Capítulo 2
Ela levantou o copo e esvaziou-o de um só gole.

Por todos esses anos, nunca lhe passou pela cabeça que Yago pudesse traí-la.

A sensação de vê-lo com outra mulher era, para dizer o mínimo, como ser atingida por mil flechas.

Fernanda comentou:

- Eu acho que ele te ama muito, não parece o tipo de pessoa que trairia. Pode ser algum mal-entendido?

Solange riu sarcasticamente e respondeu:

- Eu vi com meus próprios olhos, como isso pode ser um mal-entendido?

O silêncio se instalou no camarote enquanto Solange bebia um copo após o outro, como se não quisesse mais viver.

Fernanda não pôde se conter e tomou o copo de sua mão dizendo:

- Mesmo que ele tenha te traído, você não deveria se punir se embriagando. O que você vai fazer agora?

- A única coisa a fazer é me divorciar. Só de pensar na cena deles, sinto nojo.

Vendo seus olhos vermelhos e a indignação que carregavam, Fernanda se encheu de compaixão, ela falou:

- Não pense nisso agora. Você precisa descansar. Quando se sentir melhor, poderemos pensar no que fazer. Eu te levo para casa.

Solange balançou a cabeça:

- Não... Eu não quero voltar.

Assim que voltasse àquela casa, certamente se lembraria novamente da traição de Yago, e cada lembrança traria uma nova onda de náusea em seu corpo.

Vendo sua resistência, Fernanda não insistiu:

- Então vou reservar um hotel para você. - Depois de fazer a reserva, Fernanda levou Solange até a entrada do hotel, preocupada. - Tem certeza de que não quer que eu te acompanhe até lá em cima?

Solange sacudiu a cabeça:

- Não precisa, vá descansar.

Ela acenou para Fernanda com o cartão do quarto e desceu do carro em direção ao hotel. Vendo que ela caminhava com passos firmes, Fernanda finalmente respirou aliviada.

Mas o que ela não sabia era que Solange, embora embriagada, parecia tão sóbria quanto normalmente, parecia alerta, mas sua mente estava incrivelmente confusa.

Segurando o cartão do quarto, ela entrou no elevador e passou o cartão, as portas se fecharam e o elevador começou a subir.

Logo após um sinal sonoro, as portas se abriram.

Ao pisar no tapete fora do elevador, as pernas de Solange fraquejaram e ela quase caiu.

Se apoiando na parede ao lado, ela massageou as têmporas doloridas enquanto caminhava em direção ao seu quarto.

Porém, sob o efeito do álcool, tudo que ela via estava duplicado. Ao ver o número 8919, ela simplesmente encostou o cartão na porta.

Ela não ouviu o som da porta do quarto se abrindo, franziu a testa e estava prestes a empurrar a porta quando, de repente, ela se abriu.

Solange ficou atordoada por um momento, ainda sem reação, quando uma mão grande a puxou para dentro da escuridão.

De repente, um som de porta se fechando ecoou, e com a porta do quarto fechada, até o mínimo raio de luz foi obstruído.

Ela foi pressionada contra a porta, e a respiração agressiva do homem ecoou em seu ouvido, fazendo ela tremer involuntariamente.

Um aroma suave a envolveu, algo familiar para Solange, mas antes que pudesse reagir, sentiu o toque quente em seus lábios.

Percebendo o que estava acontecendo, Solange começou a lutar desesperadamente.

No entanto, a força do homem era grande, e como ela havia bebido bastante naquela noite, suas mãos pressionadas contra o peito dele pareciam fracas e sem poder, mais como um convite do que resistência.

As mãos quentes do homem exploravam seu corpo, deixando um rastro de calor onde que tocassem, fazendo com que o corpo de Solange amolecesse ainda mais.

Ela tentou empurrar o homem que estava sobre ela, mas ele facilmente percebeu seu movimento e levantou seus braços acima da cabeça.

Solange disse:

- Me solte... Me solte...

O homem soltou seus lábios e riu baixinho dizendo:

- Não precisa fingir que não quer.

Seus dedos tocaram o colarinho de Solange, trazendo um arrepio de frio que a fez estremecer.

