Parte 1...
“Ama-se pelo cheiro,
pelo mistério,
pela paz que o outro lhe dá,
ou pelo tormento que provoca.
O verdadeiro amor
é aquele que permanece sempre,
se a ele damos tudo
ou se lhe recusamos tudo. ...
Quem encontrar na vida
o verdadeiro amor,
deve escondê-lo,
longe do mundo,
como um tesouro”
* Desconheço a autoria.Ela já sabia que os pais estavam de acordo com o velho Joseph, mas descer e ver que ele estava sentado na poltrona de seu pai, que ninguém mais poderia, foi até ridículo. Nem sua mãe sentava ali, a não ser em raras ocasiões.
O tamanho da influência dele era até feio de ver. Seu pai nunca deixava outra pessoa sentar ali e agora lá estava o homem, se apoderando. O poder de se ter dinheiro mais do que o outro. Se podia fazer o que quisesse.
Como ele queria fazer com ela.
_ Ah, aí está ela - Joseph disse _ Demorou para sair da cama.
Era só o que lhe faltava. Ele nem mesmo era seu marido ainda e já fazia críticas. Tudo nesse homem a imcomodava.
_ Bem, é que não me sentia muito bem hoje de manhã e decidi esticar um pouco.
Ela fez uma cara de desagrado, mas ao ver a expressão de seu pai, teve que completar.
_ Me desculpe se demorei - tentou fingir estar mesmo preocupada com isso.
O velho abriu um sorriso nojento, se sentindo poderoso. Ela sentiu vontade de enfiar as unhas na cara dele e gritar que não se casaria com ele nem morta. Seria maravilhoso e ele merecia.
Depois de uns minutos de conversa em que ela deixou que apenas eles falassem, Greta avisou sua mãe de que o almoço estava pronto na sala de refeições.
E de novo ela viu o poder do velho Joseph, ao sentar na cadeira que era de seu pai, na ponta da mesa. Já estava ficando até ridículo isso. Realmente ela tinha que tomar uma atitude.
Ele não parava de olhar para ela, que de propósito sentou ao lado da mãe. Joseph ergueu a taça.
_ Quero brindar à minha linda e jovem noiva. Estou ansioso por nosso matrimônio - sorriu _ Espero que nossos filhos sejam lindos como ela.
O modo cheio de ironia e inverdades causou um arrepio nela. Estava claro que ele pensava que estava tudo certo e que em breve teria total poder sobre sua vida. Infeliz e ridículo, era assim que o via. Seu coração disparou e ela sentiu um pouco de tontura. Segurou na cadeira para não cair. Seus pais nem notaram seu mal estar diante do brinde.
E porque notariam? Esse brinde seria até normal se fosse um relacionamento que tivesse começado das formas comuns, com duas pessoas se conhecendo e sentindo atração pelo outro, por suas ideias e gostos. Agora era bem de outra forma.
Seu pai ainda fez coro com o velho, erguendo a taça e fazendo um brinde também, desejando muita felicidade ao casal.
Que casal? Ele não era seu noivo real. Ela não o tinha escolhido. Parecia que tudo era uma grande piada de sua família. Estavam só enchendo a paciência dela com essa história besta, talvez para se divertir ou para lhe dar algum castigo. Mas que depois de um tempo, tudo voltaria ao normal e ela nunca mais teria que ficar ao lado desse velho desagradável.
O modo como ele a olhava era como se ela fosse mesmo apenas uma peça a ser comprada. Tipo um sapato na vitrine e a pessoa analisa se vale o preço ou não. Era assim que estava se sentindo.
_ A comida está perfeita - ele elogiu.
Sua mãe sorriu e agradeceu. Como se tivesse sido ela quem a preparara. Tinham empregados para isso e a cozinheira era excelente. Sua mãe nunca cozinhou, nem mesmo ferveu água para fazer um chá. Acostumada a ter muitos empregados para a servir, quase não entrava na cozinha, a não ser para dar ordens.
