Beatriz
Meus pais decidiram que, aos 50 e poucos anos, é hora de finalmente aproveitar os frutos de tudo o que construíram com tanto esforço. Eles planejam uma longa viagem de seis meses, um descanso merecido depois de décadas à frente da Vieira e Costa Advocacia, um dos maiores escritórios do país. Ao longo dos anos, sempre contaram com Roger, amigo de infância do meu pai e sócio desde o início. O plano deles era passar o comando da empresa para os filhos, eu, Beatriz Vieira, e Carlos, o filho de Roger. Mas, como escolhi seguir a minha paixão pela moda, deixando o direito de lado, decidiram confiar essa responsabilidade a Theo, que eles consideram como um filho. Quanto a Carlos... bem, eu quase não tenho lembranças dele. Ele foi morar no exterior com a mãe ainda muito pequeno. Lá, formou-se em Direito e trabalhou em uma das filiais da empresa. Agora, está de volta ao Brasil para assumir a empresa no lugar do pai, que também decidiu aproveitar essa nova fase da vida. Hoje é o coquetel de apresentação de Theo e Carlos como os novos responsáveis pelo escritório, enquanto os nossos pais estarão fora. Claro que não poderia faltar, tinha que estar aqui para prestigiar o Theo, que é mais que um irmão para mim. Mas o que eu não esperava era que a noite já começasse me testando a paciência. Assim que entro no salão, esbarro em um verdadeiro “armário humano”. Antes que eu consiga me desculpar, ele se adianta com uma grosseria monumental: — Você não olha por onde anda? Olha o que fez, sujou todo o meu terno! — reclama com a maior arrogância. Respiro fundo, tentando não perder a compostura, e respondo num tom mais educado que consigo: — Você que não prestou atenção e derramou o meu sorvete. Sem esperar resposta, me afasto furiosa. Para piorar, aquele não era um sorvete qualquer. Era parte da nossa tradição, sempre que algo especial acontece, eu, Theo, June e Flor celebramos com sorvete. E agora, graças ao idiota mal educado, nossa tradição foi arruinada. Quando chego ao salão principal, vejo o grupo que me espera. Theo, sempre atento, percebe minha expressão irritada assim que me aproximo. — O que aconteceu, Bia? — June pergunta, preocupada. Levanto o pote vazio em minha mão e explico: — Um idiota sem educação esbarrou em mim e derramou todo o meu sorvete. E ainda quis jogar a culpa em mim! Theo começa a rir, como sempre faz quando estou brava. — Calma, maninha. Assim que isso aqui acabar, a gente passa em uma sorveteria e resolve isso. Ele me abraça, tentando me acalmar, mas minha atenção se desvia quando vejo o "idiota do terno" entrando no salão. Agora, vestindo outro terno, impecável como se nada tivesse acontecido. Theo percebe para onde estou olhando e ri ainda mais. — Não me diga que foi ele. — Sim, foi esse grosseiro! — respondo indignada. Theo apenas dá um sorriso enigmático e diz: — Isso vai ser interessante. Antes que eu possa perguntar o que ele quis dizer, meu pai pega o microfone para dar início ao evento. — Boa noite a todos. Como vocês sabem, eu, minha esposa Elise, e meu amigo Roger dedicamos nossas vidas a construir esta empresa. Mas agora é hora de descansarmos. Por isso, esta noite é para apresentar os novos representantes da Vieira e Costa. Enquanto ele fala, vejo o “idiota” caminhar em direção ao palco. Meu coração afunda. Não pode ser ele! — Meu sonho era que minha filha assumisse a empresa. Mas ela escolheu outro caminho, e não poderia estar mais orgulhoso de sua coragem e sucesso. Beatriz é uma das empresárias mais jovens e bem sucedidas do país. Meu pai me olha com um sorriso, e eu retribuo com um beijo soprado. Mas meu gesto não passa despercebido. Carlos, que já está ao lado do palco, me observa com uma expressão de surpresa, como se finalmente tivesse ligado os pontos. — Agora, com muito orgulho, apresento Theo, que muitos de vocês já conhecem como parte da nossa família, e Carlos, filho de Roger, que irá dividir essa responsabilidade. Aplausos enchem o salão enquanto Theo e Carlos sobem ao palco. Meus olhos vão direto para Carlos, e tudo o que consigo pensar é: Ele? O grosseiro vai ficar no lugar do meu pai? Assim que eles descem, corro para abraçar Theo. Do canto do olho, percebo o olhar carregado de Carlos, como se o gesto o