ALICE FONSECAQuando entrei na sala e vi Hugo ali, segurando nosso filho nos braços, meu coração disparou de um jeito que eu não esperava. Por um momento, fiquei sem fôlego, como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés.Não conseguia acreditar que ele estava ali, após todos esses meses, depois de tudo o que aconteceu. O rosto dele parecia tão familiar, tão cheio de lembranças, e, ao mesmo tempo, tão distante, como se fosse alguém que eu conhecia de outra vida.Aquele homem que havia partido, me deixando sozinha para enfrentar tudo, agora estava de volta, olhando para mim com uma mistura de arrependimento e algo que eu não conseguia identificar.Meu primeiro impulso foi de raiva — como ele ousava aparecer assim, sem aviso, como se pudesse simplesmente voltar e consertar as coisas? Mas logo a raiva foi substituída por uma confusão avassaladora de sentimentos.Parte de mim, uma parte que eu tentei enterrar, ainda sentia algo por ele. Um eco do amor que um dia tivemos, que nunca desap
Sabia que a pergunta de Enrico tinha um significado mais profundo do que simplesmente meu bem-estar. Ele estava falando sobre meus sentimentos, que estavam muito confusos, mas não confessaria isso a ninguém nesse momento.— Estou, Enrico. Você pode me acusar de qualquer coisa, menos de não ter sido sincera com você. Eu gosto de você e não é pouco. Mas minha história com Hugo foi muito intensa.— Eu sei, minha flor. Eu não vou desistir tão fácil, ainda, vou dar muito trabalho a esse idiota, ele que lute se quer reconquistar o que perdeu.Isso me fez sorrir para Enrico, o que pareceu deixar Hugo quase tendo um infarto. Quando demos por encerrada aquela reunião de amigos, Hugo me pediu para ficar, ele queria ter mais um tempo com Ravi, no final, terminei concordando. Tinha algumas roupas extras ali, das vezes que vinha passar o dia com seus pais.— Você o segura para que eu possa dar um banho em Mel? — Perguntei, o encarando.— Você quer que eu dê banho nele enquanto você cuida dessa pri
Aquilo quase me fez sorrir. Poderia mentir e dizer que eu e o Enrico tínhamos uma história, tinha certeza de que o próprio Enrico confirmaria isso se eu pedisse. No entanto, não confirmaria e muito menos negaria aquela pergunta, deixaria a dúvida corroer aquele homem, poderia ser cruel, mas ele estava colhendo o que plantou.— Não sou obrigada a responder nenhuma dessas perguntas, Hugo. Isso não vai mudar nada entre nós dois. Nesse momento, você só precisa se concentrar em criar momentos importantes para você e para o Ravi.Nos encaramos por um momento, até eu pedir licença para colocar nosso filho na cama. Sabia que aquela interação com ele constantemente não seria fácil, mas precisava ser forte.Empurrei a cama para o canto da parede e, após colocar Ravi ali, o cerquei de almofadas, deixando a babá eletrônica ligada para que eu pudesse escutar se meu príncipe acordasse. Desci e Hugo me acompanhou em silêncio. O peso das palavras ainda pendente no ar. A família dele, observando cada
Me entreguei totalmente àquele momento. Sentia falta daquele beijo que abalava totalmente o meu mundo. Hugo me ergueu um pouco, me fazendo enlaçar sua cintura com minhas pernas e subiu os dois degraus que nos levavam novamente ao corredor.Nosso beijo era intenso. Estávamos há muito tempo privados de tudo aquilo. Hugo me levou em seus braços até o quarto, com o desejo entre nós crescendo a cada passo. Quando ele fechou a porta com o pé, senti meu coração acelerar ainda mais, o calor de nossos corpos fazendo-me perder o foco.A intensidade daquele momento era algo que não experimentava há muito tempo. Mas, enquanto Hugo me deitava delicadamente na cama, algo dentro de mim despertou.Por um segundo, meu olhar encontrou o de Hugo, e vi nele aquele mesmo brilho que me atraía, mas também o motivo de tantas lágrimas que já derramei no passado. Respirei fundo, meu peito subindo e descendo rapidamente, lutando contra o turbilhão de emoções.— Não… Hugo, não! — Disse, com uma mistura de dor e
