No dia seguinte no colégio, Kelly chegou pouco depois da aula ter começado, estava vestindo uma calça jeans pouco larga, que não valorizava suas curvas – como Jéssica costumava dizer –, e seu uniforme por baixo de um casaco cinza de capuz, com o cabelo não tão arrumado. Enquanto ela entrava na sala, procurava por sua amiga, que logo percebeu seu atraso, e imediatamente perguntou:
– Bom dia, amiga, o que houve para você ter chegado agora? Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Jéssica.
– Perdi a hora. – Respondeu ela, enquanto colocava a mochila sobre a carteira ao lado de Jéssica.
– Ah sim, já sei... Ficou assistindo serie até altas horas, acertei? – Perguntou ela, dando risadas.
– Não fiquei até tarde, não. Consegui dormi cedo ontem, não tão cedo quanto imaginei e quanto eu gostaria, mas relativamente cedo. Só perdi a hora.
– Hum... Então está bem. – Concluiu Jéssica.
Enquanto o professor estava virado de costas para os alunos, escrevendo a matéria no quadro, uma pessoa abriu a porta, e logo o chamou a atenção, fazendo-o virar de frente para a turma, dizendo:
– Pessoal, tenho que apresentar a vocês este novo aluno, que se matriculou ontem na turma. Seu nome é Gustavo. No mesmo instante, todos os alunos olharam para o rapaz, inclusive Kelly, que o admirava como se estivesse hipnotizada.
– Jéssica olhou para Kelly ao seu lado e viu que sua amiga estava encantada pelo rapaz recém-chegado. E comentou: olha que gatinho!
– Muito bonito mesmo! – Respondeu Kelly, parecendo estar em transe e deixando Jéssica admirada por sua reação.
– Estou vendo que você realmente gostou do menino. Você nunca agiu assim com ninguém. E olha que eu já te apresentei rapazes lindos! – Comentou Jéssica achando graça da situação.
Logo que Gustavo foi anunciado pelo professor, ele acenou de forma bastante tímida para toda a turma e caminhou para se sentar em uma das últimas carteiras, localizada nos fundos da sala de aula.
Gustavo é um garoto de pele clara, alto, magro, de cabelo preto e curto, olhos grandes e castanhos, seu nariz é afilado, e seus lábios são carnudos, dando uma aparência delicada, mas ao mesmo tempo masculina, devido à barba rala e cerrada.
Kelly se encantou imediatamente por Gustavo, pois percebeu que ele era muito parecido com um dos seus atores favoritos: um dos atores que ela vê todos os dias na série. Na verdade, ele realmente possui uma semelhança intrigante, que fascinou Kelly em sua primeira aparição.
Quando a aula acabou, Kelly, como de costume, esperou Jéssica terminar de arrumar seu material para saírem da sala juntas. Enquanto esperava, olhou, disfarçadamente para a direção dos fundos da sala, onde Gustavo havia se sentado durante o resto da aula, e viu que ele guardava apenas o celular no bolso e pegava sua mochila, aparentemente, quase vazia, para sair da sala.
Percebendo que o rapaz já estava de saída e Jéssica ainda estava arrumando suas coisas, ela comentou:
– Vamos logo com isso, Jéssica. Quer ajuda? – Perguntou já estressada com a lentidão da amiga em arrumar suas coisas.
– Calma, Kelly! Estou terminando! Que pressa é essa de repente? As suas séries não vão fugir, não! – Respondeu, dando risadas, nem imaginando o real motivo da pressa de Kelly.
– Hoje estou com pressa, e vamos logo com isso. Vou te ajudar. – Comentou Kelly, guardando o último caderno na mochila da amiga.
Assim que guardaram tudo, saíram da sala com os passos acelerados, como se estivessem com pressa, mas Jéssica nem desconfiava que Kelly estava tentando ver novamente o Gustavo, que já havia saído da sala, enquanto sua amiga lenta guardava o material.
