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C8- DESCOBRINDO A VERDADE

Acordo com o dia ainda claro, fico mais alguns minutos na cama me preparando mentalmente para o questionamento da minha mãe, afinal ela notou algo e não vai deixar isso passar com certeza.

Após alguns minutos arrumo coragem e então saio da cama, vestindo apenas uma calça legging e uma camiseta branca com os cabelos amarrados em um coque bagunçado, desço a escada e vejo minha mãe sentada tomando a sua famosa xícara de chá-inglês, ela nunca perde esse costume, sim, a minha mãe é britânica e esse costume a acompanha até hoje.

Ela me olha e vejo um misto de preocupação e ansiedade, o que me deixa um pouco estranha, não sei o porquê.

— Filha, que bom que acordou, como não almoçou junte-se a mim no chá. — Fala me dando um sorriso acolhedor.

— Claro, mãe, eu ia pedir um lanche, mas está ótimo esse bolinho. — Falo enquanto me sento ao seu lado para colocarmos a conversa em dia, mesmo porque sei que este é o motivo principal para esse convite.

— Heather meu amor, vejo que você voltou de Paris com um olhar diferente, feliz, o que aconteceu? Eu deveria saber? — Pergunta me olhando profundamente, como se estivesse querendo ler a minha mente.

— Não é nada mãe, apenas me diverti bastante. — Tento desconversar, mas sei que não vou conseguir escapar disso.

— É bom mesmo filha, mesmo porque seu pai e eu precisamos conversar com você, é algo sério...

— Tem algo a ver com a empresa mãe? Notei que o advogado estava aqui mais cedo e não parecia muito feliz, seja lá com o que for...

— Espere seu pai vir filha, a conversa é séria.

Engulo em seco as palavras da minha mãe, tenho a impressão que a coisa não é tão simples, e com certeza tem alguma bomba vindo aí, então apenas tento me manter o mais calma possível.

— Onde está o papai?

— No escritório, mas aconselho você a deixá-lo lá e esperar ele sair por conta própria, não o chame...

— Mãe, o que está me escondendo?

Assim que as palavras saem da minha boca, eu me arrependo ao ver o rosto da minha mãe ficar pálido e fico ainda mais angustiada.

Após me aproximar um pouco mais da minha mãe, escuto a porta do escritório ser aberta e meu pai surge nos olhando com um olhar complicado...

— Filha, o que aconteceu? — Meu pai pergunta enquanto corre na nossa direção, mas vejo ele relaxar quando se aproxima.

— Pai, eu não sei, ela estava falando comigo e...

— Anthony, não é nada, acho que deveríamos conversar com a Heather, ela precisa saber...

Vejo meu pai suspirar enquanto olha para minha mãe e depois vai ao bar e coloca uma dose de whisky sem gelo e toma de uma vez, o que não costuma acontecer com frequência, conheço bem o meu pai e sei que ele está tentando se preparar para seja lá o que tem a me dizer.

— Se tem algo importante que eu deveria saber, acho que é melhor me contarem de uma vez, não quero ficar no escuro, eu vi o nosso advogado aqui hoje quando cheguei e sei que tem algo de errado, que tal abrirem logo o jogo? — Falo um pouco mais algo mesmo porque não estou gostando de todo esse suspense.

— Tudo bem, tudo bem, vamos sente-se, Heather. — Meu pai fala e logo em seguida pede que uma das empregadas traga mais chá e eu encaro meu pai.

Alguns minutos depois e com o chá servido, ele me encara por alguns segundos.

— Filha, eu pedi para você voltar da viagem porque a situação da nossa empresa está complicada, e eu tentei de todas as formas resolver a situação, mas infelizmente não consegui por meios normais... Se não resolvermos a situação teremos que declarar a falência da nossa empresa, a Asper Technology deixará de existir...

— Não podemos deixar isso acontecer pai, precisamos fazer algumas coisas, tem que ter um jeito. — Falo assustada, afinal eu sempre vivi muito bem graças a nossa empresa e como o meu pai a administrou desde sempre.

— Eu sinto muito filha, mas eu já tentei, nós já tentamos...

— Pai, eu posso trabalhar e ajudar no que for preciso, eu- eu...

— Filha, eu sinto muito, mas tem uma forma de salvar a nossa empresa, mas...

— O que está me escondendo pai?

— Eu sei que sempre foi contra o casamento, mas... mas... — Ele fala enquanto baixa um pouco o olhar.

