Salvatore ajustou o colete tático e prendeu o comunicador no ouvido. Os olhos escaneavam o mapa digital em suas mãos pela última vez. Estava diante de uma propriedade afastada, rodeada por mata densa e acessos limitados. Tudo indicava que aquele era o lugar. O silêncio ali era denso, opressor — e ele sabia que estava perto demais para recuar agora. Fechou o mapa e caminhou em direção ao helicóptero, onde o piloto o aguardava, atento. — Vou entrar sozinho — disse, firme. — Estudei o perímetro, conheço os pontos cegos. Vai parecer um acesso suicida, mas é a única brecha que encontrei. O piloto franziu o cenho, preocupado. — Tem certeza? Podemos tentar uma abordagem aérea, chamar reforço... — Ainda não — interrompeu Salvatore. — Se chamarmos atenção demais, eles podem eliminar ela antes mesmo de alguém colocar os pés lá dentro. E isso não vai acontecer. Fez uma pausa, os olhos voltando para o helicóptero. — Mas se eu não voltar dentro de duas horas, ou se perder o sinal do meu ras
O helicóptero pousou com um estrondo suave na plataforma do hospital militar. O som das hélices ainda reverberava no ar enquanto os médicos e enfermeiros se preparavam para a chegada de Olivia. Salvatore a retirou da aeronave com precisão, apesar de sua mente estar um turbilhão. Cada segundo parecia uma eternidade, mas ele não podia demonstrar fraqueza. Olivia estava em péssimo estado. Seu corpo, agora inerte nos braços dele, parecia mais frágil a cada movimento. — Médicos! — gritou Salvatore para os profissionais que aguardavam ao lado da ambulância. Imediatamente, uma equipe correu até ele, preparando uma maca. — Ela está consciente? — perguntou o médico, observando Olivia com atenção. — Não muito — Salvatore respondeu, os dentes cerrados. — Ela estava sendo torturada, está fraca, mas ainda respira. Olivia fez um som baixo, como se tentasse se comunicar, mas as palavras se perderam. Seus olhos se abriram um pouco mais, e ela conseguiu focar em Salvatore. Um pequeno sorriso, fr
Olivia se recuperava lentamente, ainda tentando processar o que havia acontecido. O hospital, com sua atmosfera fria e clínica, parecia distante de sua realidade, mas ela sabia que era o único lugar seguro para ela naquele momento. A cama parecia mais um campo de batalha, o lugar onde sua luta pela sobrevivência começou. Os médicos haviam feito o que podiam, mas o peso da experiência ainda estava em seus ossos e em sua mente. Ela olhou em volta, notando a ausência de Salvatore. Ele já não estava ali. O silêncio na sala era quase sufocante, como se a presença dele tivesse preenchido o espaço de maneira irremediável. Não sabia o que exatamente ele fazia ou como lidava com tudo isso, mas a última coisa que ele lhe disse ainda ecoava em sua mente: "Fique segura." Olivia tentou afastar a dor física, mas as imagens da emboscada, os corpos de seus seguranças, e as ordens cruéis de Voronin a assombravam. Mas havia algo mais, algo que não conseguia explicar. O sentimento de estar envolvida
Salvatore mantinha o olhar fixo na estrada à frente enquanto o jipe militar avançava pelas trilhas estreitas de terra, afastando-se do hospital e da cidade. O silêncio dentro do veículo era absoluto, quebrado apenas pelo som constante do motor e o farfalhar das folhas ao vento. Ele já havia enviado um novo relatório codificado ao general — contendo os nomes encontrados, os símbolos tatuados nos homens mortos, os possíveis vínculos com facções mercenárias que operavam sob a sombra de Voronin. O quebra-cabeça estava se formando, mas havia lacunas demais para que ele baixasse a guarda. Salvatore respirou fundo, sentindo o gosto metálico da adrenalina ainda pairando sobre sua língua. Na verdade, ele mal tinha descansado. Tinha trocado os curativos da mão cortada, limpado a faca e checado suas armas. O próximo passo era claro: encontrar o último ponto de contato de Voronin, alguém que pudesse dar pistas do paradeiro atual do mercenário. Ele já tinha uma direção — uma propriedade afastada
