O general passou a mão pelo rosto, exalando lentamente, como se aquele gesto pudesse dissipar o turbilhão de sentimentos que crescia dentro dele. Olivia permanecia de pé diante dele, determinada, com o queixo erguido e os olhos brilhando com aquela teimosia que ele conhecia bem — a mesma que ela herdara da mãe. — Se eu permitir isso — disse ele, por fim —, você vai seguir ordens. Vai com uma escolta, com um agente de confiança. Nada de agir por conta própria, entendeu? — Eu só quero respostas. E quero vê-lo. — respondeu Olivia, a voz mais baixa, mas firme. — Só isso. O general assentiu lentamente, resignado. — Eu vou providenciar tudo. Você parte amanhã cedo. Olivia sentiu o coração bater mais forte. Era real. Ela ia vê-lo de novo. Mesmo que fosse só para ouvir da boca dele aquilo que ela já sentia — que ele a estava afastando por medo, não por indiferença. Ao sair da sala do pai, Olivia se dirigiu direto para seu quarto. O telefone ainda estava sobre a cama, onde ela o havia de
Salvatore estava sentado em um banco de uma estação de trem deserta, sua expressão seria e focada. Ele olhava para o horizonte, mas sua mente estava longe, absorta em uma série de pensamentos desconexos. A mensagem de Olivia ainda ecoava em sua mente. Ela havia ligado, ele havia respondido, mas a tensão entre eles nunca parecia diminuir. Ele sabia que deveria se afastar, que era o mais seguro para ela e para todos os envolvidos, mas não conseguia deixar de se preocupar. A missão estava longe de terminar, e ele sabia que Viena estava prestes a se tornar um campo de batalha — não apenas por causa de Voronin, mas por tudo o que estava se desenrolando nas sombras. O fato de ela estar tão perto dele, de ter vindo até a cidade sem hesitar, o fez pensar mais uma vez nas escolhas que ele havia feito. Ele não podia protegê-la de tudo. O som de passos ecoou pela estação vazia, e Salvatore levantou o olhar rapidamente, sua postura tensa. Ele reconheceu o soldado que se aproximava. — Salvatore
As luzes de Viena brilhavam ao longe, ofuscadas pela neblina densa que começava a se espalhar pela zona industrial da cidade. Salvatore caminhava em silêncio entre contêineres enferrujados, os passos firmes, os olhos atentos. Ele sabia que aquela era a última peça do jogo. O fim de tudo. E Voronin estava perto. Um grito abafado ecoou. Ele sacou a arma. A comunicação no fone de ouvido chiou. — Contato visual negativo — murmurou uma voz da equipe de apoio. — Nada na ala norte. Salvatore não respondeu. Algo dentro dele dizia que era pessoal demais para qualquer interferência. Virou uma esquina. A respiração saía pesada, o ar gelado misturando-se com a tensão em seus músculos. E então ele parou. Voronin estava ali. No centro do corredor formado pelos contêineres, cercado por sombras. O sobretudo preto esvoaçava com o vento, os olhos frios fixos em Salvatore como se o tempo não tivesse passado. — Sabia que viria — disse Voronin, um sorriso torto nos lábios. — Um soldado obediente
O avião cortava as nuvens em silêncio, e a cabine privada parecia um universo à parte, isolado do mundo lá fora. Olivia estava sentada ao lado da janela, o olhar perdido na escuridão do céu noturno, enquanto os dedos brincavam distraidamente com a manta sobre o colo. Salvatore estava ao seu lado, em silêncio, com o corpo tenso, mas os olhos... os olhos voltavam para ela a cada minuto, como se confirmar que ela estava ali fosse sua âncora. O beijo ainda pairava entre eles — não falado, não comentado, mas presente em cada olhar que se cruzava, em cada centímetro entre suas mãos que por pouco não se tocavam novamente. — Você está arrependido? — a voz de Olivia veio baixa, quase um sussurro, sem tirar os olhos da janela. Salvatore demorou a responder. Seus olhos seguiram o contorno do rosto dela à meia-luz, antes de encarar o vazio à frente. — Não. — foi tudo o que disse. Ela virou-se um pouco, apenas o suficiente para vê-lo de perfil. — Então por que parece que está fugindo