— Pai... — Falo já alterando a minha voz, não estou gostando do rumo que as coisas estão tomando e meu pai está muito nervoso para falar e sei que isso não é nada bom.

— Eu tenho um amigo, e ele está disposto a investir na empresa filha, seria a nossa salvação, entende...

— Pai, nem vem, eu não pretendo casar, não ainda, e o pior para salvar a empresa, sem chance, se essa é a possibilidade pode decretar falência, eu não vou casar, não mesmo... — Falo já bastante irritada.

— Eu nem falei nada ainda, Heather, pensa filha, não é de todo ruim, é apenas um acordo e depois você pode separar.

— Pai, o senhor me fez voltar de Paris por causa disso? Pela possibilidade de me trocar por dinheiro? É isso que eu sou para você pai? Uma moeda de troca? Quanto é que eu estou valendo no mercado de ações? Me fala pai. Me fala? Qual é o meu valor? — As palavras escapam da minha boca ao mesmo tempo que a decepção se instala dentro de mim, e as lágrimas rolam pelo meu rosto, tamanha a dor que estou sentindo neste momento.

Assim que termino de falar sinto um tapa no meu rosto, o clima fica ainda mais pesado, minha mãe levanta e vem na minha direção enquanto olha meu pai nos olhos, dando -lhe um olhar de reprovação e vejo raiva nos seus olhos...

— Filha se acalma, seu pai não quis dizer isso. — Tenta acalmar a situação, mas eu já não consigo mais me controlar.

— Eu acabo de voltar de uma viagem a mando do senhor, meu pai, e é isso que me espera em casa? — Agora as lágrimas já rolam descontroladas no meu rosto tamanha a raiva, decepção, me solto dos braços da minha mãe e saio batendo a porta, mas sou impedida de sair pelos seguranças.

Caminho até a garagem e entro, vejo que o meu carro está com a porta aberta e entro, fico alguns minutos sentada tentando entender o porquê meu pai fez isso, nem preciso saber de quem ele estava falando, não tenho o menor interesse nessa negociação, sem chance que esse casamento aconteça, é impossível essa possibilidade...

Com a cabeça recostada no banco e com os olhos fechados, repasso mentalmente a conversa com o meu pai, tento encontrar alguma falha, mas é em vão, os minutos passam e sinto-me exausta, o meu dia não poderia ser pior, respiro fundo e decido voltar para casa, melhor, para o meu quarto, mesmo porque já não quero ver e nem ouvir ninguém.

Assim que saio, vejo o motorista do meu pai me olhando com carinho, caminho até ele e me jogo nos seus braços.

— Thomas, você já sabia desses planos do meu pai? — Pergunto enquanto sinto sua mão me fazer carinho na cabeça e escuto ele suspirar e entendo que sim.

— Era isso que você quis dizer com meu noivo, não era? — Pergunto me afastando do seu peito e ele me olha suspirando mais uma vez.

— Heather minha menina, você sabe que eu não posso e nem devo me meter nos assuntos da sua família, mas mesmo assim, acho que você deve escutar seu pai, para o seu bem...

— Thomas, não acredito que você também concorda com essa sandice do meu pai.

— Heather, você está de cabeça quente, mas depois que você relaxar e conversar com a sua mãe pode mudar de ideia...

— Thomas eu...

— Heather, me escute, pelo que escutei o advogado falar, a situação não é boa, e seu pai não sabe mais o que fazer...

— Thomas, eu não quero falar sobre isso, eu vou para o meu quarto, me trancar e quem sabe consigo descansar um pouco.

— Tudo bem, Heather, você precisa mesmo descansar, sei que o que você acha que já descobriu te deixou bem chateada, eu te conheço menina, então vai, descansa, e quem sabe você chama o seu amigo, já avisou ele que você voltou? — Me pergunta me olhando com expectativa.

— Ainda não liguei para o Thomaz não, mas ele já deve saber, o pai dele estava aqui quando eu cheguei. — Dou de ombros e após dar mais um abraço volto para casa, assim que entro vejo meu pai bebendo mais uma dose, o olho por alguns segundos e vou na direção da escada.

— Heather, precisamos continuar essa conversa...

— Já chega pai, já lhe disse que não vou ser usada nos seus planos, não insista, e nem mande ninguém me chamar, estou indo dormir, descansar. — Falo e em seguida subo a escada correndo me trancando em seguida no meu quarto.

Era só o que me faltava, ser usada em uma transação empresarial...

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