Priscila Narrando
Me chamo Priscila e tenho 27 anos. Sou loira, de cabelos lisos que caem até a metade das costas, olhos verdes que todo mundo sempre diz que chamam atenção e eu confesso que já usei isso a meu favor mais de uma vez. Meus cílios são naturalmente longos, o que me poupa alguns minutos na maquiagem, e minha boca... bom, já ouvi que é bonita demais pra ficar calada. Meu corpo? Sempre cuidei dele. Nada exagerado, mas o suficiente pra me sentir bem quando me olho no espelho e fazer alguns olhares se virarem quando passo. Não sou perfeita, mas tenho meu charme. E aprendi, depois de tudo que vivi, que esse charme vai muito além da aparência. Hoje, além de ser mãe de um menino incrível, sou gerente de uma loja. Uma mulher que já amou, que já se decepcionou, mas que decidiu recomeçar. O que eu não esperava... era que o passado, em forma de um CEO arrogante e sexy, fosse bater na minha porta. Ou melhor, entrar pela porta da loja. E bagunçar tudo outra vez. Lembro como se fosse ontem o dia em que assinei os papéis do divórcio. Estava sentada naquela sala fria, com as mãos suando e o coração pesado não de amor, mas de alívio. Sim, alívio. Porque por mais que aquilo fosse o fim oficial de uma história, era também o começo da minha liberdade. Meu ex-marido estava do outro lado da mesa, com o mesmo olhar indiferente que usou nos últimos anos de casamento. Um homem que um dia achei que amava... e que depois descobri que só amava a si mesmo. Eu tinha 25 anos quando entrei naquela relação achando que estava fazendo a coisa certa. E dois anos depois, estava ali, com um filho pequeno nos braços e a certeza de que eu merecia mais. Muito mais. Ele sequer questionou nada. Só assinou. Sem emoção, sem uma palavra. E isso doeu. Não porque eu ainda o amava já não amava fazia tempo mas porque eu percebi que ele nunca me enxergou de verdade. Nunca viu a mulher que eu era, só o papel que eu cumpria. Naquele dia, quando saí do cartório com os olhos marejados, não era tristeza. Era libertação. Eu abracei meu filho com força e prometi pra mim mesma: Agora é por você. E por mim também. Voltei ao presente com o som da campainha da porta da loja tocando aquele sininho agudo que sempre avisa a entrada de um cliente. Estava distraída organizando algumas peças na vitrine quando ouvi os passos firmes e o perfume amadeirado invadindo o ar, marcante demais pra ser esquecido. Virei o rosto. E então vi ele. Everton. Meu coração parou por um segundo. Ou dois. Talvez mais. Ele estava ali. Alto, imponente, terno sob medida abraçando o corpo como se tivesse sido desenhado milimetricamente pra ele. Os cabelos castanhos perfeitamente penteados, a barba bem-feita e aquele olhar... o mesmo olhar que um dia me fez perder o juízo. Ele me viu. E sorriu. Um sorriso lento, perigoso. O tipo de sorriso que não pede permissão invade. — Priscila... — ele disse, como se meu nome fosse um segredo proibido em seus lábios. — Você tá ainda mais linda do que eu lembrava. Engoli em seco. Meu coração batia rápido demais. Não era só surpresa. Era desejo misturado com raiva, com memórias, com tudo aquilo que eu tinha enterrado... e que agora parecia pronto pra ressurgir. — Everton... o que você tá fazendo aqui? Ele deu um passo mais perto, os olhos nos meus como se nada mais existisse na loja além de mim. — Procurando por algo que eu perdi. Ou melhor... alguém. — Procurando por algo que eu perdi. Ou melhor… alguém. — Ele repetiu, a voz grave e baixa, como se falasse só pra mim, mesmo com a loja aberta. Senti um arrepio subir pelas minhas costas. Ele deu mais um passo, agora tão perto que eu podia sentir