Preciso de um drink

Miguel

Levantei da minha confortável cadeira de CEO do grupo Pontes e fiquei andando por minha  sala ricamente decorada em tons de ocre e bege, com as mãos em punho.  

Aquela havia sido a sala do meu pai por anos, enquanto ele foi o homem por trás do Grupo Pontes, ou GA, como os funcionários costumavam chamar.

— Cuidado com suas ações, Miguel. – Eduardo alertou mais uma vez. – Por mais que a Talita tenha aprontado com você, foi você que a deixou entrar em sua vida.  

— Preciso de um drinque. – Falei ao parar próximo a porta da sala. – Vamos ao clube? Tenho saudades do nosso lugar preferido. 

Estava brincando na verdade, apenas na tentativa de descontrair um pouco o clima, uma vez que me sentia muito tenso e o clube Season Hot sempre foi um lugar que o Eduardo e eu frequentamos, mas que, desde que comecei a me relacionar com a Talita, me abstive de ir.

Aquela era só mais uma coisa que me privei, para me ver ainda ser taxado de traidor por aquela mulher fútil e mentirosa.

— Você acha uma boa ideia beber às vésperas da audiência?  

— Não. Não é.  — Concordei, após uma breve análise.

Olhei ao redor e novamente para a vista da janela, pensando em como eu pude me enganar tanto com uma pessoa. 

— Podemos sair para jantar e alinhar algumas informações. – Ele sugeriu. – E eu vou permitir que tome um drinque. Um único drinque. O que acha? 

— É melhor do que nada. Vamos! 

Peguei a maleta com alguns documentos que havia deixado em cima da mesa e o Eduardo fez o mesmo com a sua pasta que estava na cadeira ao lado, e juntos fomos para o estacionamento no subsolo. 

— Vamos ao restaurante que Antônio Garcia está inaugurando hoje. – Eduardo sugeriu, enquanto nós caminhávamos a passos largos pelos corredores da empresa. – O que você acha?  

— Não estou no clima para inaugurações. 

— Vamos, será interessante. – Insistiu. – Eu tenho dois convites. 

— E por que não convidou uma de suas “amigas"? Eu não sou a melhor companhia hoje. 

— Sou seu amigo, cara. E advogado. Preciso te preservar de problemas e você hoje parece um homem a procura exatamente disto. E caso você arrume mais confusão, eu também irei ganhar mais trabalho.

O Eduardo tinha um pouco de razão.  

Eu realmente não estava no melhor humor para socializar com outras pessoas e talvez, caso fosse para o meu apartamento, acabaria por decidir sair e terminasse por arrumar ainda mais problemas.

Chegamos ao subsolo, onde cada um pegou seu respectivo veículo e seguimos para o endereço do restaurante que ele indicou, que para o meu agrado, ficava bem próximo ao prédio de escritórios da Pontes. 

— Mesa para dois, por favor. – Eduardo orientou a Hostess. 

— Venham comigo, senhores.   

Nós a seguimos e assim que já estávamos instalados, os nossos cardápios em mãos, Eduardo logo comentou sobre a beleza da mulher. 

— Eu não prestei atenção. – Falei ranzinza. – Na verdade, pretendo não perceber a beleza de mulher alguma por bastante tempo ainda. 

— Seria ideal que isso acontecesse, mas eu realmente não acredito nessa possibilidade.  

— Pois pode confiar em minha palavra. Estou de saco cheio de mulheres bonitas e que se mostram boas moças, quando na verdade tudo o que elas querem é o que guardamos em nossas contas bancárias. 

Naquele momento o garçom chegou para anotar os nossos pedidos e somente após a saída dele, nós voltamos aquele assunto.  

— Não seja tão cínico, Miguel. – Eduardo falou com um enorme sorriso, o qual ele manteve por todo o tempo em que estava fazendo o seu pedido. – Não é por que você teve uma experiência ruim, que todas serão desta mesma forma. 

— E que experiência, meu amigo! -Ironizei. 

Eduardo apenas sorriu em concordância e eu olhei em torno de nossa mesa, pelo espaço do restaurante, analisando a beleza discreta do ambiente e só então percebi que estava com todas as suas mesas preenchidas. 

O lugar era bem espaçoso e era perceptível o bom gosto na decoração e lembrei que o Antonio Garcia era casado com um decoradora de interiores e estava bem explicado o quando o ambiente agradava aos olhos.

Algo me chamou a atenção naquele instante e olhei então com mais atenção para uma mesa bem próxima a nossa, sem conseguir acreditar realmente na coincidência que acabara de acontecer.

Constatei que a mulher sentada de maneira ereta, parecendo estar torcendo o nariz ao olhar em volta do ambiente, o que era no mínimo ridículo, tendo em vista que tudo estava bonito e elegante, não era nada mais, nada menos, que a tal advogada sugadora de fortunas, a Danielle Rocha. 

— Algum problema, Miguel? Parece que algo está te desagradando. Não gostou do restaurante?  

Antes que eu pudesse responder, um casal se aproximou de nossa mesa e o Eduardo se levantou de imediato para os cumprimentar, e eu tive que imitar o seu gesto, ao observar que se tratava do proprietário do restaurante e sua jovem esposa. 

Depois que nós cumprimentamos o casal Marília e Antonio García, fiquei olhando na direção da mesa ao lado, tentando manter o maior grau de discrição possível. 

— Espero que esteja gostando do nosso restaurante. — Antônio sondou de maneira efusiva. 

— Acabamos de chegar, mas até o momento só elogios ao atendimento e também ao local. É tudo muito agradável. — Eduardo comentou com entusiasmo.

— Fico feliz em ouvir isso. E você, Pontes, o que achou até o momento? Sei que é conhecido no meio empresarial por sua sinceridade. 

— Como disse o nosso amigo Eduardo, tudo muito agradável. — Respondi de maneira mais honesta possível, mas toda a minha atenção estava voltada para a belíssima mulher que era cúmplice da minha ex. 

— Acredito que agradável não é exatamente a discrição que eu esperava do meu novo restaurante, mas imagino que depois que provarem dos nossos pratos, com certeza os adjetivos serão bem melhores.  

Apesar das palavras, Antonio García sorria como se tivesse acabado de ouvir uma piada muito engraçada e acabou chamando a atenção de algumas das pessoas que estavam ao nosso redor, inclusive da advogada, que nos olhou de maneira atenta e acabou por me encarar sem pestanejar, provavelmente só agora percebendo que eu era um dos presentes naquele círculo. 

Eu tampouco desviei o olhar e a encarei sem medo e nós dois ficamos assim por alguns momentos, até que o Eduardo me deu uma cotovelada discreta, trazendo a minha atenção de volta para a conversa. 

— Tenho certeza de que tudo estará divinamente saboroso, não é mesmo, Miguel? — Eduardo falou de maneira extravagante. 

— Claro. — Concordei, pois o Eduardo me olhava de uma maneira quase assassina e eu pensei que deveria parabenizar a decoração e a pessoa responsável por esta, mas estava muito entretido em olhar para Danielle.

— Fico feliz, então. Muito feliz. Não é mesmo, querida? — Antônio falou encarando a sua jovem esposa e recebendo dela apenas um balançar de cabeça como concordância. 

Eles se despediram de nós e fiquei extremamente satisfeito por poder voltar a sentar em nossa mesa e ainda mais por poder então falar com o Eduardo sobre o que acabara de acontecer.  

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