Era sexta-feira, um dia tipicamente agitado no escritório, mas hoje, curiosamente, as coisas pareciam mais calmas. Eu trouxera uma mala pequena e discreta para o trabalho, preparando-me para passar o fim de semana no apartamento de Vitor. Apesar de estar animada com a perspectiva de um tempo a sós com ele, as ameaças trocadas em minha última conversa com Estela ainda me preocupavam.
Julia tinha feito a pesquisa que me prometeu, mas não descobriu muito além do que já desconfiávamos. Estela tinha estado sozinha na exposição de arte e pelas interações que teve naquela noite, claramente estava tentando se dar bem em cima de algum ricaço. O problema é que uma incrível coincidência tinha caído em seu colo e, agora, ela tinha uma fonte de renda bem mais promissora da qual ela não teria escrúpulos ao tentar explorar.
Sentada à minha mesa, e
Ao final do expediente, o escritório finalmente se esvazia, deixando apenas Vitor e eu. Ele parece ansioso, uma faísca de entusiasmo brilhando em seus olhos enquanto aguardamos o momento perfeito para deixar o prédio sem sermos notados. É uma sensação estranha, essa mistura de segredo e intimidade.Descemos até a garagem em direção ao carro de Vitor. É quase impossível evitar olhar na direção em que Estela nos esperava, encoberta pelas sombras, duas noites atrás. Mas não havia ninguém lá hoje, o que me faz respirar, momentaneamente, aliviada. Esperava que ela cumprisse nossa promessa e aguardasse até nosso encontro ao invés de fazer visitas ou ligações inesperadas.O trajeto até o apartamento de Vitor é preenchido por uma conversa leve e descontraída. Quando chegamos, o edifício em si já &e
Vitor se aconchegou na banheira e me puxou para seus braços, me deixando confortavelmente deitada por cima dele. A água quente borbulhava ao nosso redor, e os jatos da hidromassagem criavam um suave ruído de fundo, quase como uma melodia relaxante. Nós tínhamos nossas taças de vinho em mãos e trocávamos conversas leves e piadas insinuantes enquanto tentávamos comer alguma coisa.— Esse vinho é como você — Vitor murmurou, segurando o cálice contra a luz.— Como assim? — perguntei, curiosa pela comparação.Se ele fosse fazer uma daquelas piadinhas sobre envelhecer bem, eu ia matá-lo! Eu só tinha vinte e seis e Vitor era sete anos mais velho!— Delicado, mas com um toque de ousadia que surpreende quando menos se espera — ele explicou, seus olhos fixos nos meus com uma intensidade que me fez corar.— E
Toda vez que eu olhava para a minha pequena mala, ainda encostada no mesmo lugar que Vitor deixara, eu senti vontade de rir. Tinha sido ingênua ao achar que eu usaria qualquer coisa além do que uma das camisas de Vitor, o final de semana inteiro. E para ser bem honesta... em grande parte do tempo nem isso eu usava.Mas apesar de estar aproveitando qualquer mínima desculpa que tínhamos para acabar nos tocando e escalando as carícias, não era só sobre sexo. Eu adorava as conversas profundas que Vitor e eu tínhamos durante as refeições, especialmente quando ele me falava de Clara e de seus planos para o futuro. Vez ou outro eu via que ele me incluía nesses planos. Mas eu também adorava nossas conversas bestas, nossas piadinhas provocativas, ou apenas quando passávamos tempo juntos assistindo TV.O domingo tinha começado de maneira preguiçosa e perfeita, com Vitor e eu e
Desci o elevador, o coração batendo um pouco mais rápido do que o normal. A pressão de ter que deixar Luna sozinha em meu apartamento, justamente quando estávamos aproveitando uma manhã tão perfeita, pesava sobre mim. O toque suave da minha mão contra a sua, os risos compartilhados sob o vapor quente da hidromassagem, tudo ainda vibrava em minha mente como uma melodia doce que eu não queria que terminasse.Apertei o botão do térreo, sentindo uma pontada de frustração ao pensar no motivo da minha descida abrupta. Hugo, meu advogado, havia alegado alguma urgência sobre o divórcio, algo que, segundo ele, não podia esperar. Suspirei, desejando poder ignorar a ligação e voltar para os braços de Luna, para a segurança e calor que só ela parecia trazer.O elevador deu um leve solavanco ao parar no andar térreo, e as portas se