Tentava imaginar para onde Gustavo poderia ter ido, pois queria ver aquele rosto fascinante mais uma vez, mas ao mesmo tempo não queria que ninguém percebesse o seu interesse, muito menos Jéssica que, se desconfiasse, ficaria zoando Kelly até sabe-se lá quando.
Enquanto as duas caminhavam até o lado de fora do colégio, passaram por diversos corredores cheios de armários para os quais Kelly olhava tentando ver se via o rapaz mais uma vez, mas não tinha nenhum sinal dele, então foram caminhando em direção as suas casas.
Quando chegou em casa, tomou um bom banho e procurou uma roupa diferente para usar. Então encontrou algumas roupas mais despojadas e que por muito tempo não eram usadas. Em seguida, vestiu um short com uma camiseta rosa, o que geraria surpresa e curiosidade em Jéssica se a visse daquela forma, pois Kelly só costumava se vestir com roupas tampadas e escuras, de modo que não chamasse a atenção de ninguém. Como Jéssica mesma dizia: “parece que quer espantar os homens”.
Dessa vez ela decidiu fazer diferente do dia anterior. Dirigiu-se para a cozinha, fez um almoço um pouco melhor, cozinhando arroz, esquentando o feijão, fritando algumas almôndegas e preparando uma salada com tomate e alface. Quando tudo ficou pronto, Kelly colocou a comida no prato, sentou-se à mesa onde há muito tempo não almoçava e comeu.
Quando terminou a refeição, levantou-se e foi lavar a louça. Mas quando terminou sua tarefa, foi para o seu quarto, sentou na cama, ligou o computador, colocou-o em seu colo, e começou a assistir sua série favorita como de costume.
Quando a série começou e apareceu o personagem interpretado por seu ator predileto, ela se assustou, pois se lembrou do aluno novo de imensa semelhança com o ator. A única diferença era na cor dos cabelos – pois o ator é loiro, enquanto o aluno tem os cabelos escuros – mas o rosto era muito parecido.
No fim do dia, Marcelly e Débora chegaram do trabalho. E como a Marcelly conhecia muito bem a própria irmã, percebeu que havia algo de diferente nela. Uma das coisas que mais chamou a atenção foi o brilho dos seus olhos.
Depois que Marcelly e Débora a cumprimentaram, Marcelly disse: – Oi, maninha, está tudo bem com você? Parece até que viu um passarinho verde! – Perguntou, Marcelly, animada e admirada em ver sua irmã, aparentemente, mais alegre.
– É... Estou bem, sim... – Respondeu Kelly, meio sem jeito, parecia que estava escolhendo as palavras para não demonstrar nada, mas já era tarde, pois Marcelly a conhecia muito bem.
– Estou percebendo que você está bem. Parece que está mais alegre, sei lá... Você raramente veste uma camiseta, ainda mais de cor clara... Vai, me conta... Como foi o seu dia, o que aconteceu de diferente? – Perguntou ela, interessada, deixando a sua bolsa na cadeira giratória da escrivaninha, enquanto se sentava na cama para ouvir as novidades de sua irmã.
– Ah, sei lá... É que... Chegou um garoto novo na turma hoje. O professor disse que se matriculou ontem. Você sabe, sou uma pessoa complicada... Não me interesso por qualquer garoto, mas sei lá... Esse é diferente de todos os que eu já vi até hoje... Ele é lindo! – Comentou, Kelly.
– Não acredito que você, finalmente está se interessando por alguém! Fico feliz por você! – Disse Marcelly, animada com a possibilidade de sua irmã arrumar um namorado.
– Eu não disse que estava interessada nele! Só disse que ele é lindo. Só isso.
– Aham, sei. Esse é um grande passo para começar alguma coisa. – Fez uma pausa e prosseguiu: – E você percebeu se ele ficou olhando para você?
– Não percebi nada. Ele chegou e foi sentar em uma das carteiras do fundo da sala. Não fiquei olhando para ele. Só o vi quando chegou.
