O som abafado das conversas ecoava pelo café, misturado com o farfalhar das xícaras de porcelana sendo colocadas nas mesas. Estávamos sentadas num canto mais afastado, próximo à janela, onde a luz do sol batia de maneira quase melancólica, destacando a seriedade do assunto.— Ele respondeu? — Grazi remexia sua xícara de cappuccino distraída, enquanto Ottavia cruzava os braços, olhando diretamente para mim. Mastiguei a bochecha, pensando em quanto tempo fazia desde minhas últimas mensagens desesperadas para Duncan.— Não, nada.Ainda era difícil processar o que tinha acontecido, Duncan simplesmente estava sendo inalcançável, me dando o tratamento do silêncio. Repassei nossa última conversa por horas na minha cabeça e ainda não entendia onde eu tinha errado.Mas estar ali, com as duas melhores amigas, me dava uma sensação de segurança. Como se, de alguma forma, juntas, pudéssemos desvendar o enigma que era Duncan Delvecchio.— Ainda não sei o que eu fiz de errado, o que o ofendeu tanto
Sentada à mesa de estudos, com as mãos apoiadas sobre o livro-texto aberto, minha mente estava a quilômetros de distância. Parecia uma tarefa impossível se concentrar nos estudos para a prova quando apenas Duncan Delvecchio estava em meus pensamentos!As palavras impressas nas páginas eram apenas um borrão enquanto meus pensamentos vagavam para longe dali. Que droga, eu sentia falta daquele maldito. Olhei ao redor do quarto, analisando. A mudança que ele passava parecia refletir o que eu estava sentindo, as roupas jogadas no chão e a penteadeira onde ficavam minhas joias e aparelhos. Havia ainda uns ursos de pelúcia que eu não conseguia doar. Antes, as paredes eram um reflexo da minha adolescência, cobertas de pôsteres coloridos de bandas e filmes que eu adorava. Agora, estavam mais limpas, com alguns quadros de arte pendurados aqui e ali. A colcha da cama era nova, de uma cor sóbria que contrastava com o velho abajur cor-de-rosa que eu ainda mantinha no canto, um pequeno vestígio do
O ar frio daquela manhã era cortante, e o vapor que saía da minha boca a cada respiração parecia reforçar o gelo que se instalava dentro de mim. Estávamos na quadra coberta, fazendo o aquecimento para a aula de educação física, enquanto o vento frio zunia do lado de fora. Minhas pernas e braços se esticavam de forma quase mecânica, num movimento que eu fazia sem pensar, porque minha mente estava longe, presa nos últimos dias de incerteza.A quadra, apesar de coberta, deixava entrar pequenas rajadas de ar gelado pelas laterais, e o som dos tênis arranhando o chão ecoava junto às vozes de outros alunos que, em contraste, pareciam estar mergulhados nas atividades, totalmente desconectados dos dramas que eu carregava.Olhei para Ottavia, que se aquecia ao meu lado, esticando os braços sobre a cabeça, e finalmente decidi quebrar o silêncio.— Eu estava pensando em falar com a Bianca de novo... — minha voz saiu baixa, quase hesitante, como se eu já soubesse a resposta, mas quisesse confirma
O táxi parou suavemente em frente à imponente Mansão Delvecchio. Eu saí do carro com um misto de nervosismo e determinação, seguindo de perto Ottavia e Grazi.— A Sra. Delvecchio sempre morou por aqui, mas Duncan veio morar com ela depois da morte dos pais. — Grazi sussurrou baixinho em meu ouvido.Enquanto eu pegava minha mala do porta-malas do táxi e Ottavia pagava o motorista, dei uma olhada na residência. A mansão, com sua fachada de pedra cinza e telhado inclinado, exalava uma sensação de grandiosidade e tradição. O portão de ferro forjado estava entreaberto, e, enquanto caminhávamos pela escadaria de mármore, pude sentir a magnitude do lugar envolver-me.— Meninas! — A Sra. Adelina, uma mulher idosa com cabelo branco bem preso em um coque elegante, abriu a porta com um gesto suave e uma expressão de surpresa ao nos ver. Seus olhos, profundos e marcados por linhas de expressão, examinavam-nos com uma curiosidade cautelosa.— Oh, Vicenza! — exclamou com um tom de formalidade mistu
