Naquela segunda-feira, o escritório retomou sua agitação habitual. Em meu posto na recepção exclusiva do escritório de Vitor, eu tentava manter a compostura de uma secretária eficiente, mas meu coração batia em um ritmo irregular. A cada vibração do meu celular, um sobressalto percorria meu corpo, esperando que fosse minha irmã do outro lado da linha com mais uma de suas ameaças veladas ou pedidos absurdos.
Eu digitava um e-mail, mas minha atenção estava dividida. A cada frase que montava, uma olhada para o celular. O silêncio do meu telefone era tanto um alívio quanto uma fonte de ansiedade — nenhum sinal de Estela ainda, mas até quando?
Tentei me concentrar nos e-mails e nas tarefas administrativas, mas cada alerta de mensagem fazia meu estômago revirar. Ao mesmo tempo, o som abafado das vozes vindas do escritório de Vitor ma
A noite havia caído suave sobre a cidade, trazendo consigo uma calma relativa que pouco fazia para acalmar o turbilhão em meu interior. Ao chegar em casa, exausta não só pelo peso das minhas funções rotineiras mas também pelos pesos emocionais que carregava, encontrei Julia já acomodada, uma garrafa de vinho aberta entre nós como um velho amigo que promete conforto sem exigir nada em troca. Nos aconchegamos no sofá, o tecido velho acolhendo nossos corpos cansados, cada uma segurando uma taça, prontas para desfiar o novelo de complicações que tinha se tornado minha vida.— Então, você não vai acreditar no que aconteceu hoje no trabalho — comecei, minha voz carregada de um cansaço que permeava cada palavra, ressoando mais fundo do que o usual.Julia me lançou um olhar de preocupação, seus olhos escuros fixos nos meus enqua
Sentada à mesa do restaurante chique no shopping próximo ao trabalho, meu coração batia de maneira irregular, a ansiedade se enroscando em meu estômago enquanto eu checava meu celular repetidamente. Cada vibração falsa, cada movimento ao meu redor, aumentava meu nervosismo. A parte de mim que ainda abrigava esperança, por menor que fosse, desejava que Estela mudasse de ideia, que desistisse não só do encontro, mas de toda a chantagem. Porém, essa parte da minha esperança foi se desfazendo conforme eu observava, através do grande vidro do restaurante, a figura de Estela se aproximando.Ela caminhava com uma confiança exagerada, vestindo roupas chiques que mais pareciam gritar seu desejo de se provar. A cada passo que Estela dava em direção ao restaurante, minha ansiedade crescia em proporções igualmente grandes. O modo como ela balançava a bolsa e
~VITOR~Saí cedo do trabalho naquela terça-feira, uma raridade para mim, mas necessária. Precisava desanuviar um pouco, especialmente com tudo o que estava acontecendo. O campo de golfe no Clube Milani era um lugar perfeito para isso. Os gramados estavam impecáveis, um tapete verde que se estendia até onde a vista alcançava, pontuado por bandeiras que tremulavam suavemente com a brisa do final da tarde.Ao chegar logo encontrei Matt Lennox, Adam Benatti e Otto Milani. Matt e Otto eram velhos amigos dos tempos de natação, companheiros de muitas competições e desafios. Adam, por outro lado, era um amigo mais recente, mas tinha se mostrado um aliado valioso no mundo dos negócios.— Vitor, bro, finalmente tirou um tempo para si mesmo? — Otto brincou, me entregando um taco.— Parece que sim — respondi, sorrindo enquanto pegava o taco. — E pa
