Sophie Narrando
Meu nome é Sophie. Tenho 30 anos muito bem vividos e aproveitados. Cabelos ruivos, intensos como minha personalidade. Lisos, brilhantes, caem até o meio das costas e nunca passam despercebidos. Meus olhos são castanho-claros, com aquele tom dourado que costuma prender olhares por tempo demais. E eu sei disso. Sempre soube. Sou o tipo de mulher que entra em um ambiente e todos param para olhar. Não porque eu peço atenção, mas porque ela me pertence. Sempre fui assim. Sabe aquela mistura de classe, beleza e um toque de perigo? Então. Eu sou isso. Everton me conheceu no auge. Eu era tudo o que ele achava que queria. Inteligente, independente, envolvente. E eu gostava do jogo. De ver como ele tentava me controlar… e fracassava. Mas com o tempo ele foi ficando mais frio, mais distante. Até que, um dia, simplesmente decidiu que não fazia mais sentido. Como se alguém como eu pudesse ser descartada assim, como um acessório velho. Mas tudo bem. Eu dei o tempo dele. Fiquei na minha. Observei. Só que agora, do nada, ele volta a mostrar reações. E tudo por causa daquela mulherzinha loira de olhos verdes. Priscila. Acha mesmo que vai ser assim tão fácil? Ah, meu bem… Everton pode até fingir que me esqueceu. Pode me olhar torto, revirar os olhos, tentar manter o controle. Mas eu o conheço. E sei exatamente onde tocar pra fazer ele perder o rumo. Essa história ainda está longe de acabar. Eu descobri onde ela trabalha. Claro que descobri. Nada que um pouco de pesquisa e os contatos certos não resolvam. Priscila agora é gerente de uma loja. Achei… curioso. Achei fofo, até. A mulher que, aparentemente, virou o mundo do Everton de cabeça pra baixo agora passa o dia dobrando roupas e organizando vitrines. Era o cenário perfeito. Me vesti com classe, como sempre. Um vestido justo, preto, salto fino, cabelo impecável e aquele perfume marcante que Everton adorava. O tipo de presença que ninguém ignora. E fui. Entrei naquela loja como se estivesse prestes a comprar o lugar inteiro. Olhares me seguiram, claro. Mas o único olhar que me interessava era o dela. Assim que bati os olhos em Priscila, soube que era ela. Cabelos loiros presos num coque simples, olhos verdes que tentavam parecer fortes, mas estavam cheios de dúvidas. Ela tinha aquela aparência de mulher que tenta dar conta de tudo, sabe? Filhos, trabalho, emoções… Só que eu nasci pra destruir esse tipo de segurança frágil. Fingi não saber quem ela era. Fingi ser apenas uma cliente qualquer. E com o melhor dos meus sorrisos, fui direto ao ponto: — Com licença… Eu gostaria de ser atendida pela gerente. Só por ela. Pode chamar, por favor? Ela hesitou. Eu vi. Mas logo se recompôs, como se colocasse uma máscara profissional. — Sou eu mesma, posso te ajudar. Ah, querida… Pode apostar que pode. Sorri de lado, me aproximei e olhei nos olhos dela. Ela sustentou o olhar. Fofa. Mas havia algo ali… um brilho de desconforto. Ela sentiu. Sentiu que aquela conversa não ia ser só sobre roupas. — Estou procurando algo marcante. Sexy. Um pouco provocante, mas ainda assim elegante. Sabe… algo que diga sou a mulher que pode ter o que quiser. O rosto dela endureceu sutilmente. Bingo. — Claro. Acho que tenho algumas peças que podem te interessar — ela respondeu, já tentando manter a postura. Ela me levou até uma arara e começou a mostrar algumas opções. Mas eu não queria roupa. Queria ver como ela reagia. Como lidava com a presença de alguém que fazia parte do passado do homem que agora ela tentava — desesperadamente — manter no presente. — Você tem filhos? — perguntei, como quem não quer nada, com a maior das caras de pau. Ela me olhou, surpresa, talvez tentando entender de onde vinha aquela pergunta. Mas antes que respondesse, completei, com um sorrisinho: — É que você parece tão… madura. Forte. Aquelas mulheres que carregam o mundo nas costas. Sempre admirei esse tipo. Só que, às vezes, esse tipo de mulher acaba perdendo o que mais quer, né? Por estar ocupada demais cuidando de tudo. E de todos. Deixei a frase no ar. Um veneno doce. Sutil. Mas certeiro. Agora é esperar. Porque eu nunca jogo pra perder. Ela fingiu que não se abalou. Priscila. A gerente perfeita, educada, profissional. Mas eu vi. Eu senti. A tensão no maxilar. O jeito que ela apertou os dedos na arara de roupas. A forma como os olhos verdes, que tentavam ser firmes, brilharam por um segundo com algo que parecia... raiva. Ou medo. Talvez os dois. Continuei sorrindo. Eu sou boa nisso. Em ser doce com a ponta do punhal escondida nas palavras. Ela tentou se livrar de mim o mais rápido possível, me mostrando um vestido vermelho, como se aquele tecido