Cheguei ao escritório radiante, naquela sexta-feira, com um sorriso estampado no rosto. O clima estava agradável, e a luz do sol iluminava a recepção entrada, onde os arranjos florais sobre o balcão de mármore refletiam os raios dourados. Havia uma leve brisa entrando pela janela aberta, balançando as cortinas delicadamente. Estava animada, pois havia finalmente resolvido meus problemas com Estela sem precisar tocar nas joias ou no dinheiro que Vitor me dera.
Entrei na recepção com passos rápidos, sentindo a energia positiva daquela manhã, e percebi que a porta do escritório de Vitor estava entreaberta. Ele já tinha chegado. Caminhei até lá, segurando o copo de café que trouxera, e bati suavemente na porta.
— Posso entrar?
Vitor levantou os olhos do monitor, a expressão concentrada, e fez um gesto para que eu entrasse. Parecia já es
Acordei preguiçosamente na casa de Vitor naquele sábado. O sol da manhã entrava suavemente pelas cortinas entreabertas do quarto, e eu me espreguicei, sentindo a maciez dos lençóis contra a pele. Tateei a cama ao meu lado, mas só encontrei o colchão vazio. Suspirei e passei as mãos pelo rosto, espantando a preguiça. Peguei uma blusa de Vitor no chão, vesti e fui atrás dele, naquele apartamento enorme no qual eu ainda me perdia eventualmente.Caminhei pelo corredor acarpetado, passando pelos quadros minimalistas nas paredes e pelo móvel de design moderno na entrada da sala. Encontrei Vitor na sala de estar, terminando de dar ordens para a governanta. Ele estava claramente nervoso, as sobrancelhas franzidas e o cenho fechado.— Quero tudo impecável quando a assistente social chegar — ele dizia, a voz firme. — Não pode haver absolutamente nada fora do lugar.
Congelei por um momento com a pergunta de Vitor, refletindo sobre como eu poderia responder. Havia muito em jogo. Meu plano, obviamente, era me casar com Vitor e viver uma vida segura ao lado dele e de Clara. Essa era a minha melhor opção, e também a que me faria mais feliz. Mas um pedido para me mudar não era exatamente um pedido de casamento. Eu precisava fazer com que Vitor visse que eu precisava de mais, que não ia simplesmente me mudar. Não era falso moralismo ou resquícios da minha criação religiosa, mas eu precisava ser prática e ter a segurança de que depois que eu tivesse a minha filha de volta, não seria nada fácil tirá-la de mim novamente.Além disso, havia o fator Júlia. Ela era minha melhor amiga e estava comigo tanto nos momentos felizes, quanto nos momentos mais difíceis. Deixá-la sozinha no apartamento, especialmente depois da conversa sobre como nos sentíamos com a presença de Henry, seria uma punhalada pelas costas. Claro, ela provavelmente estava esperando
~VITOR~Na manhã de domingo, acordei cedo e senti a presença de Luna ao meu lado, ainda adormecida. O sol da manhã entrava pela janela, desenhando padrões suaves no quarto. Observei-a por alguns instantes antes de me levantar, tentando não fazer barulho. Estava ansioso para buscar Clara e passar o dia com as duas.Juntei minhas roupas e, depois de tomar um banho rápido, fui até a cama e toquei levemente o ombro de Luna para acordá-la.— Bom dia, meu amor — murmurei.Ela se espreguiçou, um sorriso aparecendo em seus lábios.— Céus, esse colchão é tão gostoso... — disse, preguiçosa. Repentinamente ela sentou-se animada na cama. — Já está na hora de buscar Clara?— Sim, vamos buscá-la na mansão.Luna vestiu-se rapidamente, e em pouco tempo estávamos p