o calor do corpo dele. Meu instinto gritou pra recuar, manter o controle… mas meus pés enraizaram no chão. Aqueles olhos castanhos me prendiam como se eu ainda fosse aquela garota que ele conheceu anos atrás. A diferença é que agora eu era mãe, gerente, mulher. E mesmo assim, ele ainda sabia como bagunçar tudo dentro de mim. — Tá me olhando como se tivesse visto um fantasma — ele provocou, os olhos percorrendo meu rosto, depois descendo lentamente, descarados, até pararem nos meus lábios. — Mas eu tô bem vivo, Pri. E ainda lembro de cada detalhe seu. Engoli em seco. Meu corpo respondeu antes da minha mente conseguir dar qualquer ordem. O coração acelerado, a pele quente, os pensamentos já despencando pra lembranças que eu não devia reviver. Não agora. Não com ele tão perto. — Você devia ir embora. — minha voz saiu mais firme do que eu esperava, mas ele sorriu. Aquele sorriso torto e perigoso que dizia que ele não ia a lugar nenhum. — Eu não vim pra ir embora, princesa. — Ele se aproximou mais, os lábios quase roçando os meus. — Eu vim pra te ter de volta. E naquele instante, percebi: ou eu corria... ou mergulhava de cabeça num fogo que já me queimou uma vez. E que agora parecia ainda mais quente. Fechei os olhos por um segundo, tentando recuperar o controle da respiração, do coração, da sanidade. A proximidade dele era sufocante e deliciosa, malditamente deliciosa. Mas eu não podia me render. Não agora. Não tão fácil. Afastei o rosto, só um pouco, o suficiente pra recuperar o fôlego e olhar nos olhos dele com firmeza. — Isso aqui não é mais um joguinho, Everton. Eu não sou mais a menina que você deixou pra trás sem explicar nada. Eu tenho um filho agora. Tenho uma vida. Responsabilidades. Ele arqueou uma sobrancelha, mas não se moveu. — E acha que isso me assusta? — ele sussurrou. — Eu gosto de desafios, Priscila. Sempre gostei de você. E eu não vim até aqui pra ir embora de mãos vazias. — Você não pode simplesmente aparecer depois de anos e achar que vai… vai me reconquistar assim, com esse olhar, essa voz — eu disparei, tentando me convencer mais do que a ele. Ele sorriu. Aquele maldito sorriso. — Reconquistar? Quem disse que eu parei de te querer? Senti minhas pernas fraquejarem. Não por ele, mas pela lembrança de tudo que fomos. E do que poderíamos ter sido. Mas me mantive firme. Respirei fundo, segurei o olhar dele como se eu não estivesse prestes a derreter por dentro. — Eu não sou mais sua, Everton. — Ainda não — ele corrigiu, com a voz carregada de promessas. — Mas vai ser. Eu tenho tempo… e agora, eu não tenho a menor intenção de te perder de novo. Ele deu um passo pra trás, finalmente, como se me desse o espaço que eu precisava mas sem tirar os olhos de mim. Me deixou ali, no meio da loja, tremendo, confusa, e com um gosto doce e perigoso de passado nos lábios. E o pior? Uma parte de mim... queria que ele voltasseEverton Narrando Me chamo Everton, tenho 31 anos e aprendi cedo que nada nesse mundo vem de graça. Cabelos castanhos escuros, olhos da mesma cor intensos, dizem. Minha barba é sempre bem feita, porque eu gosto de manter tudo no controle, até a imagem que passo. Corpo definido, porque disciplina é algo que levo a sério tanto nos negócios quanto na cama. Não nasci em berço de ouro. Conquistei tudo o que tenho com estratégia, suor e, sim, uma boa dose de frieza. Hoje, sou CEO de uma das empresas mais promissoras do setor, com contratos milionários, viagens internacionais, e mais gente querendo minha atenção do que eu consigo contar.Mas nada disso importa quando eu penso nela.Priscila.A mulher que eu deixei pra trás quando ainda era um ninguém tentando se tornar alguém. A mulher que, mesmo depois de anos, ainda habita meus pensamentos nas noites mais silenciosas. Eu construí um império... mas o trono parece vazio sem ela.Voltei não só pelo sucesso. Voltei pra buscar o que realmente
