Acordei com o som do despertador, senti minha cabeça girar devido à ressaca infernal.
Às vezes ainda me pergunto qual o objetivo disso tudo, dessas festas, desse jogo de palavras e tentativas de agradar desconhecidos.Levanto-me rapidamente e sinto a pressão abaixar, minha mão vai até a testa em uma tentativa falha de parar minha tontura.Caminhando lentamente até o banheiro, sinto o peso em meus músculos devido às horas de dança alcoolizada.— Você precisa dar um jeito na sua vida. – Digo olhando para meu reflexo no grande espelho do banheiro.Apoio minhas mãos na pia e o gelo do mármore faz meus pelos se arrepiarem, analiso meu rosto encontrando maquiagem borrada e olheiras em meus olhos azuis. Desfaço a trança do meu cabelo loiro claro e entro no box em seguida.— Anna? Onde você está? – Sua voz soa confusa.Coloco a cabeça para fora do box e chamo alto o suficiente para que ela me ouvisse. Escuto o som do seu salto batendo em meu piso.— Você entra na casa alheia com frequência? – A indignação em minha voz é visível.A loira revira os olhos castanhos e se apoia na pia. Ligo o chuveiro e sinto meus músculos relaxarem com a água quente, não pude evitar o gemido de alívio.— Não faça drama, sou sua irmã mais nova! – Sua voz sai estridente após um suspiro.— Certo, certo. – digo sem interesse.— Você está ignorando nossas ligações há duas semanas, a mãe e o pai estão preocupados. – Ela bufou furiosa – Vim ver se você tinha morrido ou algo assim.Consigo ver seu olhar duro através do vidro embaçado.— Mas pela sua cara, aposto que estava em mais uma dessas festas. – Seu comentário sarcástico vem após uma risada amarga.— Pode não parecer, mas tenho uma vida própria. Acha que ser uma modelo é algo fácil? Eu vou a eventos porque é meu trabalho! – Minha voz soa arrogante. Suspiro tentando manter minha paciência.Sophia suspira, algo que ela odiava eram discussões ou brigas, havia puxado o temperamento de nosso pai. A jovem estudante de veterinária balança a cabeça em negação e olha para o teto, algo que ela sempre fazia quando estava com vontade de chorar.Algo estava acontecendo com minha irmã e por um segundo me senti culpada por não ser tão presente em sua vida.— Sabe Anna, as coisas não estão fáceis... A vovó, ela… – Sua voz fica embargada.Um longo suspiro sai de seus lábios e um arrepio percorre meu corpo.— Ela não está bem. Desde a morte do tio Daniel, ela não é a mesma. Você sabe, ela ficou muito triste e se fechou para o mundo... – ela olha para seu próprio reflexo no espelho – Isso fez com que a gente não soubesse muito sobre sua saúde e agora ela está muito doente.Um enjoo faz minha boca ter um gosto amargo e minha pele se arrepia. Sempre fomos muito próximas da vovó, ainda mais na infância. Mas de cinco anos pra cá, ela se afastou de nós. Tem nos evitado a todo custo, não gosta de falar sobre a morte trágica do tio Daniel, é como se ela tivesse morrido naquele dia.Saber que ela estava doente fez com que meu coração ficasse apertado e a vontade de chorar se instalasse em mim.— Eu sei que é muita coisa pra você digerir... Mas não queria que ela passasse os últimos dias dela sozinha naquele rancho. Mesmo a gente visitando ela, você sabe que não é o suficiente... – Sophia suspira antes de me olhar. – Ela sempre foi tão próxima de você, querendo ou não, você é a neta favorita dela.Sophia anda até a porta do box e me encara por uns segundos, seus olhos estavam marejados e seus lábios trêmulos.Como eu poderia deixar tudo pra trás e ficar com a vovó no rancho?Um dilema moral se instalou em minha mente, eu não poderia deixar meu trabalho sem explicações mas também não poderia deixar minha avó paterna morrer sozinha.— Eu... Eu irei dar um jeito. – Minha voz sai com mais convicção do que eu realmente tinha e isso faz minha irmã suspirar aliviada.Saio do box e me enrolo em uma toalha, Sophia sorri timidamente para mim e beija minha testa.