Alguns dias depois... A tensão entre Cecília e Gael permanecia palpável. Eles mal trocavam palavras, e, quando o faziam, o ambiente se tornava pesado. Gael, como sempre, parecia mais reservado e introspectivo, enquanto Cecília tentava lidar com os sentimentos conflitantes que borbulhavam dentro dela. Naquela manhã, enquanto arrumava Bia para sair, Cecília evitava qualquer interação desnecessária com Gael. Ele estava sentado na poltrona da sala, os dedos tamborilando no apoio, uma expressão distante e fechada. Mesmo sem vê-la, era como se ele sentisse a frieza no ar. — Vou levar Bia para visitar meus avós no Morro. Voltamos à tarde. — Cecília quebrou o silêncio, ajustando o carrinho da filha. Gael franziu o cenho. Ele inclinou a cabeça na direção dela, seus olhos opacos fixos em um ponto vazio. Mesmo sem enxergar, a preocupação transparecia em sua voz grave. — Vai sozinha? Por que não pede para o motorista te levar? É perigoso. Cecília suspirou, já cansada dessa conversa recorren
— Não há velhos tempos para relembrar, Mayra. Você deixou isso claro quando me abandonou.Ela cruzou as pernas, fingindo ignorar o tom cortante dele.— Gael, você ainda está tão rancoroso. Eu só fiz o que eu achei correto já que perdi nosso filho e não havia nada que nos prendesse um ao outro além do acordo que tínhamos eu não ia sacrificar minha vida e minha juventude presa a um homem cego pelo resto da minha vida.Ele inclinou a cabeça levemente, sua expressão inabalável.— Isso é passado. Não faz diferença para mim. Hoje, estou vivendo com a mulher que realmente amo e tenho certeza que me ama ,até porque só íamos nos casar pelo filho que você esperava e pelo acordo que fizemos,nunca senti nada por você e nem você por mim.A expressão de Mayra mudou de desdém para surpresa.— Cecília? Eu achei que você não estaria aí lado dela depois de descobrir que aquela bastardinha não era sua filha .—Disse ela, o tom carregado de desprezo.— Sim, Cecília e nunca mais se refira a minha filha de
Cecília abriu a porta do quarto e encontrou Gael sentado em uma poltrona perto da janela. A luz fraca do abajur iluminava seu rosto sério, seus olhos mirando o vazio. Ele segurava um copo de uísque quase vazio em uma mão, enquanto uma garrafa pela metade repousava sobre a mesinha ao lado. O cheiro de álcool impregnava o ar, denunciando que ele havia bebido bastante. — Gael! — exclamou ela, fechando a porta com força. — O que você está fazendo? Bebendo assim? Ele virou a cabeça na direção da voz dela, a expressão levemente desconexa. Quando falou, sua voz estava pastosa, e ele parecia lutar para manter a clareza. — Não se preocupe, Cecília. — Ele balançou o copo antes de tomar o resto do líquido em um único gole. — É bom que eu tenha bebido. Dá uma boa desculpa pra precisar de uma babá, não acha? Um cego bêbado é um perigo ambulante... Quem sabe eu tropece e me machuque? — completou com um sorriso amargo. Cecília fechou os olhos por um momento, respirando fundo para manter a
Mesmo relutante, Gael obedeceu, deixando que ela o conduzisse até o quarto. Enquanto o colocava na cama, ela percebeu que seu coração ainda estava acelerado pelas palavras dele. Ele a queria. Desejava-a. Mas ela sabia que não podia ceder... não daquele jeito, não enquanto ele estivesse vulnerável. Ela ajeitou o lençol sobre ele e apagou a luz, murmurando antes de sair: — Talvez um dia você perceba que não precisa me conquistar com palavras, Gael. Eu já estou aqui. E isso deveria ser o suficiente. Mas ela sabia que, com ele, nada nunca seria tão simples. Gael acordou com a cabeça latejando e a boca seca, murmurando algo incompreensível enquanto tateava ao redor em busca da bengala-guia. Antes que pudesse se levantar, Cecília apareceu à porta do quarto, com os braços cruzados e um olhar severo. — Acordou? — Ela perguntou, a voz carregada de um misto de impaciência e preocupação. — Não sei como você esperava se sentir depois de encher a cara de uísque. — Não começa, Cecília...