Essa era a maior parte da vida diária dela. Ficar fiscalizando o serviço dos empregados na casa e ela mesma mal sabia fazer algo. De vez em quando se aventurava em algum tipo de bordado que depois era esquecido de lado na cesta de linhas e agulhas.
Com certeza ela se casando com o velho Joseph teria muitos empregados. Seriam mais escravos, coitados. Diante do que via e do pouco que sabia, o homem só queria tudo do bom e do melhor, sempre mandando e exigindo dos outros. E com ela seria assim também.
Apertou o tecido fino do vestido. Sentiu uma leve pontada na testa e apertou os olhos, fazendo drama. Queria causar uma impressão de que precisava se ausentar da companhia deles.
_ Me desculpem, mas preciso deitar um pouco - deixou o guardanapo em cima da mesa e levantou _ Eu não me sinto bem.
Ela viu que o homem fechou o semblante.
_ De novo? - fez uma cara feia _ Precisa se cuidar mais. Não quero uma esposa doente - se inclinou para a frente _ E você ainda nem ouviu a novidade. Tenho uma declaração a fazer. É algo importante.
Ela engoliu em seco ao ver seu sorriso frio.
_ Semana que vem será nosso casamento - ele anunciou _ Você será minha mulher e irá se mudar para minha casa imediatamente - sorriu se recostando na cadeira.
Isso foi um baque em seu coração e seu corpo sentiu rápido. Ela ficou pálida e tonta.
_ Mas eu... Eu não posso me...
Antes de terminar a frase, acabou perdendo os sentidos e seu corpo caiu ao chão, fazendo um barulho pesado quando sua cabeça bateu no piso de madeira. Foi uma reação imediata ao susto de ouvir isso.
_ Oh, meu Deus! - Lucy gritou e levantou para ajudar a filha _ Rápido, façam algo - abanou seu rosto.
_ Greta! - o pai dela gritou.
Seu pai ergueu sua cabeça e bateu em seu rosto duas vezes para que despertasse. Greta entrou na sala correndo e arregalou os olhos ao ver a cena.
_ Não fique aí parada como tonta, menina - Arnald disse _ Traga logo os sais para ajudar a acordá-la.
_ Sim, senhor.
Ela voltou rapidamente, preocupada. Seu pai a sacudiu e passou o frasquinho na frente de seu nariz algumas vezes até que ela despertou com um puxão de ar fundo e tossiu pelo cheiro forte.
_ O que houve? - ela perguntou meio tonta ainda.
_ A senhorita desmaiou - Greta respondeu.
_ Saia! - seu pai ordenou de modo rude para a empregada.
Greta se afastou. O senhor Rogan nem mesmo se levantou da cadeira para ajudar. Só ficou observando a movimentação deles.
_ Mamãe... Eu não posso me casar com ele - disse baixinho enquanto a mãe a ajudava _ Não vou conseguir... Eu não tenho como fazer isso...
_ Cale-se! Já disse que vai se casar e pronto - ela apertou seu braço, falando entre dentes _ É o que seu pai quer e será o que vai fazer. Não quero um pio mais sobre isso.
Ela percebeu nesse momento que nada poderia ser feito. Nem sua mãe iria intervir. A cara de satisfação do homem era clara enquanto olhava para ela, bebericando sua bebida e nem se mexeu da cadeira para ajudar sua futura esposa.
Isso lhe mostrava mais uma vez que tinha que tomar uma atitude, qualquer uma.
Seu futuro só dependia dela. E mais ninguém se importava se seria feliz ou não.
