Danielle
Olhei para Miguel Pontes jantando com seu então melhor amigo, que também era seu advogado, me fez pensar no fato de que a audiência de conciliação para o acordo de divórcio da minha melhor amiga seria amanhã.
E enquanto ela estava em casa se sentindo infeliz por ter que encarar ao homem que ela amava e com que ela esperava construir uma família em um processo para o fim do casamento entre os dois, o seu ex-marido estava prestigiando a inauguração de um restaurante chique e conversando de maneira bastante tranquila com seus amigos ricos e poderosos.
Cheguei a bufar de raiva pelo absurdo da situação e o quanto aquilo era injusto, pois ele não parecia nenhum pouco incomodado de que estaria em sua audiência de divórcio no dia seguinte.
Apesar disso, não poderia dizer que estava de todo surpresa, pois eu não estava. Quando não se tinha nenhuma expectativa em alguém, como era o caso, não causava espanto quando as atitudes daquela pessoa eram insensíveis ou algo do tipo.
O fato é que Miguel Pontes havia casado com a minha amiga e, menos de um ano depois, ele já a estava traindo com todas as mulheres com quem ele sentia vontade e não se deveria esperar nada de bom partindo de alguém desse tipo.
Estar ali jantando e confraternizando com os seus amigos só confirmava o quanto ele era um cafajeste da pior espécie e não seria um pedido de divórcio que o faria deixar de aproveitar as coisas boas da vida e isso era algo irrefutável.
— Algo a aborrece? - O homem à minha frente perguntou, me trazendo para o momento atual.
Eu estava agora jantando com o Carlos Brito, um dos sócios do escritório do qual eu trabalhava desde que terminei a minha especialização e que costumava me fazer convites para o acompanhar a todos os tipos de lugares, desde jantares a eventos de grande prestígio, algo que havia aceitado após muita insistência de sua parte e apenas para tentar me distrair um pouco dos pensamentos indesejáveis que estavam me atormentando nos últimos dias.
Carlos era um homem tranquilo, mas eu sempre o considerei muito calado e dificilmente nós conseguimos saber sobre o quê ele estava pensando e eu não gostava de lidar com pessoas difíceis de ler.
— É impressão sua, Carlos. — Neguei qualquer desconforto, pois não diria a ele o que estava se passando. — O ambiente é bastante agradável e o cardápio excelente. — Desconversei.
— Aquele não seria Miguel Pontes, marido daquela modelo com a qual você tem se encontrado bastante nos últimos dias? Como é mesmo o nome dela… ?
— Talita Andrade. — Respondi a contra-gosto. — Ex-marido, na verdade. Eles estão em processo de divorcio agora.
Eu não costumava comentar sobre os meus casos com ninguém, mas tinha certeza que o Carlos já sabia sobre aquela informação, uma vez que estava circulando em todos os sites de fofoca e até a assessoria de imprensa do Miguel Pontes também havia liberado uma nota confirmando a separação do casal.
Eu entendia, no entanto, que tudo o que o Carlos queria era apenas ter algum assunto para conversar, uma vez que eu havia me mantido todo o tempo em um silêncio resoluto, tendo em vista a falta de assunto entre nós, desde que chegamos ao restaurante.
A verdade é que eu me arrependi bastante por ter aceitado o convite dele para jantar, pois além de não termos nada em comum além da profissão, todos assuntos que ele tentou iniciar, era sobre temas que me desagradaram e em que nós discordamos muito.
Também não tinha funcionado de forma alguma para tirar os pensamentos inoportunos da minha cabeça, pois eles continuavam aqui, me atormentando e me fazendo sentir culpa apenas por os ter.
— Não estava sabendo. - Ele estava mentindo, era óbvio, e aquilo tornou a me desagradar, pois era totalmente desnecessário de sua parte, fingir que não sabia de algo assim.
— Sério? - Perguntei em tom de ironia.
— Você parece chateada. — Ele parece ter optado por outro caminho, mas insistiu em algo que eu já havia descartado. - Não gostou do restaurante? Ou tem outro motivo.
Senti vontade de falar a verdade, que eu não estava gostando era da companhia, mas aquilo não seria nada sábio, tendo em vista que trabalhávamos juntos e ele era um dos sócios do escritório. Além de ser totalmente desnecessário e ofensivo.
— Gostei sim. Só estou cansada. — Não neguei sobre ter outro motivo.
Tentei manter minha atenção no Carlos, mas algo como um imã me levava a estar olhando durante a maior parte do tempo para a mesa ao lado e percebi que o Miguel também estava olhando em minha direção, algo que me deixou bastante desconfortável.
Diferentemente da noite em que o vi pela primeira vez, agora ele parecia ter me notado e imaginei que devido eu estar representando a Talita no processo de divórcio, pois estava bastante nítido o seu aborrecimento dirigido especificamente a mim.
