— O quê? — a palavra escapou dos lábios de Olivia antes que pudesse contê-la. Ela deu um passo à frente, como se precisasse confirmar que tinha entendido corretamente. — Ele vai para Viena? O general olhou para ela com seriedade, mas havia um toque de suavidade em seu olhar — um resquício do pai que tentava proteger a filha, mesmo em meio à tensão de tudo aquilo. — Sim — respondeu ele, com calma. — Salvatore tem uma nova missão. Voronin pode ter conexões com antigos aliados na Áustria, e Viena é um ponto estratégico. A inteligência acredita que ele possa tentar fugir por lá, ou que esteja escondendo algo importante naquele território. Olivia desviou o olhar, tentando esconder o impacto que aquilo lhe causava. Não que ela fosse dizer algo. Não que fosse pedir para ele ficar. Mas... a ideia de Salvatore se afastando justo agora, depois de tudo, fazia algo dentro dela se apertar. — Ele... já foi? — Ainda não. Parte amanhã ao amanhecer. Está reunindo o que precisa. Não pergunte onde
Salvatore ficou alguns segundos parado com o celular ainda na mão, mesmo depois de encerrar a ligação. O nome dela ainda pulsava em sua mente, como uma lembrança insistente que ele tentava ignorar. Mas era inútil. Ele estava sentado no banco de um jipe militar, o motor já ligado, a poucos quilômetros da pista de decolagem onde o helicóptero o aguardava para a próxima etapa da missão. Viena. Era para lá que estava indo, para seguir as novas pistas sobre Voronin. E, mesmo com o coração dividido, sua mente se mantinha focada. Ele passou a mão no rosto, sentindo o cansaço pesar em cada músculo. Não dormia direito desde o resgate. Cada vez que fechava os olhos, via Olivia naquela cadeira, os pulsos feridos, a expressão exausta. E a fúria voltava, cravando-se em sua alma como uma lâmina. — Está pronto? — perguntou um dos agentes da equipe especial, se aproximando. Salvatore assentiu, sem hesitar. — Vamos. O jipe arrancou em direção à pista, e o vento forte começou a bagunçar o uniform
A neve fina começava a cair quando Salvatore dobrou a última esquina em direção ao endereço de Yelena Antonova. O lugar não era o que esperava. Ao invés de um esconderijo discreto, ele se deparou com uma construção antiga de dois andares, fachada de madeira escura, luzes apagadas e janelas vedadas com cortinas pesadas. Ele se aproximou com cautela, os passos silenciosos sobre a calçada úmida. O silêncio do entorno era perturbador — nenhum som de televisão, nenhum ruído vindo de dentro, nem sequer um cachorro latindo nas redondezas. Tudo parecia propositalmente... morto. Encostou-se à lateral da casa e observou pelas frestas da cortina de uma das janelas laterais. Dentro, um corredor estreito e escuro. Nada. Mas ele conhecia o cheiro do perigo. O lugar podia estar vazio, ou prestes a explodir. Seguindo por trás da casa, encontrou uma porta de serviço mal trancada. Bastou uma leve pressão e ela cedeu. A arma firme em mãos, ele entrou. O ambiente era escuro, mas os sentidos de Salvat
A noite caía silenciosa sobre a casa dos Fiore. Do lado de fora, o jardim estava quieto, e a luz amarelada da luminária de cabeceira mal iluminava o quarto onde Olivia permanecia sentada na beirada da cama. Ela estava com uma manta nos ombros, o cabelo ainda solto e úmido após o banho, os pensamentos agitados. O celular repousava sobre suas pernas, bloqueado. Por várias vezes, ela já havia aberto a tela, encarado o número salvo como “Salvatore” e hesitado. Mas agora, o que restava era a necessidade. De ouvi-lo. De saber se ele estava bem. De sentir que tudo aquilo não tinha sido apenas um caos passageiro, sem significado. Com um suspiro profundo, Olivia tocou na tela e iniciou a chamada. O som da linha chamando fez seu coração acelerar. Ela apertou os olhos por um instante, prendendo a respiração. Do outro lado, a voz firme — mas um pouco rouca — de Salvatore atendeu. — Olivia? Ela sorriu, mesmo sem perceber. — É… sou eu. — disse baixinho, como se temesse quebrar o momento. —
