — Mas o estranho já não estava ali.
♦
Uma construção discreta, e que não despertava qualquer interesse ou atenção, era o local do ponto de encontro dos magos. Uma casa de madeira, pequena, com uma mureta de pedra. Havia plantas entre a casa e a mureta, uma pequena varanda, um pequeno espaço entre o muro da casa e a outra casa vizinha. Um portão de ferro no meio da mureta possibilitava a entrada na casa que ficava numa rua estreita e quase que deserta, muito calma.
O homem de vestes claras e pano laranja cobrindo sua cabeça como um capuz tocou o sino do lado de fora da casa. A porta de carvalho se abriu e um homem saiu de dentro da casa. Tinha uma roupa verde e marrom, usando uma camisa branca de botões. Tinha uma careca, seus olhos verdes contrastavam com o bigode branco.
— Pela manhã, o pássaro assobia — disse o homem, do lado de dentro da mureta, alegre.
— O fogo queima, a águia pia — respondeu o sujeito de vestes claras.
— Danian! Que bom vê-lo! Sabe, sem a senha não pode entrar, então não pense que eu estava desconfiando de você…
— Está perdoado, velho amigo — respondeu Danian. — Acho que devemos entrar logo e sermos discretos.
— É claro! — respondeu o homem de bigode, abrindo o portão e conduzindo Danian por entre as plantas.
Danian passou o pé pelo tapete na entrada da varanda e o homem de bigode abriu a porta de carvalho. Uma sala clara com móveis antigos, mas conservados, revelou-se. O homem de bigode tratou de fechar a porta e foi para trás do balcão.
— Como está, Gutemberg? Tem recebido muitas visitas? — perguntou Danian ao homem de bigode.
— Estou muito bem. Você, Danian, que passou pela cidade, observou a movimentação dos Sax? Acho que eles estão de olho nesta cidade. Tirando a presença dos Sax, Hasflot não foi muito alterada, você sabe, mas acho que Rarion está na espreita. Mas é melhor não falar mais no assunto.
— Com certeza — disse Danian. — Meu caro Gutemberg, você acredita no que acaba de acontecer?
— E o que acaba de acontecer? — perguntou Gutemberg, intrigado.
Danian se preparou para falar.
— Eu estava andando pelo mercado de Hasflot para vir até aqui, quando, entre tantas barracas, um cristal me despertou interesse — disse, mostrando o cristal com seu formato de prisma triangular oblíquo.
— Não acredito! Uma Luz de Athla! Mas… Será mesmo?
— Estive esperando desde o mercado para comprovar. O vendedor não sabia o valor do objeto: queria me vender por 60 moedas de prata.
— Pela coroa do rei! Mas você conhece as palavras?
— É claro. São as palavras marcadas em idioma antigo — disse Danian. Ele escondeu a pedra em suas mãos. — Aonde fores, a luz encontrarás! — pronunciou ele.
Ao abrir suas mãos o cristal brilhava, com luz suficiente para preencher todo o cômodo.
— Então é verdade… É uma Luz de Athla! — exclamou Gutemberg.
— E assim tu vais como viestes — falou Danian. A luz se apagou. — Sim, é. Mas suspeito que haja algo errado. Como a luz foi parar nas mãos daquele vendedor? Qualquer mago que tivesse conhecimento sobre esta pedra iria identificá-la. Afinal, as marcas mágicas só aparecem aos dominadores de magia e só eles podem compreendê-las.
Os olhos de Danian liam e reliam as marcas que só os olhos de um mago poderiam ver. Gutemberg, porém, não era mago e não as via. A Luz de Athla é vastamente conhecida entre os magos por sua raridade e Gutemberg, como embaixador, também conhecia aquele tipo de pedra, apesar de não poder ver as marcas.
— Suspeito que a pedra tenha sido implantada lá. Rarion está com os olhos em Hasflot — comentou Danian, desconfiado. — O que você acha?
— Isto deve ser comunicado à Ordem dos Sábios, com certeza — disse Gutemberg. — Gostaria de escrever?
— Não, pode redigir uma carta para eles. Se as suspeitas estiverem certas, devemos agir rápido. Alguma carta para mim? — perguntou Danian, ansioso.
— Claro — disse ele. Abriu o armário de carvalho e retirou de lá um pergaminho.
— Perfeito — falou Danian, pegando o pergaminho com vigor. — Agora devo ir. Se o pergaminho for o que espero, logo terei uma audiência. E, com as suspeitas que estou, devo agir rápido.
— Então isto é uma carta de convocação? — perguntou Gutemberg. O mago acenou com a cabeça, indicando a possibilidade positiva. — Então, mande lembranças à Ambarion.
