Como sempre Marta acorda cedo, se arruma e prepara tudo, logo o cheiro de café fresco se espalha pela casa, misturando-se ao aroma do pão quentinho. Marta ajeita os últimos detalhes na cozinha, mas se vira rapidamente ao ouvir os passos. Eduardo aparece na porta, sem camisa, os cabelos ainda bagunçados do sono. Os dois se encaram por um instante, e então caem na risada.— Bom dia, freirinha. — Eduardo provoca, já pegando uma xícara de café.— Freirinha? — Marta arqueia a sobrancelha, fingindo indignação.— Ora, você fica toda coradinha por nada. Até parece que nunca viu um homem sem camisa.Marta revira os olhos, mas um sorriso brinca no canto de seus lábios. Eles se sentam à mesa, compartilham o café, conversam sobre banalidades. O clima é leve, natural. Então, Eduardo retira uma chave do bolso e a coloca sobre a mesa, empurrando-a suavemente na direção dela.— Quero que fique com isso. É a chave dessa casa. Quando quiser, pode vir. A casa estará sempre à sua disposição.Marta olha
São sete e meia da manhã quando Mônica Molina ajusta a lapiseira entre os dedos e revisa mais uma vez os compromissos do dia. Cada detalhe precisa estar em seu devido lugar, cada reunião agendada no momento certo, sem falhas. Trabalhar para os irmãos Schneider não é para qualquer um. Jonathan, o presidente do Grupo Schneider, é meticuloso, impaciente e brilhante. Islanne, a vice-presidente e responsável pelo financeiro, não fica atrás. Ela tem olhos de águia para os números e uma perspicácia afiada para negócios. Manter a presidência funcionando sem deslizes é um jogo de xadrez, e Mônica se orgulha de dominar cada peça do tabuleiro.A porta do elevador se abre e Jonathan entra, impecável como sempre. Seu olhar sério varre o ambiente, e ele caminha decidido até a sua sala. Ao passar pela secretária, solta um breve:— Bom dia, Mônica.— Bom dia, senhor Schneider. — ela responde prontamente, pegando o seu tablet e o seguindo.Assim que ele se acomoda, ela inicia o repasse da agenda.— S
O som abafado da música reverbera pelo chão, misturando-se ao brilho das luzes neon. Jonathan aperta o copo de whisky entre os dedos, girando o líquido âmbar enquanto observa Ravi, na sala privada. A boate Lust, sempre repleta de figuras poderosas e mulheres irresistíveis, deveria distraí-lo, mas naquela noite, nada parece satisfazê-lo. O peso do desejo reprimido queima, e ele sabe exatamente o motivo. A moça ingênua que habita a sua casa e anda povoando os seus pensamentos a todo momento.— Tá calado demais, cara — Ravi franze o cenho, servindo-se de mais uma dose. — Qual é o problema?— Esqueci que viajo amanhã. Vou sem avisar para a filial do Nordeste. O governo local quer suborno e eu vou dar um jeito nisso pessoalmente.Ravi solta uma risada irônica.— Você e essa sua mania de carregar o mundo nas costas. Mas sei que tem algo mais. Qual é? Mulher?Jonathan se recosta no sofá de couro e logo muda o assunto.— Contratei uma governanta. Está na mansão. Se você aparecer por lá, não
Jonathan desce as escadas da mansão sentindo o aroma forte e familiar do café fresco. Ele franze a testa. Em dias que viaja de madrugada, nunca encontra o café pronto. Ao se aproximar da cozinha, seus olhos captam a cena que o desarma por um instante, Marta, de avental, colocando uma tapioca fumegante no prato. Queijo, presunto e alcaparras. Ela não havia esquecido. Ele se senta sem dizer uma palavra e experimenta a primeira mordida. O sabor está perfeito.— Obrigado, Marta. — diz, sem olhar para ela.Ela apenas assente, com um sorriso discreto. Jonathan retira um cartão de crédito da carteira e entrega a ela.— A senha está anotada aqui. É para as despesas da casa. Se quiser, pode aproveitar minha ausência e fazer as compras do mês. Eduardo estará à sua disposição.Marta pega o cartão, hesitante. Há algo na despedida que a entristece, mas ela não entende o porquê. Jonathan também sente um incômodo, mas empurra a sensação para longe. Com um último aceno de cabeça, ele sai, rápido, e s