Ele me olhava com uma expressão de raiva e eu o motivo daquilo era que amanhã eu estaria representando a sua esposa em uma ação que visava arrancar alguns milhões de sua conta bancária.
— Devo concordar com você de que a semana está sendo bastante cansativa. — Carlos chamou a minha atenção de volta. — Nós poderíamos dispensar a sobremesa e ir para o meu apartamento. Conversar um pouco… trocar algumas ideias.
Olhei para o Carlos tentando conter uma risada de escárnio. Eu alegava estar cansada e ele vinha com aquele papo furado de ir até o seu apartamento? Como os homens poderiam ser tão sem noção dessa forma?
— Obrigada pelo convite, mas amanhã tenho uma audiência logo pela manhã e pretendo estar bem descansada. — Falei, mas queria mesmo era mandar ele pastar, aquele grande imbecil.
— Claro, você está certa. — Ele concordou rapidamente, acredito que na tentativa de me agradar. — Marcamos um outro dia, então.
— Quem sabe, não é mesmo?
Mal sabia ele que não existia nenhuma possibilidade de isso vir a acontecer novamente, eu não seria tão idiota assim e eu preferi então, não me comprometer com mais uma noite como aquela.
DanielleOlhei novamente para o lado e uma mulher havia chegado à mesa do Miguel, algo que me deixou extremamente chateada. Claro que a minha raiva era devido a Talita e não por qualquer outro motivo. A mulher parecia ter acabado de chegar ao restaurante e ter parado para falar com os dois homens, mas sua atenção estava concentrada apenas em um deles, o que me fazia ferver de raiva, pois mesmo estando em processo de divórcio, a audiência marcada para amanhã, ele ainda estava aproveitando bastante a situação. — Cretino. — Resmunguei, sem conseguir me controlar. — Ele não está retribuindo o interesse dela. — Carlos apontou. Me espantei com a sua colocação e olhei de imediato para o Carlos, sentindo um ardor na face, pois pelo visto ele havia ouvido o que eu falei e entendido a quem eu estava me referindo, o que era ainda pior. — Não importa se ele não está devorando-a com os olhos como ela está fazendo com ele. — Optei então por defender meu ponto, uma vez que já tinha passado a ve
Miguel Depois que voltei a minha mesa, após tentar confrontar a advogada da minha querida ex-esposa, chamei o Eduardo para ir embora, pois eu não tinha mais nenhum pouco de vontade de continuar ali, depois de toda a frieza com a qual aquela advogada me tratou e aquela noite já havia rendido muito mais do que eu pretendia. Meu amigo, no entanto, ainda estava terminando sua refeição e como sempre acontecia, não parecia ter pressa alguma, como se ele tivesse todo o tempo do mundo e eu constatei, por toda a minha experiência com o Eduardo, que o melhor a ser feito era sentar novamente e esperar por ele. Olhei para a mesa ao lado, para olhar mais uma vez para a pedante Danielle, e foi a tempo de ver que o casal estava se levantando e saindo do restaurante. A expressão de entojo no rosto da advogada quase me fez rir, mas a irritação vendeu qualquer divertimento que eu pudesse sentir. — Você por acaso teria tentado falar com a doutora Danielle ou foi impressão minha? — Eduardo pergun
MiguelCheguei na casa dos meus pais, local onde eu voltei a morar após a minha separação, deixando para a Talita a minha cobertura na Barra, a qual eu possuía desde antes do nosso casamento, ainda era cedo, considerando os meus horários de quando era adolescente, antes de decidir morar sozinho. Eu havia pedido o divórcio e solicitado que a Talita saísse do meu apartamento, mas quando ela deixou bastante claro que não sairia de lá de forma alguma, assim como também não aceitava o pedido de divórcio, eu mesmo saí. O fato é que eu não aguentava mais ver aquela mulher na minha frente e antes que chegássemos a um pouco ainda mais desgastante, era melhor ceder. Mas não o faria novamente, no entanto. — Só chegou agora da empresa? - Minha mãe me perguntou, quando nos esbarramos no corredor que levava aos quartos da família. — Não. Estava jantando com o Eduardo. Aproximei-me da belíssima e ainda jovem mulher que era a minha mãe e dei um beijo breve em sua face, sentindo o perfume famili
Danielle Cheguei ao local onde aconteceria a audiência de conciliação com antecedência de meia hora, mas não encontrei a Talita em lugar algum, como havíamos combinado na noite anterior. Ela havia me mandado algumas mensagens, pedindo algumas orientações sobre como deveria vestir-se para a ocasião, como se portar e até mesmo o que dizer. Eu disse que ela deveria falar apenas a verdade e que nada além disso se fazia necessário, pois era suficiente dizer tudo o que realmente aconteceu. Eu conferi o horário novamente e quando já haviam se passado mais de quinze minutos, resolvi ligar para a minha amiga, pois jamais havia me atrasado para uma audiência e não gostaria nenhum pouco, caso aquilo acontecesse hoje e ainda mais em se tratando de uma pessoa das minhas relações pessoais. Quando insisti novamente e ainda assim a Talita não me atendeu, mesmo após várias tentativas, eu fiquei realmente muito contrariada e a minha amiga precisaria ter uma boa desculpa para o seu comportamento.
