Na manhã seguinte, Felipe acordou antes de Valéria, seus braços ao redor dela, uma posição que raramente adotava. Ele observou o rosto tranquilo dela, ainda adormecida, e, por alguns minutos, permaneceu em silêncio, apenas contemplando-a. Quando Valéria sentiu o movimento, abriu os olhos lentamente e encontrou o olhar atento de Felipe. A surpresa a fez piscar algumas vezes antes de murmurar: — O que foi? Felipe desviou o olhar após uma pausa. — Nada. Você já está acordada. O ambiente ficou carregado de uma tensão silenciosa. Valéria se ajeitou na cama, sentindo que aquele era o momento de falar. — Felipe... — disse ela, hesitante. — Eu só queria entender por que você está fazendo isso. Felipe franziu o cenho, confuso. — Fazendo o quê? Ela suspirou. — Cuidando de mim desse jeito. Fazendo tudo por mim. Você não tem obrigação de fazer isso. Felipe ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder, em seu habitual tom pragmático. — Você precisava de ajuda. Eu estou aqu
Valéria, já à beira de sua paciência, não conseguiu mais segurar as emoções reprimidas. — Sinceramente, Felipe, acho que você nem sabe o que quer! — disse ela, a voz carregada de frustração. — Eu cansei de ficar aqui, sem entender meu lugar na sua vida. Eu vou embora. Felipe a observou, seu rosto inexpressivo, mas algo em seus olhos sugeria que ele estava lutando contra algo mais profundo. — Felipe, você acha que é fácil para mim estar aqui, falando sobre o que eu sinto? — continuou ela, sua voz mais intensa do que o habitual. — Você acha que é fácil dizer isso, sabendo que você não pensa o mesmo que eu? Felipe permaneceu em silêncio, seu rosto inalterado, mas seus olhos revelavam que ele estava ouvindo com atenção. — Você não faz ideia de como é difícil para mim me abrir assim. Eu me sinto vulnerável, exposta. E tudo o que recebo de você é esse... controle. — Valéria fez uma pausa, tentando controlar a emoção que se acumulava. — Isso não é fácil para mim. Felipe continuava a obs
O silêncio que se seguiu às palavras de Felipe foi preenchido por uma tensão quase palpável. Valéria o observava, tentando assimilar o que ele havia dito. Era um passo, por menor que fosse, e ela sabia que, vindo de Felipe, isso significava mais do que ele estava disposto a admitir. Mas algo dentro dela ainda estava em conflito. Ela sentia que precisava ir além, que precisava quebrar de vez as barreiras que ele tanto se esforçava para manter. — Tentar já é um começo — disse ela suavemente. O tom de sua voz carregava uma nota de determinação que Felipe pareceu captar de imediato. Seus olhos buscaram os dele com uma intensidade que fez Felipe hesitar por um breve momento. — Mas eu também preciso te mostrar algo — disse ela, sua voz quase um sussurro. — Que eu também estou disposta a tentar... de um jeito diferente. Felipe, sempre tão frio e no controle, parecia pego de surpresa pela suavidade do toque e pelo que Valéria estava sugerindo. Havia algo novo nos olhos dela, algo que el
Valéria entrou no apartamento com uma sensação de alívio. O trajeto de volta tinha sido um tempo necessário para refletir sobre a reunião com Ricardo. Embora a reunião tivesse corrido bem, o peso do projeto e a proximidade com Ricardo mexiam com ela de uma maneira difícil de ignorar. Enquanto caminhava pela sala silenciosa, sentiu a energia do ambiente familiar, algo que a tranquilizava e a trazia de volta ao foco. Dona Marta estava na cozinha. — Oi, querida. Jantar em meia hora, tudo bem? — perguntou Dona Marta. Valéria assentiu, forçando um sorriso leve. — Perfeito, Marta. Obrigada. Ela subiu as escadas lentamente, sentindo o cansaço emocional mais do que o físico. As expectativas colocadas sobre seus ombros com o documentário a deixavam tensa. Ao mesmo tempo, algo dentro dela também estava empolgado com a oportunidade. Ser o rosto de um projeto tão grandioso era um marco para sua carreira. No entanto, ainda restava a questão de Felipe. Ela sabia que ele não gostava m
