Miguel
Cheguei na casa dos meus pais, local onde eu voltei a morar após a minha separação, deixando para a Talita a minha cobertura na Barra, a qual eu possuía desde antes do nosso casamento, ainda era cedo, considerando os meus horários de quando era adolescente, antes de decidir morar sozinho.
Eu havia pedido o divórcio e solicitado que a Talita saísse do meu apartamento, mas quando ela deixou bastante claro que não sairia de lá de forma alguma, assim como também não aceitava o pedido de divórcio, eu mesmo saí.
O fato é que eu não aguentava mais ver aquela mulher na minha frente e antes que chegássemos a um pouco ainda mais desgastante, era melhor ceder. Mas não o faria novamente, no entanto.
— Só chegou agora da empresa? - Minha mãe me perguntou, quando nos esbarramos no corredor que levava aos quartos da família.
— Não. Estava jantando com o Eduardo.
Aproximei-me da belíssima e ainda jovem mulher que era a minha mãe e dei um beijo breve em sua face, sentindo o perfume familiar de rosas.
— Deveriam ter vindo jantar conosco, querido. - Ela reclamou. - Seu pai está se sentindo muito solitário, agora que se aposentou. Não suporto o ver passar todo o dia no celular, tal qual um adolescente.
— Não vamos começar esse assunto novamente, mamãe. Foi este mesmo assunto que me deixou na atual situação em que me encontro.
Eugênia soltou uma sonora gargalhada mediante a minha clara insinuação, exibindo a sua personalidade exuberante e alegre que eu tanto amava.
— Ah! Não venha colocar a culpa de seus erros em nós, querido. Sabe que ninguém irá comprar essa sua história. — Respondeu ainda sorrindo e apertando a minha bochecha como costumava fazer desde que eu era apenas um bebê.
Sorri de volta para a minha mãe, pois ela estava certa. Eu estava querendo colocar a minha culpa em alguém e os meus pais eram ótimas pessoas para isso.
— Mas foi exatamente essa história, a de que vocês estavam sentindo falta de movimentação nessa casa, que precisavam de crianças correndo novamente por esses corredores, que me levou a casar com a primeira mulher que apareceu na minha frente, mamãe. - Eu usei a justificativa ainda assim.
— E você achou mesmo que a Talita iria querer procriar, Miguel!? — Minha mãe perguntou com incredulidade. — Meu amor, não se faça de bobo para a sua mãe. A única coisa que você pensou quando decidiu se casar com aquela mulher mesquinha e fútil, foi o quanto ela poderia te satisfazer sexualmente.
— Mamãe!
— Ah? Não me venha também com falsos moralismos. Nem combina com você, querido. A história verdadeira é essa e nenhuma outra.
A minha mãe era uma mulher que falava sempre aquilo que desejava e não pesava palavras para fazer isso. No entanto, era uma pessoa especialmente carinhosa e gentil com todos, sem distinção de pessoas e jamais poderia ser considerada má.
Ela costumava gostar de todo mundo, mas também sabia reconhecer uma pessoa maldosa apenas de olhar e eu deveria ter confiado em seu julgamento quando apresentei a Talita para ela. Como ela mesma apontou, a cabeça de baixo escolheu e a de cima aceitou, simples assim.
— Mas, voltando ao assunto. Convide o Eduardo para passar o fim de semana conosco, em Angra. — Mamãe falou, começando a caminhar em direção ao seu quarto, no final do extenso corredor.
— Vamos viajar neste final de semana?
Minha mãe tinha por hábito decidir a programação e todos nós tínhamos que aceitar as suas “sugestões” de lazer, pois ela sabia muito bem como conseguir que fizéssemos o que ela queria e não ousamos contrariar.
— Claro, querido. — Confirmou o que eu já havia deduzido. — Você está precisando se distrair. Tenho notado que você anda muito tenso nos últimos dias.
— Não tinha percebido ainda, mamãe. Será que é porque eu perdi minha cobertura, estou em processo de divórcio e a minha ex é uma megera? — Sugeri em tom sarcástico.
— Tudo bobagem, Miguel. — Ela falou sem ao menos se virar para me olhar e entrou no seu quarto. — Tenha uma boa noite de sono, querido — Ainda falou antes de fechar a porta.
Eu conhecia a minha própria mãe o suficiente para saber que ela estava sendo realmente sincera ao me desejar uma boa noite de sono, ainda mais quando eu não estava conseguindo atingir aquele feito há dias.
Mas Eugenia sempre falava em um tom de voz que deixaria algumas dúvidas àqueles que não a conheciam tão bem quanto nós, que éramos da família e aquele acabou sendo mais um dos problemas que eu tive, enquanto estava casado com a Talita.
A minha ex-esposa detestava a minha mãe e não fazia segredo daquilo, algo que me deixava bastante chateado, pois jamais iria aceitar que qualquer pessoa nesse mundo ousasse falar mal dela, muito menos alguém que estava ao meu lado na vida.