Priscila Narrando O dia tava corrido na loja. Eu tava ocupada com estoque, notas, clientes, tentando manter a mente longe dele. Do maldito Everton. Mas era impossível. Desde que ele apareceu, eu me sentia como se tivesse acordado dentro de um terremoto emocional. Um caos silencioso por dentro.Então o motoboy chegou.— Entrega pra gerente — ele disse, e me estendeu uma caixinha pequena, sem remetente.Arqueei a sobrancelha, estranhei, mas aceitei. Voltei pro escritório, fechei a porta e sentei com a caixa sobre a mesa. Meu coração já começou a bater mais forte antes mesmo de abrir. Tinha algo ali. Algo que me chamava como se já fosse parte de mim.Abri a tampa devagar.O lenço.Meu lenço.Azul claro, com meu cheiro de anos atrás… um cheiro que ele não devia mais lembrar. Mas lembrava. E guardou.Engoli seco. Meus dedos tremiam quando toquei o tecido. Eu não usava aquilo desde… desde as noites com ele. Quando o mundo lá fora era pesado demais e o peito dele era o único lugar que fazia
Everton Narrando Eu sempre soube o que queria. Desde pequeno, vi o que o mundo tinha a oferecer e, ao invés de aceitar a vida como ela era, decidi moldá-la do meu jeito. O caminho não foi fácil, mas nada realmente valioso é. E aqui estou, com 31 anos, meu próprio império, e as pessoas que nunca acreditaram em mim agora se curvam. Mas, no fundo, não é disso que eu preciso.O que eu realmente preciso… é dela.Priscila.Sempre foi ela. Mesmo quando eu tentei me convencer de que a vida profissional, o sucesso e o reconhecimento eram o suficiente, havia um buraco. Um vazio. Algo que eu não conseguia preencher. E, honestamente, nunca pensei que fosse encontrá-la de novo, depois de tudo que aconteceu. Mas o destino tem seus próprios planos, e, por algum motivo, ele me trouxe de volta pra ela.O cheiro do perfume dela ainda paira no ar quando fecho os olhos. O som da risada dela, aquele jeito despreocupado, como se nada no mundo pudesse quebrar sua essência. Mas eu sabia que ela estava quebr
Sophie Narrando Meu nome é Sophie. Tenho 30 anos muito bem vividos e aproveitados. Cabelos ruivos, intensos como minha personalidade. Lisos, brilhantes, caem até o meio das costas e nunca passam despercebidos. Meus olhos são castanho-claros, com aquele tom dourado que costuma prender olhares por tempo demais. E eu sei disso. Sempre soube.Sou o tipo de mulher que entra em um ambiente e todos param para olhar. Não porque eu peço atenção, mas porque ela me pertence. Sempre fui assim. Sabe aquela mistura de classe, beleza e um toque de perigo? Então. Eu sou isso.Everton me conheceu no auge. Eu era tudo o que ele achava que queria. Inteligente, independente, envolvente. E eu gostava do jogo. De ver como ele tentava me controlar… e fracassava. Mas com o tempo ele foi ficando mais frio, mais distante. Até que, um dia, simplesmente decidiu que não fazia mais sentido.Como se alguém como eu pudesse ser descartada assim, como um acessório velho.Mas tudo bem. Eu dei o tempo dele. Fiquei na m
