Minha mente vagueia até memórias do meu último relacionamento amoroso, e isso me faz beber a vodka em um gole. Prefiro a ardência do álcool do que as memórias de uma traição traumática.
Parece que todos os meus relacionamentos terminam de forma traumática, é como uma sina. Diego, Peter, Ian, Otto... Todos eles partiram meu coração.A cada copo de álcool que eu ingiro, mais eu penso em como a vida pode ser uma droga às vezes, na verdade, quase sempre. Parece uma piada sem graça de um ser superior que apenas me criou para ver a desgraça e se divertir às minhas custas.Me viro em direção ao bar e sinto alguém sentar ao meu lado.— Well, well, olha quem temos aqui. – A voz rouca soa debochada.Sinto um calafrio na espinha ao ouvir o sotaque norte-americano tão conhecido por mim. Olho para o meu lado direito e vejo Otto usando um terno preto. Suas tatuagens no pescoço estavam parcialmente cobertas pelo tecido do terno, sua pele morena fazia contraste com seus olhos castanhos claros e seu cabelo loiro escuro.Seu bigode tinha as pontas viradas para cima, Otto passa sua mão na ponta de seu bigode e sorri sarcasticamente. Eu o odiava intensamente, mas não podia demonstrar devido ao evento.— Estou surpresa de vê-lo aqui no Rio de Janeiro tão cedo... – Sorrio com falsa simpatia. – Achava que você estava cuidando da empresa de seu pai e não tinha largado a carreira de fotógrafo?Seu sorriso fica confiante. Ele sempre amou falar de seus feitos e conquistas, sabia como evitar brigas com ele. Era fácil, apenas usar seu ego ao meu favor.— Na verdade, vim visitar a família da minha noiva. Temos uma boa notícia para dar. – Sua voz soa provocativa.Por um segundo, fico em choque, e ele percebe isso. Seu sorriso vitorioso cresce. Noivo? Terminamos há dois meses e ele já estava noivo?Nossa relação sempre foi conturbada. Ele dizia coisas que eu queria ouvir no início, sempre foi um homem manipulador que sabia usar sua lábia para conseguir o que queria. Ele era encantador, um homem gentil e engraçado. Sabia como fazer uma mulher feliz na cama e fora dela. Mas com o tempo, ele se tornou seco, grosseiro, cruel, rude e não me dava mais tanta atenção como antes.Morávamos juntos, e um dia eu cheguei cedo do trabalho e o vi na cama com outra mulher, minha melhor amiga para ser específica. Ester e eu éramos amigas desde os 4 anos de idade, crescemos juntas como irmãs, e jamais pensei que algo assim pudesse acontecer. Nesse dia, minha vida mudou completamente. Ele terminou comigo em pleno dia do nosso aniversário de namoro. Desde esse dia, tenho evitado a família; sempre dizem que meus relacionamentos não vão dar certo, e eles sempre têm razão. É como se eles soubessem que nada vai dar certo em minha vida amorosa.A vergonha me fez evitar telefonemas e visitas, mas me arrependo disso. Se não fosse por minha ausência, eu saberia que a vovó precisava de mim.Bebo um gole do meu drink, sentindo minha garganta se fechar com as lembranças.Vamos, Anna, não vá chorar agora!— Pela sua reação, acho que você não sabia que a Ester e eu ficamos noivos há dois meses, você anda desinformada, my angel. – Seu deboche vem acompanhado de uma risada sarcástica."My angel". Ao ouvir seu antigo apelido carinhoso soando de forma tão sarcástica, sinto um embrulho no estômago.— Não chamaria especificamente de desinformação, apenas não tenho tempo para assuntos tão triviais. – Sorrio, escondendo meu ódio.Escuto seu resmungo e sua testa se enruga. Otto bebe um gole de seu uísque e sorri sarcasticamente.— É uma pena não saber da última novidade. – Ele se aproxima e sorri. – Irei ter o prazer de informá-la de que Ester e eu vamos ter um bebê.Sinto meu corpo se arrepiar e meus olhos se arregalam. Otto sorri como se saboreasse minha surpresa, movimenta seu copo, fazendo os cubos de gelo se chocarem, e ri.