Ao ver Duncan, a Sra. Adelina fechou o álbum de fotos com um gesto lento e deliberado. O som abafado das páginas trouxe-me de volta ao presente, enquanto uma onda de emoções me invadia. A conversa que acabáramos de ter sobre ele havia revelado muito, mas também deixara uma sensação de inquietude. Eu me sentia mais próxima de Duncan, mesmo com a dor e a distância que nos separavam. No entanto, sua presença ali tornava tudo mais intenso, quase insuportável.Duncan parecia tenso, o maxilar travado como se segurasse uma tempestade prestes a explodir. Seus olhos alternavam entre surpresa e desconfiança, e o peso do mundo parecia repousar sobre seus ombros. O que eu esperava? Que, como em um conto de fadas, ele simplesmente viesse até mim e dissipasse a escuridão que nos cercava?A Sra. Adelina, percebendo o clima pesado, ofereceu um sorriso calmo, mas era uma tranquilidade forçada, como se quisesse suavizar a tensão palpável no ar.— Que bom que você chegou, Duncan! — disse ela, habilidosa
O carro deslizou suavemente pela avenida, como uma fera silenciosa espreitando sua presa. As rodas cortaram o asfalto molhado com a suavidade de um sussurro, até parar em frente ao imponente Cassino, uma construção que parecia emergir das sombras como um gigante adormecido, banhado pelo brilho prateado da lua. As fachadas refletiam a luz das estrelas como diamantes incrustados no mármore branco, e as luzes que piscavam anunciavam um mundo onde a glória e o perigo se entrelaçavam de forma indistinta.Dentro do carro, meus dedos tremiam ligeiramente, embora eu tentasse escondê-lo de Duncan. Minha respiração estava rápida, o coração batendo como um tambor apressado em meu peito. Eu olhei pela janela e absorvi o cenário à minha frente. A grandiosidade do lugar parecia me sufocar e, ao mesmo tempo, me atrair como uma mariposa para a chama. Ao meu lado, Duncan mantinha a expressão séria, mas havia um brilho nos seus olhos — uma chama que ardia com determinação, mas que, ao mesmo tempo, carr
Conforme cruzávamos o salão principal do cassino, um arrepio percorreu minha espinha. Havia algo magnético no ambiente — as luzes brilhantes, o som dos copos tilintando, as risadas despreocupadas dos jogadores. Era uma euforia quase contagiante, e por um momento, me peguei sendo levada por ela. O brilho das mesas de jogo parecia hipnotizar quem se aproximava. A energia no ar era quase palpável, como se a qualquer momento algo explosivo estivesse prestes a acontecer.Meu vestido azul cintilava sob as luzes douradas e prateadas, o tecido fluindo com cada movimento, como água refletindo o brilho intenso dos lustres de cristal pendurados no teto. O decote nas costas expunha minha pele de maneira ousada, mas elegante, uma sensação fria e excitante de vulnerabilidade que contrastava com o calor dos olhares que sentia sobre mim. Mesmo cercada por figuras poderosas e calculistas da Ultima Societá, me permiti sentir, por um breve instante, como se estivesse flutuando em uma bolha de glamour, d
Enquanto me acomodava no bar, o brilho dos copos de cristal refletia em suaves feixes sob as luzes cálidas do cassino, fragmentando o ambiente em pequenas explosões de luz. O som constante das máquinas e o murmúrio das conversas ao redor formavam um zumbido quase hipnótico. Pedi um martíni, mas o copo nas minhas mãos trêmulas era apenas uma distração, algo para me manter ancorada enquanto minha mente vagava por labirintos sombrios. Meu coração estava inquieto, pulsando com uma ansiedade que nem o luxo e o brilho ao meu redor conseguiam mascarar.A opulência que antes me fascinava agora parecia uma prisão dourada. Cada detalhe brilhante, cada lustre magnífico, pesava sobre meu peito, sufocando. O vidro frio roçou meus dedos quando o barman colocou o copo à minha frente, mas o impacto físico era insignificante comparado ao turbilhão emocional que se agitava dentro de mim. Eu sabia que estava sendo observada, analisada, e não apenas por Fabrizio.Meus olhos varreram o salão, e foi então