GeovanaNão consegui pregar os olhos nesta noite com o que Will havia falado pra mim. A ansiedade não me permitia dormir. Qualquer barulho me fazia sentar na cama, achando que finalmente meu resgate estava chegando. Até que amanheceu e Willian veio me trazer o café da manhã junto com uma notícia.— Eu estava certo, tem um cara lá fora. Deve ser ele que nos seguiu na noite passada e em breve a polícia deve chegar — fala sussurrando — Come e se prepara.Pego o pão com manteiga que me entrega e um copo com café. O pão está meio duro, dá pra ver que não é fresco, mas como mesmo assim. Estou com fome.Ele se vai e tranca a porta ao passar por ela. Algum tempo depois ouço uma movimentação diferente e agora acho que é a polícia. A ansiedade me consome, principalmente ao ouvir a voz da Mirela toda histérica do lado de fora.— Manda esses homens ir embora, Willian! — Escuto ela berrar.— Está louca mesmo, só pode. É a polícia, se liga que a casa caiu, mulher — ele parece se irritar com ela.—
Adrian Ao escutar a enfermeira anunciar que meu filho nasceu, não esperava sentir o que estou sentindo. A emoção é grande e eu só queria ver a criança e pegá-lo no colo.Sou guiado pela enfermeira até o berçário. Fico parado na divisão de vidro, enquanto ela entra e pega um bebê bem moreninho. A pele em uma tonalidade bem mais escura que a da mãe, porém bem mais clara que a minha. Percebo na hora que Mirela pode ter falado a verdade esse tempo todo. Mas mesmo assim manterei minha palavra de que farei um exame de DNA para confirmar a paternidade.Mas a emoção que tenho ao vê-lo, quase me faz deixar tudo de lado. Seu rosto gordinho e olhos apertadinhos e inchadinhos de um recém nascido me fazem sentir vontade de pegá-lo no colo.— Eu posso pegá-lo? — questiono à enfermeira.Ela aponta um local com pias largas para que eu lavasse bem as mãos e braços.Faço como o pedido e ao entrar no berçário, ela me oferece um jaleco hospitalar azul para que eu vista. Visto o aparato e finalmente pego
GeovanaA noite chegou e tivemos que deixar o hospital e procurar algum lugar para dormir. Encontramos um posto de gasolina que tinha pousada para caminhoneiros. Era simples, mas limpo e confortável.Willian tinha me devolvido o telefone no hospital antes de ser levado para a delegacia. Como ele tinha desligado, a bateria havia sido conservada, porém, liguei para meus amigos e conversei por um bom tempo e ele acabou descarregando.— Será que Mirela vai ficar presa por muito tempo? — questiono ao vê-lo sair do banheiro.— Não sei. O policial disse que se ela contratar um bom advogado, poderá conseguir responder em liberdade. Ou seja, ficará livre até o julgamento. Mas não sei quanto tempo ela irá pegar de cadeia.— E quanto ao bebê, o que vai fazer?— Primeiro, vou fazer esse exame de DNA. Se ele for meu, vou criá-lo até que Mirela saia definitivamente da cadeia.Balanço a cabeça em concordância. Sei que será um grande desafio, pois ao me casar com Adrian, quando minhas filhas nascerem
MirelaMaldita hora que inventei de sequestrar a pobretona da Geovana. Aquela lá deveria oferecer nenhuma ameaça com relação ao Adrian, mas parece que ela colocou um feitiço naquele homem que ele não consegue mais olhar para mim. Só tem olhos para aquela vagabunda!Acabei saindo do meu foco e arquitetando um sequestro de ultima hora. Resultado: deu tudo errado. Peguei um cúmplice molenga que não serviu pra nada, na verdade, serviu pra me ferrar.Eu sei que essas coisas tem que ser pensadas friamente, assim como fiz tudo até hoje, mas infelizmente segui meus impulsos e deu no que deu. Agora terei que lidar com as consequências, mas felizmente tenho uma carta na manga. Uma carta bem forte, daquelas que ninguém ignora: meu filho.Tentei enganar o pai, dizendo que ele tinha Síndrome de Dawn. Usei esse trunfo para sensibilizá-lo, mas o homem não mudou sua decisão mesmo com toda a minha insistência e mentiras. Agora terei que usar a criança remelenta para me livrar da cadeia.O médico entra