Gutemberg abriu a porta e Danian logo saiu da casa em passos rápidos. Montou em seu cavalo castanho e galopou em alta velocidade para fora daquela cidade.
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Helan sentia-se honrada em fazer os serviços domésticos na ausência de seu mestre. Ela era uma aprendiza de mago e sentia que deveria retribuir o que Danian fazia por ela: retribuir a escolha dele. Um mago só pode ter um aprendiz em toda a sua vida: a lei mais respeitada entre a Ordem dos Sábios, e, segundo alguns pensam, a lei que fez os magos quase que se extinguirem. Ser um aprendiz de mago é ser escolhido pelo mago e receber um treinamento muito rigoroso e importante. Helan, que teve seu nome escolhido quando nasceu, se sentia honrada.
A magia é hereditária, mas nem todos os descendentes de magos a dominam. Para descobrir se um descendente de mago possui a aptidão, é só observar quando o filho nasce: seus olhos brilham ao ver pela primeira vez o mundo. Isto indica magia e só então o nome da criança é escolhido, devendo ter suas terminações em “an” ou “on”. O nome de uma pessoa, para os magos, é algo muito importante. Todos os magos têm seus nomes terminados em “an” ou “on”, como Danian e Rarion.
Há um relato antigo, de um conto, em que uma criança nasceu e seus olhos brilharam, mas ela foi nomeada de Sharia por engano. Ao crescer, Sharia foi descoberta por um mago como tendo aptidão e, portanto, recebeu seu treinamento, mas o erro cometido a fez dominar a magia negra e destruir sua família e seu mestre. Porém, contos não têm qualquer fundamento.
Helan estava varrendo a sala de estar da casa onde vivia com seu mestre, Danian. A sala era pequena, com um tapete, algumas poltronas, um sofá, vários castiçais, um armarinho de porta de vidro com vários livros e um belo quadro de uma praia.
O único som que denunciou a chegada de Danian, não só na sala como no casebre abrigado junto ao campo, foi o som de sua voz profunda:
— Helan! Voltei com boas notícias! — disse ele.
A jovem aprendiza, com a vassoura na mão, levou um susto, mas correu para abraçar seu mestre com seus cabelos loiros esvoaçando pelo ar em um perfeito contraste com seus olhos da cor verde-claro. Seus braços delicados apertaram forte seu mestre, afinal, Helan, que aparentava ter aproximadamente dezessete anos, estava feliz com a volta do mago.
— Que bom que você voltou! A casa está em perfeita ordem, assim como quando você saiu. Agora diga, que boas notícias são essas que você está trazendo? — perguntou empolgada.
Danian sentou-se no sofá. Passou a mão pelo tecido laranja que cobria sua cabeça, baixando-o. Helan também sentou-se em uma das poltronas e, com um sorriso largo, indagou novamente:
— Diga, Danian! Que notícias são essas?
Suspirou.
— Se eu estiver certo, tenho de falar tudo muito rápido e saimos daqui. Posso ter sido seguido.
— Tudo bem! — disse a aprendiz. — Não enrole!
— Primeiramente, recebi a carta.
Helan parecia pular de felicidade e deixou a vassoura encostada na parede para apoiar seu rosto em seus dois braços. Os cabelos loiros foram amarrados em um rabo de cavalo.
— E o que ela dizia? — perguntou novamente, ainda eufórica.
— Não abri ainda. Esperava a sua presença — falou ele. Helan fez mênção de falar, mas Danian continuou:
— Porém, antes, quero mostrar algo a você.
O mago enfiou a mão em suas vestes e tirou um pequeno pano. Ao desembrulhar, um cristal transparente em formato semelhante a um prisma triangular oblíquo fez Helan ficar espantada e maravilhada.
— O que é isto, mestre?
Ele sorriu, contente com a pergunta, mas não respondeu nada. Sua aprendiz prosseguiu com outra pergunta:
— Que inscrições douradas são estas?
— Esta é uma Luz de Athla. Suas inscrições só podem ser vistas por um dominador da magia.
— O que é uma luz de atla? — interessou-se.
— Não é luz de atla. É Luz de Athla. Era usada em Athla; um reino antigo localizado onde hoje fica Akma, o reino sucessor. Esta pedra produz luz. E, Aonde Fores, a luz encontrarás! — pronunciou Danian. O cristal brilhou e iluminou todo o cômodo, quase que cegando Helan, que fora pega desprevenida pela luminosidade. Ele então recitou a frase que fez a luz se apagar. — E assim tu vais como viestes.
— O que…
— A Luz de Athla pode iluminar-se até o fim da eternidade. É um objeto muito poderoso. Guarde as duas frases: o encanto que libera a luz e o que aprisiona. Não irei repeti-los.
