Adversários

Danielle

Olhei novamente para o lado e uma mulher havia chegado à mesa do Miguel, algo que me deixou extremamente chateada. Claro que a minha raiva era devido a Talita e não por qualquer outro motivo.

A mulher parecia ter acabado de chegar ao restaurante e ter parado para falar com os dois homens, mas sua atenção estava concentrada apenas em um deles, o que me fazia ferver de raiva, pois mesmo estando em processo de divórcio, a audiência marcada para amanhã, ele ainda estava aproveitando bastante a situação.

— Cretino. — Resmunguei, sem conseguir me controlar.

— Ele não está retribuindo o interesse dela. — Carlos apontou.

Me espantei com a sua colocação e olhei de imediato para o Carlos, sentindo um ardor na face, pois pelo visto ele havia ouvido o que eu falei e entendido a quem eu estava me referindo, o que era ainda pior.

— Não importa se ele não está devorando-a com os olhos como ela está fazendo com ele. — Optei então por defender meu ponto, uma vez que já tinha passado a vergonha mesmo, irei em frente com o que eu acreditava. — A fama dele o precede. 

— Não concordo. Mas, sem querer bater de frente com você, ele agora é um homem solteiro e, caso deseje, pode ficar com ela ou qualquer outra mulher.

— Ele ainda não é um homem solteiro.

Disse aquilo apenas para ser chata, visto que eu concordava totalmente com o Carlos. E aquilo tanto se aplicava ao Miguel, quanto a Talita e ela deveria começar aproveitar mais a sua vida e não ficar em casa se lamentando por alguém como o seu ex-marido. 

Aquele jantar já tinha absorvido todo o meu estoque de gentilezas e ver o marido da Talita ali naquele restaurante não estava ajudando em nada.

— Com licença, Carlos. Volto logo.

Levantei da mesa e sai em direção ao banheiro feminino e Carlos me olhou com desaprovação, algo que não me importei nenhum pouco.

Eu estava me sentindo bastante inquieta há dias e aquilo tinha tido início desde que a Talita havia me mostrado aquele vídeo repugnante do Miguel, com uma loira também repugnante, em uma piscina mais repugnante ainda.

Caminhei apressadamente para o corredor pelo qual eu deveria seguir e entrei no banheiro, fechando a porta com um estalo firme, mas não a bati. Apenas empurrei mais forte que o necessário, pensei comigo mesma.

Parei em frente ao espelho, analisando  meu reflexo com bastante atenção. 

Eu me considerava uma mulher bonita, com meu um metro e setenta de altura, cabelos pretos e lisos em um corte moderno até os ombros, olhos redondos e castanhos como o mel e um rosto afilado, com nariz que parecia estar sempre empinado, mas que na verdade era mais natural do que qualquer pessoa poderia acreditar.

Eu era morena e gostava da minha aparência. Não tinha problemas de auto estima ou qualquer coisa do tipo. Eu sabia muito bem o que tinha de melhor e quando estava interessada em um homem, eu mesma tomava a iniciativa, se aquele fosse o caso.

Contudo, faz quase dois anos que eu não conseguia me interessar por ninguém e aquilo não tinha me preocupado nenhum pouco, até hoje. 

Eu não desejei estar com nenhum homem durante todo esse tempo e agora percebi que estava sentindo falta de uma noite agradável ao lado de alguém que me despertasse daquele torpor que eu havia mergulhado, sem ao menos saber como aquilo tinha acontecido.

Mas Miguel Pontes estava conseguindo mexer comigo e ele seria o último homem com quem eu poderia ter uma “noite agradável”.

— Eu estou precisando de sexo, esta é a verdade. - Falei para o meu reflexo e caí em uma gargalhada. — Já estou até falando sozinha, então, o meu estado é grave. A que ponto eu cheguei.

Balancei a cabeça em descrédito de mim mesma, por estar falando sozinha enquanto estava parada em frente a um espelho do banheiro de um restaurante e quando qualquer pessoa poderia chegar e me presenciar fazer aquilo e acreditar que eu tinha algum tipo de distúrbio psicológico.

Levei a mão à boca para conter a risada e entrei em um dos reservados, pois além de falar sozinha, o assunto era ainda mais constrangedor.

Após fazer o que precisava, saí logo em seguida do banheiro e quando me virava para fechar a porta atrás de mim, acabei esbarrando em alguém que parecia ter vindo ao meu encontro. 

Estava prestes a pedir desculpas para a pessoa, quando percebi que se tratava de Miguel Pontes e senti um estranho arrepio de excitação em meu corpo, algo que me fez ficar ainda mais chateada comigo mesma. Aquilo estava passando do limite, já.

— Você! - Falamos os dois em uníssono.

Nos olhamos como dois adversários em um ringue e eu estava prestes a sair sem dar-lhe o prazer de ouvir qualquer coisa vinda de mim, quando senti sua mão tocar em meu braço.

— Você pode soltar o meu braço? 

Meu tom foi rude, descontando em Miguel toda a minha frustração. Nada mais justo, pois ele era o principal culpado por ela.

— Qual o seu problema? - Ele perguntou sem atender ao meu comando. — Quero apenas conversar com você.

— Estou mandando você tirar suas mãos de cima de mim, agora. - Repeti entredentes.

— O que eu fiz para você me olhar com tanta raiva? - Ele questionou, enquanto soltava o meu braço lentamente e com visível descontentamento. - Nós nem ao menos nos conhecemos!

— Fale por você, senhor Pontes. - Eu disse e virei as costas para ele, voltando a caminhar sem me importar em esclarecer.

— Eu quero apenas entender! - Ele falou abrindo os braços em um gesto de impotência.

Voltei para a mesa onde o Carlos já me aguardava de pé e juntos caminhamos para fora do elegante restaurante.

— Percebi que o Pontes foi na mesma direção que você e estava prestes a ir a sua procura. Imaginei que ele pretendia te abordar.

— Ele tentou. Mas não dei atenção.

— Espero que ele não se torne inconveniente. — Ele falou enquanto andávamos em direção aos nossos respectivos carros. —  Mas caso aconteça, pode contar comigo. Ele não pode usar de intimidação para ter seus interesses atendidos.

Olhei admirada para o Carlos, pois pela primeira vez naquela noite, ele falou algo realmente correto, e ao que parecia, ele não era tão bobo como cheguei a imaginar. 

— Eu agradeço por sua oferta, Carlos. É muito gentil de sua parte.

— Gostaria de poder oferecer mais que isso. Porém, sei reconhecer quando tudo o que posso conseguir é uma boa amizade.

Sorri pela sua honestidade e por ele ter finalmente entendido que nós dois não combinamos realmente. No fim das contas, ele não era tão ruim assim.

Mas não pensei no Carlos por mais nenhum minuto depois que recebi as chaves do meu carro das mãos do manobrista do restaurante e nem durante todo o percurso até o meu apartamento. Eram outros olhos e um sorriso bem mais sacana que não saia da minha mente e que estava começando a afetar os meus hormônios.

Não queria reconhecer, nem para mim mesma, que aquele homem arrogante e safado tinha me afetado desde que o vi pela primeira vez, mas a verdade estava muito clara e mentir para si proprio era algo muito idiota para se fazer.

E mesmo com o tempo estando bem agradável naquela noite, eu fui direto para o banheiro, tomar uma ducha fria e tentar não pensar no homem moreno e alto, com uma covinha no queixo que me fazia suspirar, mesmo contra a minha vontade.

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