silêncio após as palavras de Olivia era pesado, denso como fumaça num campo de batalha depois da explosão. Salvatore manteve os olhos nela. Ainda havia preocupação, sim. Mas também respeito. Ela não estava quebrada. Estava se erguendo, mesmo entre destroços. O general desviou o olhar por um momento, talvez envergonhado por algo raro para ele: culpa. — Você deveria ter confiado em mim. — Olivia disse, a voz mais baixa agora, mas firme. — Eu não sou mais uma criança que precisa ser protegida com mentiras. Eu tinha o direito de saber. — Eu sei. — Riccardo respondeu, finalmente. — Mas quando se é pai… às vezes a linha entre proteger e mentir se apaga. Salvatore cruzou os braços, o maxilar travado. A sensação de impotência queimava nele. — Ele quase a matou. — disse, com a voz baixa, como uma lembrança amarga que se recusa a ser esquecida. — Voronin poderia tê-la levado. Ou pior. E mesmo assim, tudo isso foi um jogo calculado? O general o encarou. — Foi uma guerra. E vocês dois est
Olivia ficou imóvel por um momento, os olhos fixos na porta onde Salvatore havia desaparecido. Cada passo que ele dava a afastava mais do que ela sabia que poderia ser. A dor no peito era como uma lâmina afiada, cortando em silêncio. Ela ouviu o som da porta se fechando, e com ele, a sensação de vazio. Um vazio que a consumia de dentro para fora, enquanto ela tentava entender o que estava acontecendo consigo mesma. O que ela sentia por ele não era algo que pudesse ser facilmente explicado, não era simples ou direto. Era uma mistura de algo proibido, algo perigoso, e ao mesmo tempo, algo que fazia o coração dela bater mais rápido, como se tudo ao redor desaparecesse quando ele estava por perto. Mas ele foi embora. Por causa do pai. Por causa das palavras que o general havia dito, palavras que não deixavam espaço para mais nada, palavras que ressoavam no fundo de seu ser. Olivia olhou para o lugar vazio na porta e então voltou-se para o homem que estava à sua frente. O pai. O homem qu
Na manhã seguinte, Olivia acordou com o céu ainda cinzento. A noite mal dormida deixara marcas sob seus olhos, mas ela não se importava. A única coisa que ecoava dentro dela era o silêncio que Salvatore deixara para trás. Levantou-se devagar, sem pressa, sem vontade. Ainda vestia a roupa da noite anterior, e por um momento ficou parada em frente ao espelho, olhando para si mesma. Ela parecia diferente. Como se tivesse deixado uma parte de si no escritório, ao lado dele. Desceu as escadas devagar, o som dos passos abafado pelo tapete do corredor. A casa estava estranhamente quieta. Nenhum sinal do pai, nenhum som de movimentação. Apenas o frio da ausência. Ela entrou na cozinha e viu sobre a mesa uma caneca de café — ainda morna — e um bilhete rabiscado com a caligrafia apressada do general: “Fui para a base. Preciso resolver algumas pendências. Cuide-se.” Ela deixou o bilhete de lado e saiu, pegando o casaco no caminho. Caminhou até os fundos da casa, onde o jardim se estendia so
Algumas semanas haviam se passado desde a despedida silenciosa entre Olivia e Salvatore. Ela tentara manter sua vida em movimento, mas a ausência dele ainda a assombrava. Todos os dias, seu pensamento vagava para o momento em que ele se afastou, e as palavras que ficaram não ditas a consumiam. Olivia estava determinada. Não podia mais ficar esperando, sem saber onde estava pisando. Depois de dias sem vê-lo, sem palavras, ela não podia mais ignorar a sensação de que algo ainda estava em aberto entre ela e Salvatore. Havia perguntas não respondidas, e ela precisava de respostas, nem que isso significasse confrontá-lo diretamente. A noite estava silenciosa quando Olivia se aproximou do prédio onde Salvatore morava. As ruas vazias e a brisa fria não impediram sua determinação. Ela sabia que o encontraria ali, sozinha, e que não podia mais adiar a conversa. Não estava mais disposta a viver na dúvida. Ela subiu os degraus até o andar dele, os passos ecoando pelo corredor. Quando chegou à