No entanto, antes que eu pudesse responder, Dafne se manifestou, se levantando da mesa com uma arma na mão e apontada para Daniel. Você nunca sabe o que um louco pode fazer, até que ele faça. E essa mulher era capaz de muito. Claro que eu estava assustada, mas não ia demonstrar isso a ela. Ela parecia perturbada.— Seu problema é comigo, Dafne, o Daniel não tem nada a ver com isso. Você quer descontar em alguém sua frustração, estou aqui.— Você tirou tudo de mim, sua vadia! Você tirou o Hugo, tirou a empresa, e agora me tirou a oportunidade de humilhá-lo publicamente. — Ela disse.Ela apontou a arma para mim, tirando Daniel de seu alvo, o que me encheu de alívio. Não queria que ninguém se machucasse por minha causa.A sala estava em silêncio, a tensão tão espessa que parecia sufocar. Enrico, do outro lado da sala, começou a se mover de forma quase imperceptível, tentando encontrar uma forma de desarmá-la sem causar mais problemas. Mas eu sabia que precisava fazer algo antes que a sit
Nesse momento, o médico apareceu perguntando pela família do Hugo Castro, e o Sr. Matheus se identificou como pai dele. O médico explicou que ele estava bem, que a cirurgia havia sido bem-sucedida e que em breve ele seria transferido para um quarto. Aquilo trouxe um verdadeiro alívio para todos nós.Cerca de uma hora depois, fomos informados de que Hugo já estava no quarto, mas ainda sedado. Daniel e Samantha se despediram de nós, informando que cuidariam das crianças. Gael e Enrico também se despediram, dizendo precisarem organizar o caos que aquilo deixou na empresa.Lentamente, Hugo foi despertando. Seus pais ficaram de um lado e Safira do outro. Me mantive um pouco afastada, dando aquele momento a eles. Mas a primeira coisa que ele perguntou foi por mim. Fui até a cama e coloquei minha mão sobre sua perna.— Você está bem? Tive a impressão de escutar um segundo tiro, mas não consegui ter mais noção de muita coisa. — Ele perguntou, encarando-me.— Eu estou bem, Hugo. O segundo tiro
Os murmúrios entre todos cessaram, e eu podia sentir o peso das atenções voltadas para mim. Hugo ainda parecia em choque, mas seus olhos estavam fixos nos meus, e havia algo novo neles: uma mistura de respeito e alívio.— Se você não pretendia assumir a cadeira de CEO, por que houve tanto mistério nas aquisições da empresa? — Um dos advogados perguntou.— Dafne precisava acreditar que estava no controle. Ela achava que tinha tudo sob seu poder, mas, na verdade, estava caindo na própria armadilha. Se eu tivesse mostrado quem era antes do momento certo, ela não teria vendido suas ações.Era a verdade nua e crua. Eu arrisquei muito, mas era necessário. Não era apenas um jogo de poder, era uma questão de proteger meu filho, sua herança e todos os que dependiam dessa empresa. Não poderia permitir que alguém tão manipuladora e louca como Dafne continuasse a exercer qualquer influência aqui.— Você arriscou muito, Alice, mas entendo por que fez isso. — Enrico disse, com uma preocupação que e
Olhei para ele, tentando conter as emoções. Lutando contra meus próprios sentimentos, tentando me proteger, e parecia que isso só fazia ele ter ainda mais determinação para tentar consertar as coisas.— Eu não estava lá quando você mais precisou de mim. — Ele continuou, sua voz carregada de culpa. — Eu deveria ter lutado por nós, ter confiado em você, em vez de me deixar levar pelas mentiras e pelas manipulações. Deveria ter ficado ao seu lado, como prometi. Mas fui um covarde, Alice, e sinto muito por cada lágrima que você derramou por minha causa.Senti meus olhos se encherem de lágrimas, mas me recusei a deixá-las cair. Não podia ceder tão facilmente, não depois de tudo o que havia passado sozinha. Mas, ao mesmo tempo, cada palavra dele atingia meu coração com força.— Sei que não posso apagar o que aconteceu. — Ele disse, aproximando-se ainda mais. — Mas quero passar o resto da minha vida fazendo o que for preciso para consertar isso. Para mostrar a você que ainda sou o homem que