– Entendi. Bem, se ele se matriculou na turma, então amanhã, provavelmente, ele estará lá. Eu te aconselho a ir com uma roupa mais legal do que esses casacos de capuz cinza e calça larga que você costuma andar.
– Você não perde uma oportunidade de vir implicar comigo, não é mesmo?!
– Não estou implicando com você, maninha, estou apenas te dando um toque. Se você quer que ele repare em você, é bom andar mais arrumadinha. – Concluiu Marcelly dando uma piscadela para a irmã.
E era o que realmente Kelly queria: que Gustavo reparasse nela, que ele a notasse em meio a tantas garotas mais bonitas e populares do que ela. Mas ela não queria admitir para si mesma que estava a fim do cara, muito menos deixar que alguém percebesse, pois provavelmente as outras pessoas estariam zoando ela, o que ela odiava.
Depois do jantar, Kelly escovou os dentes e foi se deitar mais cedo, despediu da mãe e da irmã, e foi para o seu quarto. Enquanto tentava dormir, ficou pensando no que Marcelly falara, que ela deveria se arrumar melhor.
No outro dia, Kelly pensou que poderia se vestir com uma roupa mais alegre, mas não tão diferente dos outros dias, pois como ela conhecia muito bem sua amiga, ela diria que Kelly estava se arrumando apenas para chamar a atenção do rapaz, ao invés de procurar se sentir bem consigo mesma: o que era um pouco verdade. Kelly queria apenas ser notada por Gustavo, como dissera Marcelly.
Então, a fascinada por séries, acordou um pouco mais cedo. Procurou uma calça jeans que era mais justinha, mas não encontrou nada agradável, pois ela mesma nunca gostou dessas coisas, queria realmente se esconder atrás das roupas, mas parecia que era chegada a hora de mudar. Procurou, nas coisas de Marcelly, algumas maquiagens como sombras e blush, mas pensou que poderia ser uma mudança muito radical e repentina, o que levaria todos a pensarem o que ela não queria que pensassem. E pior ainda, ela não sabia se maquiar, nunca tinha se interessado por nada disso. Até agora.
Enquanto ela pegava todos os batons, sombras e todas as outras maquiagens de Marcelly, Kelly disse para si mesma: – Droga, não sei lidar com nada disso. Por que eu não dei ouvidos a Marcelly quando ela quis me ensinar? Agora não tem mais jeito, vou ter que ir assim mesmo. Se bem que é até melhor, pois uma grande mudança não me ajudaria em nada. Pelo contrário, iria me deixar ainda mais tímida devido aos comentários das outras pessoas. Mas no fim de semana, vou aproveitar o tempo com a minha irmã para tentar aprender algo novo com ela. – Disse Kelly consigo mesma, ao perceber que não sabia passar maquiagem, nem mesmo um lápis de olho sozinha.
Realmente ela nunca se importou com nada disso, pois nunca tinha conhecido ninguém com quem se importasse, e não esperava que isso acontecesse nem tão cedo, devido ao jeito dos meninos que ela conhecia no colégio e na sua vizinhança.
Por ela ter gasto todo o seu tempo extra, escolhendo e pensando nas coisas que poderiam ser usadas, já estava ficando atrasada. Então Kelly se vestiu do mesmo jeito de sempre. Apenas elevou seu cabelo num rabo-de-cavalo para se sentir um pouco diferente, caso visse o garoto novamente na sala. E lá se foi ela, caminhando lentamente pelos corredores lotados de armários e olhando para todos os lados para ver se o via. Finalmente chegou na sala e se sentou no mesmo lugar de sempre, mas Jéssica ainda não havia chegado, então pensou que essa pontualidade toda atendesse por nome de Gustavo, o que era verdade, e que com certeza seria o que Jéssica falaria quando chegasse.