O silêncio entre eles se alongou, mas havia algo mais agora. Um peso, uma tensão elétrica que se formava no ar. Salvatore a observava com um olhar mais suave, menos severo, como se ela tivesse feito uma fissura em sua parede impenetrável. Olivia, por sua vez, sentia o calor crescente em seu peito, uma mistura de vulnerabilidade e desejo de finalmente ceder àquilo que sempre sentira, mas nunca soubera como expressar. Ela deu um passo à frente, aproximando-se dele com a leveza de quem já sabia o que queria, mas estava com medo do que isso poderia significar. — Salvatore… — Ela murmurou, a voz suave, mas cheia de convicção. Ele a olhou nos olhos, o conflito ainda evidente, mas algo mais ali também, algo que ele não conseguia esconder. Ela tocou seu rosto, o gesto simples, mas cheio de significado. Ele não se afastou, apenas a observou, o corpo tenso, a respiração mais pesada. Olivia podia sentir que ele estava à beira de algo, prestes a ceder, mas ao mesmo tempo, ele ainda tentava
O sol atravessava as frestas da cortina, lançando faixas douradas pelo quarto. O ar ainda tinha o cheiro da noite anterior — suor, pele e desejo. Olivia acordou devagar, os músculos doloridos de forma deliciosa, como se seu corpo tivesse descoberto uma nova forma de existir. Ela abriu os olhos devagar, sentindo o lençol deslizar pela pele nua. O quarto estava silencioso, e por um segundo, seu peito apertou com a dúvida: ele ainda estava ali? — Bom dia, piccola — a voz rouca soou próxima, com aquele sotaque que fazia seu estômago revirar. Salvatore estava encostado no batente da porta, só de calça, o peito nu coberto por algumas cicatrizes — histórias que ela ainda não conhecia, mas queria ouvir. Na mão, uma caneca de café. — Trouxe isso pra você — disse ele, estendendo a caneca com um meio sorriso que deixava os joelhos dela fracos, mesmo sentada. Ela se sentou, puxando o lençol contra o peito, ainda envergonhada apesar da noite intensa que compartilharam. Mas Salvatore se aprox
O general Riccardo estava sentado atrás de sua grande mesa de carvalho, o olhar severo fixo nos documentos espalhados à sua frente. O relógio na parede marcava o final da tarde quando ele ouviu batidas firmes na porta. — Entre — disse com a autoridade característica de quem carregava o peso de decisões difíceis. Salvatore entrou com passos decididos, seu uniforme impecável, o semblante austero. Parou a alguns metros da mesa e saudou com firmeza. — General. Riccardo ergueu os olhos, analisando-o por um instante. Salvatore era mais do que um capitão — era o soldado mais disciplinado, leal e eficaz que já comandara. Um homem moldado pela guerra, mas ainda humano o suficiente para que o conflito deixasse marcas. — Sente-se, capitão — ordenou, apontando para a cadeira à sua frente. Salvatore sentou-se sem hesitação, mantendo-se ereto, o olhar firme. — Chamou-me, senhor? Riccardo respirou fundo antes de falar. — A situação no Afeganistão piorou, como você deve ter visto
Olivia estava no avião, olhando pela janela enquanto o voo se aproximava da Itália. O coração batia forte, uma mistura de excitação e ansiedade. Havia algo sobre aquele momento que a fazia sentir como se estivesse retornando a um lugar que sempre foi seu, mas ao mesmo tempo, um lugar que ela havia perdido há tanto tempo. As lembranças da infância, os aromas das ruas de Roma, as tardes quentes na Toscana, tudo aquilo a invadia com uma intensidade que a fazia quase querer fechar os olhos para não ser dominada pela emoção. "Eu nunca soube o quanto sentia falta disso até agora", ela pensava, apertando os dedos contra o vidro da janela. "A Itália tem uma forma de envolver a gente, como se tudo ao redor sussurrasse sua história, e você se perde entre os ecos do passado e os sonhos do futuro." Olivia fechou os olhos por um momento, imaginando as ruas que tanto conhecia, as pedras antigas sob seus pés, o som das pessoas conversando nos cafés e a maneira como o sol se punha lentamente atrás