A escuridão ao redor de Marta é quente e envolvente, mas, de repente, ela sente um toque. Um arrepio percorre a sua pele nua quando mãos firmes deslizam por seu corpo, explorando-a com uma posse ardente. Ela suspira, o calor se acumulando entre suas pernas antes mesmo de vê-lo.Jonathan.Ele está ali, deitado sobre ela, os olhos intensos cravados nos seus, um sorriso predador nos lábios. Seu toque é exigente, e Marta se contorce sob seu domínio, ansiosa, faminta. As mãos dele descem pela sua cintura, seguram seus quadris, puxam-na para si com urgência.— Você é minha, Marta… — Ele sussurra contra sua boca, a voz rouca, carregada de desejo.A boca quente dele desliza por seu pescoço, pelos sei0s, provocando arrepios e gemidos trêmulos. Ela sente a língua dele, os dentes arrastando-se levemente, a pressão exata para deixá-la louca. Seu corpo responde a cada toque, pulsando, se entregando.Os dedos dele deslizam por suas coxas, afastando-as lentamente. O coração de Marta bate forte, a re
O som ritmado dos saltos de Islanne ecoa pelos corredores do Grupo Schneider. Desde que Jonathan viajou para a filial nordestina, ela assumiu todas as responsabilidades da presidência e vice-presidência. A carga de trabalho a consome de tal forma que mal percebe o tempo passar. Quando Monica entra em sua sala com uma bandeja, trazendo dois pratos fumegantes, Islanne finalmente se dá conta de que já passou da hora do almoço.— Eu sabia que você ia esquecer de comer de novo — diz Monica, colocando a comida sobre a mesa.Islanne sorri cansada e faz um gesto para que sua secretária se sente ao seu lado.— Obrigada, Moni. Se não fosse você, eu desmaiaria aqui mesmo.Elas compartilham uma refeição tranquila, conversando sobre assuntos cotidianos, e comentam sobre a falta de Jonathan enquanto tomam um café após a refeição. Mas logo a rotina as chama de volta. Islanne se joga em reuniões exaustivas, assina contratos e resolve pendências inadiáveis. Quando finalmente volta à sua sala, sentind
Jonathan aperta os punhos sob a mesa de mármore enquanto assiste, com tédio e irritação, ao desfile de promessas vazias e palavras envenenadas que saem das bocas dos políticos à sua frente. O governador fala com pompa, os assessores assentem como marionetes bem treinadas, e alguns empresários cochicham entre si, claramente mais interessados em vantagens do que em desenvolvimento real. Mas Jonathan já conhece esse jogo. Sabe muito bem o que está por trás de cada aperto de mão suado e sorriso ensaiado. E ele está farto.— Chega. — Sua voz ressoa pela sala, cortando o burburinho como uma lâmina afiada. Todos se calam e o encaram, surpresos com sua interrupção. Jonathan se recosta na cadeira, encarando cada um dos presentes com olhos de aço. — Se essa reunião continuar nesse tom ridículo, vou encerrar a operação dessa filial agora mesmo.O governador pigarreia, tentando manter a compostura.— Ora, senhor Schneider, não precisa ser tão radical…— Preciso, sim. — Ele se inclina para frente
O silêncio o engole assim que cruza a porta de casa. Jonathan esperava encontrar luzes acesas, talvez o som baixo da televisão ou até mesmo os passos suaves de Marta pelo corredor. Mas nada. A mansão está mergulhada em uma quietude incômoda, quase cruel. Ele larga a mala no chão e solta um suspiro pesado. Por que diabos essa sensação de vazio o incomoda tanto?Ele sobe as escadas lentamente, como se esperasse que, a qualquer momento, Marta surgisse de algum canto. Mas a única coisa que encontra é o eco dos próprios passos. Passa pela cozinha e vê a louça lavada, a organização impecável, tudo feito por ela. Um pequeno sorriso puxa o canto de sua boca. Ela realmente cuidou de tudo.Ao chegar no corredor dos quartos, ele hesita diante da porta do quarto dela. A ideia de bater passa por sua mente, mas ele se controla. O que diria? Que queria vê-la? Que sentiu sua falta? Isso seria admitir demais, e ele não está pronto para isso.Ele se dirige ao próprio quarto, desfazendo os botões da cam