~VITOR~
Na manhã de domingo, acordei cedo e senti a presença de Luna ao meu lado, ainda adormecida. O sol da manhã entrava pela janela, desenhando padrões suaves no quarto. Observei-a por alguns instantes antes de me levantar, tentando não fazer barulho. Estava ansioso para buscar Clara e passar o dia com as duas.
Juntei minhas roupas e, depois de tomar um banho rápido, fui até a cama e toquei levemente o ombro de Luna para acordá-la.
— Bom dia, meu amor — murmurei.
Ela se espreguiçou, um sorriso aparecendo em seus lábios.
— Céus, esse colchão é tão gostoso... — disse, preguiçosa. Repentinamente ela sentou-se animada na cama. — Já está na hora de buscar Clara?
— Sim, vamos buscá-la na mansão.
Luna vestiu-se rapidamente, e em pouco tempo estávamos p
Estava distraindo Clara com uma brincadeira de mãos quando Vitor retornou ao estacionamento. Ele tentou sorrir, mas a tensão estava lá. Sem dizer muito ele apenas abriu a porta para nós duas e seguimos para o aquário. Clara estava empolgada, e os olhos dela brilhavam enquanto contava para mim tudo o que sabia sobre os peixes, como se fosse uma especialista. Ela estava no banco de trás, toda animada.— Luna, você sabia que o peixe-palhaço vive nos corais? Eles são muito amigos das amêndoas e fazem casinha lá!Ouço a risada de Vitor e o som quase me encanta, se não fosse a ruguinha que se alojou entre suas sobrancelhas...— Anêmonas, querida — ele a corrige.— Ame... anêmonas... — Clara testa a palavra.— Sério? Que incrível, meu amor! — respondi, sorrindo para ela pelo retrovisor.Vitor d
Desde a visita ao hospital, Vitor tem estado estranho. Os dias se arrastam lentamente, cada um marcado por uma tensão sutil, mas que estava sem lá, nos rodeando. Sentada à minha mesa, tento me concentrar nos documentos à minha frente, mas meus pensamentos se desviam constantemente para ele, que trabalha na sala ao lado.Vitor tem sido carinhoso, como de costume. Cada manhã, ele me cumprimenta com um beijo suave, segura minha mão com firmeza sempre que pode, como se tentasse assegurar tanto a si quanto a mim que estamos juntos nisso, seja lá o que for "isso". No entanto, sua distração é perceptível. Ele está presente, mas ao mesmo tempo, não está. A preocupação refletida em seus olhos e o modo como frequentemente ele se perde em pensamentos me dizem que as palavras do médico ainda ecoam em sua mente.Ele vai cada vez me passando mais funçõ
Era uma manhã preguiçosa de quinta-feira, e eu ainda estava me arrumando para ir ao trabalho. Julia tinha acabado de sair para a galeria, deixando o apartamento em um silêncio confortável, quebrado apenas pelos meus movimentos enquanto andava pela sala. Enquanto eu vestia minha blusa, minha mente ainda vagava pelas memórias da noite anterior com Vitor. Apesar de todas as preocupações que pareciam rodear nosso relacionamento, tinha sido uma noite incrível! E esperava que não demorasse muito para a gente poder fazer mais disso, sair para qualquer lugar sem se preocupar com os olhos curiosos ou maldosos que poderiam estar nos espionando.De repente, um toque suave ecoou na porta do apartamento. Franzi o cenho, confusa. Henry não era de bater, e Julia nem ao menos precisava, era a casa dela também. Como o bar estava fechado naquele horário, tão pouco imaginei que fosse algum dos clientes per
No momento em que as palavras deixaram meus lábios, o mundo pareceu parar. Vitor me encarava, tentando compreender a magnitude do que eu acabara de revelar. O ar entre nós vibrava com a tensão dos segredos desvendados, e eu podia ver os cálculos sendo feitos em sua mente, as engrenagens girando enquanto ele tentava alinhar essa nova realidade com tudo o que ele pensava saber.O silêncio que se seguiu foi denso, carregado com o peso dos segredos e mentiras, e a incerteza de como avançar a partir dessa revelação que, uma vez feita, não poderia ser desfeita.Finalmente Vitor riu, um riso nervoso e quebrado que reverberou pelo ambiente apertado do apartamento. Havia um brilho de incredulidade em seus olhos, uma recusa em aceitar o que acabava de ouvir.— Luna, pare de besteira, isso não é momento para inventar histórias assim — sua voz era áspera, tingida de desespe
