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Capítulo Vinte e Sete: Não Desista.

Dizem que a morte é previsível, que normalmente sentimos ela, que sabemos quando está na hora, de finalmente, dizer adeus.

                O escuro. O vazio. Às vezes, tudo que nos resta de vida, está preso a vontade de rever as melhores lembranças das nossas vidas ou as piores, mas as vezes, a morte é apenas o silencio imenso que nos rodeia, a escuridão que nos cerca, sem deixar um traço de vida a qual possamos nos apegar.

                Um barulho ensurdecedor domina meus ouvidos, tento abrir os olhos mas noto que estou fraca demais para isso.

                Sinto algumas mãos mexerem o meu corpo para o lado, em seguida, algo que parece ser uma placa de metal é colocada embaixo da mesma, e então, eu relaxo, a gravidade, ou o que quer que seja, me puxa pra baixo, e subitamente eu necessito relaxar em meio à força me puxando. 

                Dois aparelhos são colocados sob meu peito, sinto o choque me puxando de volta, quase me acordando e novamente, sinto algo me puxar, eu quero lutar mas meu corpo quer se entregar, o choque percorre mais uma vez meu corpo, o processos se repete por cinco ou seis vezes, até sentir que, não haveria mais choques, apenas a escuridão diante dos meus olhos.

                Meu corpo é puxado, não sinto mais as mãos ágeis que antes ajudavam a me manter resistindo a força que quer me levar, não à mais ao que resistir.

— por favor, ele te ama! –  A voz feminina e calma de alguém soa aos meus ouvidos, tento me debater, mas é em vão.

Vamos Sophia! RESISTA! –   Ela grita, e novamente sinto o choque, essa vez, abro os olhos lentamente.

— Isso! Estabilizamos! –  A voz comemora e eu sinto meus olhos sofrerem com a claridade.

— Sophia, sou a doutora Emma, estou cuidando de você. Você levou um tiro, ficou duas semanas em coma induzido! Consegue me ouvir? –  Emma pergunta e eu aperto a mão da mesma em resposta.

— Sei que está difícil! Só continue respirando! –  Emma fala e eu fecho os olhos e me concentro em respirar.

 

                                Três Meses depois...

                Emma entra no meu quarto, prendendo seus cabelos vermelhos, ela sorri quando me vê sentada.

— O que eu falei sobre esforços? –  Emma pergunta e eu sorrio.

— Sentar não é um esforço! –  Falo e ela ri.

— Vou te transferir para um quarto hoje! –  Emma fala e eu noto um tom de preocupação em sua expressão.

— Emma, porque ninguém veio me ver desde que acordei? –  Pergunto e ela muda a expressão.

— Thiago e Mikhail, descobriram de onde veio a bala que atingiu a sua cabeça! Estamos em guerra desde que você chegou! Thiago está furioso com tudo, principalmente com a assinatura da bala! –  Emma fala e eu a encaro.

— assinatura? –  Pergunto e ela assente.

— Todo membro da máfia italiana tem uma assinatura e balas personalizadas com a mesma, o problema é que, o homem que fez você sofrer o acidente à quatro anos é o mesmo que tentou te matar agora! –  Emma fala e eu me assusto.

— Meus pais e os outros.? –  Pergunto e Emma respira fundo.

— estão aqui na casa, mas estão trabalhando na investigação para descobrir o dono da assinatura! –  Emma fala e então encerramos a conversa.

                Emma saiu do quarto pouco tempo depois de me examinar e prescrever mais medicamentos. O barulho das maquinas que controlam meus batimentos são, literalmente, minha companhia constante.

                Horas mais tarde, ainda com os olhos fechados, escutei os passos de alguém entrando no meu quarto, mas não abri os olhos, acreditando que fosse outra das quatro enfermeiras que vem de hora em hora, me dar remédios.