O professor chegou e logo em seguida a Jéssica, que se sentou ao seu lado. Para a alegria de Kelly, Jéssica não comentou nada sobre seu penteado, mas provavelmente havia reparado, pois ela conhecia a amiga que tinha.
A aula correu normalmente como todos os outros dias. E para a infelicidade de Kelly, Gustavo não aparecera naquele dia, deixando Kelly desapontada, mas ao mesmo tempo aliviada, pois não queria que seu primeiro crush da vida real a visse mal arrumada novamente. Pensando nisso, se animou quando lembrou que o dia seguinte seria sábado, e que não haveria aula, e melhor ainda, sua irmã estaria em casa, podendo lhe dar as dicas de beleza que ela tanto queria, e poderia ir as compras com ela para renovar o seu guarda-roupa, que também estava necessitando de mudanças.
Quando a aula terminou, Kelly esperou pacientemente Jéssica a guardar seu material, o que a levou a questionar.
– Ué, hoje você está tranquila esperando eu guardar o meu material e até agora não me apressou nenhuma vez... – Comentou Jéssica observando o comportamento estranho da amiga.
– Hum... E? – Perguntou Kelly mostrando desinteresse pelo comentário de Jéssica.
– E que ontem você estava muito chata... Parecia que ia me engolir inteira se eu não guardasse tudo rápido e saísse da sala com você. Por que hoje está diferente?
– Não estou diferente... É que eu estava morrendo de fome ontem e queria chegar logo em casa, só isso.
– Hum... Sei, ou será que é por causa do garoto novo que saiu da sala e você queria andar com ele nos corredores? – Perguntou Jéssica debochando da amiga e caindo na gargalhada.
– Ah, Jéssica! Não acredito que estou ouvindo isso! Nada ver o que você está falando! Nada a ver mesmo! Está viajando!
– Nossa! Calma! Não precisa ficar nervosa! – Disse, dando risadas.
– Anda logo com isso aí e pára de conversa fiada! – Concluiu Kelly.
Enquanto as duas saíam da sala, estavam caminhando lado a lado em direção à saída do colégio.
– Vai fazer o que no fim de semana? – Perguntou Jéssica.
– Ainda não sei. Por quê? – Respondeu Kelly, querendo despistar, mas já sabia de suas intenções, que era sair com a irmã para fazer compras e aprender as dicas de beleza.
– A gente podia sair, ir ao cinema, sei lá...
– Vou ver e te falo. Não estou muito animada a sair.
– Tudo bem, então. Vamos nos falando pelo aplicativo de mensagens. Até mais. – Disse Jéssica se despedindo na porta da escola.
– Até.
Despediram-se com um forte abraço e cada uma seguiu sua direção.
Kelly chegou em casa e seguiu sua rotina diária, tomou um banho, almoçou e seguiu para seu quarto, sentando-se na cama e colocando o computador em seu colo, mas dessa vez não foram as séries que prenderam sua atenção, mas os vídeos que ensinavam auto-maquiagem e como arrumar o cabelo.
Eram muitas opções de vídeos, ela adorou. Assistiu a vários, aprendeu bastante coisa na teoria, mas sabia que na prática tudo seria muito diferente, pois nunca tinha passado nem um lápis de olho. Não sabia combinar sombra, nem passar o blush adequado, muito menos usar um corretivo – na verdade, não sabia nem para quê ele servia – mas não custava nada tentar.
Deixou o computador de lado, pegou as maquiagens da irmã, foi para a frente do espelho e começou uns traços. Mas tem um “porém”... o “lápis” da sua irmã era um delineador, que risca com a maior facilidade e ainda oferece o risco de borrar, tendo que tomar ainda mais cuidado para a coitada não ficar com uma cara horrível.
– Vamos lá. – Disse Kelly para si mesma, em frente ao espelho, tentando se encorajar com todas aquelas coisas de Marcelly.
