ALICE FONSECAOrientada pelas meninas, decidi falar com Melissa, e a chamei até meu quarto. Precisava falar sobre seu pai e Hugo. Seriam duas notícias que sei que impactariam a vida de minha filha, mas precisava ser sincera com ela.— Meu amor, chamei você aqui por dois motivos. Lembra que mamãe conversou uma vez com você sobre seu pai?— Sim, mamãe. Você disse que ele viajou para longe e você nunca pode dizer a ele sobre mim.— Exatamente, meu amor. No entanto, seu papai voltou. — Ela me olhou com seus olhinhos arregalados. — E ficou sabendo sobre você, filha, e talvez deseje te conhecer. Queria saber sua opinião sobre isso.— Mas e se ele não gostar de mim, mamãe?— Impossível, meu amor, e se isso acontecer, quem vai perder é ele. Você continuará tendo meu amor e o amor de nossa família sempre. Nada vai mudar quanto a isso.— O tio Hugo vai ficar chateado comigo se eu gostar de meu papai? — Ela perguntou inocentemente.— Ele não teria motivo para isso, Mel. Mas esse é outro assunto
O alívio nos rostos de meus pais foi perceptível, mas apenas por um momento. Talvez estar grávida de alguém conhecido, mas que se recusa a acreditar em você, seja menos pior que estar grávida de um total desconhecido.— Como vai ficar a situação de vocês agora, Alice? — Minha mãe perguntou e percebi que Safira ficou um pouco desconfortável do meu lado.— Não vai mudar, mamãe. Criarei essa criança como criei a Mel. — Disse, e meus pais olharam imediatamente para Safira.— Meu irmão foi um completo idiota, acreditando em toda a armação que fizeram, mas eu e meus pais vamos apoiar Alice no que ela precisar.— Você não está errada em dizer que seu irmão é um completo idiota. Eu esperava muito mais dele, então posso afirmar que não apenas minha filha, mas eu também estou muito decepcionada com Hugo. — Minha mãe disse.— Minha filha, nem precisamos dizer que você pode contar conosco. Estaremos ao seu lado, assim como sempre estivemos. — Meu pai disse, abraçando-me.Naquele dia, quando retor
Eu mordi o lábio, lutando contra a torrente de lágrimas que ameaçava desabar. As palavras de Safira faziam sentido, mas não era justo comigo. Ele decidiu prosseguir com sua vida, confiou na pessoa que sempre armou para ele, mas não confiou em mim.Se eu revelasse minha gravidez, minha vida se tornaria um inferno novamente. Aquela mulher nunca nos deixaria em paz. Eu olhei para Safira, que me encarava com aquela mistura de indignação e preocupação.Sabia que ela queria o melhor para mim, que sua intenção era proteger o que restava de nós. Mas, naquele momento, a dor por aquela revelação superava qualquer outro sentimento.— Sinto muito, Safira. Mas… ele não acreditaria em mim. — Sussurrei, sentindo a tristeza profunda pesar cada palavra. — Ele acreditará que estou mentindo, tentando separá-lo de Dafne. Não vou passar por isso de novo…Safira abriu a boca para protestar, mas fechou-a rapidamente ao ver o brilho de determinação nos meus olhos. Ela sabia que minha decisão estava tomada.—
Quando contei aos meus alunos a novidade, foi uma chuva de questionamentos. Como os bebês eram criados, quem os trazia para os pais e mais outras perguntas extremamente difíceis de explicar para crianças com aquela idade. Já estava com cinco meses de gravidez e a minha barriga já estava aparente.Nesse dia, notei o abatimento do Luan e decidi chamá-lo para conversar. Tentar entender o que estava acontecendo com ele, mesmo já acreditando saber os motivos. No entanto, o carinho e o amor que sentia pelo garoto existiam antes mesmo de descobrir que Hugo era seu tio, e isso não me permitia ficar inerte.— Querido, o que está acontecendo? Estou percebendo você um pouco triste.— Por que o tio Hugo não pode mais morar conosco, titia? Por que os adultos sempre precisam se separar?— Meu amor, lembra que uma vez disse a você que às vezes a relação dos adultos era um pouco complicada? — Ele confirmou com a cabeça. — A situação de seu tio comigo está dentro disso.— Mas você não gosta mais dele?
