Madrid, Espanha 1999Dias atuais.Serena SmithÚltimo dia nesse apartamento, a sensação de melancolia atinge em cheio meu coração. Faz quase seis meses que a universidade da Itália confirmou minha residência e de Violet. Sim, ainda estamos juntas e vamos ficar assim até ficarmos bem velhinhas.Quando chegamos em Madrid, meu tio quase me levou de volta pelos cabelos. Gritou, surtou, me ameaçou mas no final, respirou fundo e se acalmou quando disse a ele que estava bem. Ele não acreditou muito na minha conversa, mas o que ele podia fazer? Já havia voado e atravessado o oceano atlântico, agora era encarar a realidade. Depois de um ano estudando em Madrid, resolvi vender a casa dos meus pais, era um novo começo e queria criar memórias totalmente do zero. Por mais que nunca tenha vindo para cá quando eles eram vivos, muita coisa do apartamento lembrava os dois. Minha mãe fez questão de decorá-lo pessoalmente e quando abri a porta, vendo cada detalhe meu coração doeu de saudade. Sou uma m
Reaprendendo a viver— TIA!Minha cerejinha grita segurando a porta. Já está de noite, a menor já devia estar dormindo. Sorrindo sapeca, ela corre na ponta dos pés e diz:— Tia Serena.Encaro minha afilhada nos olhos e me apaixono ainda mais. Seus cabelos loiros e os olhos verdes, parecem duas esmeraldas. Seu sorriso sapeca consegue tudo o que quer comigo, tento parecer séria e digo:— A senhorita já deveria estar dormindo. Amanhã iremos viajar minha cerejinha.—
Apesar do sol quente, uma brisa suave tornava o clima agradável quando eu e Violet saímos do hospital. Caminhávamos calmamente, aproveitando aquele raro momento de paz. O novo colégio das crianças ficava a poucos minutos dali. Violet estava radiante e eu tentava absorver sua animação, mas minha mente parecia em outro lugar.Quando paramos em frente ao portão principal, fechei os olhos e deixei a brisa tocar meu rosto. Era um daqueles momentos em que o silêncio parecia dizer mais do que qualquer palavra. Inspirei fundo, sentindo o cheiro fresco das árvores e da grama recém-cortada. Por um momento, quase consegui me sentir leve, livre de qualquer sombra do passado. Quase.E então, Vittorio surgiu na minha mente como um raio inesperado. Seu sorriso presunçoso, sua voz grave e provocante, o olhar que me despia com tanta facilidade. Senti meu peito apertar de uma forma familiar e odiosa ao mesmo tempo.Eu abri os olhos rapidamente, como se isso pudesse apagar aquela lembrança indesejada. V
Nova RealidadeMilão, ItáliaSexta-feira, 1999/06/13O ambiente sombrio combina com o local onde Don Vittorio se encontrava. Ele tinha acabado de descobrir que um de seus soldados desviou uma de suas cargas e vendeu para os albaneses.Se existia uma coisa que Don Vittorio não perdoava eram traidores, ele gostava de pessoalmente mostrar para esses filhos duma puta que ninguém deveria nunca trair seu Don e sua família.A luz fraca de uma única lâmpada pendurada no teto balança suavemente, criando sombras dançantes nas paredes sujas. No centro do armazém, uma mesa de madeira maciça está cercada por homens de aparência ameaç
Ela me olha nos olhos como ordenei e respondo:— Cagna obbediente, mi piace. [Cadelinha obediente, gosto disso.]O ardor na palma da minha mão me faz sorrir, marcar sua pele e o espanto silencioso me excita com um tapa atrás do outro.PlaftPlaftEla se afasta mas impeço que continue, envolvendo com as mãos seu pescoço avermelhado. Engolindo a saliva, me encara temerosa.— Eu deixei claro que quero você me olhando enquanto te fodo Lembranças dolorosasHospital Imperatore[23:45 p.m]Serena estava de plantão. Tinha assumido a emergência há pouco mais de 15 dias. Os horários dela e de Violet eram diferentes. Foi recebida pela diretora do hospital, Alekssandra Portinari. A mulher era uma sumidade no que diz respeito à cirurgia geral, fazia jus ao seu nome. Serena ficou encantada com a simpatia da mulher e com seu jeito simples, mesmo sendo uma pessoa importante. A morena, também estava de plantão, pois o hospital estava movimentado e tinham algumas ausências de pessoal. — Serena, estarei na minha sala organizando uns prontuários, caso precise de ajuda, estarei à disposição. A ruiva sorriu para a morena que retribuiu o sorriso. Serena dirigiu-se para a sala vermelha, onde ficavam os pacientes que necessitavam de cuidados imediatos. O hospital, apesar de cheio, estava calmo até a porta da emergência ser aberta de maneira abrupta e por ela entrarem três figuras bastante conhecidas por Alekssandra. A morena, no prCAPÍTULO XXXVI
RevelaçõesA noite estava carregada, parecia fria demais, mesmo para alguém como eu, acostumado ao peso do silêncio e das sombras, mas dessa vez, não era o vento gelado que me incomodava e sim a ausência dela.Cada passo que eu dava ao lado de Alonso, cada som abafado de nossos sapatos contra o asfalto, fazia minha mente rodopiar em torno de uma única coisa: Serena.Depois de quase sete anos… lá estava ela, em carne e osso. A mesma ruiva que eu prometi esquecer e nunca consegui. Sete anos vivendo com a sombra dela em cada minuto do meu dia. Sete anos me amaldiçoando por ainda amar uma mulher que ao me ver hoje, simplesmente me ignorou.&n
O corredor do hospital parecia mais longo do que nunca. O som abafado dos meus sapatos contra o piso frio misturava-se ao pulsar acelerado do meu coração. Ainda podia sentir o olhar de Vittorio sobre mim, queimando minha pele, como se ele pudesse ver através da máscara que eu vesti.Rever Vittorio foi como ser atingida por uma tempestade devastadora, impossível de ignorar. Ele era o mesmo, os olhos azuis intensos, a presença arrebatadora, o ar de poder, mas algo neles estava diferente… havia uma sombra de mágoa, dúvida, quem sabe era desdém. Eu queria acreditar que era só impressão, mas a forma como ele me olhou…Sentia todo o meu corpo estremecer.Quando sai daque