O general passou a mão pelo rosto, exalando lentamente, como se aquele gesto pudesse dissipar o turbilhão de sentimentos que crescia dentro dele. Olivia permanecia de pé diante dele, determinada, com o queixo erguido e os olhos brilhando com aquela teimosia que ele conhecia bem — a mesma que ela herdara da mãe. — Se eu permitir isso — disse ele, por fim —, você vai seguir ordens. Vai com uma escolta, com um agente de confiança. Nada de agir por conta própria, entendeu? — Eu só quero respostas. E quero vê-lo. — respondeu Olivia, a voz mais baixa, mas firme. — Só isso. O general assentiu lentamente, resignado. — Eu vou providenciar tudo. Você parte amanhã cedo. Olivia sentiu o coração bater mais forte. Era real. Ela ia vê-lo de novo. Mesmo que fosse só para ouvir da boca dele aquilo que ela já sentia — que ele a estava afastando por medo, não por indiferença. Ao sair da sala do pai, Olivia se dirigiu direto para seu quarto. O telefone ainda estava sobre a cama, onde ela o havia de
Salvatore estava sentado em um banco de uma estação de trem deserta, sua expressão seria e focada. Ele olhava para o horizonte, mas sua mente estava longe, absorta em uma série de pensamentos desconexos. A mensagem de Olivia ainda ecoava em sua mente. Ela havia ligado, ele havia respondido, mas a tensão entre eles nunca parecia diminuir. Ele sabia que deveria se afastar, que era o mais seguro para ela e para todos os envolvidos, mas não conseguia deixar de se preocupar. A missão estava longe de terminar, e ele sabia que Viena estava prestes a se tornar um campo de batalha — não apenas por causa de Voronin, mas por tudo o que estava se desenrolando nas sombras. O fato de ela estar tão perto dele, de ter vindo até a cidade sem hesitar, o fez pensar mais uma vez nas escolhas que ele havia feito. Ele não podia protegê-la de tudo. O som de passos ecoou pela estação vazia, e Salvatore levantou o olhar rapidamente, sua postura tensa. Ele reconheceu o soldado que se aproximava. — Salvatore
As luzes de Viena brilhavam ao longe, ofuscadas pela neblina densa que começava a se espalhar pela zona industrial da cidade. Salvatore caminhava em silêncio entre contêineres enferrujados, os passos firmes, os olhos atentos. Ele sabia que aquela era a última peça do jogo. O fim de tudo. E Voronin estava perto. Um grito abafado ecoou. Ele sacou a arma. A comunicação no fone de ouvido chiou. — Contato visual negativo — murmurou uma voz da equipe de apoio. — Nada na ala norte. Salvatore não respondeu. Algo dentro dele dizia que era pessoal demais para qualquer interferência. Virou uma esquina. A respiração saía pesada, o ar gelado misturando-se com a tensão em seus músculos. E então ele parou. Voronin estava ali. No centro do corredor formado pelos contêineres, cercado por sombras. O sobretudo preto esvoaçava com o vento, os olhos frios fixos em Salvatore como se o tempo não tivesse passado. — Sabia que viria — disse Voronin, um sorriso torto nos lábios. — Um soldado obediente
O avião cortava as nuvens em silêncio, e a cabine privada parecia um universo à parte, isolado do mundo lá fora. Olivia estava sentada ao lado da janela, o olhar perdido na escuridão do céu noturno, enquanto os dedos brincavam distraidamente com a manta sobre o colo. Salvatore estava ao seu lado, em silêncio, com o corpo tenso, mas os olhos... os olhos voltavam para ela a cada minuto, como se confirmar que ela estava ali fosse sua âncora. O beijo ainda pairava entre eles — não falado, não comentado, mas presente em cada olhar que se cruzava, em cada centímetro entre suas mãos que por pouco não se tocavam novamente. — Você está arrependido? — a voz de Olivia veio baixa, quase um sussurro, sem tirar os olhos da janela. Salvatore demorou a responder. Seus olhos seguiram o contorno do rosto dela à meia-luz, antes de encarar o vazio à frente. — Não. — foi tudo o que disse. Ela virou-se um pouco, apenas o suficiente para vê-lo de perfil. — Então por que parece que está fugindo