Enquanto permanecia na adega, o coração batendo com força no peito, tentava me acalmar. O cheiro de madeira e vinho envelhecido permeava o ar, trazendo uma estranha sensação de tranquilidade ao meu esconderijo improvisado. Eu tinha me encolhido atrás de algumas caixas empilhadas, o espaço era apertado, mas suficiente para me manter fora de vista mesmo que elas decidissem abrir aquela porta para verificar.Após alguns minutos em silêncio, a tensão em meus músculos começou a diminuir. Pensei em sair, em verificar se o caminho estava livre. A cada segundo que passava, a urgência de verificar a situação e a necessidade de respirar ar fresco cresciam dentro de mim. No entanto, justamente quando me preparava para deixar meu esconderijo, as vozes ressurgiram, cortando o silêncio como uma faca afiada.— Vamos, sogrinha, temos que terminar logo isso. Ele pode volta
Vitor, percebendo minha hesitação, gentilmente me guiou até o sofá, onde nos sentamos lado a lado, ainda em silêncio. Seu olhar estava cravado em mim, misturando preocupação e uma paciência que ele raramente era capaz de demonstrar com qualquer pessoa além de mim e Clara.— Luna, o que quer que seja, você sabe que pode me contar.Mas eu não podia, podia? Eu precisava refletir cuidadosamente sobre os rumos que eu precisava que aquela conversa tomasse. Se eu falasse sobre toda a armação de Marina e Eloísa, desde a gravidez falsa, eu teria que entrar no fato de que eu era a mulher largada sozinha no quarto daquele hospital e que teve a filha roubada. Eu teria que revelar, que a menininha que Vitor tanto amava e pensava ser sua filha, era, na verdade, minha garotinha. E eu não podia fazer isso.Por outro lado, ele precisava urgentemente saber sobre a arma&cced
Naquela segunda-feira, o escritório retomou sua agitação habitual. Em meu posto na recepção exclusiva do escritório de Vitor, eu tentava manter a compostura de uma secretária eficiente, mas meu coração batia em um ritmo irregular. A cada vibração do meu celular, um sobressalto percorria meu corpo, esperando que fosse minha irmã do outro lado da linha com mais uma de suas ameaças veladas ou pedidos absurdos.Eu digitava um e-mail, mas minha atenção estava dividida. A cada frase que montava, uma olhada para o celular. O silêncio do meu telefone era tanto um alívio quanto uma fonte de ansiedade — nenhum sinal de Estela ainda, mas até quando?Tentei me concentrar nos e-mails e nas tarefas administrativas, mas cada alerta de mensagem fazia meu estômago revirar. Ao mesmo tempo, o som abafado das vozes vindas do escritório de Vitor ma
A noite havia caído suave sobre a cidade, trazendo consigo uma calma relativa que pouco fazia para acalmar o turbilhão em meu interior. Ao chegar em casa, exausta não só pelo peso das minhas funções rotineiras mas também pelos pesos emocionais que carregava, encontrei Julia já acomodada, uma garrafa de vinho aberta entre nós como um velho amigo que promete conforto sem exigir nada em troca. Nos aconchegamos no sofá, o tecido velho acolhendo nossos corpos cansados, cada uma segurando uma taça, prontas para desfiar o novelo de complicações que tinha se tornado minha vida.— Então, você não vai acreditar no que aconteceu hoje no trabalho — comecei, minha voz carregada de um cansaço que permeava cada palavra, ressoando mais fundo do que o usual.Julia me lançou um olhar de preocupação, seus olhos escuros fixos nos meus enqua