fosse me distrair. Mas eu não vim ali pra comprar. Eu vim pra marcar território. Peguei o vestido, encostei no corpo e disse: — Você acha que o Everton iria gostar? Ele sempre disse que eu ficava maravilhosa de vermelho. Ah, a menção ao nome dele fez efeito imediato. Foi como atirar gasolina no fogo. Ela tentou não reagir, mas o olhar dela tremeu. Por um instante, a máscara quase caiu. E então, com a cara mais lavada desse mundo, ela respondeu: — Eu acho que ele já tem coisas mais importantes pra admirar do que roupas antigas. Touché, Priscilinha. Você tem garra. Mas eu sou tempestade. Ri. Um riso baixo, quase divertido. Ela estava tentando me enfrentar — e isso só deixava tudo mais interessante. — Pode ser. Mas você sabe como os homens são, né? Sempre têm recaídas por coisas… antigas. Deixei o vestido nos braços dela e passei devagar, roçando meu ombro no dela de propósito. Fiz questão de deixar o perfume no ar. — Obrigada pelo atendimento, gerente. Foi… inesquecível. E fui embora. Sem pressa. De salto firme e olhar altivo. Porque eu sabia. Agora ela estava com a cabeça cheia. E quando uma mulher como Priscila perde o controle… ela comete erros. E eu vou estar lá. Observando. Esperando. Porque ninguém tira Everton de mim sem lutar. E eu não costumo perder.Priscila Narrando Eu sabia que algo estava errado. A maneira como aquela mulher entrou na loja, como se fosse a dona do lugar, com aquele sorriso provocador e olhar de quem já havia vencido a batalha antes de começar. Cada palavra dela foi como uma agulha fincada, me fazendo questionar o que estava acontecendo. E, pior, como tudo o que ela dizia mexia comigo de um jeito que eu não queria sentir.Mas eu não poderia demonstrar nada. Não na frente dela.Eu sou gerente, certo? Sou a mulher que está controlando sua vida, suas escolhas, sua carreira. Eu não tenho espaço para ser vulnerável, para ser mexida por uma ex do passado, por alguém que já não faz parte da vida de Everton. Eu não posso ser fraca. Não posso.Mas, caramba, como é difícil ignorar a provocação dela. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. Não me bastava ser profissional e atender aquela mulher como qualquer cliente. Não. Ela precisava me tocar, me fazer lembrar de Everton de um jeito que eu não queria.— Ele sempre d
Everton Narrando Se Priscila acha que vai se livrar de mim tão fácil assim, está muito enganada. Eu sei que estou mexendo com as emoções dela, eu sei que ela não vai me esquecer, e eu não vou deixar isso acontecer de novo. Não vou ser descartado dessa maneira, não depois de tudo que passamos, de tudo que eu senti por ela. Não é fácil, nem para ela nem para mim, mas agora é pessoal.Eu a vi indo embora, a vi fechar aquela porta, e algo dentro de mim me dizia que era a última vez que eu iria ver a Priscila daquele jeito. Ela estava se afastando, se guardando, e isso me deixava ainda mais determinado a fazer o que fosse preciso para deixá-la entender que eu não sou mais o mesmo. Que o Everton de antes, aquele que a deixou ir, não existe mais. Eu mudei. E se ela quiser me afastar, vai ter que lidar comigo de outra maneira.Mas antes de resolver isso com ela, preciso entender o que está acontecendo com Sophie. Eu sabia que ela estava voltando a fazer das suas, mas agora ela foi longe dema
Sophie Narrando Eles acham que eu sou o problema. Que sou a ex louca, a vilã da história. Mas ninguém se pergunta o que me fez ser assim. Ninguém quer saber o que eu suportei enquanto ele ficava indo e vindo, entrando e saindo da minha vida como se eu fosse uma opção. Como se eu fosse descartável.Ver aquela loirinha toda certinha com ele me deu náuseas. Priscila. Até o nome tem cara de mulher boazinha, dessas que fingem que são doces, mas no fundo são frias, calculistas. Ela conseguiu o que eu queria sem nem se esforçar. E ainda quer bancar a superior.Quando descobri onde ela trabalhava, foi quase divertido. Saber que ela é só uma gerente de loja e ainda se acha melhor do que eu... ri sozinha. Claro que eu fui lá. Me montei inteira, como uma cliente rica, poderosa. Pedi pra ser atendida por ela só pra ver de perto o que o Everton tanto viu naquela mulher.E quer saber? Ela ficou desconcertada. Foi delicioso. O olhar dela querendo manter a pose, o medo escondido atrás de uma falsa f