incomodasse. Mas, sinceramente, não estou nem aí. Momentos depois, o meu pai e minha mãe me chamam para conhecer Carlos oficialmente. — Minha filha, este é Carlos. Você provavelmente não se lembra dele, porque ele foi para o exterior muito cedo. — E eu também era criança quando saí. — Carlos interrompe, com um sorriso casual. — Tinha apenas cinco anos. Não me envelheça, ainda nem fiz 31! Eles riem, mas eu continuo séria. Carlos me estende a mão. — É um prazer finalmente conhecê-la, Beatriz. Ouvi muito sobre você. Com a maior indiferença possível, aperto sua mão e respondo: — Beatriz. O prazer é meu, Carlos. Depois, me viro para o meu pai: — Com licença, preciso falar com Theo para saber que horas vamos à sorveteria. Afinal, na entrada, esbarrei em um idiota que derramou todo o meu sorvete e nem pediu desculpa. Faço questão de lançar um olhar direto a Carlos, que me fuzila com os olhos. Mas, mais uma vez, eu simplesmente não me importo. Enquanto me afasto, meu pai sorri e me diz: — Aproveite, minha filha. Te amo. No caminho, abraço Theo novamente, e não deixo de notar que Carlos continua nos observando de longe. O que ele pensa de mim? Não faço ideia. Mas uma coisa é certa: essa convivência promete ser tudo, menos entediante.BeatrizOs últimos dias têm sido como um quebra-cabeça incompleto. Desde o anúncio da aposentadoria dos meus pais, há uma semana, sinto que a dinâmica familiar mudou. Eles estão radiantes, planejando viagens e entregando gradualmente as rédeas do escritório para Theo e Carlos. Apesar de ainda não terem partido, há uma sensação constante de despedida pairando no ar.Carlos. Ele parece ser o tema favorito dos meus pais ultimamente. Não importa a conversa, eles sempre encontram uma maneira de elogiá-lo. "Tão educado, tão dedicado, tão gentil... e bonito", eles dizem. Bonito, eu admito. Educado? Gentil? Não. Definitivamente, não, esses adjetivos não se enquadram.Hoje, vou almoçar com o meu pai. Decidimos nos encontrar no escritório, algo que sempre me deixa nostálgica. Aquela atmosfera séria, as pessoas apressadas, tudo me lembra a infância, quando esperava por horas na sala dele enquanto ele resolvia o mundo.Chego ao prédio, cumprimento as recepcionistas com um sorriso habitual e sigo
CarlosJá se passaram duas semanas desde que voltei para casa, mas o que aconteceu naquela tarde ainda está martelando na minha cabeça. Hoje faz exatamente uma semana que não consigo tirar aquela garota insolente da cabeça. Bia, derramou sorvete em mim. Eu vi o rosto dela, um rosto perfeito, e aquele corpo impecável. Algo no ar mudou naquele momento, e, apesar de tentar não me deixar levar, sei que algo em mim se partiu. Não sei se foi por impulso ou uma necessidade de me mostrar educado, mas quando Bento nos apresentou, tentei ser o mais gentil possível. Não queria que houvesse aquele desconforto típico de quando você não espera encontrar alguém e, de repente, descobre que está diante da filha do cara com quem você está passando a maior parte do tempo.Ela, com aquele jeito insolente que eu ainda não sabia como lidar, mal me deixou falar. Nem olhou para mim direito, já saiu em direção ao Theo, seu amigo, ou quem sabe algo mais, não sei. E, sim, confesso que senti ciúmes. Por quê? Nã
BiaDesde o beijo de Carlos, não consegui mais tirá-lo da minha cabeça. Não o vi novamente, e, confesso, isso me incomodava mais do que eu gostaria de admitir. O que aconteceu entre nós foi confuso demais, para dizer o mínimo. Mas o que me perturba mais não é o beijo em si, mas a maneira como ele saiu depois, como se nada tivesse acontecido. Não, eu não posso simplesmente deixar isso passar. Eu sabia que ele também estava pensando nisso, que a cena, de alguma forma, ainda rondava sua mente. Mas, por que ele não me procurou? Por que ficou tão distante depois de me beijar? Tinha que desaparecer e me ignorar?Hoje, meu foco deveria estar no prêmio que a minha empresa vai receber, um marco importante no mundo da moda. Mas é impossível não sentir uma ansiedade que vai além da premiação. O que me deixa mais nervosa, na verdade, é o fato de Carlos estar aqui. Ele vai estar presente no evento, e isso faz meu coração bater mais rápido do que qualquer conquista profissional.Me olho no espelho.