— Queria entender o porquê de cada vez que eu me aproximo, você parar em um hospital! –  A voz suave e de Thiago ecoa por meus ouvidos.

— Você precisa entender que, não é culpa sua! –  Falo baixo, mas ele escuta.

— Não sabia que você estava acordada, desculpa! –  Thiago fala e eu seguro sua mão, assim que ele tenta se afastar.

— Não se culpe por isso, por favor! –  Falo e ele me encara.

— A quatro anos você parou em um hospital Sophia! A história está se repetindo cada vez pior! –  Thiago fala alterando o tom de voz.

— Mas não por escolhas nossas! –  Falo quase gritando.

— E eu vou fazer o que? Deixar você morrer por minha causa? Eu te coloquei na máfia, naquele palco! –  Thiago fala e cerra os punhos.

— Foi uma decisão minha! Eu concordei com o meu pai! Eu fiz a escolha sabendo dos riscos Thiago! –  Falo e ele se afasta, visivelmente irritado.

— Eu não posso ser cruel ao ponto de ser egoísta com você Sophia! –  Thiago fala respirando fundo.

— Porque você estaria sendo egoísta? –  Pergunto e ele me olha, fixamente, prendendo minha atenção aos seus olhos.

— Porque, eu te amo! Mas te amar, é como te colocar na mira de todos os meus inimigos, e eu não ligaria se fosse a minha vida à ser perdida, mas é a sua, e ver você em um caixão, doeria mais que morrer da pior forma possível. –  Thiago fala deixando escapar uma lágrima

— Eu não ia te contar isso, mas, na iniciação, era o seu nome que eu ia chamar pra ser o guardião da minha vida e da minha morte! –  Falo e tranco a respiração, sentindo minha cabeça girar.

— O que isso quer dizer? –  Thiago pergunta, segurando a minha mão.

— Thiago, meu coração ainda está uma bagunça e uma mistura de tudo que aconteceu nos últimos meses, mas algo em mim, ainda está ligado a você. Não pense que não tentei desfazer isso, cheguei a acreditar que sim, eu nunca mais reagiria a você como há quatro anos, mas quando você voltou, tudo voltou! –  Falo e vejo um sorriso brotar em seu rosto.

— Como vou dizer Adeus para você depois disso? –  Thiago pergunta e eu olho pra ele.

— Você não precisa ir a lugar nenhum, se não quiser! –  Falo e ele me abraça.

— Eu preciso caçar uma pessoa, devo levar alguns dias até achar ele, mas eu volto assim que puder! –  Thiago fala e eu mudo minha expressão.

— Você já sabe quem foi? –  Pergunto sentindo meu peito se apertar.

— Sim! Lamento que seja desse jeito, sem um julgamento! –  Thiago fala e eu o encaro.

— O que você está escondendo? Porque não vai ter julgamento? –  Pergunto e ele hesita antes de falar.

— Porque não quero que ele te veja! –  Thiago fala com raiva novamente.

— Posso saber o porquê? A máfia julga todos os acusados Thiago, porque esse não? –  Pergunto.

— Porque esse, é Diogo Santini! –  Thiago fala e sai do quarto.

   "Por que esse, é Diogo Santini"

                As palavras de Thiago ecoaram na minha mente durante uma semana, que se passou lentamente, meus pais e irmãos vieram me visitar junto com meus tios de criação e a Rafaela, Tyson n também veio.

                Laura e Lorenzo vieram rapidamente para me desejar melhoras, assim que comecei a andar pelos corredores novamente, Mikhail me recebeu com um abraço não tão apertado, por conta dos machucados.

                Nesse momento, estou sendo acompanhada por ele, até o escritório.

— Tyson e Rafaela estavam disputando corrida até a cozinha hoje de manhã! Me lembrei de quando minha Natasha ainda estava viva!  –  Mikhail fala e eu gargalho.

— Posso fazer uma pergunta? –  Pergunto enquanto andamos.