AdrianMirela presa, o tal Willian também preso, uma pilha de papéis se acumulando sobre a minha mesa e minha mãe de braços cruzados na minha frente querendo uma satisfação sobre a minha vida. Realmente, hoje, o dia não começou bem.— Você some, mal dá sinal que está vivo e quer que eu aceite alegremente apenas a resposta de que está tudo bem e que teve seus motivos? — Ela está brava. Muito brava.— Fica calma, mãe, é que é muita coisa pra resolver.— Não vai me dizer que foi coisa de negócios porque sei que não foi.— Não é nada disso, é que a história é longa. — Principalmente pelo fato de que se eu disser à minha mãe que Mirela tentou sequestrar minha namorada, ela não entenderá nada, e eu terei que explicar quem é a pessoa em questão. E aí terei mais coisas para explicar, uma verdadeira bola de neve.Ela se senta na minha frente e cruza as pernas.— Eu tenho tempo.— Não, a senhora não tem e nem eu. É realmente longa a história, muito longa, e eu estou com uma pilha de documentos
GeovanaComo chegamos tarde ontem, meu depoimento e do Adrian foi deixado para acontecer hoje. Meu namorado foi me buscar em meu apartamento como o combinado e desde então estou achando este homem muito tenso.— Adrian, você está bem? — Ele dirige quieto até demais.— Estou bem, meu amor. Está se sentindo bem? Quer alguma coisa? — Seu sorriso me mostra que ele esconde algo, ou está tentando esconder.— Não me parece que está bem. Tá calado demais. Aconteceu alguma coisa na empresa?— Muitas coisas — começa — Papéis acumulados até a alma, processos a caminho e minha mãe querendo saber o que aconteceu, por que eu sumi.— Natural que ela queira saber, não é, Adrian. Coloque-se no lugar dela.— Tudo bem, eu até entendo. Mas será uma longa conversa, pois uma coisa leva a outra e ela vai entender que menti sobre a amnésia por todo esse tempo.Torço o lábio, entendendo sua preocupação.— Uma hora isso iria acontecer, meu amor, você já sabia disso.— Eu sei, mas não será nada fácil enfrentá-
AdrianOs olhos da minha mãe focam na barriga de Geovana e sei que sua mente está pipocando de perguntas.— Podemos entrar, mãe? — questiono, tirando-a do seu devaneio.— É claro, meu filho. Entrem.Seguro na mão da Geovana e a guio para o sofá grande e espaçoso. Nos sentamos ali e minha mãe se senta na poltrona na nossa frente.— Querem me contar alguma coisa? — Sei que por trás de sua pergunta gentil está uma exigência severa por explicações.— Sim — respondo. — Lembra-se quando entrei no cruzeiro clandestinamente?— Claro, filho, nunca esquecerei aqueles dias de angústia.— Então, teve algo de bom naqueles dias. Geovana ganhou uma passagem no sorteio e nós nos conhecemos em uma situação bastante engraçada.Revelo e vejo as engrenagens da mente de minha mãe girando.— Filho, você conheceu essa moça no cruzeiro que você sofreu... que aconteceu aquelas coisas com você?Vejo que ela fala com cautela, pois não sabe o quanto minha namorada sabe sobre esse assunto.— Exatamente isso, e Ge
MirelaAlguns dias se passam, mas para mim é como se tivesse ficado um ano presa neste lugar. Aqui é pouco ventilado, e esse moleque fica irritado com o calor e chora direto no meu ouvido. Não durmo direito há dias.Um policial vem me chamar e ele está com as chaves da cela em suas mãos. Será que finalmente vou sair desse pulgueiro?— A senhora está liberada, mas ainda responde ao processo. Não poderá sair da cidade sem autorização. O julgamento ainda irá acontecer e a senhora poderá ser condenada — o policial recita as palavras, mas eu estou nem aí para elas, eu quero é sair daqui.Pego o meu filho, um passaporte para a minha liberdade. Sei que sua presença influenciou na decisão do juiz. Mas ao chegar na sala do delgado para assinar os papéis, me surpreendo ao ver Adrian sentado em uma das cadeiras.— Adrian, que bom que veio me buscar, amor — falo melosa, sei que homens gostam de mulheres frágeis e melosas, é como eles acham que somos.— Não vim te buscar, vim levá-los para fazer