— Fica bem, irmã... Vê se não some! – Ela diz antes de sair do meu banheiro.Isso não podia ser real, a vovó morrer?Uma sensação de desespero invade meu corpo e os soluços e lágrimas tomam conta do meu ser. Imagens de nós duas juntas na minha infância vêm à minha mente como um filme, o som da sua risada e de sua voz animada me fazem sorrir em meio às minhas lágrimas e soluços.Passo horas perdida em um clima de nostalgia, sentindo a raiva e dor pelo destino ser tão ingrato.Após me vestir, procuro passagens aéreas no computador.Recebo uma mensagem de Oliver, meu chefe avisando que em breve o motorista da agência viria me buscar para o evento desta noite.Suspiro profundamente. Com essa notícia, eu havia perdido completamente a noção do tempo. Olho em meu celular e vejo que faltavam apenas uma hora. Pulo da cama rapidamente e corro em direção ao armário, agradecendo mentalmente por ter escolhido a roupa dias antes.Visto minha lingerie de renda preta e meu vestido tubinho da mesma cor com mangas de renda longas e aberto nas costas, coloco meu scarpin preto verniz e prendo meu cabelo em um coque.Sempre tive facilidade em me maquiar, pelo menos não irei gastar muito tempo me preparandopara o evento. Destaco os olhos com um tom forte e passo um batom na cor natural dos lábios. Solto meu cabelo vendo-o cair ondulado em meus ombros. Borrifo Chanel nº 5 em meu pescoço e ajeito meu colar de prata que chama a atenção para o decote em "V".Escuto a buzina tocar, saio de casa e tranco a porta, deixando a chave debaixo do tapete, ando até o Nissan Kicks azul que me esperava e sorrio para o motorista.— Boa noite, Ítalo. – digo amigável.Entro no banco traseiro e o vejo sorrir pelo espelho. Igor devia ter quase minha idade, ele era meu motorista na agência desde que entrei aos 18 anos, sempre foi um homem educado e gentil.— Bom vê-la novamente, senhora Anna. Como sempre, está belíssima. – Ele diz amigável.Sorrio como resposta e o vejo retribuir o gesto. O trajeto até o restaurante era curto, a poucas quadras de minha casa.O carro para em frente a uma construção estilo grega, uma fila estava na porta e pessoas bem vestidas entravam no restaurante sem passar por ela. Igor abre a porta para que eu saia e dou um sorriso como agradecimento, algumas pessoas me olham e sinto minhas bochechas corarem.— Anna Morais. – Informo ao segurança.Ele olha a lista rapidamente e abre espaço para que eu entre.— Anna, meu amor! – A voz de Priscila ecoa pelo salão.Sorrio ao vê-la vindo em minha direção. Priscila era uma das modelos da agência, alguns anos mais nova que eu, mas era como uma irmã para mim. Sempre trocávamos confidências e nos ajudávamos nas sessões de fotos e desfiles.Seus olhos pretos estavam bem maquiados e seu cabelo castanho liso estava em seu ombro esquerdo. Em suas mãos estavam duas taças de champanhe, ela me oferece uma de suas taças e eu aceito com um sorriso.— Mon amour, esse com certeza é um dos melhores eventos que já fui. – A francesa fala com seu sotaque forte. – A comida é ótima, os homens bonitos e o ambiente lindíssimo, me sinto na Grécia antiga!Observo a decoração grega, realmente nos leva diretamente à Grécia antiga.A festa estava ocorrendo no salão de eventos do restaurante, muitas pessoas importantes estavam presentes, cantores, atores, influenciadores.— Esse lugar realmente é bonito, ainda tem uma atmosfera boa. – Falei olhando ao redor.Priscila sorri para um homem que a encarava. Algo que admirava em minha amiga era sua facilidade em conquistar as pessoas, ela sempre estava com um novo par romântico, Priscila era alguém bem liberal.— Pelo visto você já está se divertindo. – Sorri maliciosa.— Anna, não entendo como você não fica com ninguém nas festas, eu te acho uma tremenda gata. – Ela pisca e sorri. – É um desperdício ser tão conservadora quando se trata do amor.Sorri envergonhada. Não sou do tipo de pessoa que fica com alguém a cada festa, não curto esse lance de casualidade. Para mim, os relacionamentos têm que ser algo a mais, como nos filmes, algo que valha a pena viver.