Estava distraindo Clara com uma brincadeira de mãos quando Vitor retornou ao estacionamento. Ele tentou sorrir, mas a tensão estava lá. Sem dizer muito ele apenas abriu a porta para nós duas e seguimos para o aquário. Clara estava empolgada, e os olhos dela brilhavam enquanto contava para mim tudo o que sabia sobre os peixes, como se fosse uma especialista. Ela estava no banco de trás, toda animada.— Luna, você sabia que o peixe-palhaço vive nos corais? Eles são muito amigos das amêndoas e fazem casinha lá!Ouço a risada de Vitor e o som quase me encanta, se não fosse a ruguinha que se alojou entre suas sobrancelhas...— Anêmonas, querida — ele a corrige.— Ame... anêmonas... — Clara testa a palavra.— Sério? Que incrível, meu amor! — respondi, sorrindo para ela pelo retrovisor.Vitor d
Desde a visita ao hospital, Vitor tem estado estranho. Os dias se arrastam lentamente, cada um marcado por uma tensão sutil, mas que estava sem lá, nos rodeando. Sentada à minha mesa, tento me concentrar nos documentos à minha frente, mas meus pensamentos se desviam constantemente para ele, que trabalha na sala ao lado.Vitor tem sido carinhoso, como de costume. Cada manhã, ele me cumprimenta com um beijo suave, segura minha mão com firmeza sempre que pode, como se tentasse assegurar tanto a si quanto a mim que estamos juntos nisso, seja lá o que for "isso". No entanto, sua distração é perceptível. Ele está presente, mas ao mesmo tempo, não está. A preocupação refletida em seus olhos e o modo como frequentemente ele se perde em pensamentos me dizem que as palavras do médico ainda ecoam em sua mente.Ele vai cada vez me passando mais funçõ
Era uma manhã preguiçosa de quinta-feira, e eu ainda estava me arrumando para ir ao trabalho. Julia tinha acabado de sair para a galeria, deixando o apartamento em um silêncio confortável, quebrado apenas pelos meus movimentos enquanto andava pela sala. Enquanto eu vestia minha blusa, minha mente ainda vagava pelas memórias da noite anterior com Vitor. Apesar de todas as preocupações que pareciam rodear nosso relacionamento, tinha sido uma noite incrível! E esperava que não demorasse muito para a gente poder fazer mais disso, sair para qualquer lugar sem se preocupar com os olhos curiosos ou maldosos que poderiam estar nos espionando.De repente, um toque suave ecoou na porta do apartamento. Franzi o cenho, confusa. Henry não era de bater, e Julia nem ao menos precisava, era a casa dela também. Como o bar estava fechado naquele horário, tão pouco imaginei que fosse algum dos clientes per
No momento em que as palavras deixaram meus lábios, o mundo pareceu parar. Vitor me encarava, tentando compreender a magnitude do que eu acabara de revelar. O ar entre nós vibrava com a tensão dos segredos desvendados, e eu podia ver os cálculos sendo feitos em sua mente, as engrenagens girando enquanto ele tentava alinhar essa nova realidade com tudo o que ele pensava saber.O silêncio que se seguiu foi denso, carregado com o peso dos segredos e mentiras, e a incerteza de como avançar a partir dessa revelação que, uma vez feita, não poderia ser desfeita.Finalmente Vitor riu, um riso nervoso e quebrado que reverberou pelo ambiente apertado do apartamento. Havia um brilho de incredulidade em seus olhos, uma recusa em aceitar o que acabava de ouvir.— Luna, pare de besteira, isso não é momento para inventar histórias assim — sua voz era áspera, tingida de desespe
Eu não sabia quanto tempo havia passado desde que Vitor saiu, deixando-me sozinha com a verdade devastadora que agora pesava sobre mim. Jogada no chão da sala, chorei até sentir que não havia mais lágrimas para derramar, apenas um vazio esmagador que me consumia. Minha mente estava um turbilhão de emoções.De repente, ouvi um som suave, a porta do apartamento se abrindo lentamente. Não tive forças para reagir, apenas continuei ali, imóvel, até sentir a presença de alguém ao meu lado. Foi só quando uma mão ergueu meu queixo que percebi que Henry estava diante de mim, seu rosto uma máscara de preocupação e irritação contida.Ele se abaixou e ficou de joelhos ao meu lado, seu toque frio e inesperado contra minha pele quente e úmida de lágrimas. A luz fraca do apartamento realçava as sombras em seu rosto, cr