Capítulo 3 - Elise

O nome do homem rude.

Ele está aqui outra vez. Caminha até o balcão com uma expressão indecifrável, mas os olhos brilham de um jeito perigoso.

Aquele puxão que senti na primeira vez que o vi parece ainda mais forte. Irritante e impossível de ignorar.

Quero dar as costas e fingir que ele não existe, que nem mesmo o conheço, mas não consigo esquecer como foi rude na primeira vez.

Meu turno está chegando ao fim, e hoje não vou ficar até tarde, nem que me obriguem. Meu ciclo está por vir, e o desconforto da cólica já começa a se manifestar.

Eddie percebe minha expressão desgostosa, mas o atende, enchendo as canecas. Ainda assim, ele não vai embora.

— É nova na cidade? — Ouço a pergunta e quase admiro a falta de vergonha dele.

Primeiro, me humilha. Agora, quer saber da minha vida.

— Se não me responder, perguntarei a Eddie — pressiona.

— É assim que manipula as pessoas para conseguir o que quer? Parece coisa de valentão.

— Estou tentando conversar com você — se defende, e eu solto uma risada incrédula.

— Sim, sou nova na cidade, pela segunda vez: e não é da sua conta.

Eddie suspira. Quase sinto pena dele. Tem sido um bom chefe, e, pelo que percebi, nutre algum tipo de respeito distorcido por esse homem. Mas, honestamente, não dou a mínima.

Não vou aceitar merda de ninguém.

— Meu nome é Malachi Fenrir — diz, sua voz um sussurro que desliza pela minha pele como seda. — É um prazer conhecê-la.

— Não posso dizer o mesmo — balbucio, disposta a encerrar a conversa. Vou atender o próximo cliente.

A Taverna — que, na verdade, é um bar rústico com boa bebida e petiscos — está com um movimento razoável, mas acredito que Eddie conseguirá lidar com o resto da noite sem mim.

Termino de secar os copos e limpar o balcão, torcendo para encontrar uma farmácia 24 horas. Preciso de absorventes. E vou me dar o luxo de comprar alguns chocolates.

— Aqui, Elise. — Eddie me entrega o pagamento do dia, e agradeço sutilmente. Trabalhar aqui não tem sido extremamente agradável, mas o salário é bom, e Eddie, muito gentil. — Tome cuidado, sim?

— Pode deixar. Será que consigo encontrar alguma farmácia aberta a esta hora? — questiono, e ele pensa um pouco.

— Há uma loja de conveniência a duas quadras. Siga em frente e vire à direita. Você verá a placa.

— Ok. Obrigada, Eddie. Vejo você amanhã.

Saio sem sequer olhar na direção de Malachi. Agora sei o nome dele, mas o cheiro de problema é evidente. Ele é como um farol que me avisa para ficar longe de lugares onde nunca mais quero voltar.

Seguro firme a bolsa no ombro e caminho em passos largos pelas ruas. Felizmente, encontro a loja aberta.

Aceno brevemente para o funcionário do caixa e pego tudo de que preciso. Analiso a seção de sapatos e vejo um par de tênis simples por 20 pratas. O que estou usando tem me deixado com bolhas terríveis. Suspiro, aceito o sacrifício e compro o par, torcendo para que dure pelos próximos meses.

Pago tudo e saio, ainda não me acostumei a voltar tão tarde para casa. Ana quase sempre está dormindo ou trabalhando, e mal a vejo.

Aquela sensação estranha que tem me perseguido nos últimos dias volta a inundar meu peito. Olho ao redor, mas não vejo nada nem ninguém.

Franzo o cenho. Esse incômodo tem sido constante desde que conheci aquele homem rude e bonito.

De repente, um vulto negro enorme cruza meu caminho, fazendo-me tropeçar nos próprios pés. Meu coração dispara ao olhar para frente e encontrar um lobo gigante, de pelos negros com reflexos avermelhados, me encarando.

— Puta merda — Xingo, tremendo.

A criatura vira e dispara em uma corrida anormal na direção da floresta, a poucos metros dali. Suas patas quase não fazem som ao tocar o chão.

Sinto as pernas fraquejarem, mas forço-me a testar sua força. Quando me sinto minimamente confiante, começo a correr, percorrendo os dois últimos quarteirões muito mais rápido do que o normal.

Ao chegar à porta de casa, minhas mãos tremem enquanto procuro as chaves na bolsa. A sensação de ser observada ainda está lá, pesada, sufocante. Respiro fundo, tentando controlar o pânico que ameaça tomar conta. Finalmente encontro as chaves, mas ao encaixá-las na fechadura, uma sombra se move na periferia da minha visão.

Viro bruscamente, o coração martelando no peito. Não há nada. Apenas o vento brincando com as folhas secas no chão. Mesmo assim, não consigo ignorar o arrepio que percorre minha espinha.

Entro em casa rapidamente e tranco a porta, girando todas as trancas. Encosto na madeira fria, respirando fundo.

— Calma, Elise, foi só a sua imaginação. — Digo a mim mesma, embora minha mente insista em repassar a imagem do lobo. Aqueles olhos. Aquele tamanho incomum.

A sala está mergulhada no silêncio. Ana não está em casa, o que não é surpresa, mas hoje isso me incomoda. Vou direto para o banheiro e ligo o chuveiro, deixando a água quente cair sobre meus ombros tensos.

Depois do banho, visto uma roupa confortável e vou para a cozinha, pegando um dos chocolates que comprei. O doce derrete na boca, mas não acalma os nervos. Decido ignorar o que aconteceu e focar no que realmente importa: descansar. Amanhã será outro dia.

Me jogou na cama depois de colocar meu velho celular para despertar. Mesmo assustada, pego no sono rápido e a última coisa que me lembro é de ouvir um uivo imponente ecoando pelo ar.

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