— Pode sim! –  Mikhail fala prestando atenção em mim.

— O senhor nunca pensou em se casar de novo? –  Pergunto e ele sorri.

— Eu acredito que temos muitas paixões nessa vida querida, mas, somente um amor! E além disso, já estou velho demais para recomeçar! –  Mikhail fala e eu sorrio, apesar de não algo engraçado.

— Isso foi lindo! –  Falo e ele ri.

— Entre por favor! –  Mikhail fala e abre a porta do escritório me dando passagem.

                Me sento em uma poltrona, e Mikhail vai até sua cadeira.

— Te trouxe aqui para primeiramente, te entregar uma carta a pedido do Thiago, e também te dar um presente, pois você lutou muito para ficar viva, lamento que isso tenha acontecido durante a iniciação, saiba que te iniciamos, e que só ficou em aberto, a escolha do seu padrinho ou madrinha. Quer escolher? –  Mikhail fala e me entrega um envelope.

— Eu agradeço senhor Mikhail! Por isso e por terem me acolhido como se fosse parte da família! Quando a minha escolha, escolho o Thiago! –  Falo e ele sorri.

— Thiago é como um neto para mim e ele te ama, jamais deixaria a futura mulher do líder da máfia morrer, ele me fez prometer isso muito antes de eu te conhecer pessoalmente! –  Mikhail fala.

— Antes? –  Pergunto e ele sorri.

— Já falei demais querida, vá descansar! –  Mikhail fala e eu respiro fundo.

— Quando Thiago chegar, fale para ele ir até o meu quarto! –  Falo e Mikhail concorda com a cabeça.

                Caminhei até o meu quarto, que fica no segundo andar da casa, fazem cinco dias que fui liberada do setor do hospital, desde então, durmo nesse quarto.

                Me sento na cama e abro a carta que Thiago deixou com Mikhail e começo a ler ela.

      Carta do Thiago...

     Oi Sophia. 

  Antes de começar está carta, quero que saiba que escrevi ela olhando você dormir e torcendo para que não acordasse.

   Sei que ainda temos muita coisa para resolvermos, contarmos, vivermos...

   Quero que saiba que quando fui ao seu quarto na ala do hospital, fui para me despedir definitivamente, minhas intenções nunca foram machucar você, mas de alguma forma, eu sempre acabo te colocando como alvo de uma luta que não é sua, uma luta que já tirou de nós, nosso bebê.

    Meu mundo é uma guerra Sophia, uma guerra que você, mais do que ninguém, conhece perfeitamente, pois viveu nela. 

    Eu fui covarde a três anos, quando tomei a decisão de ir embora sem ao menos perguntar se você ficaria bem, mas, foi tudo por conta do que prometi a mim mesmo e ao seu pai, que cuidaria de você, de longe, ou, a quilômetros de distância de você. 

       Eu quis apagar da memória tudo que tinha você, mas, meus momentos mais felizes foram ao seu lado, quis apagar de mim o fato de amar seus olhos, mas guardei comigo a imagem deles brilhando. Eu quis te afastar porque achei que seria forte o suficiente para isso, mas eu não sou, vivi sim, quatro anos longe de você, com uma vida agitada, mas, quando entrei naquela reunião, onde sabia que Tyson havia te convidado para ir, a pedido de Mikhail e, é claro, com a minha aprovação, tudo que tentei esquecer se pôs diante dos meus olhos, com mais marra e ainda mais beleza.

    Eu queria ir embora naquele dia, até você falar quem seria sua escolha, é incrível como suas palavras me mudaram. 

    Eu aceitaria seu convite com toda alegria, cumpriria sim a primeira parte, te proteger com a minha vida, por toda a vida, mas, jamais conseguiria te ferir, mesmo que para isso custasse a mim, tudo o que Mikhail me deu e também a minha vida. 

     Ainda tenho coisas para te falar, como o acordo de proteção, mas isso, falo quando chegar em casa. 