Priscila Narrando Eu sabia que algo estava errado. A maneira como aquela mulher entrou na loja, como se fosse a dona do lugar, com aquele sorriso provocador e olhar de quem já havia vencido a batalha antes de começar. Cada palavra dela foi como uma agulha fincada, me fazendo questionar o que estava acontecendo. E, pior, como tudo o que ela dizia mexia comigo de um jeito que eu não queria sentir.Mas eu não poderia demonstrar nada. Não na frente dela.Eu sou gerente, certo? Sou a mulher que está controlando sua vida, suas escolhas, sua carreira. Eu não tenho espaço para ser vulnerável, para ser mexida por uma ex do passado, por alguém que já não faz parte da vida de Everton. Eu não posso ser fraca. Não posso.Mas, caramba, como é difícil ignorar a provocação dela. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. Não me bastava ser profissional e atender aquela mulher como qualquer cliente. Não. Ela precisava me tocar, me fazer lembrar de Everton de um jeito que eu não queria.— Ele sempre d
Everton Narrando Se Priscila acha que vai se livrar de mim tão fácil assim, está muito enganada. Eu sei que estou mexendo com as emoções dela, eu sei que ela não vai me esquecer, e eu não vou deixar isso acontecer de novo. Não vou ser descartado dessa maneira, não depois de tudo que passamos, de tudo que eu senti por ela. Não é fácil, nem para ela nem para mim, mas agora é pessoal.Eu a vi indo embora, a vi fechar aquela porta, e algo dentro de mim me dizia que era a última vez que eu iria ver a Priscila daquele jeito. Ela estava se afastando, se guardando, e isso me deixava ainda mais determinado a fazer o que fosse preciso para deixá-la entender que eu não sou mais o mesmo. Que o Everton de antes, aquele que a deixou ir, não existe mais. Eu mudei. E se ela quiser me afastar, vai ter que lidar comigo de outra maneira.Mas antes de resolver isso com ela, preciso entender o que está acontecendo com Sophie. Eu sabia que ela estava voltando a fazer das suas, mas agora ela foi longe dema
Sophie Narrando Eles acham que eu sou o problema. Que sou a ex louca, a vilã da história. Mas ninguém se pergunta o que me fez ser assim. Ninguém quer saber o que eu suportei enquanto ele ficava indo e vindo, entrando e saindo da minha vida como se eu fosse uma opção. Como se eu fosse descartável.Ver aquela loirinha toda certinha com ele me deu náuseas. Priscila. Até o nome tem cara de mulher boazinha, dessas que fingem que são doces, mas no fundo são frias, calculistas. Ela conseguiu o que eu queria sem nem se esforçar. E ainda quer bancar a superior.Quando descobri onde ela trabalhava, foi quase divertido. Saber que ela é só uma gerente de loja e ainda se acha melhor do que eu... ri sozinha. Claro que eu fui lá. Me montei inteira, como uma cliente rica, poderosa. Pedi pra ser atendida por ela só pra ver de perto o que o Everton tanto viu naquela mulher.E quer saber? Ela ficou desconcertada. Foi delicioso. O olhar dela querendo manter a pose, o medo escondido atrás de uma falsa f
Priscila Narrando Acordei mais tarde do que o normal, e por alguns segundos, fiquei ali deitada, ouvindo o silêncio gostoso da casa. O sol invadia meu quarto pelas frestas da cortina, aquecendo meus pés. Estiquei o corpo devagar, sentindo o alívio de não precisar correr, não precisar vestir a pressa como roupa de trabalho.Levantei, prendi o cabelo em um coque frouxo e fui direto pra cozinha. Ainda de pijama, com os pés descalços no chão frio, comecei a preparar o café da manhã. O cheiro do pão tostando na sanduicheira, o barulhinho do café coando... tudo isso me dava uma sensação de normalidade que eu prezava com todas as forças.Hoje era só eu e o meu filho. Ele ainda dormia, mas sabia que logo apareceria com os cabelos bagunçados, arrastando os pés e com fome de um leãozinho.Enquanto quebrava os ovos na frigideira e mexia distraidamente, pensei em tudo que havia acontecido nos últimos dias. Sophie aparecendo na loja... Everton se reaproximando... Meu coração parecia um campo de b