Cecília respirava fundo, o coração acelerado desde o momento em que fechara a porta, limpando os lábios com as costas da mão, enojada pelo toque de Tiago. "Em breve, tudo isso vai acabar", ela murmurava para si mesma, tentando acalmar a tempestade dentro de seu peito. Tiago acreditava estar no controle, mas o que ele não sabia era que Cecília tinha um plano , um plano arriscado, mas a única chance que tinha de escapar dele para sempre. Nos dias seguintes, ela manteve a rotina normal, tentando não levantar suspeitas enquanto preparava a fuga cuidadosamente. Seus avós seriam os primeiros a sair, indo para São Paulo sob o pretexto de resolver questões médicas. Elisa, sua amiga da faculdade, já havia providenciado um lugar seguro para eles, uma pousada distante onde pertencia sua família e lá eles ficariam fora do alcance de Tiago. Cecília espalhou a notícia no Morro, garantindo que todos soubessem que seus avós estariam viajando para tratamento. Era o disfarce perfeito. Na manhã e
Cecília mordeu o lábio, sentindo o gosto salgado das lágrimas que começavam a descer pelo seu rosto. Ela fechou os olhos por um instante, como se tentasse reunir a coragem necessária para a próxima palavra. — Eu não vou mentir ,Sim, Gael. É seu. — As palavras saíram como um sussurro, mas eram suficientemente fortes para fazer o mundo ao redor de ambos parar. Gael ficou em silêncio por um longo momento, absorvendo a verdade. Seus olhos estavam fixos em Cecília, uma mistura de alegria e dor estampada em seu rosto. Ele deu um passo à frente, ainda processando o que aquilo significava. — Por que você não me contou? — ele perguntou, a voz suave, mas cheia de frustração. — Por que fugiu de mim ? Cecília passou as mãos pelo rosto, tentando enxugar as lágrimas que insistiam em cair. Tudo o que ela havia guardado por meses agora parecia transbordar, e manter o controle estava se tornando cada vez mais difícil. — Eu fui embora da sua casa e da sua vida porque ,eu temia que você rejeitass
Gael aproximou-se mais uma vez, agora determinado, seus olhos fixos nos dela.— Eu vou te tirar daquele morro, Cecília. Vou te tirar de lá e te dar a segurança que você e nossa filha precisam. — Ele falou com convicção, como se já estivesse fazendo planos em sua cabeça. — Mesmo que eu me case com Mayra, mesmo que o mundo inteiro diga que isso é errado, eu vou cuidar de você. E da nossa filha. É a primeira coisa que vou fazer.Cecília sentiu o coração apertar. Por um instante, a ideia de ser salva, de ter Gael ao seu lado, quase a fez ceder. Mas ela sabia que, para Gael, ela nunca seria mais do que uma sombra, uma amante escondida nas sombras de um casamento que ele parecia estar aceitando. E ela não queria viver assim.— Eu sei o que quer dizer quando se refere a cuidar de mim ,mas eu não nasci para ser amante de ninguém, Gael. — Cecília falou com uma firmeza que surpreendeu até a si mesma. — Se eu não posso te ter por inteiro, eu prefiro ficar sozinha. Não quero uma vida onde você
Cecília chegou em casa com o coração pesado, sentindo o peso de cada passo que dava dentro do pequeno barraco no alto do Morro, no Rio de Janeiro. O lugar onde sempre havia encontrado algum alívio, agora parecia sufocante, vazio. Sua avó, a única pessoa que sempre lhe oferecia um ombro para chorar, estava em São Paulo, finalmente em segurança, assim como Cecília sempre quisera. Mas, naquele momento, tudo o que queria era sua presença. Ela jogou a bolsa sobre o sofá surrado e se encostou na porta, deixando o corpo escorregar lentamente até sentar-se no chão, exausta. Sua mente rodava, repleta de pensamentos sobre Gael e a maneira como o tinha deixado para trás. Sabia que era o certo a fazer, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Sua melhor amiga também não estava mais no Morro. Elisa e o marido haviam se mudado para outra cidade depois que ele recebeu uma excelente proposta de trabalho. Cecília sentia falta de suas conversas, mas ao menos sabia que sua amiga estava bem longe d