— Ela está grávida de 18 semanas. – Ele volta a falar. – É extraordinário saber que vou ter meu filho, uma criança em meus braços, como sempre desejei.Dezoito semanas? Isso são 4 meses! Sinto minhas mãos tremerem e meu copo cai no chão, se partindo com o impacto. Pessoas do bar me olham curiosas, e as lágrimas caem pelo meu rosto.Sempre quis ter um filho, e ele sempre dizia que era algo que ele nunca ia querer... Agora está tudo claro, ele não queria ter um filho, pelo menos não comigo.Ele apenas me usou, eu fui apenas um brinquedo para ele. Compartilhei toda minha vida, meus segredos mais íntimos, confiei nele.Sua risada ecoa pelo bar como se ele tivesse ouvido a melhor piada do mundo. Em um único gole, Otto bebe seu uísque e b**e com seu copo na bancada do bar.— Um uísque para a jovem moça por minha conta, acho que ela vai precisar! – Otto fala com humor antes de se levantar.Ele sorri vitorioso para mim e j**a um beijo.— Você sempre foi tão dramática e sensível, my dear. Eu nunca quis ter um relacionamento sério com você... – Seus olhos ficam escuros e um sorriso cruel surge em seu rosto. – A única coisa que me fez te aturar por dois anos foi sua caretice de querer ter um namorado. Nunca te ocorreu que um cara como eu apenas queria seu corpo?Meu corpo treme com sua aproximação. Ottoseca minhas lágrimas com sua mão e faz uma falsa expressão de tristeza antes de rir.— Oh, my angel, você é tão inocente… – Ele acaricia meu rosto. – Logo você, que se diz tão esperta.Bato em sua mão, afastando-a de meu rosto. O enjoo toma conta de mim; estava me sentindo podre, inútil, burra. Apenas desejava chorar em minha cama.— Não toque em mim, verme nojento. – Rosno entre dentes.Um sorriso maligno surge em seu rosto, Otto ajeita seu bigode e gargalha, atraindo a atenção das pessoas ao nosso redor.— Você realmente é muito previsível. – Ele fala com deboche. – É até sem graça provocar você.— Não pense que você saiu ganhando nessa. – Minha voz sai fria, e um sorriso perverso surge em meu rosto. – Você sabe que sei exatamente o poder que tenho em mãos, não é mesmo?Seus olhos ficam agitados, e ele suspira inquieto.— Como ousa? – Ele fala entre dentes.Otto podia ser cuidadoso, mas tinha acesso a algumas informações suas, sabia de muitas coisas de seu passado, inclusive coisas que acabariam com sua imagem perfeita, com seu relacionamento "perfeito".Ele segura meu braço, e seus olhos ficam completamente negros.— Não se esqueça de quem eu sou, Anna. – Sua voz soa sombria. – Não se esqueça do que posso fazer com todos que ama.Meus olhos tremem, e sinto meu estômago doer.— Você não ousaria… – Sussurro, sentindo meu coração acelerar.— Pague para ver. – Otto fala com uma sobrancelha arqueada.Puxo meu braço com força, me livrando das mãos de Otto. Ele era um verme, um monstro.Ester surge no meio da multidão, e sinto minha cabeça girar. A ruiva me encara de cima a baixo, seu cabelo cacheado estava solto, e seus olhos castanhos brilhavam ao ver meu estado.— Vamos, amor, você não vai ficar perdendo tempo com essa daí, né? – Ester força a voz para parecer fofa, e isso me faz sentir nojo.Otto dá um selinho nos lábios vermelhos de Ester, e ela sorri.Antes de se misturar à multidão, ele dá sua última cartada.— Foi um prazer encontrá-la, my angel, devemos fazer isso mais vezes. – Otto pisca e sorri.Sem controlar meu corpo, corro em direção ao banheiro, empurro a porta do sanitário e me abaixo. Sinto a ânsia, e toda a bebida sai do meu corpo quando meu estômago se contrai.Limpo meus lábios com um papel e começo a chorar, sentada no chão.Soco o chão até minhas mãos doerem, e minhas unhas cortarem a palma de minhas mãos. O ódio pela vida corre em meu corpo, a sensação de vazio e desesperança são tão grandes que me fazem querer desistir de tudo.Grito de desespero, sentindo meu corpo cair deitado no chão frio do banheiro, e os soluços tomarem conta do meu ser.A imagem de minha avó me ajudando a treinar para concursos de beleza e desfiles de moda vem em minha mente, a pequena Anna aos 6 anos sonhando em ser modelo e tendo o apoio de sua avó. Milhares de "nãos" recebidos, concursos e desfiles fracassados, lágrimas sendo limpas pela vovó.Me levanto do chão, dando fim à autopiedade. Eu sempre fui forte, dei tudo para chegar onde estou, batalhei muito para conquistar minha carreira, e não seria um ex idiota que iria quebrar meu espírito. Me olho com determinação