Capítulo Um - 3

Parte 3...

Anete tinha suas próprias obrigações além de cuidar da sobrinha. Seu gerente na farmácia, senhor Mire, infelizmente faleceu após quase dois meses enfermo. Ele cuidava de tudo diretinho e depois de sua orte, ficou tudo meio desorganizado porque o assistente dele não sabia fazer igual.

Depois, sua gerente, a senhora Louren se aposentou da padaria e então tudo ficou nas mãos apenas de Anete, que ficou carregada demais. Apesar dela ser rápida e organizada, ainda assim era coisa demais e de vez em quando ela ficava sobrecarregada.

A padaria demandava muito de seu tempo e a farmácia ainda começava a se ajustar. Ela ficava indo e vindo de um lado para outro e com a sobrinha, ficava mais difícil. Ele entendia.

Amava a irmã e sabia que ela faria mais se pudesse, mas se sentia de mãos atadas e tinha uma responsabilidade grande ali. Porém ele não iria fugir de sua obrigação maior. Tinha medo de não dar conta sozinho, mas não iria recuar mais. De repente até que isso foi bom pra ele.

_ O que farei? - tirou o chapéu e enfiou os dedos pelo cabelo _ Sou incapaz de criar uma criança. eu sei dar amor a minha filha, mas criar já é mais difícil sozinho.

_ Não diga isso. Você é um homem inteligente, responsável e forte. Só não tem experiência nisso - ela deu de ombros _ Calma, você vai conseguir sim, eu sei. Parece muito difícil no começo, mas aos poucos você consegue dar conta.

_ É, eu sei - arregalou os olhos _ Sei que Anna é responsabilidade minha, mas o que vou fazer?

_ Sabe que se eu pudesse continuaria com ela, mas é longe para onde vamos - torceu as mãos _ E sabe que não posso dizer ao Peter que desisti de mudar. Nós já vendemos a padaria e a farmácia vai ficar aberta por enquanto, mas um amigo dele irá cuidar de tudo até que seja vendida também. Nossa vida está mudando muito e rápido. Até eu fiquei surpresa como as coisas foram acontecendo.

Ele sabia. O cunhado já tinha lhe dito que não poderiam continuar na cidade. Seu trabalho pedia que se mudassem para outro lugar e ficava longe. Depois eles voltariam a morar na cidade novamente, mas por um bom tempo teriam que se ausentar.

De vez em quando eles poderiam até vir visitar os amigos e parentes, mas a volta seria bem pra frente.

_ Não dá pra ficar com ela. É longe para fazer uma viagem toda semana. Você sabe - ela disse sem jeito.

_ Eu sei, eu sei - balançou a cabeça _ Não fique chateada com minha insistência, até parece que eu não amo minha filha - apertou os lábios _ Eu amo e muito, só me sinto meio idiota por não ter experiência pra cuidar bem dela - suspirou _ E uma menina tão esperta como ela precisa de uma mãe. Eu fico muito tempo fora de casa. De vez em quando é que tenho uma folga.

Anna precisava mais de uma mãe do que de um pai, ainda mais um como ele, que não tinha o menor jeito com crianças. Sua esposa sabia lidar bem com a menina esperta.

Ele tinha imaginado antes, que a irmã e o cunhado ficariam indo e vindo para cuidar das coisas por aqui, então eles levariam sua pequena Anna e ele a veria em seus dias de folga. Apesar de ser longe e cansativo, ele estava disposto a fazer esse vai e vem.

Mas pensando bem, não seria tão fácil assim e a viagem acabaria sendo desgastante para Anete. Estava se sentindo perdido e preocupado. A irmã não poderia ficar nisso o tempo todo e ele só poderia ir quando tivesse uma folga maior, o que nem sempre ocorria por conta de seu tipo de trabalho.

O futuro de sua filha dependia dele.

_ Eu até cheguei a pensar em levar Anna conosco - mexeu no bordado da saia _ Mas depois percebi que isso não daria certo - meneou a cabeça _ Você sabe... Começando uma nova vida, tendo que dar apoio ao Peter, as coisas por aqui que ainda não se resolveram por completo... Me desculpe.

_ Não... Não peça desculpas - sorriu de leve para ela _ Eu entendo muito bem e agradeço tudo o que fez até hoje. Você precisa mesmo cuidar de sua vida. Anna é bem esperta e no começo ela vai me dar um banho, mas aos poucos eu aprendo o jeitinho dela.

_ Só tenha cuidado. Ela é muito inteligente e pode acabar te manipulando se sentir que você está com peso nos ombros. Não pense que crianças são tão bobinhas, não. Algumas conseguem ser bem manipuladoras e os adultos caem fácil.

Eles ficaram calados pensativos por um momento, até que Anete ergueu a cabeça.

_ Irmão, por que você não arranja uma noiva por correspondência?

_ Como? - franziu o cenho.

Nesse momento, o cunhado entrou e ouviu o que a esposa dizia.