Helan confirmou com a cabeça, e ainda olhava para seu mestre, enquanto ele guardava a pedra. Ainda estava ansiosa, queria descobrir o conteúdo da carta. Danian percebeu que ela ainda o fitava, e disse calmamente:
— Helan, minha cara aprendiz, com o tempo aprenderá que a paciência é uma das maiores virtudes, pois o tempo se encarrega de fazer seu trabalho. — Helan não disse nada, apenas aguardou. O mago prosseguiu:
— Bom, vamos ver A carta…
Ele pegou o pergaminho, rompendo seu selo, (uma estrela de quatro pontas) e cuidadosamente abriu o documento. A caligrafia fina e elegante foi lida por Danian.
— Bom… aqui diz:
Ilmo. Danian de Samian,
— Não sabia que seu nome era Danian de Samian — comentou Helan.
— Apenas eu sei meu sobrenome, afinal, é uma coisa muito sigilosa. Samian foi minha mestra. Ela é a Segunda Sábia. Quando você se tornar uma maga, passará a ser chamada, formalmente, de Helan de Danian.
— Sério? Segunda Sábia? Pela coroa do rei! Não sabia disto! Mas… Prossiga, prossiga, mestre — falou Helan, surpresa.
É com todo nosso prazer que comunicamos que a sua requisição para audiência com a O.S. foi aceita. Sua audiência está marcada para o 3º dia da Lua Crescente, em Fangthir, na Câmara do Grande Carvalho. Pedimos total descrição em sua viagem para a audiência. Que a magia o leve até a Câmara.
Atenciosamente,
O.S.
PS: Queime
— Que bom! Foi aceito! — disse Helan, entusiasmada. — O terceiro dia da Lua Crescente é amanhã, não? Vamos, temos que nos arrumar.
— Espere, acalme-se Helan. A linguagem da Ordem dos Sábios é muito enigmática. Um dia da Lua Crescente significa um dia. Depois falamos melhor. Pegue seus pertences mais importantes, enquanto eu pegarei tudo o que for indispensável que me pertença. Vamos partir neste exato momento.
♦
O galope dos cavalos era rápido. Cavalgavam velozmente rumo ao leste. Danian era mais habilidoso com os cavalos do que Helan, visto que ele já tinha mais conhecimento e poderia até entender o animal. A noite estava calma até então. As estrelas brilhavam distantes, o vento assobiava constantemente. Nenhum sinal de qualquer Sax os seguindo pelo caminho; o que aliviou Danian. Quando diminuíram a velocidade, afinal, os cavalos estavam cansados, Helan já perguntou, ainda curiosa, uma vez que a audiência estava sendo muito esperada:
— Mestre, continue falando sobre a linguagem da Ordem: o que o pergaminho quis dizer?
— Um dia de lua crescente significa um dia, logo, a reunião será daqui a três dias. Um dia de lua nova é um ano. Lua cheia é uma semana e minguante é um mês. Na carta também foi dito Fangthir, que é a atual Floresta Verdejante, isto qualquer mago sabe. A Câmara do Grande Carvalho, na verdade, jamais ouvi falar nela.
— Portanto, a magia o levará até lá? — perguntou ela.
— Exato, minha cara aprendiz.
— Você acha que eles concordarão?
— Você diz sobre a audiência? Eles têm que averiguar, fazer uma expedição. Na situação que estamos, Helan, qualquer detalhe é importante.
— Se ele realmente existir é algo muito importante.
— E ele existe — disse ele, fitando-a com um sorriso.
