Salvatore ficou alguns segundos parado com o celular ainda na mão, mesmo depois de encerrar a ligação. O nome dela ainda pulsava em sua mente, como uma lembrança insistente que ele tentava ignorar. Mas era inútil. Ele estava sentado no banco de um jipe militar, o motor já ligado, a poucos quilômetros da pista de decolagem onde o helicóptero o aguardava para a próxima etapa da missão. Viena. Era para lá que estava indo, para seguir as novas pistas sobre Voronin. E, mesmo com o coração dividido, sua mente se mantinha focada. Ele passou a mão no rosto, sentindo o cansaço pesar em cada músculo. Não dormia direito desde o resgate. Cada vez que fechava os olhos, via Olivia naquela cadeira, os pulsos feridos, a expressão exausta. E a fúria voltava, cravando-se em sua alma como uma lâmina. — Está pronto? — perguntou um dos agentes da equipe especial, se aproximando. Salvatore assentiu, sem hesitar. — Vamos. O jipe arrancou em direção à pista, e o vento forte começou a bagunçar o uniform
A neve fina começava a cair quando Salvatore dobrou a última esquina em direção ao endereço de Yelena Antonova. O lugar não era o que esperava. Ao invés de um esconderijo discreto, ele se deparou com uma construção antiga de dois andares, fachada de madeira escura, luzes apagadas e janelas vedadas com cortinas pesadas. Ele se aproximou com cautela, os passos silenciosos sobre a calçada úmida. O silêncio do entorno era perturbador — nenhum som de televisão, nenhum ruído vindo de dentro, nem sequer um cachorro latindo nas redondezas. Tudo parecia propositalmente... morto. Encostou-se à lateral da casa e observou pelas frestas da cortina de uma das janelas laterais. Dentro, um corredor estreito e escuro. Nada. Mas ele conhecia o cheiro do perigo. O lugar podia estar vazio, ou prestes a explodir. Seguindo por trás da casa, encontrou uma porta de serviço mal trancada. Bastou uma leve pressão e ela cedeu. A arma firme em mãos, ele entrou. O ambiente era escuro, mas os sentidos de Salvat
A noite caía silenciosa sobre a casa dos Fiore. Do lado de fora, o jardim estava quieto, e a luz amarelada da luminária de cabeceira mal iluminava o quarto onde Olivia permanecia sentada na beirada da cama. Ela estava com uma manta nos ombros, o cabelo ainda solto e úmido após o banho, os pensamentos agitados. O celular repousava sobre suas pernas, bloqueado. Por várias vezes, ela já havia aberto a tela, encarado o número salvo como “Salvatore” e hesitado. Mas agora, o que restava era a necessidade. De ouvi-lo. De saber se ele estava bem. De sentir que tudo aquilo não tinha sido apenas um caos passageiro, sem significado. Com um suspiro profundo, Olivia tocou na tela e iniciou a chamada. O som da linha chamando fez seu coração acelerar. Ela apertou os olhos por um instante, prendendo a respiração. Do outro lado, a voz firme — mas um pouco rouca — de Salvatore atendeu. — Olivia? Ela sorriu, mesmo sem perceber. — É… sou eu. — disse baixinho, como se temesse quebrar o momento. —
O general passou a mão pelo rosto, exalando lentamente, como se aquele gesto pudesse dissipar o turbilhão de sentimentos que crescia dentro dele. Olivia permanecia de pé diante dele, determinada, com o queixo erguido e os olhos brilhando com aquela teimosia que ele conhecia bem — a mesma que ela herdara da mãe. — Se eu permitir isso — disse ele, por fim —, você vai seguir ordens. Vai com uma escolta, com um agente de confiança. Nada de agir por conta própria, entendeu? — Eu só quero respostas. E quero vê-lo. — respondeu Olivia, a voz mais baixa, mas firme. — Só isso. O general assentiu lentamente, resignado. — Eu vou providenciar tudo. Você parte amanhã cedo. Olivia sentiu o coração bater mais forte. Era real. Ela ia vê-lo de novo. Mesmo que fosse só para ouvir da boca dele aquilo que ela já sentia — que ele a estava afastando por medo, não por indiferença. Ao sair da sala do pai, Olivia se dirigiu direto para seu quarto. O telefone ainda estava sobre a cama, onde ela o havia de
