O vento balançava levemente as cortinas da sala quando Olivia se sentou no sofá com um livro nas mãos, mas os olhos não liam nenhuma palavra. A cabeça estava distante, pesada. A sensação de estar sendo observada persistia, mesmo dentro de casa. Ela tentava ignorar, tentava se convencer de que era apenas paranoia — fruto dos últimos acontecimentos — mas a inquietação não passava. Passou os dedos pelos cabelos, respirando fundo. — Você está perdendo o controle, Olivia… — murmurou. Desde que voltara da base, não havia sinal de Salvatore. Nenhuma mensagem, nenhum recado, nada. E isso a consumia mais do que gostaria de admitir. Ela sabia que ele era dedicado, que devia estar imerso em alguma missão, mas... custava mandar um aviso? Um "está tudo sob controle"? Um "estou vivo"? Levantou-se com irritação e foi até a janela. Observou o movimento da rua — tranquila como sempre — mas seus olhos estavam fixos em nada. Queria vê-lo. Queria ouvir sua voz. De repente, o som agudo do interf
O general Riccardo Fiore estava na base militar desde a noite anterior. As luzes do gabinete ainda estavam acesas quando o relógio marcava 6h47 da manhã. Ele terminava de revisar relatórios sobre os últimos avanços na investigação do assalto, com as sobrancelhas tensas e o olhar fixo no papel, quando o telefone da base tocou — o toque direto, usado apenas em casos urgentes. — General Fiore — atendeu com firmeza. A voz do soldado do outro lado estava carregada de urgência: — Senhor… recebemos uma chamada da equipe de vigilância enviada à sua residência. Dois seguranças foram encontrados mortos. A senhorita Olivia… ela não está na casa. Tudo indica que foi levada. Por um segundo, o tempo pareceu parar. Riccardo apertou o telefone contra o ouvido, os nós dos dedos esbranquiçando. — Tem certeza disso? — sua voz saiu baixa, mas cheia de uma tensão contida. — Sim, senhor. Já lacramos a área e iniciamos a varredura. Mas… havia sinais claros de retirada forçada. Não houve tempo para re
O frio do chão de pedra penetrava pelos joelhos de Olivia. Estava em um cômodo pequeno, mal iluminado, com paredes úmidas e sem janelas. Suas mãos estavam amarradas para trás com uma fita plástica apertada, que cortava sua pele a cada movimento. A cabeça doía — não sabia se era pelo golpe que levara ao tentar escapar ou pelo medo que queimava por dentro. Viktor havia sumido depois que a trancou ali. O silêncio era quase ensurdecedor. A última coisa que lembrava com clareza era o som abafado de um tiro... o corpo de um dos seguranças caindo ao chão... e o gosto de desespero invadindo sua garganta. Ela respirava rápido, o coração acelerado, mas os olhos permaneciam abertos, atentos. Não podia se dar ao luxo de ceder ao pânico. "Se ele te trancou, é porque ainda precisa de você viva." Era o único pensamento racional que conseguia sustentar. Tentou puxar as mãos com força, procurando uma forma de escapar da amarra, mas a dor foi imediata. Suas lágrimas escorreram silenciosas. Não de
Salvatore ajustou o colete tático e prendeu o comunicador no ouvido. Os olhos escaneavam o mapa digital em suas mãos pela última vez. Estava diante de uma propriedade afastada, rodeada por mata densa e acessos limitados. Tudo indicava que aquele era o lugar. O silêncio ali era denso, opressor — e ele sabia que estava perto demais para recuar agora. Fechou o mapa e caminhou em direção ao helicóptero, onde o piloto o aguardava, atento. — Vou entrar sozinho — disse, firme. — Estudei o perímetro, conheço os pontos cegos. Vai parecer um acesso suicida, mas é a única brecha que encontrei. O piloto franziu o cenho, preocupado. — Tem certeza? Podemos tentar uma abordagem aérea, chamar reforço... — Ainda não — interrompeu Salvatore. — Se chamarmos atenção demais, eles podem eliminar ela antes mesmo de alguém colocar os pés lá dentro. E isso não vai acontecer. Fez uma pausa, os olhos voltando para o helicóptero. — Mas se eu não voltar dentro de duas horas, ou se perder o sinal do meu ras