no espelho, limpo meu rosto e agradeço mentalmente a Priscila por insistir que eu comprasse maquiagem à prova d’água.Arrumo meu cabelo e respiro fundo, ajeitando meu vestido, confiro meu hálito e faço uma careta ao sentir o cheiro de álcool.Saio do banheiro sentindo a determinação que estava adormecida em mim, talvez devido à quantidade absurda de álcool que consumi durante a noite.Um garçom passa por mim, pego uma taça de champanhe e caminho em direção à varanda do salão.Suspiro antes de tomar um gole da bebida, olho para a paisagem da praia e escuto o som das ondas.Minha mente vagueia em pensamentos melancólicos e depressivos. A lua refletindo no mar me traz um pouco de paz em meio ao caos que toma conta da minha mente.Sinto alguém se aproximar, olho para o lado e vejo um homem alto usando um terno azul escuro. Seus olhos pretos estão fixos no mar, e em sua mão há um copo de uísque.— É uma bela vista, não acha? – Sua voz rouca preenche o espaço.— Sempre gostei de praias, especialmente em noites de lua cheia. – Sorrio timidamente. – Acho que quem construiu este restaurante escolheu o local perfeito.O homem me observa por alguns segundos, seu cabelo preto é agitado pela brisa, e ele passa a mão pelos fios lisos, o
As semanas se passaram e, em meio a várias sessões de fotos e trabalhos avulsos, consegui tirar minhas tão sonhadas férias de verão.Arrumava minhas malas com a ajuda de Sophia; eu iria passar as férias com a vovó em seu rancho no sul dos Estados Unidos.Confesso que a ansiedade me matava. Sentia medo de perder a minha querida avó para o câncer e ansiedade em vê-la novamente depois de 5 anos.Será que ela havia mudado muito? Como estariam as pessoas na cidade? E meus amigos de infância, eles me reconheceriam?Certo, muita coisa da qual estava pensando se tratava apenas de paranoia. Foram apenas cinco anos, não é muito tempo para que as coisas mudem, ainda mais em uma cidade no interior.Ao avisar à vovó que eu passaria minhas férias com ela, consegui sentir sua animação através da ligação. Ela finalmente estava mais receptiva a visitas; acho que o tempo realmente é o melhor remédio.Arrumando as malas, ainda rondavam em minha cabeça muitos medos e incertezas. Eu realmente precisava des
Acordei com a aeromoça avisando que íamos pousar, prendo o cinto e encosto a cabeça no assento. Foi uma viagem longa e cansativa, mas estava morrendo de saudades da minha família, da minha terra natal, o rancho onde eu cresci.Quando pousamos, foi tranquilo achar minhas malas, acho que pela primeira vez em uma viagem, o destino conspirava a meu favor.Olho ao redor e vejo um rosto conhecido, meu querido primo Ross.O abraço fortemente e escuto sua voz grossa reclamar, dou uma risada e um beijo em sua bochecha repleta de sardas. Seus olhos azuis brilhavam devido à emoção de um reencontro após longos cinco anos longe. Seu cabelo loiro em estilo militar me faz lembrar de quando ele se alistou e a notícia quase matou o tio Daniel, ele temia que seu garotinho se machucasse. Ross era um garoto magricela que evitava brigas a qualquer custo, mas esse homem forte e alto em minha frente era totalmente diferente do meu frágil primo.— Vejo que meu soldado preferido anda malhando bastante! – Falo
As pessoas somem durante o caminho, dando lugar a uma estrada vazia. Ao decorrer do caminho, o asfalto acaba dando lugar a uma estrada de terra, a luz da estrada é coberta pela copa das árvores, deixando o chão sempre com poças de lama.Enormes grades de ferro e um grande portão preto são vistos de longe. Ao se aproximar, os enormes portões de ferro se abrem e o carro passa rapidamente por eles.Demoramos alguns minutinhos até chegarmos à enorme mansão branca estilo vitoriana.Saio do carro rapidamente assim que ele para. Antes que eu tocasse a campainha, a porta é aberta por Rick, irmão mais novo de Ross.Seus olhos se arregalam, e seus lábios formam um sorriso, mostrando seu piercing no septo. Seus braços tatuados me envolvem em um abraço forte, me fazendo gemer de dor.— Priminha, que saudade de você! – Ele grita animado e enche meu rosto de beijos, me provocando risadas.Seu sorriso murcha, e ele resmunga algo incompreensível.— Infelizmente estou de saída, tenho algumas coisas par