Salvatore estava sentado em um banco de uma estação de trem deserta, sua expressão seria e focada. Ele olhava para o horizonte, mas sua mente estava longe, absorta em uma série de pensamentos desconexos. A mensagem de Olivia ainda ecoava em sua mente. Ela havia ligado, ele havia respondido, mas a tensão entre eles nunca parecia diminuir. Ele sabia que deveria se afastar, que era o mais seguro para ela e para todos os envolvidos, mas não conseguia deixar de se preocupar. A missão estava longe de terminar, e ele sabia que Viena estava prestes a se tornar um campo de batalha — não apenas por causa de Voronin, mas por tudo o que estava se desenrolando nas sombras. O fato de ela estar tão perto dele, de ter vindo até a cidade sem hesitar, o fez pensar mais uma vez nas escolhas que ele havia feito. Ele não podia protegê-la de tudo. O som de passos ecoou pela estação vazia, e Salvatore levantou o olhar rapidamente, sua postura tensa. Ele reconheceu o soldado que se aproximava. — Salvatore
As luzes de Viena brilhavam ao longe, ofuscadas pela neblina densa que começava a se espalhar pela zona industrial da cidade. Salvatore caminhava em silêncio entre contêineres enferrujados, os passos firmes, os olhos atentos. Ele sabia que aquela era a última peça do jogo. O fim de tudo. E Voronin estava perto. Um grito abafado ecoou. Ele sacou a arma. A comunicação no fone de ouvido chiou. — Contato visual negativo — murmurou uma voz da equipe de apoio. — Nada na ala norte. Salvatore não respondeu. Algo dentro dele dizia que era pessoal demais para qualquer interferência. Virou uma esquina. A respiração saía pesada, o ar gelado misturando-se com a tensão em seus músculos. E então ele parou. Voronin estava ali. No centro do corredor formado pelos contêineres, cercado por sombras. O sobretudo preto esvoaçava com o vento, os olhos frios fixos em Salvatore como se o tempo não tivesse passado. — Sabia que viria — disse Voronin, um sorriso torto nos lábios. — Um soldado obediente
O avião cortava as nuvens em silêncio, e a cabine privada parecia um universo à parte, isolado do mundo lá fora. Olivia estava sentada ao lado da janela, o olhar perdido na escuridão do céu noturno, enquanto os dedos brincavam distraidamente com a manta sobre o colo. Salvatore estava ao seu lado, em silêncio, com o corpo tenso, mas os olhos... os olhos voltavam para ela a cada minuto, como se confirmar que ela estava ali fosse sua âncora. O beijo ainda pairava entre eles — não falado, não comentado, mas presente em cada olhar que se cruzava, em cada centímetro entre suas mãos que por pouco não se tocavam novamente. — Você está arrependido? — a voz de Olivia veio baixa, quase um sussurro, sem tirar os olhos da janela. Salvatore demorou a responder. Seus olhos seguiram o contorno do rosto dela à meia-luz, antes de encarar o vazio à frente. — Não. — foi tudo o que disse. Ela virou-se um pouco, apenas o suficiente para vê-lo de perfil. — Então por que parece que está fugindo
silêncio após as palavras de Olivia era pesado, denso como fumaça num campo de batalha depois da explosão. Salvatore manteve os olhos nela. Ainda havia preocupação, sim. Mas também respeito. Ela não estava quebrada. Estava se erguendo, mesmo entre destroços. O general desviou o olhar por um momento, talvez envergonhado por algo raro para ele: culpa. — Você deveria ter confiado em mim. — Olivia disse, a voz mais baixa agora, mas firme. — Eu não sou mais uma criança que precisa ser protegida com mentiras. Eu tinha o direito de saber. — Eu sei. — Riccardo respondeu, finalmente. — Mas quando se é pai… às vezes a linha entre proteger e mentir se apaga. Salvatore cruzou os braços, o maxilar travado. A sensação de impotência queimava nele. — Ele quase a matou. — disse, com a voz baixa, como uma lembrança amarga que se recusa a ser esquecida. — Voronin poderia tê-la levado. Ou pior. E mesmo assim, tudo isso foi um jogo calculado? O general o encarou. — Foi uma guerra. E vocês dois est