POV CALEBAntes de cruzarmos as portas que levavam até a ala da rainha, parei por um instante. Minhas mãos seguraram as de Enrica, quentes, vivas, tão pequenas comparadas às minhas — mas era nelas que todo o meu reino agora se equilibrava.— Enrica…Ela me olhou, os olhos ainda atentos, mas suaves.— Jurei que te protegeria. E não importa quantas guerras eu tenha que lutar, quantos conselheiros eu precise calar ou quantas vezes eu precise me transformar naquela maldita criatura… — respirei fundo, a voz falhando. — Eu faria tudo de novo. Por você.Ela não respondeu com palavras, apenas segurou meu rosto e encostou a testa na minha, fechando os olhos. O cheiro dela era casa. Vida. Promessa.— Eu sei, Caleb. — Sua voz foi um sussurro. — E eu e nosso filho estaremos aqui quando você voltar de todas essas guerras.Minha garganta fechou. Como um lobo que encontra paz em meio à floresta devastada.— Mas eu preferiria que você não começasse mais nenhuma guerra.Eu ri.— Impossível, minha amad
POV CALEBEntrei no quarto em silêncio, mas não fui rápido o bastante para evitar o susto que se estampou no rosto dela. Enrica deu um passo para trás, os olhos arregalados, e levou a mão ao peito.— Pelos deuses, Caleb! — ela exclamou, a voz tremendo. — Você quase me matou do coração!Parei no mesmo instante, o corpo ainda tenso da urgência que me guiava. Levantei as mãos, mas minha presença ali já pesava como algo inevitável.— Me desculpe. Não consegui ficar longe... — minha voz saiu mais rouca do que pretendia. — Achei que soubesse que era eu.— Entrar sorrateiro assim? Como se eu já não estivesse ansiosa o bastante?O coração batia tão forte que quase doía. Caminhei até ela com cautela, mas por dentro, o lobo rugia pela proximidade. Pela marca.— Eu devia te proteger de tudo. Até de mim. — admiti, olhando para suas mãos ainda trêmulas. — Mas continuo te assustando…Ela se aproximou, e ao tocar meu rosto, algo em mim sossegou.— E mesmo assim, é ao seu lado que o medo desaparece.
POV CALEBAs portas do salão se impunham diante de mim, douradas e pesadas, vigiadas por dois guardas cerimoniais. Ao lado delas, estavam minha mãe e Enrica, à minha espera.Amelia cruzou os braços, com aquele olhar de desdém polido que dominava melhor que qualquer coroa.— Até no dia da sua sucessão e casamento você se atrasa. Inacreditável.Bufei, sem muita paciência para repreensões. Ignorando a mãe, voltei meu foco para o que realmente importava. Enrica.Vestida em branco e prata, com uma tiara discreta reluzindo sob as tochas do corredor. Meus dedos buscaram os dela, e beijei sua mão com devoção.Seu sorriso pequeno, nervoso, aqueceu algo profundo dentro de mim.As portas se abriram com um estrondo controlado.— Apresentando Sua Majestade, a Rainha Amelia de Vartheos, o Príncipe Caleb, herdeiro da Coroa, e Lady Enrica.O salão era um mar dourado de olhares. Lustres gigantes pendiam do teto, lançando brilhos cintilantes sobre os convidados. As melodias suaves pairavam no ar, mas o
POV ENRICAO salão ainda vibrava com o eco do uivo de Caleb. Eu sentia minhas pernas fraquejarem, mas mantive a postura, orgulhosa. Caleb apertou minha mão com firmeza, a preocupação claramente estampada em seu rosto.— Você está bem? — ele perguntou, a voz baixa apenas para mim.Senti o calor do pequeno ser crescendo dentro de mim, como se a força do uivo tivesse ressoado também na alma do nosso filho. A tontura era real, mas sorri para ele, firme.— Estou ótima — garanti. — Nada vai estragar esse momento.Caleb pareceu hesitar, mas ao meu sorriso, sua expressão suavizou. O Grão-Mestre Eren se adiantou, seus olhos pairando sobre nós com a solenidade de quem presenciava a história sendo escrita.— Podemos prosseguir? — ele perguntou.Caleb assentiu e hesitante, soltou minha mão. Um novo silêncio se espalhou pelo salão.Eren ergueu os braços.— Diante dos conselheiros, do povo e dos ancestrais, invoco o juramento que sela não apenas uma união, mas uma nova era.Ele indicou para que Cale