Eu estava sentada à minha mesa, digitando freneticamente no computador enquanto navegava por páginas de empréstimos online e sites de venda de joias. Meu coração pesava a cada nova aba aberta. O rosto de Estela, com seu sorriso cruel, ficara gravado na minha mente enquanto ela ditava os termos da chantagem. Cem mil reais por mês. Como se fosse algo simples de conseguir.Por que eu aceitei isso? Me perguntei, passando uma mão trêmula pelo cabelo. Ela era minha irmã, e mesmo com tudo o que havia feito, eu sentia um resquício de responsabilidade. Estela não era a garota inocente que eu me lembrava, mas ainda era sangue do meu sangue. A verdade, no entanto, era que ela me prendia contra a parede, e a ameaça de perder Clara e Vitor era sufocante.Suspirei e cliquei em uma das abas, onde tinha começado a cotar as joias que Vitor me dera durante nossa viagem a Paris. Colares, brincos, pul
~VITOR~Quando Luna saiu batendo a porta, fiquei sozinho na minha sala, o eco da batida ainda reverberando pelo ar. Tentei ignorar a sensação de vazio que tomou conta do ambiente. Puxei um relatório da mesa e o coloquei diante de mim, mas a mente estava inquieta, vagando entre o desejo de ajudar Luna e a indignação de que ela recusasse meu apoio. Ela era minha namorada. Eu tinha o direito de ajudá-la se ela precisava!Passei as mãos pelos cabelos, respirando fundo para acalmar meus nervos. Abri o notebook e comecei a revisar alguns e-mails, respondendo solicitações urgentes. A concentração, no entanto, era constantemente interrompida pela memória da expressão furiosa de Luna.Meu olhar desviou-se para a porta quando ela se abriu. Por um breve momento, minha expressão suavizou-se, esperando encontrar Luna de volta, arrependida de sua cena. Mas nã
O ar fresco do parque ajudava a clarear meus pensamentos enquanto eu caminhava lentamente, tentando acalmar a irritação que fervia dentro de mim. As árvores dançavam suavemente ao vento, e as crianças riam enquanto corriam e brincavam ao meu redor, mas minha mente estava a quilômetros de distância.Vitor me transferir um milhão de reais era algo que eu não sabia como processar. De um lado, ele apenas queria me ajudar, e eu sabia que essa quantia não significava muito para ele. Ele gastava trezentos mil com balões de festa e havia construído um castelo no quintal para o aniversário de Clara. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia ignorar a sensação de que ele estava tentando me comprar, de que esse dinheiro viria com uma etiqueta de preço emocional.Sentei-me em um banco próximo ao lago, observando os patos nadarem, enquanto meus pensamentos continuava
~VITOR~Clara parecia animada, saltitante ao meu lado, enquanto Marina mantinha um sorriso forçado e uma expressão cuidadosa, como se estivesse prestando atenção ao menor sinal de desconforto meu. Fomos ao shopping próximo ao prédio da empresa para almoçar num restaurante sofisticado que, infelizmente, também permitia a Marina fazer suas encenações.Ela já tinha começado a se ajeitar para os vídeos e fotos logo que entramos no restaurante. Pedi uma mesa reservada, mas Marina insistiu em ficar num espaço mais aberto, dizendo que “a luz era melhor”. Assim, eu me encontrava ali, tentando ao máximo interagir com Clara enquanto Marina fazia de tudo para posar como a típica mãe de família feliz.— Tire uma foto nossa, Vitor. — Marina pediu, segurando Clara de forma teatral enquanto sorria para a câmer
O hospital estava lotado, mas Felipe e eu conseguimos encontrar a recepção rapidamente. Fui diretamente ao balcão e perguntei pela sala onde Vitor estava esperando por Clara. A recepcionista me lançou um olhar hesitante, mas depois de verificar algo no sistema, fez um sinal afirmativo com a cabeça.— O senhor Oeri já deixou tudo autorizado. Por favor, sigam-me.Seguimos a enfermeira através dos corredores até uma sala isolada onde Vitor e Marina aguardavam. Fiquei completamente desconfortável, eu não sabia que Marina estava lá. Nós nunca tínhamos sido colocadas uma diante da outra assim, em um espaço tão restrito, depois que comecei a me relacionar com Vitor. Mas... tentei ignorar a situação.Pude sentir a preocupação estampada no rosto de Vitor quando entrei. Marina, por outro lado, parecia mais incomodada do que preocupada.