_ Uma noiva seria ideal, ainda mais uma que goste de crianças - deu um beijo na testa da esposa _ Pra você seria a melhor ajuda. Um esposa nova - ergueu a mão _ Sem querer dizer que vai esquecer de Megan, é apenas um outro tempo e uma outra situação.

_ Uma noiva - Anete gesticulou _ Isso é mais comum do que parece - mexeu o ombro _ Você vai até o correio e pede o catálogo de noivas - ela explicou _ É um serviço onde homens buscam mulheres para se casar e vice-versa. Casar mesmo. 

_ Já ouvi falar disso, mas nunca vi ninguém fazer tal coisa - coçou a testa _ Isso é legal?

_ Claro que é, xerife - ela riu _ E todas as mulheres que participam são maiores de idade. Nada é feito contra a lei.

_ Pois é. Você só tem que ser honesto no que espera de uma esposa para não ter confusão depois - Peter disse _ Aí quando aparecer alguém interessada em seu perfil, você escolhe e segue em frente. É rápido, pode ser estranho, mas funciona.

_ E o que eu tenho que fazer?

_ Não sei bem, mas vou procurar saber - pensou batendo o dedo na bochecha _ Sabe o Clayton lá do restaurante? Pois ele é casado com uma noiva dessa e até já está esperando seu primeiro filho nascer.

_ E isso lá dá certo? - disse descrente.

_ Bem, que eu saiba, na maioria dos casos sim. Por que você não experimenta? Pode entrar em contato com a agência que faz o serviço, diz o que você quer... Bem, eles vão te explicar, eu não sei direito... E se for pensar bem, não é tão diferente do que acontecia antes, quando se arranjavam os matrimônios.

_ Isso me parece loucura. Eu vou ficar com uma mulher que nunca vi?

_ Pode até ser, mas está dando certo para muitas pessoas - levantou _ Porque não vai até o restaurante e fala com o Clayton? Ele pode te dizer melhor. Não é mesmo, amor?

_ É sim. Pelo menos não vai perder nada tentando - ele abriu a mão gesticulando _ Você não vai perder tempo indo até a cidade, faz tudo por carta. Aqui quase não tem mulheres solteiras em idade de casar e também é até melhor aguém de fora.

“Será? Estou tão desesperado assim”?

Ele olhou fixo para a irmã por um instante. Ela parecia séria sobre o assunto. Abaixou a cabeça e ficou analisando se poderia fazer tal coisa. O cunhado fazia parecer bem fácil e talvez fosse mesmo.

Bateu o chapéu na perna e esfregou o rosto. Se sentia cansado e precisava urgente resolver essa questão, levando em conta sempre o melhor para sua pequena Anna.

_ Depois nos falamos mais, está bem? Eu preciso pensar muito. Não posso ser infantil.

Então ele saiu e deixou Anete olhando pela porta aberta, vendo-o se afastar de cabeça baixa.

_ Ah, meu irmão - suspirou _ Espero que você consiga logo uma solução - balançou a cabeça.

_ Ele vai conseguir sim, querida. Tenha fé. Acho que algo de bom vai acontecer com meu cunhado.

É o que Anete mais queria. O irmão merecia ser feliz. Era um homem muito bom.

** ** ** ** ** ** ** 

Lyanne estava sentada sentindo mais calor do que em toda sua vida. Seu corpo estava tenso e apertava as mãos sobre o colo. Não era todo dia que ela encontrava a coragem para sair de casa sem que seus pais soubessem aonde ia e nem para qual motivo.

Mas agora era preciso. Não conseguia mais manter a mente calma, sabendo o que vinha pela frente. tinha que ser mais corajosa do que sempre foi antes. Agora era com ela. 

Tinha visto a agência de noivas ao passar em frente um tempo atrás, quando saiu com a mãe e Greta para fazer compras. E isso lhe deu uma ideia de imediato.

Isso ficou em sua cabeça e após o episódio na sala, a ideia surgiu com força. Qualquer coisa seria melhor do que o destino de se casar com aquele homem. Com certeza outras opções haveriam por aí e ela teria a chance de escolher.

Seus pais haviam brigado com ela quando ele se foi, depois do almoço. Horrível.

O senhor Joseph até comia feio. Mastigava fazendo um barulho que a deixava enjoada e até evitou olhar para ele. Não gostou dele ter tocado nela algumas vezes e seu pai nada disse sobre isso. Parecia que já estava mandando nela. Isso a fez perceber com tristeza, que teria que se afastar e logo.

Ainda foi obrigada a pedir perdão pelo ocorrido, como se tivesse feito de propósito. Não foi, mas até que foi bom ver como ele se afastou dela.

Se chegasse mesmo a se casar com ele, aprenderia a ter vômitos involuntários a todo momento e quem sabe assim ele a deixasse em paz.

Sua nuca até se arrepiava só de pensar. Casar com um homem quarenta anos mais velho do que ela, passar sua vida ao lado dele... Seria muito ruim.

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