capítulo 6

Bia

A noite parecia que nunca ia acabar. Eu não sabia o que estava me consumindo mais: a ansiedade sobre o estado de Theo ou a confusão causada pelo beijo inesperado de Carlos. Eu não estava preparada para nenhuma das duas situações. O que estava acontecendo comigo? Por que eu estava me sentindo assim? O que exatamente era aquilo?

Quando entrei na cozinha e vi Flor com o sorvete e a mesa preparada, uma sensação de normalidade, de conforto, me envolveu. Mas, mesmo naquele momento, meu olhar ainda buscava algo mais — alguém mais. Carlos não estava ali, mas ele ainda estava na minha cabeça, me atormentando de formas que eu não queria admitir. Olhei para a mesa e tentei me forçar a relaxar. Mas a tensão no meu peito era palpável.

Flor, com sua risada típica, fez a pergunta de sempre:

— Em qual quarto será a festa hoje?

Theo, claramente mais cansado do que deveria, respondeu com um sorriso cansado:

— No meu, porque eu quero minha cama. Não sei por que estou tão exausto hoje.

Saímos todos em direção ao quarto de Theo, nos acomodamos na cama e começamos a comer o sorvete, conversando e rindo como sempre. Mas, no fundo, eu estava distante. Mesmo entre os amigos, em uma noite de descontração, algo em meu interior se sentia inquieto.

Logo, seu José apareceu na porta, com aquela voz de pai, dizendo:

— Crianças, hora de dormir, não acham? Amanhã todos têm trabalho e isso não é hora de tomar sorvete!

Todos rimos. Ele sempre dizia isso quando éramos crianças, e não era diferente agora. Mas, à medida que fomos nos levantando para nos despedir, algo me incomodou. Quando fui abraçar Theo para dar boa noite, ele estava extremamente quente. Muito quente. A preocupação me invadiu de imediato.

— Theo, você está bem? Está muito pálido. Sente alguma coisa? Eu o olhei, minha voz cheia de apreensão.

Ele tentou sorrir, mas sua expressão estava pálida e fraca.

— Não, Bia, estou bem. Deve ser só cansaço. Estou trabalhando muito esses dias.

— Theo, se continuar assim, vamos ao médico. Eu disse, embora não estivesse convencida. Algo estava errado.

— Não é pra tanto, Bia. Estou bem. Vai descansar.

Mas minha mente estava inquieta. Algo não estava certo. Eu não poderia simplesmente ignorar.

Na manhã seguinte, quando acordei e fui para a cozinha, vi que todos já estavam lá, menos Theo. Isso me deixou ainda mais desconfortável. Eu precisava saber o que estava acontecendo.

— Tia Margarida, onde está o Theo? Ele ainda não acordou?

Ela me olhou com uma expressão tranquila, como se não percebesse a preocupação em minha voz.

— Ah, minha filha, acho que ele só quer dormir um pouco mais, é domingo.

Mas eu não me conformei. Algo me dizia que algo estava muito errado com Theo.

— Vou vê-lo, tia. Ontem achei ele meio estranho. Vou chamá-lo e já volto para tomarmos café.

Ao chegar à porta do quarto de Theo, bati, mas não obtive resposta. Com o coração batendo forte, entrei e o encontrei deitado na cama, completamente imóvel. Puxei a coberta e quase tive um colapso. Ele estava suado, muito quente, e não se movia. A preocupação se transformou em pânico. Chamei seu nome várias vezes, mas nada. Nenhuma reação.

Foi quando entrei em desespero e gritei:

— Tia! Tio! June! Flor! Socorro, o Theo não acorda!

Ouvi os passos apressados e logo vi minha tia, meu tio e June correndo para o quarto. Minha tia gritou, alarmada:

— O que foi, Bia? Por que está gritando tanto?

— Theo não está bem! Ele está muito quente e não acorda. Ele está muito mal! Vamos levá-lo para o hospital! Eu estava em pânico, sentindo o peso da situação crescer.

Minha tia imediatamente gritou para June:

— Chama uma ambulância rápido!

— Já estou chamando, mamãe, o que ele tem?

— Meninas, troquem de roupa. Vamos para o hospital com ele.

Meu tio tomou a frente, e eu, mesmo em choque, me recusei a sair do lado de Theo.

Eu não ia deixá-lo sozinho.

A ambulância chegou em pouco tempo, levando Theo desacordado. Todos fomos atrás dele, em um carro, o mais rápido possível. Eu não sabia o que esperar. Eu estava com medo. Medo de perder o Theo, medo do que poderia estar acontecendo com ele. E, no meio de tudo isso, Carlos apareceu, com os meus pais. Algo na presença dele me causava desconforto, mas eu não tinha tempo para lidar com isso agora. O foco era Theo.

Meu pai me olhou, preocupado.

— Filha, o que aconteceu? Onde você está?

Eu corri até eles, abraçando-os com força, as lágrimas escorrendo.

— Pai, eu não sei o que ele tem. Está parecendo muito grave. Os médicos não falam nada. Minha voz estava embargada.

— Fica calma, filha. Ele vai ficar bem, tenha fé. Minha mãe tentou me acalmar, mas a angústia era forte demais. Eles se afastaram para conversar com os médicos. Eu só queria ter uma resposta. Queria saber o que estava acontecendo com o meu irmão.

Foi então que vi Carlos parado na minha frente, em silêncio. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me abraçou com força. Eu não sabia o que pensar, mas naquele momento, o abraço dele me trouxe algum alívio. Ele me olhou nos olhos, e suas palavras me desconcertaram:

— Calma. Eu estou aqui, Bia. Para o que você precisar. Vamos esquecer o que aconteceu, tudo bem?

Eu o encarei, sem entender. O que ele queria dizer com isso? Mas antes que eu falasse algo, ele me abraçou de novo.

— Menos o beijo. Porque esse eu quero repetir várias vezes. Minha princesa. Ele sussurrou, e um arrepio percorreu a minha espinha. O que estava acontecendo entre nós?

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