Tentou passar o delineador na parte inferior dos olhos, mas como previsto, não deu certo. Ela não parava de piscar, e os olhos lacrimejavam, fazendo-a pensar que isso nunca ia dar certo: – Como as pessoas conseguem passar um lápis nos olhos? Isso é impossível! – Perguntou ela a si mesma.
Depois de várias tentativas em vão, resolveu passar o delineador nas pálpebras, acreditando que seria mais fácil, pois os olhos não ficariam piscando o tempo todo. Então, ela riscou, mas esqueceu de que deveria ficar alguns segundos sem abrir o olho, para que o produto secasse sem manchar a parte superior. Mas ela se esqueceu e abriu os olhos, borrando tudo.
– Ai! Não deu certo. Não consigo pintar os olhos. Vou tentar outra coisa. – Concluiu ela.
Procurou na necessaire da irmã, e encontrou vários batons, e se perguntou: – Para que tantos batons? Um já não é o suficiente?
Com o passar do tempo e diversas tentativas de inúmeras coisas, ela desistiu, temporariamente. Chegou à conclusão de que sem a orientação e ajuda de Marcelly, ela não conseguiria, então resolveu esperar a irmã chegar do trabalho para conversar com ela, – primeiramente dizer que mexeu em suas coisas, o que não seria lá muito agradável, pois sabia que Marcelly era um tanto ciumenta, principalmente com sua maquiagem, – então Kelly pensou em um motivo muito bom para que sua irmã não a engolisse viva quando soubesse que ela usou suas maquiagens, ainda que de modo trágico.
Para que sua irmã não visse a sua falta de talento e total desentendimento com as maquiagens, ela lavou o rosto mais de mil vezes para retirar os riscos do delineador, mas mesmo assim não saía.
– Meu Deus, que maquiagem é essa? É definitiva? Não vai sair nunca mais da minha cara? – Disse Kelly consigo mesma, decidindo por fim, esfregar a toalha no rosto para se livrar da tentativa frustrada de se maquiar, antes que Marcelly a visse.
Ao esfregar a toalha no rosto, percebeu que finalmente a maquiagem estava sendo removida, e se sentindo aliviada, olhou para a toalha a fim de guardá-la. Mas quando viu que a toalha estava toda manchada entrou em pânico, pois era uma toalha nova e de cor rosa claro. Sua mãe, com certeza, iria reclamar demais.
– Ou seja, além de ter que ouvir as broncas de Marcelly por ter mexido em suas coisas sem autorização, ainda vou ter que ouvir bronca da minha mãe por ter manchado a toalha favorita dela. – Pensou Kelly revirando seus olhos de decepção consigo mesma.
Mesmo se sentindo frustrada devido à falta de talento para a auto-maquiagem, Kelly decidiu substituir a toalha para que sua mãe não visse tamanha sujeira. Então Kelly teve a brilhante ideia de lavar a toalha. Então, ela a pegou e levou até o tanque. Chegando lá, encheu um balde de água o qual foi misturado com água sanitária. Em seguida, colocou a toalha para que ela ficasse de molho, pois segundo a sua vasta experiência doméstica (para não dizer o contrário), a água sanitária tiraria todas as manchas. Mas o que Kelly não imaginava é que a água sanitária gera manchas nos tecidos coloridos. E quando viu que tinha destruído ainda mais a toalha, ficou realmente bem chateada consigo mesma e decidiu que deveria aprender de uma vez por todas as tarefas domésticas para que não passasse novamente esses apuros.