As palavras de Mayra cravaram-se em Gael como farpas, alimentando uma dúvida que ele não queria ter. E se Mayra estivesse certa? E se Cecília realmente estivesse grávida de outro e usasse o bebê para manipulá-lo? Gael balançou a cabeça, tentando afastar o pensamento, mas era impossível ignorar o peso da incerteza que agora se instalava em sua mente. — Você está dizendo isso porque está com ciúmes, ou por despeito, Mayra. -A voz de Gael saiu dura, mas ele evitou olhar diretamente para ela. Seu coração estava em conflito, tentando manter a razão no meio do caos que a conversa havia provocado. Mayra, com os olhos estreitados, deu um passo à frente, seu rosto sério e determinado. — Tudo bem, eu admito que sinto algo por você, Gael. E sim, isso me faz sentir ciúmes de você, mas não é por isso que estou te alertando sobre essa garota .-Mayra falou com frieza, controlando a raiva que a dominava. — Você acha mesmo que, se ela realmente te amasse e fosse fiel como pensa, teria fugido de v
Elisa lhe deu um abraço rápido, algo raro naquele momento de tensão, e saiu apressada, deixando Cecília sozinha por mais alguns minutos cruciais. O momento da fuga havia chegado. Ela olhou ao redor do pequeno barraco que fora seu lar por tanto tempo. Sabia que, depois daquele dia, não voltaria mais. Era um adeus ao seu passado, à vida que a prendia a Tiago e ao Morro. Com um último suspiro, Cecília pegou sua bolsa, jogou sobre o ombro e saiu pela porta. As ruas estreitas e íngremes do Morro estavam movimentadas, como sempre, mas ela manteve o olhar fixo à frente. Os soldados de Tiago, disfarçados em meio aos moradores, não suspeitaram de nada. Ela seguiu seu caminho até o ponto de encontro com o obstetra, com passos calmos e controlados. Quando finalmente se afastou o suficiente, sentiu o alívio começar a percorrer seu corpo. A primeira parte do plano estava funcionando. Agora, era questão de tempo. Chegar ao aeroporto, embarcar no avião, e deixar tudo para trás. Ela e sua fi
O táxi avançava pelas ruas da cidade enquanto Cecília observava a paisagem passar rapidamente pela janela, mas sua mente estava longe, perdida nos pensamentos que a faziam retornar ao Morro. Sentia o peito apertado e as mãos geladas, mas sabia que não tinha outra escolha. Havia algo que precisava resolver, algo urgente, que não podia esperar. O motorista a olhou pelo retrovisor, curioso, mas contido. — Está tudo bem, moça? — arriscou perguntar. Cecília forçou um sorriso breve, tentando esconder o turbilhão dentro de si. — Sim, só… só estou com pressa. O motorista acenou com a cabeça e acelerou, em silêncio, deixando-a sozinha com seus pensamentos. À medida que o táxi se aproximava do Morro Paraíso, ela sentia o peso das lembranças retornando. Aquela era sua chance de escapar, mas agora tudo parecia escorregar por entre seus dedos. Precisava estar ali. Não importava o quanto temia aquele lugar, algo muito maior a obrigava a voltar. Assim que o carro parou na praça próxima ao
A respiração de Cecília estava descontrolada, o rosto contorcido em dor enquanto as contrações aumentavam em intensidade. Gael, amarrado à cadeira, lutava desesperadamente, tentando de alguma forma se soltar para ajudá-la. Seu corpo estava coberto de hematomas, e o cansaço era evidente, mas a visão de Cecília sofrendo à sua frente, em pleno trabalho de parto, despertava nele uma força que ele sequer sabia possuir. Tiago observava a cena com um sorriso frio, os braços cruzados, divertindo-se com o desespero de Cecília e a impotência de Gael. — Tito vai chamar uma tia aqui do Morro para ajudar a Cecília ter a criança ,apesar de tudo não quero que nem a criança e ela morra ,apesar de tudo eu ainda sou amarradão em tu ,Cecília e também não quero levar a morte de um inocente nas minhas costas e ... Mas, antes que pudesse continuar o que estava dizendo ,a atenção de Tiago foi atraída pelo som crescente de tiros vindos do lado de fora. A expressão de desprezo se transformou em alerta, e