silêncio após as palavras de Olivia era pesado, denso como fumaça num campo de batalha depois da explosão. Salvatore manteve os olhos nela. Ainda havia preocupação, sim. Mas também respeito. Ela não estava quebrada. Estava se erguendo, mesmo entre destroços. O general desviou o olhar por um momento, talvez envergonhado por algo raro para ele: culpa. — Você deveria ter confiado em mim. — Olivia disse, a voz mais baixa agora, mas firme. — Eu não sou mais uma criança que precisa ser protegida com mentiras. Eu tinha o direito de saber. — Eu sei. — Riccardo respondeu, finalmente. — Mas quando se é pai… às vezes a linha entre proteger e mentir se apaga. Salvatore cruzou os braços, o maxilar travado. A sensação de impotência queimava nele. — Ele quase a matou. — disse, com a voz baixa, como uma lembrança amarga que se recusa a ser esquecida. — Voronin poderia tê-la levado. Ou pior. E mesmo assim, tudo isso foi um jogo calculado? O general o encarou. — Foi uma guerra. E vocês dois est
Olivia ficou imóvel por um momento, os olhos fixos na porta onde Salvatore havia desaparecido. Cada passo que ele dava a afastava mais do que ela sabia que poderia ser. A dor no peito era como uma lâmina afiada, cortando em silêncio. Ela ouviu o som da porta se fechando, e com ele, a sensação de vazio. Um vazio que a consumia de dentro para fora, enquanto ela tentava entender o que estava acontecendo consigo mesma. O que ela sentia por ele não era algo que pudesse ser facilmente explicado, não era simples ou direto. Era uma mistura de algo proibido, algo perigoso, e ao mesmo tempo, algo que fazia o coração dela bater mais rápido, como se tudo ao redor desaparecesse quando ele estava por perto. Mas ele foi embora. Por causa do pai. Por causa das palavras que o general havia dito, palavras que não deixavam espaço para mais nada, palavras que ressoavam no fundo de seu ser. Olivia olhou para o lugar vazio na porta e então voltou-se para o homem que estava à sua frente. O pai. O homem qu
Na manhã seguinte, Olivia acordou com o céu ainda cinzento. A noite mal dormida deixara marcas sob seus olhos, mas ela não se importava. A única coisa que ecoava dentro dela era o silêncio que Salvatore deixara para trás. Levantou-se devagar, sem pressa, sem vontade. Ainda vestia a roupa da noite anterior, e por um momento ficou parada em frente ao espelho, olhando para si mesma. Ela parecia diferente. Como se tivesse deixado uma parte de si no escritório, ao lado dele. Desceu as escadas devagar, o som dos passos abafado pelo tapete do corredor. A casa estava estranhamente quieta. Nenhum sinal do pai, nenhum som de movimentação. Apenas o frio da ausência. Ela entrou na cozinha e viu sobre a mesa uma caneca de café — ainda morna — e um bilhete rabiscado com a caligrafia apressada do general: “Fui para a base. Preciso resolver algumas pendências. Cuide-se.” Ela deixou o bilhete de lado e saiu, pegando o casaco no caminho. Caminhou até os fundos da casa, onde o jardim se estendia so
Algumas semanas haviam se passado desde a despedida silenciosa entre Olivia e Salvatore. Ela tentara manter sua vida em movimento, mas a ausência dele ainda a assombrava. Todos os dias, seu pensamento vagava para o momento em que ele se afastou, e as palavras que ficaram não ditas a consumiam. Olivia estava determinada. Não podia mais ficar esperando, sem saber onde estava pisando. Depois de dias sem vê-lo, sem palavras, ela não podia mais ignorar a sensação de que algo ainda estava em aberto entre ela e Salvatore. Havia perguntas não respondidas, e ela precisava de respostas, nem que isso significasse confrontá-lo diretamente. A noite estava silenciosa quando Olivia se aproximou do prédio onde Salvatore morava. As ruas vazias e a brisa fria não impediram sua determinação. Ela sabia que o encontraria ali, sozinha, e que não podia mais adiar a conversa. Não estava mais disposta a viver na dúvida. Ela subiu os degraus até o andar dele, os passos ecoando pelo corredor. Quando chegou à