No fim do dia, Marcelly e sua mãe Débora chegaram do trabalho; cumprimentaram Kelly, e a mesma já olhou para sua irmã como se estivesse pedindo “desculpas”. Enquanto se dirigiam para o quarto, Marcelly perguntou, dando risadas: – Por que você está me olhando desse jeito, Kelly? Não tenho dinheiro não! – Ai que horror, Marcelly! Até parece que eu sou interesseira! – Respondeu, dando risadas. – Não é interesseira, mas como diz o ditado: “te conheço de outros carnavais”. Desembucha! O que você está querendo? – Preciso de uma ajudinha sua! – Disse Kelly dando um sorrisinho. – Saia que ia me pedir alguma coisa! Ajuda em quê? – É... Então, eu queria aprender a me maquiar, mas já percebi que não levo o menor jeito para isso. – Depois de uma pausa, ela prosseguiu: – Preciso que você me ensine, pois eu já assisti a diversos vídeos na Internet, e nenhum adiantou. Só fiz besteira. – Percebi, pois seus olhos estão, parece que, manchados. –
Depois daquele dia, ela decidiu que prestaria ainda mais atenção no comportamento de Gustavo e na conversa dos rapazes, caso os encontrasse novamente. Os dias se passaram e Gustavo não aparecia no colégio. Kelly começou a ficar preocupada. Dando ainda mais ênfase nas suas desconfianças e medos. Ele ficou afastado das aulas por, aproximadamente, uma semana. Na segunda-feira da semana seguinte, chegando na sala de aula, estava Gustavo sentado com um rapaz no fundo da sala, de onde ele acenou para Kelly, e ela retribuiu o aceno a ele. Ela percebeu que ele estava conversando com seu amigo sobre ela, pois escreveu um bilhete e o entregou, fazendo gesto, dando a entender que o amigo deveria entregá-la o bilhete no fim da aula. Aquele comportamento foi mais um motivo para ela estranhar. – Por que ele não sentou perto de mim, igual à última vez em que ele apareceu aqui? – Por que ele faltou tantos dias consecutivos? – Por que ele mesmo não me entrega esse bilhete? –
Passaram-se duas semanas, e desde aquele dia em que Kelly e Gustavo conversaram no ginásio, não se encontraram mais. Kelly chegou, mais um dia, na sala de aula, sentou-se ao lado de Jéssica, e constatou que Gustavo faltara mais uma aula. Não sabia se o procurava, através do aplicativo de mensagens, pois a gangue ainda estava por perto, e ela não queria colocá-lo, nem se colocar em risco. Estava muito insegura, pois não sabia exatamente o que estava acontecendo. Não estava claro o motivo pelo qual a gangue estava atrás de Gustavo. Seu conhecimento se limitava à vingança, devido a algo que o irmão de Gustavo fez. Ao final da aula, Kelly foi caminhando para casa de forma bem lenta, para tentar ver se a gangue estava por perto, mas naquele dia não viu ninguém. Quando chegou em casa, almoçou, tomou um banho e, diferente dos outros dias, não assistiu as séries favoritas para não ficar ainda mais triste por ver seu ator preferido e lembrar de Gustavo, mas não adiant
Era uma manhã ensolarada, e Kelly foi caminhando pelas ruas tranquilas, enquanto ela imaginava o quão maravilhoso seria o resto do dia. Olhava ao redor para ver se encontrava novamente com a gangue, mas para sua paz, não os viu – pelo menos não estavam ali naquele momento. Ela seguiu caminhando por uns vinte minutos até que chegou nas primeiras grutas. Como havia marcado de se encontrar na caverna maior, deveria andar um pouco mais. Sua ansiedade e o solo rochoso, dificultavam sua caminhada de forma mais rápida. Ela se apoiava nas paredes rochosas e sempre olhando para o chão, tomando o máximo de cuidado, pois havia muitas pedras, algumas mais altas e outras mais baixas e algumas estavam escorregadias, então todo cuidado era pouco naquela região. Depois de entrar e andar no interior da gruta por quase cinco minutos, avistou um belíssimo lago azul, que cintilava o pouco brilho do sol que ainda conseguia penetrar no interior da caverna. Havia uma parte