As queixas de Talita sobre a mamãe rendeu muitas discussões acaloradas entre nós dois, durante todo o tempo em que convivemos. Não sentia falta alguma dos meses que passei casado com aquela criatura mesquinha.
Afastei os pensamentos do passado e segui para o meu quarto. Após fechar a porta com força e tirar a gravata do meu colarinho, me joguei sobre a enorme e confortável cama de casal que havia no centro do cômodo, suspirando de insatisfação.
Precisava tomar um banho, mas estava me sentindo exausto nos últimos dias e imaginei que aquilo se devia a indignação constante que sentia por constatar o quanto errei ao entrar em um casamento com a Talita e ainda mais por não ter pedido o divórcio assim que percebi que aquilo não era o que eu desejava.
Pensar na Talita me levava a pensar também na sua advogada e a raiva aumentou, se é que aquilo era possível. A Danielle não parecia uma mulher boba, mas estava defendendo o lado errado daquela história e eu sentia que ela não tinha conhecimento de todos os fatos sobre a amiga, caso contrário, não o estaria fazendo.
Talita havia me dito que se eu insistisse em divórcio, ela faria da minha vida um verdadeiro inferno e eu já estava sentindo os indícios do quanto a sua ameaça era real, pois naquela tarde, antes do Eduardo chegar ao escritório, eu vi algumas matérias em sites de fofoca que poderiam me descredibilizar como um homem de negócios, tendo em vista o quanto os grandes empresários do país ainda eram, em sua maioria, conservadores.
E a pior parte dessa história é que a maioria das informações era forjada, pois, eu jamais havia tido envolvimento algum com orgias em que estariam garotas menores de idade e a minha equipe jurídica e de marketing já estavam tentando conter a onda de notícias falsas que estavam circulando sobre mim na mídia.
Só me restava tentar dormir e torcer para que amanhã a Talita e eu entrássemos em um acordo justo, em que eu não precisasse me desfazer dos meus bens e ela fiDanie satisfeita com o que eu estava disposto a ceder.
Depois disso resolvido, eu não queria pensar em casamento nunca mais em minha vida e os meus pais que tentassem convencer a Luana, minha irmã, alguns anos mais nova que eu, a casar de ter os tão sonhados netos que eles desejavam.
Danielle Cheguei ao local onde aconteceria a audiência de conciliação com antecedência de meia hora, mas não encontrei a Talita em lugar algum, como havíamos combinado na noite anterior. Ela havia me mandado algumas mensagens, pedindo algumas orientações sobre como deveria vestir-se para a ocasião, como se portar e até mesmo o que dizer. Eu disse que ela deveria falar apenas a verdade e que nada além disso se fazia necessário, pois era suficiente dizer tudo o que realmente aconteceu. Eu conferi o horário novamente e quando já haviam se passado mais de quinze minutos, resolvi ligar para a minha amiga, pois jamais havia me atrasado para uma audiência e não gostaria nenhum pouco, caso aquilo acontecesse hoje e ainda mais em se tratando de uma pessoa das minhas relações pessoais. Quando insisti novamente e ainda assim a Talita não me atendeu, mesmo após várias tentativas, eu fiquei realmente muito contrariada e a minha amiga precisaria ter uma boa desculpa para o seu comportamento.
Danielle A audiência tinha terminado sem que chegássemos a um consenso e uma nova foi marcada para dali a quinze dias e eu estava mais que satisfeita com o desenrolar dos acontecimentos. A outra parte, no entanto, saiu da sala parecendo soltar fogo pelo nariz, visivelmente irritado e mostrando todo o seu descontentamento com o que aconteceu dentro da sala de conciliação e eu, que não me sentia na obrigação de fingir nada para poupar ele, sorri descaradamente com a expressão de raiva que Miguel exibia naquele momento, quando todos nós saiamos da sala, após a audiência. — Aquele vídeo é uma mentira e você não vai conseguir nada de mim, agindo dessa forma, Talita! — Miguel falou em tom alterado, com o dedo em riste, repetindo o mesmo comportamento de quando tomou conhecimento sobre a existência de tais imagens . — Vamos, Miguel. — O advogado o chamou, puxando-o pelo braço e tentando fazer com ele o acompanhasse. — Você não vai sair vitoriosa dessa história, Talita! Não vai! — Ele p
MiguelApós sair da audiência de conciliação com a Talita e sua advogada arrogante, cheia de si e que se considerava a dona da razão, eu me senti irritado e com vontade de extravasar aquele sentimento de alguma forma durante todo aquele dia, sem imaginar como eu conseguiria fazer aquilo, no entanto.O fato é que eu me contive e tentei trabalhar da melhor forma que consegui, exercendo as minhas funções e assinando relatórios, participando de reuniões e conversando com sócios e empresas parceiras, como se aquele fosse apenas mais um dia de trabalho normal e tudo isso para tentar esquecer aquele sentimento e controlar as minhas emoções.Contudo, quando cheguei em casa à noite, após entrar em meu quarto e fechar a porta, peguei a primeira coisa que vi e joguei na parede com toda a raiva e frustração que eu estava sentindo e o objeto se partiu em alguns pedaços, mas aquilo não diminuiu a minha irritação, tampoco. Para a alegria da minha mãe, era apenas um porta-retratos com uma foto minha