Assusto-me ao perceber que a porta estava destrancada. Empurro-a e encontro a casa completamente em silêncio.— Otto? Amor, eu cheguei. – Falo com um sorriso no rosto.Provavelmente ele deveria estar no computador editando algum de seus trabalhos ou jogando algum de seus jogos online favoritos.Em minha mão estava uma caixa com seu presente de namoro: uma nova câmera fotográfica profissional customizada da sua marca favorita.Deixo a caixa na mesa de centro ao perceber a luz do corredor acesa. Ando até a cozinha, pego duas taças e vou até a pequena adega na cozinha em busca do vinho que compramos em nossa viagem à Itália. Era seu vinho favorito, e ele prometeu guardá-lo para nosso aniversário. A confusão se instala em mim ao perceber que a garrafa não estava na adega.— Eu poderia jurar... – Escuto a risada de Otto e sua voz abafada, o que impossibilita entender sua fala.Devolvo as taças ao armário, e o sentimento de confusão invade meu corpo ao ver uma bolsa Prada na bancada da cozin
Sinto a brisa fresca enquanto sento em uma rocha, observando a luz da lua iluminar a água. A brisa fria b**e em meu rosto, e um sorriso brota em meus lábios. Fecho os olhos e suspiro, sentindo o vento balançar meu cabelo.— É uma coincidência encontrá-la novamente. – Uma voz grave sussurra em meu ouvido.Meu grito de susto faz minha cabeça latejar. Olho para cima e vejo um sorriso brincalhão. Espera, eu conheço esse homem!— Como você chega até alguém no meio da noite desse jeito? Eu poderia cair dessa rocha, sabia? – Falo com indignação.O homem se senta ao meu lado e ri brincalhão. Seus olhos escuros se fixam no horizonte e nos primeiros raios de sol. A luz ilumina seu rosto, revelando cada detalhe, como se fosse esculpido pelo melhor dos artistas. Seus olhos encontram os meus, e ele sorri, um sorriso genuíno.— Me desculpa, não tive a intenção de te assustar. Eu corro por essa trilha todos os dias... Confesso que não imaginei encontrar você aqui. Está me seguindo? – Sua voz rouca so
O gosto de canela em sua boca era viciante, seu cheiro era inebriante, fazendo-me querer cada vez mais dele.Minha razão volta a controlar meu cérebro. Me afasto de seu corpo e vejo o seu olhar confuso.— Bem, peço desculpas… acho que foi o calor da emoção. – Digo envergonhada.Ele dá de ombros e, por algum motivo, sua atitude me deixa incomodada. Sua mão tatuada passa em seu cabelo, algo que reparei que ele fazia quando estava nervoso ou desconfortável.— Você e sua mania de me agarrar em momentos inapropriados. – Sua voz rouca diz sarcástica.O encarei confusa e ofendida; isso o fez revirar os olhos e rir sarcástico.— Vai dizer que esquece de todos os homens que você ataca em festas? – Sua voz é sarcástica e provocativa.Seu comentário faz com que meus olhos se arregalem e minhas bochechas corarem.Um flashback de minha desastrosa noite no restaurante grego vem à minha mente. Estava tão escuro que mal pude perceber seu rosto, os detalhes, suas tatuagens.Droga, mil vezes droga! De t
— Estava... aceitável. – Falo após limpar meus lábios com o guardanapo.Ele revira os olhos escuros e suspira.— Sempre arrogante, não é? Sua sorte é que você é muito... – Ele corta a frase e vira de costas rapidamente.Pego o prato e vou em direção à pia para lavar o mesmo.— Pode deixar isso comigo, tampinha. – Dessa vez, sua voz soou carinhosa e não provocativa ao falar o apelido que ele havia me dado.Encaro suas costas, agora eram largas, malhadas. Seu corpo havia mudado, era forte, cheio de tatuagens... ficava me perguntando quanto tempo ele gastou na academia para chegar nesse físico perfeito.— Eu sinto seus olhos me encarando, sabia? – Seu tom é sarcástico. Ele ri e se vira em minha direção.— Então, você sabia quem eu era na festa? – Pergunto envergonhada.Ícaro balança a cabeça confirmando e isso faz minhas bochechas corarem e meus olhos se arregalarem. E se ele achar que eu realmente faço isso com frequência? Pior, se ele contou a alguém?— Eu... eu quero que você saiba que