Parte 2...
A semana passou depressa demais para ela. Só de pensar em que dentro de pouco tempo estaria casada, seu corpo todo tremia. O que era até ridículo, já que muitas mulheres sonham em se casar. Ela mesma gostaria de se casar, mas com um homem que ela gostasse.
E para piorar seu sofrimento, a costureira enviada por Joseph era muito boa. Trabalhava rápido e logo um vestido branco feito sob medida já estava pronto para ela provar. Nem nessa parte ela podia enrolar, porque se conseguisse, empurraria isso para a frente por mais um mês.
O fez com lágrimas nos olhos e sem a menor vontade, apenas porque era isso que sua mãe queria, esperando no quarto enquanto a mulher a ajudava a vestir o objeto que simbolizava sua prisão.
A mulher não entendia seu humor, é claro. Então sua mãe interviu lhe dizendo o quanto ela estava feliz e nervosa com o casamento, por isso se portava dessa maneira, meio avoada e chorona. Ela até mentia para que a verdade não chegasse ao velho Joseph.
A costureira nada disse, só balançou a cabeça. E iria reclamar do que? Só Deus sabia da verdade.
Mas ela estava decidida, ainda que com muito medo de que tudo desse errado. Ela nunca iria usar esse vestido e menos ainda se casar com Joseph Rogan. Depois de terminada a prova do vestido, ela disse a mãe que iria sair.
_ De novo? E onde você vai? - cruzou os braços.
Ela tinha que inventar algo ou não a deixaria sair e precisava começar seu plano. Urgente. Agora tinha que aproveitar cada minuto.
_ É rápido, mamãe - se fez de calma _ Eu só vou até o centro comprar... Uma fita nova para meu chapéu novo - soltou a mentira _ Sabe que ainda não o usei e ele é meio sem cor. Talvez uma fita azul lhe caia bem. Eu acho que combina, não acha também?
Ela deu um sorriso tão falso quanto podia e apesar do olhar de sua mãe, ela caiu.
_ Está bem - abanou a mão _ Mas não se demore. O senhor Rogan chegará em breve.
“De novo esse homem? Agora queria marcar território?"
_ Sim - apertou os lábios _ É claro que voltarei antes para estar aqui quando meu noivo chegar.
_ E leve Greta com você. Não é bom uma mocinha andar por aí sozinha - abanou a mão.
Ela assentiu. Seria mais difícil fazer o que pretendia com Greta ao seu lado, mas daria um jeito. Poderia deixá-la na loja escolhendo fitas para seu chapéu enquanto ela saía em busca do que precisava mesmo.
Sem que a mãe visse, pegou a caixa de madeira com algumas de suas jóias e se enfiou no banheiro. Pegou uma gargantilha delicada de ouro com uma gota de pérola e um bracelete decorado, também de ouro. O que poderia ser usado para ajudar seu plano, ela levaria.
Fazia tempo que os tinha e não iriam dar pela falta. Pelo menos ela esperava que não. Enfiou os dois no corpete do vestido e saiu do quarto. Foi até a cozinha e mandou que Greta se trocasse para acompanhá-la até a cidade. Precisa ir logo.
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_ Greta, você fica aqui e olha as fitas - ordenou para que se dsitraísse e pudesse sair.
_ Mas, como vou saber qual você vai gostar mais? - franziu a testa.
_ Eu confio no seu gosto - deu um meio sorriso _ Eu vou em um lugar aqui perto e já volto. Quero adiantar as coisas para voltarmos logo.
_ Mas... - ela olhou para a mulher por trás do balcão _ Senhorita Carlton, onde vai?
_ Eu preciso ver uma outra coisa - disse depressa _ Volto já, pode continuar a escolher - saiu.
Greta ficou parada olhando pela vidraça enquanto ela saía na direção oposta e entrou em uma rua estreita. Achou estranho, mas não podia dizer nada. Ficou preocupada que ela andasse por aí sozinha.
Lyanne andava apressada segurando a barra do vestido, tentando evitar pisar nas poças de lama pelo caminho. Chegou ao final da rua e viu a placa que indicava a loja de penhores. Respirando fundo andou até lá e entrou de vez, antes que desistisse da ideia.