Capítulo 2 — A Câmara do Grande Carvalho O ar frio da floresta de Fangthir, a Floresta Verdejante (ou chamada de Floresta Verde), fazia Helan se apavorar. Aquela floresta tinha muito a amedrontar, mas, para Danian, tinha muito a proporcionar, isto sim. A Floresta Verdejante ficava perto do Palácio de Biloá, agora reduzido a ruínas devido a ataques e saques dos Sax. O Palácio de Biloá, que até sua destruição serviu de fortaleza para os últimos membros da corte ainda vivos, era o palácio de verão do rei, e a Floresta Verdejante era território de caça. Contudo, a própria floresta era misteriosa. O rei nunca explorou, em suas caçadas, todo o seu interior. Ora estava sombria e tenebrosa, ora estava clara,
Capítulo 3 — Os Aventureiros Danian desceu de seu cavalo castanho, assim como Helan. Estavam em Hasflot de novo, à frente da casa do embaixador. Haviam sido dois dias a cavalo desde a Floresta Verdejante. O dia estava nublado, um vento frio fez a aprendiz de Danian juntar suas mãos para esquentá-las. A casa rosa, pequena e com uma mureta à frente, estava lá. O mago tocou o sino e disse a senha: — Pela manhã, o pássaro assobia. — O fogo queima, a águia pia — falou uma voz vinda de dentro. A porta da casa se abriu e o embaixador saiu de lá. — Danian, Danian, Danian… Então, meu car
Capítulo 4 — Os Ladrões Durante um dia Artemísio, Toreg e Helan cavalgaram em silêncio, ainda se acostumando com a presença de cada um. Toreg no início ficava sempre à frente, mas depois foi cavalgando mais devagar, cansado. Haviam parado para descansar em uma estalagem na estrada que levava ao norte. Chegaram depois da meia-noite e saíram às cinco horas da manhã para evitar serem vistos. Eles estavam tomando muitas precauções. Sempre por onde passavam, se houvesse qualquer pessoa, eles se escondiam, tentavam passar discretamente. Já haviam andado bastante e agora estavam parados em uma pequena clareira na mata próxima da estrada de terra. Os caval
Capítulo 5 — Sombras na Ventania Quando a caixa de Helan foi aberta, a aprendiz chorava desesperadamente, temendo pelo que aconteceria e foi rapidamente repreendida: — Fique quieta! Vim ajudar vocês! — falou uma voz jovem. Helan não conseguia ver muita coisa, apenas grandes olhos verdes. Dois bracinhos frágeis desamarraram o pano que impedia a menina de dizer qualquer coisa. — Não sei como agradecer… — balbuciou ela. — Mas… por quê? — Eu vi que você é uma maga. — respondeu a voz jovem enquan
Capítulo 6 — Perante Autoridades Ruybar, a cidade portuária ao norte de Thalian, era uma das maiores cidades portuárias de Nascar. Hasflot contava com o grande mercado, ponto de encontro de muitos, e contava também com o porto, enquanto Ruybar funcionava exclusivamente para o porto. Era através dele que mercadorias de Akma chegavam e partiam (assim como as mercadorias de Ukrania, antes de Rarion chegar ao poder). Ruybar também contava com a UAPA (Universidade Alquímica Paul Atzgerald), construída pelo próprio Conde Atzgerald, que era a excelência em matérias de alquimia, poções, ervas, navegação e conhecimentos astrológicos e formara muitos homens sábios e ponderados.A UAPA deu à Ruybar uma nova visão: Ruybar não era mais somente a cidade merca
Capítulo 7 — O Servo Leal e seus Vermes Carnívoros Gormath era extremamente velho. Era careca no alto da cabeça, mas, na região da nuca, longos fios brancos caíam por cima das grandes peles grossas e pesadas que ele vestia. Sua pele era enrugada e caída, seus olhos eram claros e vazios. Podia se ver pela sua mão, que não estava debaixo de nenhuma pele, que Gormath era extremamente ossudo, sem carne. Era esquelético. A primeira impressão que causou em Helan, Toreg e Artemísio foi que ele era um cadáver. Mas na verdade era muito pior. Posicionados em cada canto da sala havia um animal branco (um babuíno, um antílope, um leão e uma hiena). Perto de uma das janelas próximas ao teto, havia uma
Capítulo 8 — O Resgate do ReitorA refeição no Palácio das Montanhas estava adiantada devido à pressa de Helan, Toreg e Artemísio. Eram cerca de dez horas da manhã e uma grande mesa fora posta na câmara, que ia desde a porta de pedra até o trono de ferro. A mesa estava ali por mera formalidade, pois apenas os três aventureiros estavam sentados ali. O restante dos animais servia-se das comidas e bebidas da mesa, mas se espalhavam pelo salão, comendo deitados, sem talheres ou até diretamente com a boca. Eles eram animais, apesar de tudo.— Então pretendem mesmo fundar um reino independente? — perguntou Helan para Corbinus, que estava deitado no chão com vários curativos em sua perna.— Sim, vamos reerguer o antigo Reino dos Animais Brancos. Já houve uma época onde os animais brancos foram respeitados e tinham
Capítulo 9 — A Invocação— Eles estão mais rápidos do que eu pensava — concluiu Rarion, com raiva. — Descobri a localização deles. Tenho de agir.No mesmo aposento com pilhas de livros e pergaminhos, o mago negro estava observando o orbe verde de seu cajado negro.— Concordo, Rarion. Mas em que consistiria esta sua ação? — perguntou Morcian, do outro lado da sala, mexendo em seu próprio cabelo negro com uma das mãos enquanto mantinha a outra atrás das costas.— Matá-los — respondeu Rarion com vigor. — Matá-los de uma vez por todas, acabar com meu problema, Morcian! Assim, estaremos livres para nós mesmos procurarmos o tal cajado.— Tenho que discordar disto. Não acho sábio matar meu capitão da guarda.— Você sabia disto quando o en