O calor do corpo do homem parecia querer derretê-la, e suas pernas gradualmente fraquejaram.

Na escuridão, o sentido do tato foi amplificado, e Solange podia sentir os dedos do homem desabotoando os botões de sua roupa, deixando ela com a boca seca e a última ponta de racionalidade dizendo a ela que, se continuasse assim, seria violada.

- Me solte! - Ela usou toda a sua força para repelir o homem, mas ele a pegou e a jogou na cama.

A cama era macia, e Solange não sentiu dor, mas a queda a deixou ainda mais atordoada.

Ela lutou para se levantar, mas uma figura alta a pressionou para baixo.

Rapidamente, suas roupas foram retiradas, e ambos ficaram quase completamente nus.

O homem a pressionava firmemente, pronto para agir.

A respiração agressiva do homem fez com que ela tremesse incontrolavelmente, ela colocou as mãos em seu peito e mordeu o lábio inferior com força, se forçando a ficar alerta e calma:

- Senhor, acho que entrei no quarto errado, por favor, me solte...

Devido ao nervosismo extremo, sua voz tremia levemente.

A voz do homem soava impaciente e com um toque de frieza:

- Você está viciada nesse jogo de resistência, não é?

Walter Lima estava prestes a se levantar e mandar aquela pessoa embora quando as luzes do quarto subitamente se acenderam.

Acontece que, durante a luta, Solange acidentalmente bateu na chave de luz com o dorso da mão.

A luz repentina fez Walter piscar involuntariamente, e ao ver claramente o rosto aterrorizado da mulher sob ele, sua expressão mudou instantaneamente.

Nesse momento, Solange também viu claramente Walter, e seu rosto já pálido de medo ficou completamente branco.

A confusão em sua mente desapareceu com o choque, e a bebida pareceu se dissipar.

Ela não podia acreditar... A pessoa que quase a violou era o tio Walter de Yago:

- Tio Walter...

Solange sempre teve receio de Walter.

Walter era o filho mais novo da família Lima. Yago, seu avô Paulo e sua avó Nina tiveram-no em uma idade avançada e o mimaram excessivamente.

Com uma personalidade distorcida e fria, não só a família Lima, mas também estranhos evitavam provocá-lo.

Quando ela se casou com Yago e foi visitar os mais velhos da família Lima, Yago a aconselhou a não ter muito contato com Walter.

- Se cale! - Walter, com uma expressão terrível, fixou seu olhar frio como gelo em Solange, parecendo ponderar a possibilidade de silenciá-la permanentemente.

No entanto, ao seu olhar pousar brevemente sobre o peito branco dela, ele desviou o olhar rapidamente e se levantou da cama com frieza, dizendo:

- Se vista e saia!

Quando ele se levantou, Solange inadvertidamente olhou onde não devia.

Ela hesitou por um momento, depois desviou o olhar de forma não natural, e suas orelhas ficaram vermelhas.

Vendo seu rosto enrubescer, a expressão de Walter se tornou ainda mais sombria:

- Ainda não foi embora?

Solange, sem se importar com o constrangimento, apressadamente pegou suas roupas e as vestiu de qualquer jeito, deixando o quarto sem olhar para trás.

Só quando saiu do quarto ela se atreveu a olhar para o número na porta, percebendo no mesmo instante por que Walter disse que ela estava fingindo resistir.

Não era o quarto 8919, mas sim o 8916, ela tinha entrado no quarto errado e quase teve um encontro íntimo com o tio de seu marido...

Pensando nisso, Solange sentiu que a ressaca estava tornando sua cabeça ainda mais dolorida.

Se ao menos ela tivesse deixado Fernanda acompanhá-la até o quarto, nada disso teria acontecido, mas agora era tarde demais para arrependimentos...

No quarto, depois que Solange saiu, Walter, com uma expressão sombria, discou um número no telefone:

- Apague todas as gravações do Hotel Pôr do Sol desta noite!

Após dar as ordens, Walter olhou para os lençóis e cobertores bagunçados, acendeu um cigarro, com uma expressão ainda mais irritada em seus olhos.

Ele quase teve um relacionamento com a esposa de seu sobrinho, que situação absurda!
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