BiaA noite parecia que nunca ia acabar. Eu não sabia o que estava me consumindo mais: a ansiedade sobre o estado de Theo ou a confusão causada pelo beijo inesperado de Carlos. Eu não estava preparada para nenhuma das duas situações. O que estava acontecendo comigo? Por que eu estava me sentindo assim? O que exatamente era aquilo?Quando entrei na cozinha e vi Flor com o sorvete e a mesa preparada, uma sensação de normalidade, de conforto, me envolveu. Mas, mesmo naquele momento, meu olhar ainda buscava algo mais — alguém mais. Carlos não estava ali, mas ele ainda estava na minha cabeça, me atormentando de formas que eu não queria admitir. Olhei para a mesa e tentei me forçar a relaxar. Mas a tensão no meu peito era palpável.Flor, com sua risada típica, fez a pergunta de sempre:— Em qual quarto será a festa hoje?Theo, claramente mais cansado do que deveria, respondeu com um sorriso cansado:— No meu, porque eu quero minha cama. Não sei por que estou tão exausto hoje.Saímos todos e
BiaO ar dentro do hospital parecia mais denso a cada segundo que passava. O cheiro de antisséptico, as vozes abafadas nos corredores e o som de passos apressados formavam um pano de fundo desconfortável para a tempestade que se formava dentro de mim. Eu não sabia o que estava acontecendo com Theo, mas sabia que não podia ir embora enquanto ele não acordasse. Era como se o universo estivesse se desestabilizando ao meu redor e eu me sentisse completamente impotente diante daquilo.Fomos até a sala de espera, onde todos estavam, aguardando notícias. Eu estava mais tensa do que nunca, os nervos à flor da pele, e a sensação de desamparo me consumia. O médico chegou finalmente, com aquele semblante sério que não trazia boas notícias.— O estado dele está estável. Mas ainda não sabemos o que ele tem, os exames ainda não estão prontos. Ele está medicado e não vai acordar agora. Sugiro que vocês voltem para casa e descansem. Voltem quando ele acordar.Aquelas palavras me atingiram com uma for
Capítulo 8 Bia .Eu não queria que ele me visse tão vulnerável, mas eu perdi a noção do tempo, e quando vi ele já estava comigo no banheiro, depois de me recompor, eu disse para ele onde tinha um roupão que ele poderia usar e o mesmo saiu do meu quarto e eu fui trocar de roupa, e logo depois fui até a cozinha e não demorou muito para ele aparecer. - eu posso colocar as minhas roupas na secadora ?- Claro, fique à vontade .Ele sai e logo depois volta. - Não precisava ter feito tanta coisa .- Eu fiz pra mim também, por que eu ainda não tomei café também. - O que você fazia na casa dos meus pais tão cedo ?- Eu fui falar com você, eu precisava pedir desculpas por tudo que eu te disse ontem. - Está tudo bem .- Não , não está, eu não tinha o direito de te falar tudo aquilo eu passei dos limites .- Vamos esquecer tudo que aconteceu. - Sim vamos , eu quero começar do zero e de uma forma diferente. Ele vai se aproximando de mim e quando ele ia me beijar o meu telefone
Capítulo 9 Beatriz .Os segundos pareciam horas , e eu já estava ficando aflita esperando que o médico falasse alguma coisa , e então ele começou. - Bom , eu tenho ótimas notícias .Ele fala e dá uma pausa , e eu que nunca fui impaciente já estou a ponto de tomar a pasta das suas mãos e eu mesmo ver o resultado. - bom , o resultado dos exames chegaram, o senhor e a senhora Vieira não são compatíveis, a senhorita Flor também não. Eu acabo perdendo o restinho de paciência que eu ainda tinha. - Doutor , cadê as boas notícias?Todos me olham , e o Theo faz carinho na minha mão, tentando me passar um pouco de calma .- calma Bia , vamos esperar ele falar .O médico me olha com um sorriso no rosto e isso me irrita ainda mais .- Calma , eu vou chegar nas boas notícias. - Já deveria ter começado por elas .- Bia! Meu pai me repreendeu e eu fiquei calada esperando o médico voltar a falar. - Já que todos estão ansiosos- ele fala e eu reviro os olhos por que eu sei que é de mim q
Capítulo 10 .Carlos .Foi tudo tão rápido, que somente agora eu me dei conta de que eu vou ser o doador do namorado da mulher que eu acho que estou apaixonado, a minha intenção de ter ido atrás da Bia era para pedir desculpas para ela depois de tudo que eu falei , só que não deu muito certo , depois que eu assinei tudo que precisava eu vim pra casa e já liguei para o meu pai e contei tudo que aconteceu, e ele perguntou se eu queria que ele viesse para a gente conversar e eu disse que não precisava , que eu ia descansar e amanhã a gente conversa, e eu estou mesmo cansado , porque não dormi bem a noite e o dia fe hoje foi cansativo, e eu só quero um banho e a minha cama , e quando eu ia fazer isso a minha campainha tocou e eu pensei ser meu pai , mas não deu tempo dele chegar aqui , quando eu abro a porta eu vejo a Bia parado olhando para mim. - Bia, está tudo bem ?- Sim, eu só precisava falar com você. - Entra .Eu dou passagem e ela entra, e fecho a porta .- Você quer