Parte 2... A semana passou depressa demais para ela. Só de pensar em que dentro de pouco tempo estaria casada, seu corpo todo tremia. O que era até ridículo, já que muitas mulheres sonham em se casar. Ela mesma gostaria de se casar, mas com um homem que ela gostasse. E para piorar seu sofrimento, a costureira enviada por Joseph era muito boa. Trabalhava rápido e logo um vestido branco feito sob medida já estava pronto para ela provar. Nem nessa parte ela podia enrolar, porque se conseguisse, empurraria isso para a frente por mais um mês. O fez com lágrimas nos olhos e sem a menor vontade, apenas porque era isso que sua mãe queria, esperando no quarto enquanto a mulher a ajudava a vestir o objeto que simbolizava sua prisão. A mulher não entendia seu humor, é claro. Então sua mãe interviu lhe dizendo o quanto ela estava feliz e nervosa com o casamento, por isso se portava dessa maneira, meio avoada e chorona. Ela até mentia para que a verdade não chegasse ao velho Joseph. A costurei
Parte 3... Lyanne apertou os lábios, olhando para ela com vontade de chorar devido o nervosismo. Precisava muito desabafar. Seu coração estava apertado pelo estresse de todo esse tempo suportando tudo sozinha. _ Greta, preciso que você seja minha amiga agora - apertou sua mão _ Posso confiar mesmo? _ Claro, sempre pôde. Me diga o que te aflige. Lyanne agradeceu mentalmente, olhando para a imagem de Jesus na cruz que ficava no altar. Respirou fundo e começou a contar uma versão resumida do que tinha feito. Ela também se sentia como aquela imagem. Paralisada e presa em uma cruz. Precisava de liberdade. Pelo menos, se Greta não pudesse ajduar em nada, só de ouvir o que ela tinha a falar e deixar que revelasse seus medos e tristezas, já era de grande ajuda sim. Muitas vezes apenas ouvir a outra pessoa e entender o que ela estava passando, já era uma bondade. ** ** ** ** ** ** ** _ Meu Deus, mas e agora? Greta estava admirada com a coragem de Lyanne e entendia seus motivos. Ela tamb
Parte 1... Quando a madrugada chegou, Greta entrou de fininho no quarto e retirou sua bagagem, levando para um ponto escondido no jardim. Andava sem sapatos, sem fazer barulho, assim como um gatuno que invade uma casa para roubar. Estava bem nervosa e sua expressão mostrava isso. Seus olhos arregalados e sua respiração funda diziam que poderia até ter algum descontrole a qualquer instante. Se fosse pega fazendo isso, só Deus sabe o que aconteceria com ela. De forma alguma seus patrões iriam deixar isso passar sem fazer nada contra ela. E tinha muito medo do pai de Lyanne, porque quando estava aborrecido ele era bem difícil, até mesmo com a esposa. Encontrou Lyanne ainda acordada. Não conseguira dormir bem e teve pequenos cochilos durante a noite. Sua mente não relaxava do que ira fazer em breve. Já tinha pensado e repensado tantas vezes que não sabia mais quantas. _ Tente dormir, eu venho acordá-la na hora certa, antes que os empregados despertem. Irei com você até perto da cid
Parte 1... Infelizmente, Hector chegou atrasado na estação. Ficou preso na delegacia mais tempo do que o que ele queria, por conta de uma briga entre dois vizinhos que por pouco não resultou em agressão física. Foi uma bobagem, mas infelizmente isso também cabia a ele ajudar a resolver, antes que a coisa descambasse para outro lado. Teve que ouvir os depoimentos e depois saiu apressado, deixando o funcionário para preencher o relatório sobre o problema. Essa parte pelo menos ele podia passar para outra pessoa. Olhou a quantidade de gente que ia e vinha apressada, puxando crianças e malas, algumas andando apressadas. Foi andando até o local de parada do trem. Ficou em um canto observando o movimento, mas não viu ninguém que pudesse ser uma noiva á espera dele. Não sabia como a mulher era, não tinha suas características físicas, apenas seu nome. Isso era bem complicado e até um pouco estressante para alguém como ele, que já tinha vindo agitado de outro local e agora ainda tinha que a
