HUGO CASTROEu sabia que algo estava errado. Desde que Dafne começou a agir de maneira estranha, evasiva, a desconfiança se instalou em mim como uma sombra constante. Sempre fui cuidadoso com tudo, especialmente com as ações da empresa que era meu legado.Mas, nos últimos meses, havia notado uma movimentação suspeita. O mercado estava mais instável do que o normal, uma nova empresa cujo proprietário se recusava a se apresentar parecia estar comprando fatias consideráveis da minha companhia, mas sem revelar sua identidade.Quando percebi as atitudes suspeitas daquela que seria a mãe do meu provável filho, contratei um detetive para descobrir no que ela estava envolvida. Aquela mulher sempre foi ambiciosa, mas jamais imaginei que ela pudesse vender suas ações sem me consultar.Dafne havia mencionado uma viagem ao Brasil. Na época, achei que era apenas um capricho, uma das suas tentativas de chamar atenção. Agora, porém, tudo fazia sentido. O detetive enviou algumas fotos daquele encontr
Ao ler aquelas palavras, senti uma onda de emoções me atingindo com uma força devastadora. Não sei explicar que sentimento era aquele que eu estava sentido, lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e não fiz nada para contê-las. A realidade de tudo o que eu havia perdido naquele momento se abateu sobre mim com um peso insuportável.Eu deveria estar lá. Deveria ter estado ao lado dela. E se esse filho for meu? Era para eu estar presente e ter visto essa criança dar seu primeiro suspiro. No entanto, eu não estava. E agora, o arrependimento me rasgava por dentro, deixando um vazio que eu sabia que nunca poderia preencher.No entanto, acreditava que, se esse filho fosse meu, alguém teria me dito. Alguns dias passaram e se tornaram semanas, depois dois meses. Resolvi me dedicar exclusivamente ao trabalho e não busquei mais informações sobre Alice.Certa noite, o meu telefone tocou e, ao olhar para a tela, vi o nome de Dafne piscando. Algo dentro de mim imediatamente ficou tenso. Atendi
Dafne parecia alheia sobre tudo. O que ela imaginava que aconteceria? Que eu bancaria o idiota, como banquei durante toda sua gravidez? Com aquele resultado em minhas mãos, tudo mudava.— Claro, Hugo. Sobre o quê? — Ela parecia despreocupada. Então joguei o envelope na mesa de centro diante dela.— Sobre isso.Dafne olhou para o envelope, então de volta para mim, um sorriso surgindo em seu rosto, como se ela já esperasse por aquilo. — O resultado do exame de DNA. Eu não sou o pai do seu filho, Dafne. Você tentou de todas as formas me ligar a essa criança, mas desde o início, algo não estava certo.O silêncio no quarto era quase opressor. O envelope com o resultado do exame de DNA estava em cima da mesa de centro, entre nós dois, como uma bomba prestes a explodir. A tensão no local era palpável, e eu sentia o peso de cada segundo que passava, como se o tempo tivesse desacelerado para prolongar o inevitável.— Então, é isso. — Disse Dafne, rompendo o silêncio com uma voz fria e sem emo
ALICE FONSECATudo desandou de uma forma absurda. Meu bebê chegou antes do tempo. Não tive condições de repassar minha turma para Rejane, que assumiria minha sala temporariamente. E fui informada por Samantha um mês antes do previsto que o bebê de Dafne havia nascido. Mas, como ainda estava me acostumando com minha rotina, Samantha conseguiu tempo, usando o contrato para isso. Quando a data chegou, ainda estava fazendo o desmame de Ravi e novamente minha amiga agiu, conseguindo mais um mês, dizendo que Daniel estava em uma viagem de negócio que surgiu de última hora.Samantha disse que aquela vara de bambu não ficou muito feliz com isso, mas que nada podia fazer, porque já havia recebido o dinheiro pela venda das ações. Só restava a ela esperar.Ravi cada dia mais se parecia com o pai. Assim como Melissa carregava a marca registrada de Lucca na cor de seus olhos, Ravi carregava a do Hugo. Seus olhos eram de um verde impressionante, e seu sorriso idêntico ao do pai. Esther inclusive