_ Boa tarde - um senhor de cabelos brancos a atendeu _ Em que posso ajudar a senhorita?
Ela já tinha aproveitado para tirar as peças do decote. Não seria adequado que enfiasse a mão entre os seios na frente dele. Poderia até achar que estava vendendo algo roubado e isso seria muito ruim. Já estava nervosa demais para chegar até ali e tinha que agir com calma, como se fosse algo que ela já tivesse feito antes.
Mostrou as peças a ele que verificou com cuidado cada uma. Depois parou um pouco olhando-as em cima do tecido preto no balcão.
_ Isso lhe pertence, senhorita?
_ É claro que sim - disse séria _ Foram presentes que ganhei.
_ Bem, eu tenho que perguntar - meneou a cabeça _ De vez em quando mocinhas necessitadas aparecem por aqui querendo penhorar peças que não são delas realmente.
_ Isso não acontece comigo, senhor - empinou o rosto _ Sou dona delas. Apenas... Preciso de dinheiro para algo e tem que ser rápido. Só por isso que estou aqui. Se quiser fazer negócio...
Ele franziu a testa e coçou o queixo.
_ Não tenho muito tempo, senhor - insistiu.
O homem coçou o queixo de novo e bateu os dedos sobre o tampo do balcão.
_ Posso lhe oferecer... - anotou o valor em um bloco pequeno _ Isto. Mas tem o valor dos juros em cima e se você não arcar com o pagamento, depois de três meses eles serão meus para fazer o que quiser. É assim que eu trabalho.
Ela pegou o bloco e leu o valor.
_ Só isso? - falou admirada _ Não. Tem que subir o valor. Eu preciso de mais.
_ Você não me deu garantia de onde vieram.
_ Eu já disse - respondeu ofendida _ Eles me pertencem. Jamais os venderia se não fosse... A pressa.
Ele a olhou por inteiro e torceu a boca. Balançou a cabeça de um lado para outro e riscou o valor anterior, escrevendo abaixo.
_ Aqui - empurrou o bloco _ É o máximo que vai conseguir de mim. Se quiser mais, terá que ser em outro lugar.
Ela leu o valor. Ainda estava abaixo do que as jóias valiam realmente, mas agora não tinha tempo para ficar negociando com o homem. Precisava do dinheiro para ontem, seu tempo diminuía.
Soltando o ar de modo resignado, ela mexeu a cabeça assentindo. Faria a venda. Só esperava poder antes de três meses, recuperar as jóias. mas não podia se preocupar com isso agora.
_ Está bem, eu aceito - disse séria _ Não é o valor correto pela peças, mas no momento não posso esperar... Tenho pressa.
Ele deu um sorriso meio disfarçado de vitória. Claro que contava que ela não voltasse para recuperar as jóias e ele teria um lucro bem maior em cima.
Lyanne pegou as notas oferecidas, contou e guardou em um pequeno envelope cinza. Saiu depressa sem olhar para trás, suas mãos tremiam. Agora já estava feito e não podia voltar atrás. Parou no meio do caminho e se encostou na parede de uma casa para acalmar o coração e enfiou o envelope dentro do decote. Quase gritou ao se virar e dar de cara com Greta parada ao seu lado.
_ Ai, Jesus... - ela colocou a mão no peito _ Greta, que susto você me deu - respirou fundo _ Não chegue assim de surpresa.
_ Perdão... O que estava fazendo senhorita?
_ Eu... Eu...
Greta percebeu seu nervosismo. Segurando sua mão a puxou para sairem da rua estreita e a guiou em direção à pequena igreja de madeira do outro lado. Lyanne se deixou guiar. Suas mãos tremiam e seu coração estava disparado. Nunca pensou que teria coragem para fazer o que fez. Foi um ato de coragem para ela que nunca imaginou que poderia fazer. De certa forma, estava orgulhosa dela mesma.
Entraram e sentaram no banco do fundo. As duas fizeram o sinal da cruz e esperaram que um casal passasse por elas para começar a conversar.
_ Lyanne... Pode me dizer o que está acontecendo? - perguntou baixinho _ Eu posso ajudar - apertou sua mão _ Sabe bem que pode contar comigo. Sei que sou apenas uma simples empregada, mas você sempre me tratou bem e eu prezo isso.