POV ENRICAO vento cortante soprava contra a cabana, uivando como uma entidade raivosa, mas foi outro som que me despertou no meio da noite. Um uivo, longo e carregado de um sofrimento que eu não sabia nomear. Não era apenas um chamado ou um aviso, era um lamento profundo, um grito de dor rasgando a escuridão.Sentei-me na cama, ofegante. Meu coração martelava forte contra o peito, a sensação de inquietação se espalhando por minhas veias como veneno. A lareira ainda crepitava, lançando sombras trêmulas contra as paredes de madeira. Mas o calor não era suficiente para abafar o arrepio que se arrastou pela minha pele.Outro uivo ecoou, mais fraco dessa vez, como se a própria noite estivesse engolindo sua força. Engoli em seco. Algo estava errado.Levantei-me sem hesitação, puxando um casaco grosso e calçando minhas botas. O medo sussurrava para eu ignorar aquele chamado, mas a curiosidade sempre foi um veneno que corriam em minhas veias. E eu precisava ver com meus próprios olhos o que e
POV ENRICAAproveitei o momento para agir. A luz tremulante da lareira iluminava os ferimentos abertos em seu pelo negro, o sangue escorrendo em filetes espessos. Precisava cuidar disso antes que a infecção fizesse seu trabalho.Peguei minha caixa de primeiros socorros, os dedos ágeis trabalhando com a familiaridade de anos lidando com agulhas e tecidos. Não era muito diferente.Ajoelhei-me ao lado dele e passei os dedos com cuidado sobre sua pele quente, identificando as flechas alojadas em seu corpo. Ambas exigiriam precisão para serem removidas sem causar mais danos.Respirei fundo e agarrei a haste da flecha do ombro, sentindo a rigidez da madeira sob meus dedos.— Isso vai doer…Ele dormia, mas sua respiração se alterou quando comecei a puxar. O som da carne se rasgando sob a pressão da retirada me fez prender o ar, mas continuei. Um último puxão, e a flecha deslizou para fora, trazendo consigo um fluxo quente de sangue.Imediatamente pressionei um pano limpo contra o ferimento. O
POV CALEBUm rosnado baixo escapou de minha garganta. Meu corpo ainda estava fraco, mas a necessidade de encontrá-la se sobrepôs à dor. Me obriguei a me mover. Cada músculo queimava. Meu peito protestou, minhas pernas tremeram.Mas eu não poderia simplesmente ficar ali.O piso rangeu sob meu peso quando consegui me erguer. Minha cabeça girou. Meu focinho captou um rastro fraco, e eu já estava pronto para segui-lo quando…A porta se abriu. Lá estava ela.Os cabelos ligeiramente desalinhados pelo vento frio. O olhar fixo em mim. O cheiro dela tomou o ar, afogando meus sentidos, preenchendo cada espaço vazio dentro de mim.Relaxei sem perceber. Ela voltou.— Eu trouxe frutas para você. — A voz dela era suave, mas hesitante. — Não tenho mais nada… Me desculpe.Ela se desculpava? Apenas a observei. Comida não era o que eu queria. Mas deixei que se aproximasse, sentando-se ao meu lado, oferecendo um pedaço da fruta.Seus dedos hesitaram antes de tocarem meu focinho. E quando finalmente tocar
POV CALEBO castelo surgiu no horizonte como uma sentinela silenciosa, um farol sombrio na vastidão gelada de Vartheos. As torres perfuravam o céu acinzentado, e as bandeiras negras tremulavam com o vento cortante, carregando o brasão do reino como um aviso.Eu deveria me sentir em casa. Mas não me sentia.Cada pedra, cada sombra naquele castelo deveria me ser familiar. Mas agora, parecia estranho. Como se eu fosse um estrangeiro em minha própria terra.O frio me recebeu como um golpe de lâmina quando pisei dentro dos portões. Meu corpo protestou contra a transformação, músculos enrijecidos queimando com a dor da mudança abrupta. Minha pele nua se arrepiou, e o vento cortante me lembrou de que eu ainda estava ferido, exausto e marcado pela batalha.Um dos guardas hesitou antes de retirar seu próprio manto e me estender, sem dizer uma palavra. Peguei a peça de roupa e a vesti rapidamente, cobrindo os cortes e hematomas que ainda latejavam. Meu corpo pulsava de dor, mas aparecer diante d