Eu não sabia quanto tempo havia passado desde que Vitor saiu, deixando-me sozinha com a verdade devastadora que agora pesava sobre mim. Jogada no chão da sala, chorei até sentir que não havia mais lágrimas para derramar, apenas um vazio esmagador que me consumia. Minha mente estava um turbilhão de emoções.De repente, ouvi um som suave, a porta do apartamento se abrindo lentamente. Não tive forças para reagir, apenas continuei ali, imóvel, até sentir a presença de alguém ao meu lado. Foi só quando uma mão ergueu meu queixo que percebi que Henry estava diante de mim, seu rosto uma máscara de preocupação e irritação contida.Ele se abaixou e ficou de joelhos ao meu lado, seu toque frio e inesperado contra minha pele quente e úmida de lágrimas. A luz fraca do apartamento realçava as sombras em seu rosto, cr
Henry me beijava com fervor, suas mãos explorando meu corpo enquanto me acariciava com paixão. Eu estava tão cansada, tão entorpecida pela bebida, que mal conseguia resistir. Minhas tentativas de afastá-lo eram fracas, quase inexistentes, e ele aproveitava para puxar minha cabeça e meu corpo contra o dele, completamente dominado por um desejo que eu não compartilhava.— Henry, por favor... — murmurei, minha voz abafada entre os beijos dele. — Pare...Mas ele insistia, suas mãos se movendo com urgência, apertando minha cintura, subindo pela minha coluna. Eu sentia a pressão de seus lábios contra os meus, o peso de seu corpo cada vez mais próximo. Uma realização do que de fato estava acontecendo ali começou a crescer dentro de mim, mas minhas forças estavam esgotadas.— Henry, por favor, pare... — repeti, tentando me afastar,
~VITOR~Eu saí da casa de Luna, meu coração pesado e minha mente em turbilhão. A descoberta de que não era o pai biológico de Clara já tinha sido devastadora, mas descobrir que Luna só se aproximou de mim por vingança e com a intenção de me tirar Clara era demais para suportar. Cada palavra dela ainda ecoava na minha cabeça, corroendo o pouco que restava da minha paz.Dirigi pelas ruas, sem rumo, durante horas a fio, dando voltas e voltas pela cidade e eventualmente parando em alguma praia para simplesmente observar as ondas. Nem aquilo me relaxava.Quando o sol começou a se pôr, encontrei um bar abrindo. Entrei, sentindo a necessidade urgente de entorpecer a dor. Sentei-me no balcão, pedindo uma bebida forte. O barman me serviu um copo de uísque, e eu o virei de uma vez só, sentindo a queimadura do álcool descendo pela minha
Acordei no dia seguinte, sem saber exatamente onde estava. A claridade suave da manhã filtrava-se pelas cortinas do quarto, banhando tudo com uma luz amena. Olhei ao redor, confusa, tentando reconhecer o ambiente. O quarto era grande, decorado com simplicidade, mas com um toque de sofisticação. A cama de casal em que eu estava deitada tinha lençóis macios e uma colcha branca. Uma poltrona elegante estava posicionada perto da janela, e um tapete de tons neutros cobria parte do chão de madeira polida. Um guarda-roupa de madeira escura ocupava uma parede inteira, e algumas plantas em vasos traziam um pouco de vida ao ambiente.Minha mente ainda estava nebulosa dos acontecimentos da noite anterior. Quando pensei em me levantar, a porta do quarto se abriu e Julia entrou, trazendo uma bandeja de café da manhã. Ela sorriu ao me ver acordada.— Bom dia, amiga — disse ela, sua voz suave e reconfortante.