Priscila Narrando Acordei mais tarde do que o normal, e por alguns segundos, fiquei ali deitada, ouvindo o silêncio gostoso da casa. O sol invadia meu quarto pelas frestas da cortina, aquecendo meus pés. Estiquei o corpo devagar, sentindo o alívio de não precisar correr, não precisar vestir a pressa como roupa de trabalho.Levantei, prendi o cabelo em um coque frouxo e fui direto pra cozinha. Ainda de pijama, com os pés descalços no chão frio, comecei a preparar o café da manhã. O cheiro do pão tostando na sanduicheira, o barulhinho do café coando... tudo isso me dava uma sensação de normalidade que eu prezava com todas as forças.Hoje era só eu e o meu filho. Ele ainda dormia, mas sabia que logo apareceria com os cabelos bagunçados, arrastando os pés e com fome de um leãozinho.Enquanto quebrava os ovos na frigideira e mexia distraidamente, pensei em tudo que havia acontecido nos últimos dias. Sophie aparecendo na loja... Everton se reaproximando... Meu coração parecia um campo de b
Priscila Narrando Me chamo Priscila e tenho 27 anos. Sou loira, de cabelos lisos que caem até a metade das costas, olhos verdes que todo mundo sempre diz que chamam atenção e eu confesso que já usei isso a meu favor mais de uma vez. Meus cílios são naturalmente longos, o que me poupa alguns minutos na maquiagem, e minha boca... bom, já ouvi que é bonita demais pra ficar calada. Meu corpo? Sempre cuidei dele. Nada exagerado, mas o suficiente pra me sentir bem quando me olho no espelho e fazer alguns olhares se virarem quando passo. Não sou perfeita, mas tenho meu charme. E aprendi, depois de tudo que vivi, que esse charme vai muito além da aparência.Hoje, além de ser mãe de um menino incrível, sou gerente de uma loja. Uma mulher que já amou, que já se decepcionou, mas que decidiu recomeçar. O que eu não esperava... era que o passado, em forma de um CEO arrogante e sexy, fosse bater na minha porta. Ou melhor, entrar pela porta da loja. E bagunçar tudo outra vez.Lembro como se fosse
Everton Narrando Me chamo Everton, tenho 31 anos e aprendi cedo que nada nesse mundo vem de graça. Cabelos castanhos escuros, olhos da mesma cor intensos, dizem. Minha barba é sempre bem feita, porque eu gosto de manter tudo no controle, até a imagem que passo. Corpo definido, porque disciplina é algo que levo a sério tanto nos negócios quanto na cama. Não nasci em berço de ouro. Conquistei tudo o que tenho com estratégia, suor e, sim, uma boa dose de frieza. Hoje, sou CEO de uma das empresas mais promissoras do setor, com contratos milionários, viagens internacionais, e mais gente querendo minha atenção do que eu consigo contar.Mas nada disso importa quando eu penso nela.Priscila.A mulher que eu deixei pra trás quando ainda era um ninguém tentando se tornar alguém. A mulher que, mesmo depois de anos, ainda habita meus pensamentos nas noites mais silenciosas. Eu construí um império... mas o trono parece vazio sem ela.Voltei não só pelo sucesso. Voltei pra buscar o que realmente
Priscila Narrando O dia tava corrido na loja. Eu tava ocupada com estoque, notas, clientes, tentando manter a mente longe dele. Do maldito Everton. Mas era impossível. Desde que ele apareceu, eu me sentia como se tivesse acordado dentro de um terremoto emocional. Um caos silencioso por dentro.Então o motoboy chegou.— Entrega pra gerente — ele disse, e me estendeu uma caixinha pequena, sem remetente.Arqueei a sobrancelha, estranhei, mas aceitei. Voltei pro escritório, fechei a porta e sentei com a caixa sobre a mesa. Meu coração já começou a bater mais forte antes mesmo de abrir. Tinha algo ali. Algo que me chamava como se já fosse parte de mim.Abri a tampa devagar.O lenço.Meu lenço.Azul claro, com meu cheiro de anos atrás… um cheiro que ele não devia mais lembrar. Mas lembrava. E guardou.Engoli seco. Meus dedos tremiam quando toquei o tecido. Eu não usava aquilo desde… desde as noites com ele. Quando o mundo lá fora era pesado demais e o peito dele era o único lugar que fazia
Everton Narrando Eu sempre soube o que queria. Desde pequeno, vi o que o mundo tinha a oferecer e, ao invés de aceitar a vida como ela era, decidi moldá-la do meu jeito. O caminho não foi fácil, mas nada realmente valioso é. E aqui estou, com 31 anos, meu próprio império, e as pessoas que nunca acreditaram em mim agora se curvam. Mas, no fundo, não é disso que eu preciso.O que eu realmente preciso… é dela.Priscila.Sempre foi ela. Mesmo quando eu tentei me convencer de que a vida profissional, o sucesso e o reconhecimento eram o suficiente, havia um buraco. Um vazio. Algo que eu não conseguia preencher. E, honestamente, nunca pensei que fosse encontrá-la de novo, depois de tudo que aconteceu. Mas o destino tem seus próprios planos, e, por algum motivo, ele me trouxe de volta pra ela.O cheiro do perfume dela ainda paira no ar quando fecho os olhos. O som da risada dela, aquele jeito despreocupado, como se nada no mundo pudesse quebrar sua essência. Mas eu sabia que ela estava quebr