HUGO CASTRODesci do táxi, sentindo o ar fresco da manhã ao meu redor enquanto observava a mansão de meus pais à minha frente. O clima totalmente diferente do que estava tão acostumado na Espanha. Após meses lá resolvendo problemas que pareciam intermináveis e fugindo de uma realidade que eu não queria encarar, estava finalmente de volta.Apesar do alívio, um certo nervosismo me envolvia. Algo me dizia que muito havia mudado em minha ausência, mas não sabia exatamente o quê, porém, estava decidido a descobrir. Não avisei ninguém sobre minha chegada. Queria fazer uma grande surpresa a todos.Carregando minha mala, atravessei o jardim familiar, onde tantas lembranças ainda permaneciam vivas em minha mente. Abri a porta da frente, esperando ouvir as vozes familiares ou o som dos gritos de Luan, que sabia que havia voltado a morar com meus pais, mas a casa estava envolta em quase um silêncio confortável.Ao caminhar pela sala, notou de imediato algumas mudanças na decoração e na disposiçã
Sei que não poderia recuperar o tempo perdido, mas eu iria lutar pelo perdão dela, mesmo que isso implicasse o resto de minha vida. Iria participar da vida de meu filho e nem ela poderia me impedir disso, apesar de ela ter todos os motivos para me odiar. Olhei para minha família e para meus amigos ali diante de mim.— Eu só queria me desculpar por ser tão idiota com todos. Sei que eu sou o único responsável por tudo que aconteceu. Fui um cretino imbecil ao abandonar Alice, quando nada do que imaginei havia acontecido. Fui infantil e um completo idiota.— Ainda bem que você descobriu suas qualidades sem ser preciso nós falarmos… — Ariane disse.— Amor, não precisa ser tão cruel!— Ela não está errada, Gael. Hugo nem tem noção de nada do que Alice passou. Eu estive ao lado dela, presenciei o que nenhuma mulher deveria passar. E tudo porque o ego de meu irmão estava muito ferido para ficar e esclarecer as coisas.— Você se deixou ser manipulado, meu filho, mesmo quando demos vários sinai
ALICE FONSECAQuando entrei na sala e vi Hugo ali, segurando nosso filho nos braços, meu coração disparou de um jeito que eu não esperava. Por um momento, fiquei sem fôlego, como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés.Não conseguia acreditar que ele estava ali, após todos esses meses, depois de tudo o que aconteceu. O rosto dele parecia tão familiar, tão cheio de lembranças, e, ao mesmo tempo, tão distante, como se fosse alguém que eu conhecia de outra vida.Aquele homem que havia partido, me deixando sozinha para enfrentar tudo, agora estava de volta, olhando para mim com uma mistura de arrependimento e algo que eu não conseguia identificar.Meu primeiro impulso foi de raiva — como ele ousava aparecer assim, sem aviso, como se pudesse simplesmente voltar e consertar as coisas? Mas logo a raiva foi substituída por uma confusão avassaladora de sentimentos.Parte de mim, uma parte que eu tentei enterrar, ainda sentia algo por ele. Um eco do amor que um dia tivemos, que nunca desap
Sabia que a pergunta de Enrico tinha um significado mais profundo do que simplesmente meu bem-estar. Ele estava falando sobre meus sentimentos, que estavam muito confusos, mas não confessaria isso a ninguém nesse momento.— Estou, Enrico. Você pode me acusar de qualquer coisa, menos de não ter sido sincera com você. Eu gosto de você e não é pouco. Mas minha história com Hugo foi muito intensa.— Eu sei, minha flor. Eu não vou desistir tão fácil, ainda, vou dar muito trabalho a esse idiota, ele que lute se quer reconquistar o que perdeu.Isso me fez sorrir para Enrico, o que pareceu deixar Hugo quase tendo um infarto. Quando demos por encerrada aquela reunião de amigos, Hugo me pediu para ficar, ele queria ter mais um tempo com Ravi, no final, terminei concordando. Tinha algumas roupas extras ali, das vezes que vinha passar o dia com seus pais.— Você o segura para que eu possa dar um banho em Mel? — Perguntei, o encarando.— Você quer que eu dê banho nele enquanto você cuida dessa pri