— O quê? — a palavra escapou dos lábios de Olivia antes que pudesse contê-la. Ela deu um passo à frente, como se precisasse confirmar que tinha entendido corretamente. — Ele vai para Viena? O general olhou para ela com seriedade, mas havia um toque de suavidade em seu olhar — um resquício do pai que tentava proteger a filha, mesmo em meio à tensão de tudo aquilo. — Sim — respondeu ele, com calma. — Salvatore tem uma nova missão. Voronin pode ter conexões com antigos aliados na Áustria, e Viena é um ponto estratégico. A inteligência acredita que ele possa tentar fugir por lá, ou que esteja escondendo algo importante naquele território. Olivia desviou o olhar, tentando esconder o impacto que aquilo lhe causava. Não que ela fosse dizer algo. Não que fosse pedir para ele ficar. Mas... a ideia de Salvatore se afastando justo agora, depois de tudo, fazia algo dentro dela se apertar. — Ele... já foi? — Ainda não. Parte amanhã ao amanhecer. Está reunindo o que precisa. Não pergunte onde
Salvatore ficou alguns segundos parado com o celular ainda na mão, mesmo depois de encerrar a ligação. O nome dela ainda pulsava em sua mente, como uma lembrança insistente que ele tentava ignorar. Mas era inútil. Ele estava sentado no banco de um jipe militar, o motor já ligado, a poucos quilômetros da pista de decolagem onde o helicóptero o aguardava para a próxima etapa da missão. Viena. Era para lá que estava indo, para seguir as novas pistas sobre Voronin. E, mesmo com o coração dividido, sua mente se mantinha focada. Ele passou a mão no rosto, sentindo o cansaço pesar em cada músculo. Não dormia direito desde o resgate. Cada vez que fechava os olhos, via Olivia naquela cadeira, os pulsos feridos, a expressão exausta. E a fúria voltava, cravando-se em sua alma como uma lâmina. — Está pronto? — perguntou um dos agentes da equipe especial, se aproximando. Salvatore assentiu, sem hesitar. — Vamos. O jipe arrancou em direção à pista, e o vento forte começou a bagunçar o uniform
A neve fina começava a cair quando Salvatore dobrou a última esquina em direção ao endereço de Yelena Antonova. O lugar não era o que esperava. Ao invés de um esconderijo discreto, ele se deparou com uma construção antiga de dois andares, fachada de madeira escura, luzes apagadas e janelas vedadas com cortinas pesadas. Ele se aproximou com cautela, os passos silenciosos sobre a calçada úmida. O silêncio do entorno era perturbador — nenhum som de televisão, nenhum ruído vindo de dentro, nem sequer um cachorro latindo nas redondezas. Tudo parecia propositalmente... morto. Encostou-se à lateral da casa e observou pelas frestas da cortina de uma das janelas laterais. Dentro, um corredor estreito e escuro. Nada. Mas ele conhecia o cheiro do perigo. O lugar podia estar vazio, ou prestes a explodir. Seguindo por trás da casa, encontrou uma porta de serviço mal trancada. Bastou uma leve pressão e ela cedeu. A arma firme em mãos, ele entrou. O ambiente era escuro, mas os sentidos de Salvat
A noite caía silenciosa sobre a casa dos Fiore. Do lado de fora, o jardim estava quieto, e a luz amarelada da luminária de cabeceira mal iluminava o quarto onde Olivia permanecia sentada na beirada da cama. Ela estava com uma manta nos ombros, o cabelo ainda solto e úmido após o banho, os pensamentos agitados. O celular repousava sobre suas pernas, bloqueado. Por várias vezes, ela já havia aberto a tela, encarado o número salvo como “Salvatore” e hesitado. Mas agora, o que restava era a necessidade. De ouvi-lo. De saber se ele estava bem. De sentir que tudo aquilo não tinha sido apenas um caos passageiro, sem significado. Com um suspiro profundo, Olivia tocou na tela e iniciou a chamada. O som da linha chamando fez seu coração acelerar. Ela apertou os olhos por um instante, prendendo a respiração. Do outro lado, a voz firme — mas um pouco rouca — de Salvatore atendeu. — Olivia? Ela sorriu, mesmo sem perceber. — É… sou eu. — disse baixinho, como se temesse quebrar o momento. —