Danielle A audiência tinha terminado sem que chegássemos a um consenso e uma nova foi marcada para dali a quinze dias e eu estava mais que satisfeita com o desenrolar dos acontecimentos. A outra parte, no entanto, saiu da sala parecendo soltar fogo pelo nariz, visivelmente irritado e mostrando todo o seu descontentamento com o que aconteceu dentro da sala de conciliação e eu, que não me sentia na obrigação de fingir nada para poupar ele, sorri descaradamente com a expressão de raiva que Miguel exibia naquele momento, quando todos nós saiamos da sala, após a audiência. — Aquele vídeo é uma mentira e você não vai conseguir nada de mim, agindo dessa forma, Talita! — Miguel falou em tom alterado, com o dedo em riste, repetindo o mesmo comportamento de quando tomou conhecimento sobre a existência de tais imagens . — Vamos, Miguel. — O advogado o chamou, puxando-o pelo braço e tentando fazer com ele o acompanhasse. — Você não vai sair vitoriosa dessa história, Talita! Não vai! — Ele p
MiguelApós sair da audiência de conciliação com a Talita e sua advogada arrogante, cheia de si e que se considerava a dona da razão, eu me senti irritado e com vontade de extravasar aquele sentimento de alguma forma durante todo aquele dia, sem imaginar como eu conseguiria fazer aquilo, no entanto.O fato é que eu me contive e tentei trabalhar da melhor forma que consegui, exercendo as minhas funções e assinando relatórios, participando de reuniões e conversando com sócios e empresas parceiras, como se aquele fosse apenas mais um dia de trabalho normal e tudo isso para tentar esquecer aquele sentimento e controlar as minhas emoções.Contudo, quando cheguei em casa à noite, após entrar em meu quarto e fechar a porta, peguei a primeira coisa que vi e joguei na parede com toda a raiva e frustração que eu estava sentindo e o objeto se partiu em alguns pedaços, mas aquilo não diminuiu a minha irritação, tampoco. Para a alegria da minha mãe, era apenas um porta-retratos com uma foto minha
MiguelEu havia me deitado em minha cama, ainda com a mesma roupa que cheguei do escritório e não sentia vontade alguma de tentar melhorar meu aspecto..Enquanto ela falava aquelas coisas absurdas, fazia cafuné em meus cabelos, tal qual quando eu era criança e me machucava. Era o famoso “bater e alisar”.— Eu acredito que não ficar relembrando o meu erro já é de grande ajuda, mamãe. — Falei em tom seco, fingindo estar chateado.— Mas você é muito mal-agradecido mesmo, hein, Miguel! — Mamãe ficou imediatamente alterada pela maneira como falei. Eugenia não aceitava que ninguém a tratasse daquela forma, muito menos eu, seu próprio filho. Já sabia como ela reagiria, por isso falei naquele tom. Eu precisava da mamãe daquele jeito, me dando um puxão de orelhas merecido.— Nós te avisamos que aquela mulher não te amava, que ela só estava interessada na sua fortuna e o pior de tudo, ela não iria querer ter filhos! Um absurdo você ter resolvido ser rebelde aos trinta e dois anos, Miguel.— Su
DanielleApós uma semana de muito trabalho, naquele fim de semana decidi não ir visitar a minha mãe e meu padrasto, pois além de estar bastante cansada pelo trabalho, também estava cansada de seus sermões sobre o quanto a minha vida estava sem graça e como eu trabalhava demais.Passamos o sábado e o domingo trocando mensagens, mas eu acabei me sentindo obrigada a mentir sobre ter um encontro com um homem muito bonito e educado e que eu queria me preparar para encontrar com ele e por este motivo não iria para Maricá naquele fim de semana.Ela não precisava saber que o encontro era com o meu serviço de streaming e que o homem bonito e educado era o protagonista da minha série favorita. Totalmente desnecessária aquela informação e só me traria mais desgaste.Depois do encontro fracassado com o Carlos, eu pensaria muito bem antes de aceitar sair com outro homem nos próximos meses. Aumentei aquele tempo para “anos” quando soube, durante o horário de almoço, que a minha secretária havia saí