— Enquanto você espera seu príncipe encantado, vou lá conhecer o senhor charmoso. – Priscila fala sorridente enquanto mantinha contato visual com o homem desconhecido.A modelo se aproxima do homem misterioso com um olhar sedutor em seu rosto delicado, ele a olha com desejo e os dois começam a conversar animadamente.Me sento no bar e observo de longe minha amiga rir com seu acompanhante, não pude evitar de sorrir ao vê-la feliz. Peço um copo de vodka e bebo observando o jovem casal conversar animadamente.Minha mente vagueia até memórias do meu último relacionamento amoroso, e isso me faz beber a vodka em um gole. Prefiro a ardência do álcool do que as memórias de uma traição traumática.Parece que todos os meus relacionamentos terminam de forma traumática, é como uma sina. Diego, Peter, Ian, Otto... Todos eles partiram meu coração.A cada copo de álcool que eu ingiro, mais eu penso em como a vida pode ser uma droga às vezes, na verdade, quase sempre. Parece uma piada sem graça de um ser superior que apenas me criou para ver a desgraça e se divertir às minhas custas.Me viro em direção ao bar e sinto alguém sentar ao meu lado.— Well, well, olha quem temos aqui. – A voz rouca soa debochada.Sinto um calafrio na espinha ao ouvir o sotaque norte-americano tão conhecido por mim. Olho para o meu lado direito e vejo Otto usando um terno preto. Suas tatuagens no pescoço estavam parcialmente cobertas pelo tecido do terno, sua pele morena fazia contraste com seus olhos castanhos claros e seu ca
Saio do banheiro sentindo a determinação que estava adormecida em mim, talvez devido à quantidade absurda de álcool que consumi durante a noite.Um garçom passa por mim, pego uma taça de champanhe e caminho em direção à varanda do salão.Suspiro antes de tomar um gole da bebida, olho para a paisagem da praia e escuto o som das ondas.Minha mente vagueia em pensamentos melancólicos e depressivos. A lua refletindo no mar me traz um pouco de paz em meio ao caos que toma conta da minha mente.Sinto alguém se aproximar, olho para o lado e vejo um homem alto usando um terno azul escuro. Seus olhos pretos estão fixos no mar, e em sua mão há um copo de uísque.— É uma bela vista, não acha? – Sua voz rouca preenche o espaço.— Sempre gostei de praias, especialmente em noites de lua cheia. – Sorrio timidamente. – Acho que quem construiu este restaurante escolheu o local perfeito.O homem me observa por alguns segundos, seu cabelo preto é agitado pela brisa, e ele passa a mão pelos fios lisos, o
As semanas se passaram e, em meio a várias sessões de fotos e trabalhos avulsos, consegui tirar minhas tão sonhadas férias de verão.Arrumava minhas malas com a ajuda de Sophia; eu iria passar as férias com a vovó em seu rancho no sul dos Estados Unidos.Confesso que a ansiedade me matava. Sentia medo de perder a minha querida avó para o câncer e ansiedade em vê-la novamente depois de 5 anos.Será que ela havia mudado muito? Como estariam as pessoas na cidade? E meus amigos de infância, eles me reconheceriam?Certo, muita coisa da qual estava pensando se tratava apenas de paranoia. Foram apenas cinco anos, não é muito tempo para que as coisas mudem, ainda mais em uma cidade no interior.Ao avisar à vovó que eu passaria minhas férias com ela, consegui sentir sua animação através da ligação. Ela finalmente estava mais receptiva a visitas; acho que o tempo realmente é o melhor remédio.Arrumando as malas, ainda rondavam em minha cabeça muitos medos e incertezas. Eu realmente precisava des
Acordei com a aeromoça avisando que íamos pousar, prendo o cinto e encosto a cabeça no assento. Foi uma viagem longa e cansativa, mas estava morrendo de saudades da minha família, da minha terra natal, o rancho onde eu cresci.Quando pousamos, foi tranquilo achar minhas malas, acho que pela primeira vez em uma viagem, o destino conspirava a meu favor.Olho ao redor e vejo um rosto conhecido, meu querido primo Ross.O abraço fortemente e escuto sua voz grossa reclamar, dou uma risada e um beijo em sua bochecha repleta de sardas. Seus olhos azuis brilhavam devido à emoção de um reencontro após longos cinco anos longe. Seu cabelo loiro em estilo militar me faz lembrar de quando ele se alistou e a notícia quase matou o tio Daniel, ele temia que seu garotinho se machucasse. Ross era um garoto magricela que evitava brigas a qualquer custo, mas esse homem forte e alto em minha frente era totalmente diferente do meu frágil primo.— Vejo que meu soldado preferido anda malhando bastante! – Falo