Parte 3... Lyanne apertou os lábios, olhando para ela com vontade de chorar devido o nervosismo. Precisava muito desabafar. Seu coração estava apertado pelo estresse de todo esse tempo suportando tudo sozinha. _ Greta, preciso que você seja minha amiga agora - apertou sua mão _ Posso confiar mesmo? _ Claro, sempre pôde. Me diga o que te aflige. Lyanne agradeceu mentalmente, olhando para a imagem de Jesus na cruz que ficava no altar. Respirou fundo e começou a contar uma versão resumida do que tinha feito. Ela também se sentia como aquela imagem. Paralisada e presa em uma cruz. Precisava de liberdade. Pelo menos, se Greta não pudesse ajduar em nada, só de ouvir o que ela tinha a falar e deixar que revelasse seus medos e tristezas, já era de grande ajuda sim. Muitas vezes apenas ouvir a outra pessoa e entender o que ela estava passando, já era uma bondade. ** ** ** ** ** ** ** _ Meu Deus, mas e agora? Greta estava admirada com a coragem de Lyanne e entendia seus motivos. Ela tamb
Parte 1... Quando a madrugada chegou, Greta entrou de fininho no quarto e retirou sua bagagem, levando para um ponto escondido no jardim. Andava sem sapatos, sem fazer barulho, assim como um gatuno que invade uma casa para roubar. Estava bem nervosa e sua expressão mostrava isso. Seus olhos arregalados e sua respiração funda diziam que poderia até ter algum descontrole a qualquer instante. Se fosse pega fazendo isso, só Deus sabe o que aconteceria com ela. De forma alguma seus patrões iriam deixar isso passar sem fazer nada contra ela. E tinha muito medo do pai de Lyanne, porque quando estava aborrecido ele era bem difícil, até mesmo com a esposa. Encontrou Lyanne ainda acordada. Não conseguira dormir bem e teve pequenos cochilos durante a noite. Sua mente não relaxava do que ira fazer em breve. Já tinha pensado e repensado tantas vezes que não sabia mais quantas. _ Tente dormir, eu venho acordá-la na hora certa, antes que os empregados despertem. Irei com você até perto da cid
Parte 1... Infelizmente, Hector chegou atrasado na estação. Ficou preso na delegacia mais tempo do que o que ele queria, por conta de uma briga entre dois vizinhos que por pouco não resultou em agressão física. Foi uma bobagem, mas infelizmente isso também cabia a ele ajudar a resolver, antes que a coisa descambasse para outro lado. Teve que ouvir os depoimentos e depois saiu apressado, deixando o funcionário para preencher o relatório sobre o problema. Essa parte pelo menos ele podia passar para outra pessoa. Olhou a quantidade de gente que ia e vinha apressada, puxando crianças e malas, algumas andando apressadas. Foi andando até o local de parada do trem. Ficou em um canto observando o movimento, mas não viu ninguém que pudesse ser uma noiva á espera dele. Não sabia como a mulher era, não tinha suas características físicas, apenas seu nome. Isso era bem complicado e até um pouco estressante para alguém como ele, que já tinha vindo agitado de outro local e agora ainda tinha que a
Parte 2... Ela fez que sim com a cabeça. Olhava para tudo em volta com curiosidade. — Precisa tomar um banho quente e trocar essa roupa suja, se ajeitar melhor - ela concordou de novo com um gesto de cabeça — A pensão da senhora Wilma Locker é muito boa. É adequada para uma moça como você - ele continuou a falar — Depois nós poderemos nos casar, agora não posso levá-la ao pastor para que se case nessa condição. E está com cara de cansaço. Pararam em frente da carroça. Ele colocou a mala dela e a bolsa de viagem na parte de trás e a ajudou a subir, segurando sua cintura e notou que não era pesada. Isso o recordou de que talvez estivesse com fome depois dessa viagem longa. Ela se ajeitou no banco e ele deu a volta, subindo e segurando as rédeas, fazendo o cavalo andar. Não comentou mais nada, seguiram em silêncio e ela foi olhando tudo em volta para já ir se habituando. A viagem até a pousada não foi longa. E Lyanne estava mais interessada em observar tudo à sua volta do que convers