Valéria acordou com a luz suave da manhã entrando pelas cortinas. O calor do corpo de Felipe ainda a envolvia, mas ele já havia se levantado. O cheiro de café fresco preenchia o ambiente. Descendo as escadas, encontrou Felipe na cozinha, conversando com Dona Marta sobre o café da manhã. — Bom dia — disse ela, com um sorriso leve. Felipe a observou por um momento, o olhar mais suave do que o normal. — Bom dia. Está pronta para a última sessão de fisioterapia? — perguntou ele, servindo-se de café. Valéria se aproximou da mesa e pegou uma xícara. — Acho que sim. Espero que hoje seja o último dia — respondeu, sentando-se ao lado dele. — O fisioterapeuta deve chegar em breve. Se tudo correr bem, você será liberada — comentou Felipe, tomando um gole de café, mantendo o tom casual. Valéria sorriu, sentindo-se mais leve. A recuperação tinha sido tranquila, e ela estava ansiosa para retomar sua rotina. Pouco depois do café, o fisioterapeuta chegou. Ele tinha uma postura profissional, m
O tempo passou rapidamente desde o início das gravações do documentário, e o estúdio Allegro finalmente estava pronto após as reformas causadas pelo incêndio. Valéria sentia um misto de alívio e satisfação ao ver tudo em ordem novamente. O estúdio era sua segunda casa, e agora, com as gravações acontecendo lá, a sensação de pertencimento era ainda maior. Lara, sua amiga e parceira no estúdio, também estava envolvida nas gravações. A cena daquele dia focava na reconstrução do estúdio e no papel de Lara e Valéria como professoras. Enquanto a equipe se preparava, Lara se aproximou de Valéria com um sorriso descontraído. — O estúdio está mais bonito do que antes — comentou Lara, admirando o ambiente. Valéria sorriu, concordando. — Sim, depois de tudo que passamos, ele está melhor do que nunca. Só espero que possamos continuar assim, sem mais incidentes. — E como você está lidando com tudo isso? — perguntou Lara, enquanto aguardavam a equipe técnica. Valéria suspirou. — É cansativ
Valéria estava exausta. As filmagens do documentário estavam chegando ao fim, e os últimos ajustes estavam tomando mais tempo do que ela esperava. Já era tarde, e o estúdio estava quase vazio, exceto por algumas pessoas da equipe de gravação. — Que bom que terminamos por hoje — disse Ricardo, aproximando-se. Ele estava sempre por perto nos últimos dias. Valéria suspirou, aliviada. — Mais dois ou três dias e finalmente acabamos — comentou, com um leve sorriso cansado. Ricardo assentiu e caminhou com ela até a saída. Seu carro já estava esperando com o motorista, mas ele se ofereceu para levá-la. — Quer uma carona? — perguntou Ricardo, com um sorriso amigável. Valéria balançou a cabeça. — Não, obrigada. Prefiro pegar um táxi. Preciso de um tempo sozinha para relaxar. Ricardo assentiu, respeitando a decisão. — Tudo bem, então. Cuide-se — disse ele, enquanto entrava no carro. Valéria ficou do lado de fora, esperando o táxi que havia chamado pelo celular. O ar da noite era fresco,
Felipe, ainda segurando Valéria com firmeza, lançou um olhar para o delegado e Heitor, que estavam do outro lado da sala, conversando. Ele sabia que algo maior estava acontecendo, e essa era a segunda vez que Valéria havia sido colocada em uma situação de perigo. Seus instintos gritavam para que ele tomasse o controle da situação, e a ideia de que mais alguém pudesse estar tentando prejudicá-la só aumentava sua determinação. — Eu quero acompanhar o interrogatório — disse Felipe, sem desviar o olhar de Valéria, mas falando diretamente para Heitor e o delegado. Heitor, que era tanto amigo quanto advogado de Felipe, assentiu de imediato, reconhecendo o tom de urgência na voz do amigo. — Já estamos com um dos homens presos — respondeu o delegado. — Os outros fugiram, mas a polícia está rastreando a área. O que foi capturado está sendo interrogado agora. Felipe olhou para Valéria, que ainda estava visivelmente abalada, mas tentando manter a calma. Ele sabia que deixar o homem que a