MiguelEu havia me deitado em minha cama, ainda com a mesma roupa que cheguei do escritório e não sentia vontade alguma de tentar melhorar meu aspecto..Enquanto ela falava aquelas coisas absurdas, fazia cafuné em meus cabelos, tal qual quando eu era criança e me machucava. Era o famoso “bater e alisar”.— Eu acredito que não ficar relembrando o meu erro já é de grande ajuda, mamãe. — Falei em tom seco, fingindo estar chateado.— Mas você é muito mal-agradecido mesmo, hein, Miguel! — Mamãe ficou imediatamente alterada pela maneira como falei. Eugenia não aceitava que ninguém a tratasse daquela forma, muito menos eu, seu próprio filho. Já sabia como ela reagiria, por isso falei naquele tom. Eu precisava da mamãe daquele jeito, me dando um puxão de orelhas merecido.— Nós te avisamos que aquela mulher não te amava, que ela só estava interessada na sua fortuna e o pior de tudo, ela não iria querer ter filhos! Um absurdo você ter resolvido ser rebelde aos trinta e dois anos, Miguel.— Su
DanielleApós uma semana de muito trabalho, naquele fim de semana decidi não ir visitar a minha mãe e meu padrasto, pois além de estar bastante cansada pelo trabalho, também estava cansada de seus sermões sobre o quanto a minha vida estava sem graça e como eu trabalhava demais.Passamos o sábado e o domingo trocando mensagens, mas eu acabei me sentindo obrigada a mentir sobre ter um encontro com um homem muito bonito e educado e que eu queria me preparar para encontrar com ele e por este motivo não iria para Maricá naquele fim de semana.Ela não precisava saber que o encontro era com o meu serviço de streaming e que o homem bonito e educado era o protagonista da minha série favorita. Totalmente desnecessária aquela informação e só me traria mais desgaste.Depois do encontro fracassado com o Carlos, eu pensaria muito bem antes de aceitar sair com outro homem nos próximos meses. Aumentei aquele tempo para “anos” quando soube, durante o horário de almoço, que a minha secretária havia saí
Miguel Eu ainda estava sorrindo ao lembrar da cara de nojo e raiva que a advogada fazia em todas as vezes que me via. Era impressionante o quanto ela realmente não gostava de mim, de maneira gratuita. — Por que você disse aquelas coisas com a advogada? — Luana perguntou com um sorriso nos lábios. — Porque ela se acha a dona da razão, mas está defendendo o lado errado dessa história. - Falei com pouco caso. — O lado correto seria o seu lado, é isso? - Ela falou aquilo com fingida incredulidade e eu estava prestes a beliscar ela pelo desaforo, quando as primeiras imagens começaram a rolar na telona e eu me contive. Mas durante os momentos que tentei dedicar a minha atenção para o que estava sendo exibido, a todo momento vinha a lembrança de que a advogada iludida estava naquele mesmo local, tranquilamente assistindo a um filme no cinema, comendo sua pipoca com refrigerante. Comer me remetia aquela sua boca agressivamente deliciosa e no quanto pensar sobre a advogada nesse sentid
Danielle Comecei a me questionar se o mundo inteiro estava conspirando contra a minha sanidade mental ao constatar que Miguel Pontes estava, de novo, no mesmo local que eu, apenas um dia após o episódio no cinema. O mundo poderia não ter nada a ver com aquilo, mas se existia destino, este estava querendo me desestabilizar, pois, eu jamais conseguiria imaginar que em uma simples ida ao supermercado eu iria encontrar Miguel Pontes novamente e ainda mais estando ele acompanhado pela mesma garota da tarde anterior. Mais surpreendente ainda era o local desse novo "encontro": o supermercado! Era inacreditável e eu estava me controlando para não rir igual a uma maluca, por que aquilo era além de qualquer possibilidade de acontecer, ainda mais se considerando que no dia anterior e que ele havia arruinado a minha tentativa de di
Miguel A Luana realmente cumpriu com a sua promessa de ligar para a advogada e marcar um almoço, no intuito claro de que fossem amigas. Apesar da minha legítima descrença de que Danielle Rocha aceitaria aquela oferta de amizade, eu também fiz uma prece para que ela realmente não o fizesse, nem mesmo por curiosidade. Mas a minha prece fervorosa não foi atendida e minha irmã estava toda animada e ansiosa pelo almoço que teria em companhia da advogada e também, para aumentar a minha contrariedade, em companhia da nossa mãe que, da mesma forma, estava radiante por conhecer a advogada naquele dia. — Não entendo por que essa insistência em conhecer a advogada, e amiga, vale ressaltar, da Talita. - Falei com mau humor, durante o café da manhã em família.