     P.s: Belo pijama mocinha!

                Termino de ler a carta e me pego sorrindo em meio as palavras de Thiago.

                Guardo a mesma na cabeceira da minha cama e vou para o banho, logo depois de colocar um pijama confortável, sendo ele, um short preto e uma camiseta larga da Minnie, pedi para a empregada da casa trazer meu jantar no quarto, Emma trouxe meus remédios e tomei todos, enquanto conversávamos sobre o que estava acontecendo na máfia. 

                Quando Emma saiu, deitei na cama, liguei o ar e puxei as cobertas, li um pedaço do livro "A chama entre nós" e logo escutei leves batidas na porta do quarto.

— Entra! –  Falo me sentando na cama.

— Mikhail disse que você queria falar comigo. –  Thiago fala e eu bato na cama, para que ele sente.

— Depois da sua carta, acho que precisamos! –  Falo e ele desvia o olhar.

— O que você quer saber? –  Thiago pergunta e eu respiro fundo.

— Você foi embora por causa do acidente? –  Pergunto e ele segura minha mão.

— Não por causa do acidente, mas, fui embora porque achei que nunca conseguiria te dar segurança para um dia construirmos nossa família em segurança, então, tentei deixar que você fosse feliz, sem me ter na sua vida! –  Thiago fala e posso perceber a dor na sua voz, aperto sua mão.

— Era seu filho também Thiago, não fui a única a perder algo. Me senti culpada por não proteger ele ou ela, quis sumir e te deixei ir justamente por isso. –  Falo e ele concorda com a cabeça.

— Me explique sobre o acordo com Mikhail! –  Falo e ele respira fundo.

— Depois do acidente, recebi uma ameaça, uma foto sua no hospital, com um "X" em cima, me apavorei tanto que liguei para o Eduardo, ele conectou a imagem com a máfia Italiana e falou com Mikhail, tivemos nossa primeira reunião semanas depois. Ele me ofereceu uma vaga ao seu lado em Miami, assim eu ficaria longe de você, como eu achava ser o melhor, mas, antes de aceitar, coloquei uma regra no acordo, Mikhail e toda a máfia jurariam te proteger, independentemente de você saber ou não, em São Paulo, tínhamos um infiltrado no seu prédio no apartamento ao lado do seu e no Rio, obviamente, Fabrício e Alissa, ela infelizmente foi morta, mas Fabricio optou por continuar na missão, cuidando de você para mim! Por mim... –  Thiago fala e eu fico olhando para ele.

— Então, você nunca deixou de se importar? –  Pergunto e ele ri.

— Não existe um dia durante todo esse tempo que eu não tenha me importado! –  Thiago fala.

                Me aproximo dele, e sorrio, fecho os olhos sentindo seu perfume e nervosismo em sua respiração, e então, o beijo. 

                Suas mãos apertam minha cintura enquanto nossas bocas se encaixam perfeitamente, passo a mão por seus braços e por seu cabelo, aproveitando cada átomo de ar que ainda nos resta.

                Thiago se afasta primeiro, e acaricia meu rosto.

— Preciso te falar mais uma coisa! –  Thiago fala e eu vejo a tensão tomando conta do ambiente.

— Fala! –  Falo e ele respira fundo.

— Achamos o Diogo. Meus homens trouxeram ele hoje! –  Thiago fala e sinto meu corpo tremer.

          Medo...

Dorme aqui hoje? –  Pergunto e Thiago fica surpreso.

— Você está com medo? –  Thiago pergunta.

— Não sei o que é, mas não quero ficar sozinha! –  Falo e ele me abraça.

— Eu fico! –  Thiago fala e depois de r para o quarto dele trocar de roupa e voltar apenas de short de dormir, ele se deita ao meu lado.

                Apoio minha cabeça em seu ombro e penso no que fazer em relação a Diogo, e de tanto pensar, acabo pegando no sono.

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