HUGO CASTROEu estava sentado em minha mesa, os olhos presos na tela do computador, mas minha mente longe dali. A nova empresa que vinha comprando as ações da minha companhia estava me tirando o sono.Quem eram eles? Por que tanto mistério? Solicitei uma reunião com o proprietário, mas a resposta veio fria e direta: no momento essa reunião não é possível. Algo estava muito errado.Decidi ligar para Gael. Se havia alguém em quem eu podia confiar para investigar essa situação, era ele. O telefone tocou três vezes antes de ele atender, a voz dele soando animada, despreocupada.— Hugo! E aí, como você está? — Perguntou, com uma energia que eu não sentia há dias.— Não tão bem quanto você, pelo visto. — Respondi, tentando disfarçar minha inveja. — Preciso da sua ajuda. Tem uma nova empresa comprando ações da minha, e eu não faço a menor ideia de quem está por trás disso. Eles não quiseram marcar uma reunião comigo, o que só torna tudo mais suspeito. Preciso que você descubra quem são essas
Observei mais uma vez Alice passando por trás do Gael, mesmo estando um pouco distante de onde meu amigo estava. Após agradecer a ele, desliguei o telefone. Fiquei ali, parado, olhando para a tela apagada do celular, o ciúme e a raiva fervilhando dentro de mim.Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo. Alice estava seguindo em frente, e eu parecia estar preso aqui, impotente, assistindo tudo de longe. Levantei-me da cadeira, comecei a andar de um lado para o outro no escritório, tentando acalmar meus pensamentos. No entanto, a imagem de Alice e Enrico não saía da minha cabeça. Ele estava perto dela, perto demais, provavelmente aquele filho que ela carregava era dele, e a ideia de que ele pudesse estar ganhando seu coração me deixava insano.Eu sabia que não podia deixar as coisas continuarem assim. Tinha que esquecer aquela mulher e precisava focar nessa nova empresa, isso era o que deveria importar para mim, não Alice. Eu precisava resolver isso o mais breve possível, antes
ALICE FONSECAOs últimos meses passaram como um borrão. A gravidez avançava, e com ela, o peso da responsabilidade e das decisões que precisavam ser tomadas. Enrico se tornou um grande amigo, alguém em quem eu podia confiar, e a presença dele na minha vida trouxe um conforto que eu não esperava.Ele era atencioso, carinhoso, e sua amizade profunda me dava forças em muitos momentos. Nós passávamos horas conversando sobre tudo, e ele sempre encontrava uma maneira de me fazer rir, mesmo em alguns momentos que pensava não ser possível.Agora, com sete meses de gestação, a realidade de ser mãe novamente se misturava com a dor de saber que, em breve, teria que me afastar daquilo que mais amava: ensinar. O pensamento de deixar a escola, ainda que temporariamente, me consumia.Eu sentia um amor profundo pela sala de aula, pelas crianças, por aquele ambiente onde eu podia fazer a diferença. Ensinar era a minha vocação, a minha paixão. Saber que precisaria deixar isso, mesmo que apenas por algu
Dafne olhou para ele, surpresa, como se não esperasse que ele tomasse partido. Pior ainda que me defendesse. Nem eu estava esperando por isso, mas fiquei grata.— Lucca, não seja tolo. Você sabe o tipo de mulher que ela é. Eu só estou dizendo a verdade. — Ela insistiu, tentando manter a superioridade.— Não, Dafne. O que você está fazendo é cruel e desnecessário. Alice é a mãe da minha filha, e eu não vou permitir que você a insulte assim. — Ele afirmou, seu tom de voz deixando claro que não estava para brincadeiras.Dafne estreitou os olhos, sua expressão endurecendo, mas antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, Lucca deu um passo à frente e a pegou pelo braço, com firmeza, mas sem agressividade.— Vamos, eu vou te acompanhar até o carro. Você devia respeitar o fato de ambas estarem grávidas e evitar esse tipo de situação vexatória. — Ele disse, conduzindo-a para longe.Ela tentou resistir, mas Lucca não deu espaço para mais nenhuma cena. Enquanto os dois se afastavam, eu fique