capítulo 5

Bia

Desde o beijo de Carlos, não consegui mais tirá-lo da minha cabeça. Não o vi novamente, e, confesso, isso me incomodava mais do que eu gostaria de admitir. O que aconteceu entre nós foi confuso demais, para dizer o mínimo. Mas o que me perturba mais não é o beijo em si, mas a maneira como ele saiu depois, como se nada tivesse acontecido. Não, eu não posso simplesmente deixar isso passar. Eu sabia que ele também estava pensando nisso, que a cena, de alguma forma, ainda rondava sua mente. Mas, por que ele não me procurou? Por que ficou tão distante depois de me beijar? Tinha que desaparecer e me ignorar?

Hoje, meu foco deveria estar no prêmio que a minha empresa vai receber, um marco importante no mundo da moda. Mas é impossível não sentir uma ansiedade que vai além da premiação. O que me deixa mais nervosa, na verdade, é o fato de Carlos estar aqui. Ele vai estar presente no evento, e isso faz meu coração bater mais rápido do que qualquer conquista profissional.

Me olho no espelho. Estou linda. Mas algo no meu olhar diz que o meu reflexo não é o único a me prender. Carlos, a imagem dele ainda está muito viva em mim, como se não pudesse ser apagada.

Ao chegar no evento, sou recebida por flashes, perguntas incessantes dos repórteres sobre a empresa, minha trajetória. Mas, em meio a toda essa movimentação, meus olhos vão direto para ele. Carlos me observa de longe. Seu sorriso, um sorriso bobo, não consegue esconder a maneira como ele me admira. Isso me desconcerta, porque, logo em seguida, o sorriso desaparece quando Theo aparece ao meu lado, me abraçando pela cintura e me conduzindo para dentro do salão. Eu sei o que está acontecendo. Sei que Carlos sentiu ciúmes. Ele logo se afastou e foi direto para o bar, pegando uma bebida.

Não tenho tempo de falar com ele. Várias pessoas se aproximam, me parabenizam, me fazem mais perguntas. O evento segue seu curso, e a noite vai chegando ao fim. Quando Theo e June começam a se despedir, me convidam para tomarmos nosso sorvete, como sempre fazemos depois de um evento, mas hoje, eu não posso deixar essa tensão de lado.

Eu precisava de um tempo sozinha. Então, me dirijo ao bar, pego uma bebida e, sem pensar muito, decido ir ao banheiro. Eu mal tinha chegado perto da porta quando, de repente, alguém me puxa. Fico assustada, mas logo vejo quem é. Carlos. Ele parece um pouco bêbado, mais do que o normal, e isso me preocupa.

— Carlos, o que você está fazendo? Por que me puxou assim? — pergunto, tentando manter a calma, mas algo em sua presença me deixa desconfortável.

Ele sorri, mas não é um sorriso gentil. Ele está mais para uma tempestade prestes a desabar.

— Bia, eu preciso te beijar de novo. Não consigo tirar você da minha cabeça. — Ele tenta me beijar, mas eu me afasto rapidamente.

— Carlos, o que você pensa que está fazendo? Você me beijou, saiu sem dizer nada, e depois me ignorou por semanas. Hoje, você não fala comigo, e agora acha que vai simplesmente me beijar? Você está completamente fora de si. — Minha voz sai firme, mas há uma parte de mim que treme. Eu não posso deixar isso passar, mas ao mesmo tempo, ele está mexendo comigo de uma maneira que me confunde.

Carlos parece hesitar, o olhar dele se suaviza, mas ele não desiste.

— Me desculpe, Bia, eu não soube como agir naquele dia. Eu só não consigo parar de pensar em você. Eu preciso sentir seus lábios nos meus. Não foi só um impulso, eu não aguento mais ficar longe de você.

Eu o encaro, tentando entender o que ele realmente quer. Aquele beijo, por mais que tenha sido intenso, foi estranho. Algo não se encaixava ali. Ele estava bêbado, confuso, e eu não poderia simplesmente deixá-lo passar por cima de tudo.

— Carlos, você me beijou e desapareceu. Não disse uma palavra. Agora, depois de tudo, você acha que vou deixar isso acontecer de novo? Você me ignora, me evita, e agora me diz que está louco por mim? Não, não vai ser assim.

Ele me olha intensamente, e a tensão entre nós cresce. Sinto uma raiva contida se formando dentro de mim, mas também uma vontade de entender. Por que ele me beijou e depois se afastou? O que ele realmente quer?

— Carlos, quem você pensa que é para me falar assim? Eu não devo satisfação de nada a você. Não sou sua, e não vou me deixar manipular. E, a propósito, aquilo nunca mais vai acontecer. Você me entende? — Digo, e em um impulso, dou um tapa em seu rosto. Ele fica parado, como se a reação tivesse sido um choque.

— Você está louca? — Ele finalmente fala, sua voz baixa, mas com uma raiva palpável. — Eu te beijei, você me correspondeu, e agora está me fazendo de idiota? Você e o Theo, o que é? Vocês estão juntos? O que está acontecendo entre vocês?

Sei que ele está bêbado, mas as palavras dele me cortam. Eu não consigo mais me controlar. O que ele está dizendo faz meu sangue ferver.

— Carlos, você não tem o direito de falar assim comigo! Não me importa o que você pense. Eu saio com quem eu quero, faço o que eu quero, e se você não sabe lidar com isso, o problema não é meu. — Eu respiro fundo, tentando controlar a raiva que toma conta de mim. Saio em direção à porta, mas ele tenta me seguir.

Eu não vou deixá-lo me controlar, e não vou mais me importar com ele. Sigo direto para o meu carro, e vejo que ele entra no dele logo atrás de mim. Ele está me seguindo. Mas não vou permitir que ele saiba para onde estou indo.

Com um sorriso no rosto, dou uma última olhada no retrovisor. Carlos está atrás de mim, mas eu sei como despistá-lo. Vou para a casa de Theo. Não vou dar a ele o prazer de saber o que estou fazendo.

Quando chego lá, Theo abre o portão para mim. Ele me vê e, com aquele olhar atento, pergunta:

— Bia, o que aconteceu? Por que está aqui tão tarde?

Eu sorrio, tentando esconder o turbilhão de emoções que ainda está dentro de mim.

— Nada demais, Theo. Só vim para tomar nosso sorvete. Podemos? — Ele sorri, e logo a June aparece, nos convidando a entrar.

Dentro da casa, tudo parece mais leve. A noite continua como se nada tivesse acontecido, mas algo dentro de mim não se aquieta. O beijo, as palavras de Carlos… tudo isso ainda está em minha mente. E, no fundo, sei que esse mistério entre nós não vai terminar tão cedo.

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