Parte 2... Ela fez que sim com a cabeça. Olhava para tudo em volta com curiosidade. — Precisa tomar um banho quente e trocar essa roupa suja, se ajeitar melhor - ela concordou de novo com um gesto de cabeça — A pensão da senhora Wilma Locker é muito boa. É adequada para uma moça como você - ele continuou a falar — Depois nós poderemos nos casar, agora não posso levá-la ao pastor para que se case nessa condição. E está com cara de cansaço. Pararam em frente da carroça. Ele colocou a mala dela e a bolsa de viagem na parte de trás e a ajudou a subir, segurando sua cintura e notou que não era pesada. Isso o recordou de que talvez estivesse com fome depois dessa viagem longa. Ela se ajeitou no banco e ele deu a volta, subindo e segurando as rédeas, fazendo o cavalo andar. Não comentou mais nada, seguiram em silêncio e ela foi olhando tudo em volta para já ir se habituando. A viagem até a pousada não foi longa. E Lyanne estava mais interessada em observar tudo à sua volta do que convers
Parte 3...Qualquer um desses serviria ao propósito. Não eram um vestido de casamento de verdade, mas eram muito bonitos.Parou um instante pensando na família que tinha deixado para trás quando fugiu. Até em Greta ela pensou, preocupada com o que poderia ter lhe acontecido. Só esperava que os pais não tivessem sido muito rudes com ela.Greta era esperta, saberia se virar por um tempo, mas ainda assim temia por ela. Se tudo desse certo como ela queria e contava, poderia mais para a frente mandar buscá-la para ficar como sua ajudante.O que mais sentia agora era alívio por estar longe do velho Joseph e de não ser obrigada a se casar com ele, perdendo sua juventude.Se assustou dando um pulinho ao ouvir a batida rápida na porta.— Sou eu, querida, Wilma - ela colocou a cabeça para dentro devagar — Vim avisar que seu banho já está pronto. E realmente você está precisando de um.Ela sabia que sim. A viagem tinha sido puxada, tentou ao máximo não chegar parecendo que saíra de uma caverna,
Parte 1... Lyanne tentava se animar enquanto se arrumava com o que tinha levado para o casamento. Apesar de seus vestidos serem bonitos e elegantes, não eram adequados para um casamento. Nas poucas vezes em que pensou em se casar, seu vestido não era assim. Seria algo mais delicado, branco e com rendas. Mas no momento era o que ela tinha e não podia reclamar. Pelo menos não estava se casando com a pessoa que ela mais tinha aversão na vida. Só esperava que o seu noivo também não visse um motivo para reclamar com ela. Ainda não tinha tido tempo de observar melhor o seu futuro marido, mas parecia que ele era bem exigente. Desde que não fosse um rude como seu pai era às vezes, estava bem, poderia aprender a lidar com ele. Se tivesse tido mais tempo para planejar uma fuga adequada, com certeza teria trazido uma bagagem maior com muitos vestidos. Mas sua cabeça estava cheia de coisas, dúvidas e medos e não planejou bem essa parte. Tinha boas roupas, mas muitas delas eram pesadas e par
Parte 2... — Parece até um milagre. Ele caiu quase como se tivesse sido feito para você, querida - segurou seus braços e a olhou pelo espelho — Está muito diferente de quando chegou aqui ontem - ela sorriu — Seu noivo terá uma surpresa ao vê-la. Ela sentiu os olhos arderem. Com certeza lhe vinham lágrimas em breve, mas conseguiu segurá-las. — Rápido, não vamos perder mais tempo. Ainda bem que você trouxe esse sapato branco - pegou o par de sapatos com um laço na frente e passou um paninho — Calce-os e vamos guardar suas coisas. Lyanne pegou tudo o que tinha deixado em cima da mesinha ao lado da cama e com a ajuda de Wilma guardou as roupas que havia trazido na viagem. Não era muito, mas dava trabalho para guardar. — Sei que você é muito jovem, querida, mas quero lhe dar um conselho, ainda que não seja sua mãe e digo com carinho, acredite - disse com calma — Não sei se você sabe bem dessas coisas - apertou as mãos — Mas um bom casamento depende muito mais da mulher do que do homem.