Chegando em casa, vendo que estava sozinha, pois sua mãe Débora e sua irmã Marcelly ainda não haviam chegado, caminhou direto para seu quarto e se jogou na cama com um sorriso no rosto, e dizendo a si mesma: – Não acredito que isso está acontecendo... Dei meu primeiro beijo... Finalmente... E em um garoto de quem eu gostei... Que me interessou e me mudou no primeiro dia em que vi... Como alguém pode despertar amor em sua primeira aparição? De repente Kelly se pegou pensando em como era sua vida antes de conhecer Gustavo e como ela estava se comportamento atualmente. Se arrumando, se maquiando, não passando mais tantas horas fazendo a mesma coisa. Enfim, estava realmente diferente e estava disposta a correr qualquer risco por ele. Nesse momento ficou um pouco assustada sentindo que a qualquer momento poderia perder o controle de si mesma, mas naquele mesmo momento se perdoou, pois concluiu que estava apaixonada e cada momento que passasse pensando nele seria muito bom. Para a
Conforme os dias foram passando, Kelly e Gustavo foram ficando cada vez mais próximos. Em uma manhã na escola, ele já não quis mais se sentar próximo a Théo, aos fundos da sala. Preferiu ficar mais próximo de Kelly, o que deu margem para a desconfiança de Jéssica: – Kelly, por que Gustavo está sentado tão próximo a nós duas hoje? Será que é por sua causa? – Perguntou Jéssica com ar de curiosidade. – Não sei, Jéssica. Como vou saber se eu mal falo com ele? – “Você mal fala com ele”? Como assim? Eu nunca vi vocês conversando... Então o certo seria “eu nunca falei com ele”. – Depois de uma pausa ela continuou – Kelly, você está me escondendo alguma coisa. – Comentou Jéssica desconfiando da amiga. – Ai, Jéssica, foi só modo de dizer. Realmente eu nunca falei com ele. – Mentiu Kelly. A aula se passou com tranquilidade por mais que Kelly estivesse nervosa por Gustavo estar tão próximo a ela naquele dia. Quando a aula finalmente terminou, ele
Gustavo havia se afastado dela repentinamente, o que fez com que Kelly ficasse cada vez mais desconfiada. Devido a isso, ela passou a dedicar os próximos dias buscando o entendimento do verdadeiro motivo de tê-lo feito se afastar dela. Depois de perder muito tempo tentando entender, mas sem chegar a qualquer conclusão, Kelly resolveu pegar o seu computador novamente como de costume, mas dessa vez não era para assistir as series, e sim para fazer finalmente uma rede social, pois pensou que dessa forma poderia ser mais fácil ter contato com Gustavo ou até mesmo conseguir mais informações sobre os rapazes motoqueiros misteriosos. – Não sei se vai ser tão fácil reunir as informações sobre eles do jeito que eu estou planejando. Se eles forem bandidos mesmo, como Gustavo sem querer disse, eles não devem nem ter esse tipo de contato com a Internet. Ou até podem ter uma rede social, mas não terá a fotos deles, muito menos informações que falem sobre eles, mesmo que exponham
Conforme Kelly andava pelos corredores com Jéssica enquanto se dirigiam para fora da escola, ela olhava para todos os lados tentando encontrar Gustavo. Com certeza ele já foi embora. Pelo tempo que ele saiu da sala e com a pressa que ele estava... Mas onde será que ele está agora? Será que conseguiu chegar em casa em segurança? – Pensou Kelly. Jéssica com seu jeito de querer saber de tudo, ficou observando a amiga discretamente de modo que não fosse notada, mas não se conteve e comentou: – Kelly, pára de ficar perseguindo o garoto com os olhos como se fosse um detetive! – Eu não estou perseguindo ninguém! – Claro que está! Te conheço muito bem, amiga. – Disse Jéssica, rindo. – Ah, Jéssica. Você vive me enchendo o saco. – Respondeu Kelly em tom de brincadeira. Quando se olharam, as duas riram juntas e quando chegaram na porta da escola, cada uma seguiu uma direção diferente. – Ué, Jéssica, achei que você fosse para a ca