Parte 3...Qualquer um desses serviria ao propósito. Não eram um vestido de casamento de verdade, mas eram muito bonitos.Parou um instante pensando na família que tinha deixado para trás quando fugiu. Até em Greta ela pensou, preocupada com o que poderia ter lhe acontecido. Só esperava que os pais não tivessem sido muito rudes com ela.Greta era esperta, saberia se virar por um tempo, mas ainda assim temia por ela. Se tudo desse certo como ela queria e contava, poderia mais para a frente mandar buscá-la para ficar como sua ajudante.O que mais sentia agora era alívio por estar longe do velho Joseph e de não ser obrigada a se casar com ele, perdendo sua juventude.Se assustou dando um pulinho ao ouvir a batida rápida na porta.— Sou eu, querida, Wilma - ela colocou a cabeça para dentro devagar — Vim avisar que seu banho já está pronto. E realmente você está precisando de um.Ela sabia que sim. A viagem tinha sido puxada, tentou ao máximo não chegar parecendo que saíra de uma caverna,
Parte 1... Lyanne tentava se animar enquanto se arrumava com o que tinha levado para o casamento. Apesar de seus vestidos serem bonitos e elegantes, não eram adequados para um casamento. Nas poucas vezes em que pensou em se casar, seu vestido não era assim. Seria algo mais delicado, branco e com rendas. Mas no momento era o que ela tinha e não podia reclamar. Pelo menos não estava se casando com a pessoa que ela mais tinha aversão na vida. Só esperava que o seu noivo também não visse um motivo para reclamar com ela. Ainda não tinha tido tempo de observar melhor o seu futuro marido, mas parecia que ele era bem exigente. Desde que não fosse um rude como seu pai era às vezes, estava bem, poderia aprender a lidar com ele. Se tivesse tido mais tempo para planejar uma fuga adequada, com certeza teria trazido uma bagagem maior com muitos vestidos. Mas sua cabeça estava cheia de coisas, dúvidas e medos e não planejou bem essa parte. Tinha boas roupas, mas muitas delas eram pesadas e par
Parte 2... — Parece até um milagre. Ele caiu quase como se tivesse sido feito para você, querida - segurou seus braços e a olhou pelo espelho — Está muito diferente de quando chegou aqui ontem - ela sorriu — Seu noivo terá uma surpresa ao vê-la. Ela sentiu os olhos arderem. Com certeza lhe vinham lágrimas em breve, mas conseguiu segurá-las. — Rápido, não vamos perder mais tempo. Ainda bem que você trouxe esse sapato branco - pegou o par de sapatos com um laço na frente e passou um paninho — Calce-os e vamos guardar suas coisas. Lyanne pegou tudo o que tinha deixado em cima da mesinha ao lado da cama e com a ajuda de Wilma guardou as roupas que havia trazido na viagem. Não era muito, mas dava trabalho para guardar. — Sei que você é muito jovem, querida, mas quero lhe dar um conselho, ainda que não seja sua mãe e digo com carinho, acredite - disse com calma — Não sei se você sabe bem dessas coisas - apertou as mãos — Mas um bom casamento depende muito mais da mulher do que do homem.
Parte 1...Hector sabia que sua noiva estava nervosa. Era perceptível isso nela. Sua pequena mão tremia, presa á dele, em frente ao padre que realizava a cerimônia na capela, diante de poucos convidados.Talvez estivesse nervosa também pelo fato de não ter ninguém da família ali na igreja. Nem mesmo uma amiga ou conhecido.Ou talvez ela estivesse com medo dele?Não deveria ter sido tão seco quando a pegou na estação ferroviária. Vai ver ela se assustou. Viajando sozinha para um lugar diferente e sem conhecer ninguém.Mas ele jamais faria mal a uma mulher.A cerimônia já estava chegando ao fim. O padre já tinha feito a maior parte do discurso dele e os dois já tinham feito os votos necessários.— E pelo poder a mim concedido pela santa igreja, eu agora os declaro marido e mulher - o padre sorriu — Você já pode beijar a noiva - inclinou a cabeça.Hector sabia que o padre Horace estava com um pé atrás nesse casamento. Ele o conhecia desde pequeno, quando o padre chegou na cidade.Era seu