O helicóptero pousou com um estrondo suave na plataforma do hospital militar. O som das hélices ainda reverberava no ar enquanto os médicos e enfermeiros se preparavam para a chegada de Olivia. Salvatore a retirou da aeronave com precisão, apesar de sua mente estar um turbilhão. Cada segundo parecia uma eternidade, mas ele não podia demonstrar fraqueza. Olivia estava em péssimo estado. Seu corpo, agora inerte nos braços dele, parecia mais frágil a cada movimento. — Médicos! — gritou Salvatore para os profissionais que aguardavam ao lado da ambulância. Imediatamente, uma equipe correu até ele, preparando uma maca. — Ela está consciente? — perguntou o médico, observando Olivia com atenção. — Não muito — Salvatore respondeu, os dentes cerrados. — Ela estava sendo torturada, está fraca, mas ainda respira. Olivia fez um som baixo, como se tentasse se comunicar, mas as palavras se perderam. Seus olhos se abriram um pouco mais, e ela conseguiu focar em Salvatore. Um pequeno sorriso, fr
Olivia se recuperava lentamente, ainda tentando processar o que havia acontecido. O hospital, com sua atmosfera fria e clínica, parecia distante de sua realidade, mas ela sabia que era o único lugar seguro para ela naquele momento. A cama parecia mais um campo de batalha, o lugar onde sua luta pela sobrevivência começou. Os médicos haviam feito o que podiam, mas o peso da experiência ainda estava em seus ossos e em sua mente. Ela olhou em volta, notando a ausência de Salvatore. Ele já não estava ali. O silêncio na sala era quase sufocante, como se a presença dele tivesse preenchido o espaço de maneira irremediável. Não sabia o que exatamente ele fazia ou como lidava com tudo isso, mas a última coisa que ele lhe disse ainda ecoava em sua mente: "Fique segura." Olivia tentou afastar a dor física, mas as imagens da emboscada, os corpos de seus seguranças, e as ordens cruéis de Voronin a assombravam. Mas havia algo mais, algo que não conseguia explicar. O sentimento de estar envolvida
Salvatore mantinha o olhar fixo na estrada à frente enquanto o jipe militar avançava pelas trilhas estreitas de terra, afastando-se do hospital e da cidade. O silêncio dentro do veículo era absoluto, quebrado apenas pelo som constante do motor e o farfalhar das folhas ao vento. Ele já havia enviado um novo relatório codificado ao general — contendo os nomes encontrados, os símbolos tatuados nos homens mortos, os possíveis vínculos com facções mercenárias que operavam sob a sombra de Voronin. O quebra-cabeça estava se formando, mas havia lacunas demais para que ele baixasse a guarda. Salvatore respirou fundo, sentindo o gosto metálico da adrenalina ainda pairando sobre sua língua. Na verdade, ele mal tinha descansado. Tinha trocado os curativos da mão cortada, limpado a faca e checado suas armas. O próximo passo era claro: encontrar o último ponto de contato de Voronin, alguém que pudesse dar pistas do paradeiro atual do mercenário. Ele já tinha uma direção — uma propriedade afastada
— O quê? — a palavra escapou dos lábios de Olivia antes que pudesse contê-la. Ela deu um passo à frente, como se precisasse confirmar que tinha entendido corretamente. — Ele vai para Viena? O general olhou para ela com seriedade, mas havia um toque de suavidade em seu olhar — um resquício do pai que tentava proteger a filha, mesmo em meio à tensão de tudo aquilo. — Sim — respondeu ele, com calma. — Salvatore tem uma nova missão. Voronin pode ter conexões com antigos aliados na Áustria, e Viena é um ponto estratégico. A inteligência acredita que ele possa tentar fugir por lá, ou que esteja escondendo algo importante naquele território. Olivia desviou o olhar, tentando esconder o impacto que aquilo lhe causava. Não que ela fosse dizer algo. Não que fosse pedir para ele ficar. Mas... a ideia de Salvatore se afastando justo agora, depois de tudo, fazia algo dentro dela se apertar. — Ele... já foi? — Ainda não. Parte amanhã ao amanhecer. Está reunindo o que precisa. Não pergunte onde