As pessoas somem durante o caminho, dando lugar a uma estrada vazia. Ao decorrer do caminho, o asfalto acaba dando lugar a uma estrada de terra, a luz da estrada é coberta pela copa das árvores, deixando o chão sempre com poças de lama.Enormes grades de ferro e um grande portão preto são vistos de longe. Ao se aproximar, os enormes portões de ferro se abrem e o carro passa rapidamente por eles.Demoramos alguns minutinhos até chegarmos à enorme mansão branca estilo vitoriana.Saio do carro rapidamente assim que ele para. Antes que eu tocasse a campainha, a porta é aberta por Rick, irmão mais novo de Ross.Seus olhos se arregalam, e seus lábios formam um sorriso, mostrando seu piercing no septo. Seus braços tatuados me envolvem em um abraço forte, me fazendo gemer de dor.— Priminha, que saudade de você! – Ele grita animado e enche meu rosto de beijos, me provocando risadas.Seu sorriso murcha, e ele resmunga algo incompreensível.— Infelizmente estou de saída, tenho algumas coisas par
Assusto-me ao perceber que a porta estava destrancada. Empurro-a e encontro a casa completamente em silêncio.— Otto? Amor, eu cheguei. – Falo com um sorriso no rosto.Provavelmente ele deveria estar no computador editando algum de seus trabalhos ou jogando algum de seus jogos online favoritos.Em minha mão estava uma caixa com seu presente de namoro: uma nova câmera fotográfica profissional customizada da sua marca favorita.Deixo a caixa na mesa de centro ao perceber a luz do corredor acesa. Ando até a cozinha, pego duas taças e vou até a pequena adega na cozinha em busca do vinho que compramos em nossa viagem à Itália. Era seu vinho favorito, e ele prometeu guardá-lo para nosso aniversário. A confusão se instala em mim ao perceber que a garrafa não estava na adega.— Eu poderia jurar... – Escuto a risada de Otto e sua voz abafada, o que impossibilita entender sua fala.Devolvo as taças ao armário, e o sentimento de confusão invade meu corpo ao ver uma bolsa Prada na bancada da cozin
Sinto a brisa fresca enquanto sento em uma rocha, observando a luz da lua iluminar a água. A brisa fria b**e em meu rosto, e um sorriso brota em meus lábios. Fecho os olhos e suspiro, sentindo o vento balançar meu cabelo.— É uma coincidência encontrá-la novamente. – Uma voz grave sussurra em meu ouvido.Meu grito de susto faz minha cabeça latejar. Olho para cima e vejo um sorriso brincalhão. Espera, eu conheço esse homem!— Como você chega até alguém no meio da noite desse jeito? Eu poderia cair dessa rocha, sabia? – Falo com indignação.O homem se senta ao meu lado e ri brincalhão. Seus olhos escuros se fixam no horizonte e nos primeiros raios de sol. A luz ilumina seu rosto, revelando cada detalhe, como se fosse esculpido pelo melhor dos artistas. Seus olhos encontram os meus, e ele sorri, um sorriso genuíno.— Me desculpa, não tive a intenção de te assustar. Eu corro por essa trilha todos os dias... Confesso que não imaginei encontrar você aqui. Está me seguindo? – Sua voz rouca so
O gosto de canela em sua boca era viciante, seu cheiro era inebriante, fazendo-me querer cada vez mais dele.Minha razão volta a controlar meu cérebro. Me afasto de seu corpo e vejo o seu olhar confuso.— Bem, peço desculpas… acho que foi o calor da emoção. – Digo envergonhada.Ele dá de ombros e, por algum motivo, sua atitude me deixa incomodada. Sua mão tatuada passa em seu cabelo, algo que reparei que ele fazia quando estava nervoso ou desconfortável.— Você e sua mania de me agarrar em momentos inapropriados. – Sua voz rouca diz sarcástica.O encarei confusa e ofendida; isso o fez revirar os olhos e rir sarcástico.— Vai dizer que esquece de todos os homens que você ataca em festas? – Sua voz é sarcástica e provocativa.Seu comentário faz com que meus olhos se arregalem e minhas bochechas corarem.Um flashback de minha desastrosa noite no restaurante grego vem à minha mente. Estava tão escuro que mal pude perceber seu rosto, os detalhes, suas tatuagens.Droga, mil vezes droga! De t