A água do chuveiro caía sobre os dois, quente e incessante, enquanto Gael mantinha Cecília em seus braços. Seus sentidos estavam aguçados, e cada toque, cada movimento, parecia incendiar o ar entre eles. Ele deslizou os dedos pela lateral do corpo dela, sentindo a curva suave de sua cintura, e então, sem aviso, a virou de costas para si. — Apoie as mãos no azulejo, Cecília — murmurou, sua voz rouca, carregada de desejo. Ela hesitou por um instante, mas o tom de comando e a intensidade no toque dele a fizeram obedecer. Colocou as mãos contra o azulejo frio, sentindo o contraste com o calor do corpo dele tão próximo ao seu. Gael deslizou a mão para baixo, levantando a barra da camiseta molhada de Cecília, mas sem se preocupar em tirá-la. Com um movimento rápido e impaciente, puxou a calcinha dela para o lado, os dedos firmes tocando a pele quente e sensível de sua intimidade quente e apertada. — Você me deixou louco, Cecília. Suas mãos em mim... — Ele mordiscou o lóbulo da
Cecília e Gael haviam feito as pazes. Depois do amor apaixonado que compartilharam no chuveiro, ele a ouviu dizer mais uma vez, com os olhos cheios de sinceridade, que estava ali porque o amava. Suas palavras eram um bálsamo para as feridas abertas por Mayra, e Gael decidiu, naquele momento, que não deixaria o veneno dela destruir o que tinham. Ela finalmente convenceu Gael a voltar ao oftalmologista. Ele relutou no início, mas a firmeza e o carinho dela o convenceram. Após uma bateria de exames, o médico reforçou o que já havia mencionado antes: a falta de visão de Gael parecia ser mais um bloqueio psicológico do que fisiológico. Essa informação mexeu com Gael de forma profunda. Ele se sentia dividido entre a frustração de não controlar seu próprio corpo e a esperança de recuperar sua visão. Com o apoio inabalável de Cecília, decidiu começar a terapia para desvendar o que poderia estar por trás daquele bloqueio. Decorrido várias sessões depois ,numa noite quente e silenciosa,
Cecília apertou a mão dele, tentando transmitir força. — Meu cérebro… acho que bloqueou minha visão como uma forma de me proteger, de evitar que eu encarasse novamente aquela lembrança, aquele trauma. Mas agora eu sei que não vou ter paz até encontrar esse homem. Preciso fazer justiça, Cecília. Ele precisa pagar pelo que fez. A voz de Gael tremia, carregada de emoção. Ele respirou fundo antes de continuar: — Eu nunca procurei por ele porque achava que estava morto. Mas o pesadelo me fez lembrar que eu o vi. Ele está vivo. E agora, mais do que nunca, eu sei que preciso encontrá-lo. Não só por minha mãe, mas para evitar que ele continue machucando outras pessoas. Cecília olhou para ele, sua expressão um misto de preocupação e compreensão. — Gael, isso pode ser perigoso — disse ela, a voz doce mas firme. Ele a encarou, a intensidade de suas palavras refletida em seus olhos parcialmente restaurados. — Se eu tivesse medo do perigo, Cecília, não teria sobrevivido a tudo o que já vivi
O coração de Cecília acelerou com as palavras dele. Apesar de sua timidez, sentiu-se desejada e amada como nunca antes. Ela virou-se novamente para o closet, tentando esconder o sorriso que insistia em aparecer. — Eu fico feliz que você possa me ver assim… — murmurou, enquanto pegava uma blusa leve. — Mas não precisa exagerar, tá? Gael se levantou lentamente, aproximando-se dela em passos silenciosos. Quando parou atrás dela, a toalha ainda cobrindo suas costas, ele envolveu a cintura dela com os braços. Sua respiração quente tocou o pescoço de Cecília, arrepiando sua pele. — Não é exagero — sussurrou ele, sua voz grave. — É a verdade. Cecília fechou os olhos por um instante, sentindo o calor do corpo dele contra o seu. Uma mistura de felicidade e excitação dominava seus sentidos. Ela se virou nos braços dele, encontrando aqueles olhos que agora podiam enxergá-la de novo. — Então, talvez eu acredite — respondeu, sorrindo de leve. Gael a puxou para mais perto, o sorriso dele ag