2- Everton

Everton Narrando

Me chamo Everton, tenho 31 anos e aprendi cedo que nada nesse mundo vem de graça. Cabelos castanhos escuros, olhos da mesma cor intensos, dizem. Minha barba é sempre bem feita, porque eu gosto de manter tudo no controle, até a imagem que passo. Corpo definido, porque disciplina é algo que levo a sério tanto nos negócios quanto na cama. Não nasci em berço de ouro. Conquistei tudo o que tenho com estratégia, suor e, sim, uma boa dose de frieza. Hoje, sou CEO de uma das empresas mais promissoras do setor, com contratos milionários, viagens internacionais, e mais gente querendo minha atenção do que eu consigo contar.

Mas nada disso importa quando eu penso nela.

Priscila.

A mulher que eu deixei pra trás quando ainda era um ninguém tentando se tornar alguém. A mulher que, mesmo depois de anos, ainda habita meus pensamentos nas noites mais silenciosas. Eu construí um império... mas o trono parece vazio sem ela.

Voltei não só pelo sucesso. Voltei pra buscar o que realmente importa. E vou ter. Porque quando eu quero algo, eu faço acontecer. E dessa vez, não vou aceitar perder.

Assim que entrei na loja, o sininho tocou. Aquele som irritante que eu normalmente ignoraria. Mas naquele instante, ele me avisou: algo estava prestes a mudar.

E mudou.

Meus olhos a encontraram quase que de imediato, como se o universo tivesse armado tudo pra que eu a visse ali, de costas, mexendo em alguma arara de roupas.

Loira. Cabelos soltos, corpo curvilíneo, mais mulher do que eu lembrava. Priscila.

Meu coração esse idiota traidor deu um pulo no peito. Fazia anos que eu não a via. Anos tentando focar no trabalho, em outras mulheres, em metas, lucros, fusões… Mas nada, absolutamente nada, me preparou pra vê-la de novo. Ali. Tão perto.

Quando ela virou e me olhou, eu soube. Ainda era ela.

Aquele olhar. Verdes. Grandes. Intensos. Os mesmos que me foderam a cabeça por tanto tempo. Os cílios longos, a boca carnuda, firme… Eu conhecia cada traço, mas vê-la ao vivo, ali, me encarando com aquela mistura de choque e resistência, foi como levar um soco e gostar.

— Priscila… — falei o nome dela como uma promessa, uma maldição, uma saudade que apertava o peito. — Você tá ainda mais linda do que eu lembrava.

Ela tentou se manter firme, eu vi. Mas seus olhos me traíram. Eles me examinaram, mesmo contra a vontade. E eu soube: o fogo ainda tava lá. Escondido, mas vivo.

Só precisei chegar mais perto. Sentir sua respiração falhar. O jeito como ela engolia seco.

Ela tentou resistir. Claro que tentou. A Priscila sempre foi intensa. Sempre quis parecer no controle.

Mas eu sei exatamente onde tocar. O que dizer. E não importa quanto ela lute... Eu voltei pra ela. E não saio daqui sem tê-la de novo. Toda.

Saí da loja com o cheiro dela ainda grudado em mim. Doce, suave… igual à lembrança que me assombra há anos.

Entrei no carro, bati a porta com força e deixei a cabeça cair contra o encosto. Merda. Eu achei que estaria preparado. Achei que meu autocontrole, treinado em reuniões tensas, negociações milionárias e decisões que podiam destruir ou salvar empresas, fosse suficiente pra lidar com ela.

Mas não. A Priscila me desmonta com um olhar.

Fechei os olhos por um instante e deixei as lembranças invadirem. Ela deitada no meu peito, rindo de alguma besteira que eu disse. Ela me esperando no portão depois de um dia longo, com aquele sorriso que me fazia esquecer do mundo. Ela dizendo que acreditava em mim, mesmo quando eu não acreditava em mim mesmo.

E depois, o silêncio.

A partida.

Eu fui embora porque achei que precisava crescer, vencer, provar meu valor. Tinha medo de arrastá-la comigo pra uma vida instável, cheia de riscos. Eu não tinha nada pra oferecer naquela época. Nem grana, nem estabilidade. Só sonhos grandes demais pra caber na nossa realidade.

Então cortei tudo.

Foi covardia, eu sei. Mas também foi amor. O tipo de amor que sacrifica, mesmo doendo. Só que agora eu voltei. E ela não tá mais sozinha.

Ela tem um filho. Um filho que não é meu. E isso... isso mexe comigo de um jeito que eu ainda não sei como lidar. Mas de uma coisa eu tenho certeza: Priscila ainda é minha. E eu vou fazer ela lembrar disso. Com toque, com palavra, com presença.

Ela pode resistir o quanto quiser. Mas eu voltei pra ficar.

Deixei a loja, mas minha mente ficou lá. Nela. Nos olhos dela tentando esconder o que o corpo gritava. Ela pode negar com palavras, com postura, com a porra de um olhar gelado… mas eu sei quando uma mulher ainda me deseja. E Priscila tá longe de ser indiferente.

Foi só chegar em casa e abrir aquela gaveta que eu não tocava há anos. No fundo, bem guardado, como um segredo que nunca tive coragem de jogar fora, estava aquilo. Um dos pequenos detalhes dela que ninguém mais tem. Só eu.

Era um dos lenços que ela usava no cabelo quando dormia comigo. Azul claro, com perfume de flor misturado ao cheiro dela. Ainda tinha seu cheiro, mesmo depois de tanto tempo. Eu guardei aquilo como quem guarda o coração que não teve coragem de pedir de volta.

E agora... era a hora certa.

Peguei uma caixa pequena, envolvi o lenço com cuidado e escrevi um bilhete. Direto. Provocativo. Do jeito que eu sabia que mexeria com ela.

— Algumas coisas a gente não esquece, Pri. Outras, a gente guarda pra nunca perder o gosto. Você ainda tem o mesmo cheiro.

– E.

Fechei a caixa, pedi pra um motoboy entregar direto na loja. Sem remetente. Sem explicações. Só ela, o lenço, e as lembranças.

Ela vai ler. Vai tocar. Vai lembrar. E quando lembrar, vai tremer. Porque comigo, nada foi pequeno. Nem o amor. Nem o desejo. Nem a dor.

Agora, vamos ver até quando ela aguenta fingir que esse fogo morreu.

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